As Nem Um Pouco Felizes Histórias De Amor.

Parecia a reprise de um filme antigo...


#Narrado por Daniel#

Semana passada pedi desculpas à Diana pela terceira vez. Disse a ela que não estava me sentindo bem na aula e por isso a tratei de forma rude na saída. Ela disse de forma calma “não precisava se desculpar. Todos têm seus dias ruins”. Aquilo foi um alívio imediato.

Hoje mais cedo na escola fizemos redações sobre o aumento da criminalidade no Rio de Janeiro. A professora está trabalhando criação de reação conosco para os vestibulares. Achei sem graça no início porque assim nós paramos de ler. Diana é quem mais está sofrendo.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

– Pra vocês terem uma ideia, eu li “Os Sertões” duas vezes! Preciso de um livro novo. – disse ela.

Geralmente, eu, Flávia, Maurício e Edgar ríamos do desespero dela por “novidade literária”. É assim que ela chama quando está desesperada por livros novos.

Como o aniversário dela e daqui há dois dias, Flávia e o irmão engraçado de Diana estão planejando alguma coisa para ela. Eu disse ter uma surpresa, mas na verdade ainda não planejei nada convincente demais.

– O que me sugere de presente pra ela? – perguntei a Flávia enquanto Diana estava na biblioteca com o irmão.

– Livros. – respondeu ela e então nós rimos.

Era engraçado porque sempre que perguntávamos a Diana o que ela queria, a primeira coisa que vinha em sua cabeça era:

– Livro! De capa dura. Pode ser aqueles usados, com cheiro de mofo. – respondia ela.

– Mofo? Diana! Você é doente? – perguntava Lucas e todos nós ríamos na mesa.

Percebi aos poucos que eles eram diferentes de qualquer amizade que eu já tivera. Mas eu me divertia com eles, e não ligava para os olhares assustadores de Catharina.

Mas não era isso que importava. Eu precisava de dinheiro para o presente dela. Era a primeira vez que eu iria dar um presente pra alguém.

– Sabe que eu não tenho dinheiro, Daniel. Você vai ter que pedir do seu pai. – disse a minha avó.

– Eu não gosto de pedir dinheiro ao Leandro. – disse.

– Mas você precisa! Pare de tratá-lo feito um desconhecido. Ele é seu pai! Você tem melhorado tanto como pessoa... Quando vai abrir uma exceção para ele? – questionou ela enquanto segurava meu rosto delicadamente com as mãos.

– Eu não sei. – respondi e fui para o quarto.

***

Mais tarde naquele dia joguei bola com os garotos da rua, pela primeira vez na vida. Eu nunca havia saído de casa à tarde pra fazer isso. Eles até desconfiaram da minha atitude, mas depois nós tomamos suco na casa de um dos garotos. Catharina observava tudo sentada em frente a sua casa, conversando com algumas amigas. Vi o sorriso dela quando eu consegui fazer um gol, mas eu ignorei para não dar atenção demais a quem não deveria.

Quando estava finalmente anoitecendo, Leandro chegou. Ele me viu jogar bola e sua expressão no rosto parecia ser de quem não acreditava no que via. Eu fingi não me importar e continuei jogando.

– Gente, por hoje chega. Amanhã a gente joga mais. – disse Gustavo, o dono da bola.

Todos concordaram e seguiram para suas casas.

– O jogo parecia muito bom. – comentou Leandro.

– É, foi muito bom sim. – afirmei.

Minha avó apenas nos observava “dialogar”.

– Vi suas notas ontem. Estão melhores. – continuou ele. Eu fiquei calado. – Sua avó me disse que nenhum professor reclamou de você.

O silêncio durou alguns minutos e depois foi quebrado por ele novamente.

– Estou... Orgulhoso de você. – disse ele hesitando nas palavras.

– Obrigado Leandro. – agradeci e segui para o banheiro.

***

Era finalmente sexta-feira. O último dia da semana era sempre agradável. E melhor ainda quando não há aula por conta de planejamento escolar. Era o dia ideal para procurar o presente de Diana. O problema ainda existia: dinheiro em falta.

– Já disse para você falar com o Leandro! – insistiu minha avó.

– Fala com ele por mim, Vó! Por favor! – implorei.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

– Não! Deixe de ser tolo, menino! Vá lá e peça dinheiro dele.

Era uma batalha perdida insistir para que ela me ajudasse com Leandro. Desde que passei a agir de acordo, ela tem me pressionado a mudar com Leandro também.

– Tudo bem, eu vou falar com ele então. – afirmei enquanto seguia para o quarto de Leandro.

Bati da porta e ele me mandou entrar. Estava se arrumando para o trabalho e só hoje percebi como ele emagreceu.

– O que foi Daniel? – perguntou ele que me olhava pelo espelho do guarda-roupa.

Fiquei calado até tomar consciência do que estava prestes a fazer e, sem hesitar, falei:

– Preciso de dinheiro.

Ele virou-se e então me fitou. Agora estávamos cara a cara.

– Dinheiro? Pra quê? – perguntou ele desconfiado.

– Eu preciso comprar um presente pra uma pessoa. – respondi convincente.

– Pra quem, Daniel? – perguntou ele novamente.

– Está fazendo perguntas demais. Se não quer me dar dinheiro é só falar! – exaltei. Dei as costas e saí do quarto. Ele me seguiu.

– Daniel, pare aí! Você vai usar o meu dinheiro para alguma coisa. Eu tenho direito de saber sim! – exclamou ele.

– Velho, eu vou comprar um presente pra uma pessoa! Quer o RG dessa pessoa também? – indaguei furioso.

– Você deveria apenas me responder direito. Eu ainda sou seu pai! Você mora dentro da minha casa e aqui as regras são minhas! – gritou ele.

– Foda-se as suas regras! Que saco! Eu não peço mais nada seu. Eu dou meu jeito.

Minha avó ouviu a gritaria e saiu do quarto até a nossa direção.

– O que está acontecendo aqui? – perguntou ela aflita.

Eu e ele nos olhamos, um encarando o outro com mais fúria do que o normal.

– Daniel, eu sou seu pai! Entende isso? Você me trata como um merda há quase dez anos. Agora entenda uma coisa: não fui eu quem te abandonou ou te virou as costas. Foi a sua mãe, ou seja lá como você chama a Eduarda. Agora, o que você não pode é me tratar como seus amigos drogados da rua! Me respeita moleque! – gritava ele.

– Tá certo. Você não me abandonou, não me virou as costas. Fez pior que isso. Me deixou aqui, sem esperança nenhuma do que é ter um pai e agora você quer exigir respeito? Ah, Leandro. Faça-me o favor! Quantas vezes você olhou para mim como um filho e não como um fardo que carrega? Quantas vezes você se importou ou pelos menos fingiu se importar comigo? – perguntei entre palavras que saíam grotescas e maldosas da minha boca.

– Muitas vezes Daniel. Muitas. – respondeu ele.

– Muitas? – eu ri sarcasticamente porque aquilo era mentira. – Você nunca soube de nada sobre a minha vida! Quer ver? – eu parei enquanto pensava no que dizer a ele. – Quando eu tinha catorze anos, eu tentei roubar um carro. – a expressão dele mudou rapidamente. – Eu não consegui. Eu apanhei de uns caras por causa disso e então fugi de casa pra não ser pego por você. Minha avó me acobertou. Você nem percebeu que eu passei dois dias na rua!

Ele continuava sem acreditar no que ouvia. Olhou para a minha avó que estava de cabeça baixa e apenas escutava tudo aquilo.

– Isso é verdade mãe? – perguntou ele a ela.

– Sim filho. – foi a resposta dela.

Leandro veio em minha direção com força e raiva. Me pegou pelo braço e me jogou contra a parede. Enquanto ele me segurava pela gola da camisa, eu o chutava com força.

– Solta ele Leandro! Solta! – gritava a minha avó.

Parecia a reprise de um filme antigo. Era Renan na pele de Leandro, e eu estava preparado pra apanhar quantas vezes fossem necessárias porque tudo o que eu guardava pra mim mesmo há anos, finalmente havia sido exposto.

– Vai! Me bate seu otário! – gritei.

Ele então me deu um soco no rosto e depois entrou em desespero ao ver meu nariz sangrar.

– Eu não queria fazer isso! Daniel! – gritava ele.

– Vá embora Leandro. Vá! – exclamou minha avó enquanto me ajudava a levantar do chão.

Eu estava zonzo. Via as coisas ficarem escuras e claras. Então apaguei.