#Narrado por Diana#

Era sábado, e eu estava tão animada quanto uma criança pequena comendo doce na páscoa. Várias razões intercalavam a minha animação, entre elas a de que era a festa surpresa atrasada de Daniel.

Em relação à festa surpresa atrasada de aniversário do Daniel, Catharina tinha me ligado naquela manhã para que nós formulássemos um plano para distrair Daniel do local da festa. O combinado foi de eu distraí-lo aqui em casa.

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Como a minha mãe estava trabalhando até mesmo nos finais de semana, eu passava a maior parte do tempo assistindo televisão com Lucas e seu novo amigo, um tal de Tiago que não me parecia ser gay. Mesmo assim, os dois ficavam na sala, discutindo “American’s next top model” e “top chef”. Em dois dias, essas séries tornaram-se tediosas para mim e decidi visitar uma livraria para comprar novos livros.

Lucas e Tiago estavam fazendo maratona dessas séries.

– Vou à livraria. – avisei a eles.

– Fazer o que Di? – perguntou Lucas.

– Comprar alguns livros novos. Estou entediada. – respondi.

– Por que não chama Daniel para vir pra cá? Vocês já não fizeram as pazes? – pergunta ele.

– Sim, nós fizemos, mas eu... Eu ainda estou insegura sobre esse relacionamento. – disse. – Melhor começarmos a dar espaço um ao outro.

Peguei a chave sobre a mesa e esperei Lucas falar alguma coisa.

– Iremos ficar por aqui assistindo séries. – disse ele por fim. Tiago concordou.

Sorri para os dois e saí.

A livraria mais próxima fica em outro bairro, então eu tinha que pegar um ônibus e seguir para o centro da cidade.

Ao chegar lá, observei os livros em destaque na vitrine, e pensei que um dia o meu estaria ali. Talvez não na vitrine, mas em algum lugar naquelas prateleiras. E uma garota ou garoto como eu, que gosta muito de ler e de sonhar, se interessaria pelo título do livro e pela sua descrição. Pediria dos pais para levar e se apaixonaria em cada página.

Era mania sonhar acordada, mas meu sonho não estava tão distante assim. Eu já havia assinado o contrato e em alguns meses meu livro seria publicado.

Tive sorte de principiante, mas acima de tudo tive talento. E claro, aprendi a acreditar em mim mesma e em minha opinião essa é a melhor coisa que se pode fazer por você.

Entrei na livraria e comecei a perambular pelos corredores. Havia os de ficção científica, os romances dramáticos, o que eram apenas dramáticos, os de autoajuda, os de romance melosos, os de literatura brasileira, os internacionais e os de terror...

Haviam livros também no andar de cima da livraria onde vendiam CD’s e DVD’s. Decidi que levaria algum da Agatha Christie.

– O mistério do trem azul... – murmurei lendo os títulos dos livros. – A casa do penhasco... – continuei observando agora a capa assustadora que estava impressa naquele livro. O gênero era de romance policial e eu nunca tinha lido qualquer outro livro desse tipo além de Sherlock Holmes que, por ironia do destino, estava na prateleira de cima.

– É elementar minha cara Diana. – disse alguém atrás de mim tentando imitar Sherlock. Antes que eu virasse o rosto para identificar a tal pessoa, um braço passou por cima da minha cabeça e tirou o livro “As Aventuras de Sherlock Holmes”. – Quanto tempo.

Virei meu corpo em direção a pessoa e encarei o rosto corado do então professor do rim defeituoso. Sorri, transparecendo uma grande felicidade por reencontrá-la.

– Rafael! – exclamei. Nos abraçamos e ele passou as mãos pelos meus cabelos.

– Como você tá? – perguntou ele.

– Estou bem, e você?

– Ótimo. O rim está cada vez melhor. – disse ele rindo.

– Que bom Rafael! O que fazes aqui?

– estou atrás de um livro e um DVD. – respondeu ele olhando para o resto dos corredores. – E você?

– Quero comprar um livro novo. Estou entediada. – respondi voltando a atenção para os livros nas prateleiras.

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– Mas e seu namorado? Veio com você?

Fiquei em silêncio por um tempo tentando fingir que não havia escutado aquilo.

– Ele está ocupado. – menti.

– Bom, então eu posso ajudá-la a encontrar o livro certo. – afirmou ele. – Interessada em algum da nossa querida Agatha?

– Sim! São extremamente interessantes. Nunca li nenhum delas.

– Mas já leu algum da série de Sherlock, certo?

– Sim. Sir Arthur Doyle é um gênio! – exclamei.

– Poirot é quase comparável a Sherlock. – disse ele.

Franzi a testa em sinal de curiosidade e pensei um pouco.

– Quem é Poirot? – perguntei rindo.

– Ele é o “Sherlock” de Agatha Christie. – respondeu ele me mostrando um livro dela onde Poirot aparecia. – Leve este. É ótimo.

Peguei o livro nas mãos e segui até o caixa, mas Rafael me puxou para perto.

– Não vai me ajudar a escolher o meu livro e o meu filme? – perguntou ele.

– Desculpa, eu não sabia que você queria ajuda. – respondi sem jeito.

– Mas eu quero! Vamos começar pelo filme. – disse ele que puxou uma cesta de compras do chão e colocou o meu livro lá dentro.

Começamos a andar pela sessão de filmes de terror.

– Gosta de filmes de terror? – perguntei surpresa ao perceber a atenção dele ao título dos filmes.

– Não... Quer dizer... Um pouco, mas só um pouquinho. – respondeu ele rindo.

– Por que não compra um filme de comédia? Comédia é legal porque você... Ri. – disse.

Rafael bagunçou minha franja e depois saiu daquela sessão de filmes de terror. No segundo corredor encontrávamos filmes de ação e aventura, como Indiana Jones (que pelos olhos alucinantes de Rafael brilhando, ele gostava).

– EU TENHO ESSE! – exclamou ele astuto e animado, mostrando para mim o filme que segurava em mãos. – Nesse filme, ele entra em um templo cheio de armadilhas para encontrar um ídolo perdido. Mas, claro que ele escapa no final porque ele é o INDIANA JONES! – continua ele eufórico.

Temo estar um tanto assustada a emoção de Rafael e deduzo que aquele é seu filme favorito.

– Você vai levar esse? – pergunto.

– Não! Eu já tenho esse. Na verdade, eu tenho todos esses! – afirma ele devolvendo o filme ao seu lugar.

Partimos para o terceiro corredor onde eu me deparo com outra euforia de Rafael ao ver a coleção de Star Wars na prateleira. Ele parece uma criança brincando no parque de diversões pela primeira vez na vida.

– O “Episódio VI: O Retorno de Jedi” é meu favorito! – diz ele.

– Eu nunca assisti nenhum desses. – comento olhando para aqueles filmes.

Rafael me encara surpreso.

– Você tem que assistir. Passo na sua casa qualquer dia e a gente faz uma maratona deles.

Eu sorrio e concordo com a cabeça.

– É nesse filme que tem aquela cena onde um cara com a cabeça preta grita para um rapaz “EU SOU SEU PAI!”? – pergunto.

Rafael faz silêncio e alguns garotos da idade dele que estão nesse mesmo corredor começam a me encarar. É como se existisse um vácuo enorme ali, ou como se eu tivesse falado uma grande besteira. Então, Rafael ri.

– Você tá falando do Darth Vader? – pergunta ele ainda rindo.

– Sei lá! Eu nunca assisti, mas já vi essa cena uma vez na televisão, por isso estou perguntando.

Cada vez que eu abria a boca, Rafael ria mais.

– Contenha-se! – pediu a vendedora.

Ele então controla o riso e nós saímos dali.

– Você ainda não respondeu minha pergunta. – digo a ele que agora lê a sinopse de um filme do quarto corredor.

– Sim, é esse filme mesmo do cara com a cabeça preta. – responde ele olhando para mim de lado, e rindo discretamente.

Após algum tempo procurando o filme, ele escolheu um documentário sobre o Nazismo.

– Falta apenas o livro. – disse ele.

– Já que você escolheu um livro sobre o nazismo, por que não compra um livro para “complementar” essa mesma ideia? – perguntei já tendo uma sugestão.

– Que livro?

– O Diário de Anne Frank. – respondi.

– Hum... Acho que é esse mesmo que eu vou levar. – disse ele.

Então saímos procurando o livro pelas prateleiras, mas decidimos que a melhor opção seria pedir ajuda de alguma vendedora e ela nos trouxe o livro algum tempo depois.

– Obrigada pela ajuda. – agradeci a ele enquanto saíamos do prédio.

– Eu sou quem deveria agradecer pela sua paciência em me esperar decidir o filme. – disse ele.

– Não precisa professor! – disse fazendo-o rir.

– Que tal um milk-shake com batatas fritas? Por minha conta? – convidou ele.

Eu não sabia se deveria aceitar o tal convite. Mesmo que não tivesse nada demais, temia as intenções de Rafael. E as minhas também. Ele era um cara bonito, atraente e inteligente. O rim defeituoso era apenas um detalhe.

Lembrei que Daniel saiu com seus amigos e sabe Deus o que ele fez por lá além de beber. Eu só iria tomar milk-shake e comer batata frita. Não havia maldade nisso... E eu não estava me vingando.

– Claro, vamos!

***

Depois que nossos pedidos chegaram, Rafael começou a me contar sobre sua vida na universidade.

– Eu estava pensando em trancar a faculdade por um tempo. Volta e meia fico indeciso sobre o curso que escolhi. – disse ele.

– Acha que não foi certo? – pergunto.

– É... Mesmo assim não quero decepcionar meus pais agora. Estou lá cursando faz quase dois anos. Sair agora seria uma perda de tempo.

– Mas, você tem que ir em busca do que você quer, do que te faz bem. Se engenharia não é a sua “lenda pessoal”, você deve ir atrás da sua.

Rafael sorriu, exibindo os dentes brancos.

– Eu vou esperar mais um pouco. Eu gosto da faculdade, mas assim que eu me formar vou tentar passar em psicologia. – disse ele.

– Nossa! Uma grande diferença de curso! – exclamei surpresa.

– E você, já decidiu o que pretende fazer? – perguntou ele.

Lembrei que Rafael sabia que eu tinha recebido uma proposta do dia da premiação, mas não sabia que eu havia assinado o contrato.

– Lembra daquela proposta do dia da premiação? – perguntei. Ele assentiu bebendo seu Milk-shake. – Então... Eles me procuraram e há dois dias eu assinei um contrato com a editora.

Os olhos dele saltaram de surpresa e ele ficou literalmente boquiaberto.

– Diana! Isso é muito, muito bom! Bom não, isso é incrível demais!

– Eu sei! Meu pai ficou super feliz. Fora ele quem me ajudou a decidir. – disse.

Recordei no meu inconsciente do telefonema que tive com meu pai no dia em que assinei o contrato.

“– Eu sempre imaginei a minha garotinha sendo reconhecida do jeito que ela deveria merecia. Sempre! E agora eu sinto que você está a poucos passos de se realizar como pessoa. Eu queria estar aí e te abraçar, dizer o quanto estou orgulhoso e o quanto isso é incrível. O quanto você é incrível. Mas de longe, apoio toda e qualquer decisão sua. Eu espero que você aceite! Criei uma princesa Diana feita pra brilhar...”.

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– Então seu pai ajudou muito você a se decidir, não é? – questionou Rafael admirado.

– Sim, mas acima de tudo eu mesma colaborei para que isso acontecesse. Acreditei em mim mesma, sem me importar se alguém chegaria um dia e apontasse o dedo na minha cara dizendo “ei, você não irá conseguir”!

– Eu disse que você iria conseguir. Será famosa Diana. Conhecerão você: a pequena sonhadora.

– Um brinde a isso! – exclamei erguendo minha taça de Milk-shake. Rafael fez o mesmo e brindamos.

***

Rafael me levou para casa de carro. É, ele tinha um carro e eu não sabia. Estacionou na frente de casa e se despediu de mim com um beijo gelado no rosto. Aquilo foi muito estranho, mas não demonstrei ter ficado constrangida com isso.

Entrei em casa em silêncio, pois temia que minha mãe já tivesse chegado. A televisão estava desligada, e nem Lucas e nem Tiago estavam na sala. Segui para o quarto e ao entrar vejo Lucas e Tiago aos beijos.

– Aaah! – grito assustada soltando a sacola com o livro no chão.

Os dois me encaram mais assustados ainda e então começam a rir.

– O que há Diana? – perguntou Lucas.

– O que... quê que... que há? – gaguejei olhando para os dois indignada. – No nosso quarto Lucas? Por que não na sala ou na cozinha? Olha, eu não estou sendo preconceituosa, mas pelo jeito que as coisas estavam rolando, iria rolar e rolar e rolar... Até eu pegar vocês no coito!

Então, Tiago gargalhou da minha reação. Lucas cobriu o rosto com as mãos e depois me encarou como se eu fosse uma idiota.

– Coito, Diana? – perguntou ele. – Onde você aprendeu isso?

– Não importa! Se a coisa toda aqui ficasse muito intima, vocês teriam camisinha pra fazer a coisa toda? – questionei nervosa.

Na medida em que eu me desesperava com o flagra, os dois riam cada vez mais.

– Ok, o Tiago já vai pra casa e não vamos “coisar” ou nada do tipo. – respondeu Lucas levantando-se da cama ao lado de Tiago.

Tiago despediu-se de mim com um aceno e saiu do quarto. Fiquei no mesmo lugar observando Lucas arrumar a cama bagunçada.

– Vai me dizer que nunca fez isso com Daniel? – questionou Lucas.

Gelei e minhas mãos começaram a suar.

– Nunca transamos. – respondi confiante fazendo Lucas parar o que fazia. Ele olhou para mim como se eu fosse um extraterrestre.

– Isso é muito... Tenso. Pobre Daniel. De certa forma eu o entendo agora.

– Sua geração é adiantada demais! – defendi-me.

– Sou apenas dois anos mais novo que você e daqui a alguns meses eu faço dezesseis. Somos da mesma geração. – replicou ele.

Lucas saiu do quarto como se nada houvesse acontecido. Juntei a sacola com livro do chão e comecei a lê-lo na minha cama. Algumas distrações me prenderam: de vez em quando eu encarava a cama do meu lado, a de Lucas, e pensava na cena de instantes atrás, com ele e Tiago aos beijos... E que beijos!

***

Eram seis horas da tarde quando Catharina me ligou pedindo para que eu distraísse Daniel, como havíamos planejado.

Liguei para ele e pedi que viesse até a minha casa para conversarmos, coisa que não fazíamos havia um tempo.

Nossa última conversa descente foi naquele muro da escola onde “prometemos” que ficaríamos juntos, mesmo que as coisas não fizessem mais sentidos.

A campainha tocou, mas eu estava trocando de roupa, já me preparando para a festa surpresa. Peguei um vestido discreto e deixei para calçar o sapato apenas depois. Coloquei o livro no criado-mudo e esperei Daniel aparecer.

– Diana, temos visita! – gritou Lucas.

Eu não achava que Lucas considera-se Daniel uma “visita”, então desconfiei de que a pessoa que havia chegado não fosse ele.

Abri a porta do quarto e me deparei com o garoto do rim defeituoso na minha frente. Rafael estava tímido, escondendo as mãos no bolso da calça.

– O que você tá fazendo aqui? – perguntei.

– Eu vim a pedido da sua mãe... Quer dizer, a pedido da minha mãe, por pedido da sua mãe.

Fiz cara de confusa e depois ele riu.

– Ok, o que você quer? – perguntou Lucas.

– Ajudar vocês a fazer o jantar porque hoje a Daniela vai ficar de extra no trabalho e minha mãe era quem iria vir aqui, mas ela acabou mandando eu no lugar, como se eu soubesse cozinhar alguma coisa. – disse ele de forma engraçada.

– Nós nem vamos ficar em casa hoje à noite. Acho que a mamãe esqueceu-se de avisar sobre isso. – disse.

– Para onde vocês vão? – questionou ele.

– festa surpresa atrasada do Daniel. – respondi.

Ele sorriu e veio na minha direção.

– posso levar vocês pra festa... – sugeriu ele.

– Daniel está vindo pra cá. Não acho que ele aceitaria uma carona sua. – continuei.

– Mesmo assim, eu fico. Levo o Lucas pra festa. Pode ser Lucas? – insistiu ele.

– COM CERTEZA! – exclamou Lucas seguindo para o quarto e fechando a porta atrás de mim.

Apenas eu e Rafael ficamos ali, na sala. Ele pediu um copo d’água e seguimos para a cozinha onde lhe servi.

– Quantos anos ele fez? – perguntou Rafael querendo puxar assunto.

– dezoito. – respondi.

– Ora... Eu faço vinte daqui a dois meses. – comentou ele.

– Sério? Cara de dezessete. – ironizei.

Rafael me encarou com aqueles olhos claros e não sorriu. Apenas esboçou uma necessidade em ficar ali, me admirando como se eu fosse a garota mais bonita da história do Brasil. Quando eu fiquei constrangida com aquele olhar, ele sorriu. Em comum com Daniel, o sorriso torto, mas o dele era bobo e o de Daniel era malicioso.

Eu pensei que fosse acabar ali. Aquele flerte. Eu acho tão errado flertar quando se tem namorado, então evitei contato visual o máximo que pude. Fiquei na pia em silêncio e ele também.

– Quer mais água? – perguntei.

Ele não respondeu. Levantou-se com o copo nas mãos e aproximou-se de mim. Pôs o copo dentro da pia ainda me encarando. Eu me afastei, pois estava sentindo o calor do corpo dele perto de mim. Então, antes que eu pudesse empurrá-lo pra longe, ele me beijou. Foi forçado demais pra ser romântico porque eu lutei para que ele me soltasse enquanto os lábios dele tocavam o meu. Tentei empurrá-lo novamente e quando consegui, vi Daniel bem ao lado da entrada da cozinha. Apoiado a parede, com os olhos baixos e mais pálidos que o normal.

Eu não sabia o que dizer, nem mesmo que reação esboçar perante aquilo. Sentia meu rosto arder, queimar. Eu estava furiosa com Rafael e mais ainda comigo mesma!

– Daniel, eu... – essa foram as minhas palavras antes de ver os olhos de ódio dele virarem-se contra mim. Ele veio tão furioso para cima de Rafael e o empurrou.

– SEU FILHO DA PUTA! – gritou ele, enquanto seu punho mergulhava no rosto e no estômago de Rafael, o fazendo cair no chão.

Eu gritei mais ainda, assustada com aquilo tudo porque Rafael havia feito uma cirurgia há poucos meses e estava se recuperando. E ele gemia e dor no chão e eu só conseguia gritar. Antes que Daniel agisse mais violentamente, Lucas apareceu e o tirou da cozinha.

– Rafael, fala comigo cara! – implorava, pedindo para ele parar de gemer de dor.

– Me... Ajuda a... Levantar! – pediu ele ofegante.

Mesmo sendo fraca como quase toda garota é, consegui fazê-lo se sentar na cadeira. Ele recuperou o fôlego e nos encaramos, tão espantados com tudo aquilo.

– Agora eu quero mais água. – disse ele minutos depois.

Entreguei um copo de água para ele e fui atrás de Daniel que já estava no final da rua. Corri descalça no asfalto que estava esfriando na medida em que a noite começava.

– Daniel! – gritei repetidas vezes, mas quanto mais eu me aproximava, mais ele se afastava.

Corri com toda a força que tinha, sentindo meus pulmões implorando por ar. Quando o alcancei, puxei seu braço, mas ele me empurrou brutalmente para longe.

– Não toca em mim! – gritou ele.

– Eu não tive culpa! – defendi-me, chorando. As lágrimas já haviam borrado todo e qualquer sinal de maquiagem no meu rosto. – ME OUVE!

– Eu não quero ouvir a sua voz! Me deixa, porra! – exclamou ele mais furioso ainda.

Eu o segui até quase a parada de ônibus e então ele voltou-se para mim e segurou meus braços, apertando:

– ACABOU! – Gritou ele, soltando-me.

Me senti caindo em um abismo. Senti-me sendo apedrejada por todos os lados. Eu apenas deixei as lágrimas caírem pelo meu rosto e esperei. Esperei criar coragem para ir embora dali.

Vi Daniel virando a esquina e quis gritar, mas minha voz havia sumido.

Eu estava perdida, e ele soltou a minha mão.