Lia não fazia idéia de como havia chegado em casa, mas acordou em sua cama. Tatá já estava se preparando para a escola e seu pai já estava no hospital. Foi acordada por Paulina.

-Levanta, mocinha! Já é quase meio-dia!

A roqueira tentou esconder os sinais de ressaca apesar da dor de cabeça insuportável. Estranhou estar de pijama. Não se lembrava de haver trocado de roupa para dormir, mas estava agradecida a qualquer que tenha sido a força da natureza a fazê-la tirar a roupa de festa e se livrar dos questionamentos da avó. Arrumou-se e se encaminhou para a sala.

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-Eu sei que você está de castigo e que eu não deveria te deixar sair, mas eu preciso que você leve a Tatá para a escola enquanto eu faço o almoço.

Lia grunhiu, mas acatou o comando da avó. Dias trancada em casa a aguardavam e pelo menos poderia se despedir da luz natural, das ruas... Talvez pudesse esquecer a dor de cabeça.

Levou a irmã até o portão, tentando ignorar a noite anterior. Ou pelo menos o que conseguia lembrar. Mais uma vez, o destino não estava cooperando com Lia Martins.

-Marrentinha? Você por aqui?

“Ah, não! De novo, não!”

-Até aqui?? – Lia respondeu exasperada à surpresa de Dinho. Para sua irritação, dessa vez era ele mesmo e não um fantasma. Não que ele não fosse um fantasma, uma assombração... – Você pode parar de me seguir, por favor?

-Até onde eu sei, foi você que veio atrás de mim e não o contrário! – Dinho estranhou e riu da expressão confusa da roqueira.

-Eu vim trazer a minha irmã, será que você pode sumir, por favor?

-E eu vim buscar o Tico. Lamento, mas daqui eu não saio. – Sorriu irônico. Sua ironia logo deu lugar à preocupação. – Como você tá se sentindo? Acordou bem?

Lia estranhou a pergunta.

-Por que você-? Espera... Foi você?

-Você não se lembra de nada... Eu imaginei. – Olhou para seu relógio. – Bom, felizmente a gente chegou um pouco cedo. Eu tava no telhado quando você chegou de táxi. – Lembrou-se de como não conseguia dormir. A lembrança de Lia e suas exigências e dos comentários de sua mãe não lhe davam descanso e olhar as estrelas lhe parecia mais interessante que o teto de seu quarto. – Quando eu percebi que você pretendia dormir no banco, desci pra ajudar. Eu e o Sev te levamos pra casa, pegamos a sua chave e te botamos pra dormir. Ninguém nos viu, não se preocupa.

Lia não sabia como agradecer, embora procurasse algo que pudesse ser uma afronta na história contada por Adriano. Precisava revidar de alguma forma...

-Foi você que trocou a minha roupa também? Seu tarado! – Algumas crianças saíam pelo portão e Dinho fez menção que Lia abaixasse o tom de voz na última palavra.

-Sim, fui eu. – Lembrou-se de como se sentiu ao segurar sua marrentinha apenas com roupas íntimas. Sua pele tão macia, o formato de seus seios, escondidos pelo sutiã... Os curativos em seu abdome. – Você preferiria que eu tivesse te deixado vestida com aquelas roupas? Que te encontrassem no dia seguinte vestida para sair?

-Não, você tem razão. – E como detestava dizer aquilo.

-Um agradecimento não faria mal. – Adriano olhou fixamente para a garota.

-Lia? Dinho? – Tatá voltou questionando. Havia esquecido alguma coisa com Lia, mas, ao ver a cena, esqueceu o que era.

“Salva pela pirralha!” Lia pensou.

-Iiih... Finjam que eu não estou aqui. – Tatá riu das expressões constrangidas de ambos. Realmente, Ju tinha tudo para desconfiar dos dois. Preferiu não interromper, depois pediria dinheiro para a irmã.

-Dinho? Você veio me buscar? – Tico correu até o irmão, que o abraçou de modo a segurar o irmão no ar.

-Tudo bem com você, pequeno? - Dinho sorriu para o irmão.

-Tudo ótimo! Espera até meus amigos chegarem, eu vou poder mostrar pra todo mundo que o cara veio me buscar no colégio!

Lia sorriu para a troca entre irmãos. Dinho podia ser idiota, mas a comovia a parceria entre o garoto e Tico. Sua preocupação quando o irmão sumira, o modo como Tico parecia ser o centro de seu mundo... Era quando a roqueira percebia que talvez Adriano não fosse tão errado, tão egoísta...

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-Lia? Liaaa? Você quer um babador? – Tatá brincou.

-Que? Cala a boca, pirralha! – Lia se constrangeu. Para seu azar, Dinho havia escutado e sorria divertido para ela. Parecia lhe cobrar uma resposta, irritantemente se sentindo o rei do mundo. – Eu já vou indo, que a prisão domiciliar me espera.

Tentou sair dali o mais rápido que pôde, ignorando a risada de Adriano e as perguntas de Tico, que não entendera a troca e cobrava uma explicação do irmão. Dinho observou a roqueira indo embora, sem tirar os olhos da garota até Tico lhe puxar para exibi-lo para os colegas.

-x-

Por que a importunava tanto? Por que tinha que estar em todos os lugares? Talvez devesse obedecer ao pai e se trancar em casa, de castigo, seria mais seguro. Trancada em casa, com certeza não se encontraria com Adriano. Ainda a incomodava que o garoto tivesse chegado tão perto enquanto estava inconsciente... Deus, havia trocado sua roupa! Ele não tentaria... ? Não, Severino estava do lado... Por que sempre ele, por que? E novamente sua cabeça doía com a ressaca (também culpa de Adriano), e os cortes em seu corpo voltavam a arder... Sentiu o mundo girar.

-Lia?! - Era a voz de Juliana, seus braços a sustentando, impedindo-a de cair. Irônico... - Lia, o que aconteceu? Você tá bem?

Era um alívio para a roqueira a maneira preocupada como Ju a olhava. Talvez conseguisse uma trégua, talvez conseguisse sua melhor amiga de volta...

-Ju, me leva pra casa, por favor?

Juliana estava prestes a levar a amiga em casa, mas hesitou.

-Por que você tá assim? Eu sei que você tá de ressaca, por que você fez isso de novo?

Lia pensou em várias desculpas que não envolveriam Adriano.

-Eu briguei com a minha melhor amiga, estou de castigo, suspensa da escola e toda cortada, tá bom pra você?

Ju riu, ainda que preocupada.

-Você não tem sorte mesmo, né?

-Ju... Olha só, não aconteceu nada entre o Dinho e eu. Por favor, acredita em mim?! - Lia implorou.

A it-girl sorriu para a amiga e a abraçou.

-Com essa carinha pedante, fica até difícil não acreditar, mas ainda não entra, entende? Você e o Dinho trancados numa sala a noite inteira...

-Você viu como eu tava, não é possível que você ache que-

-E se não estivesse? Antes de você se cortar, não rolou nada? E vocês ficaram coladinhos daquele jeito... Impossível não ter rolado, você mesma diz que o Dinho é um galinha!

-Talvez ele tenha mudado por você. - Doía dizer aquilo e Lia não entendia por quê.

-Eu cobrei explicações do Dinho e ele só negou os seus sentimentos.

-O que??

A roqueira não sabia o que pensar, como reagir... Precisava negar, e rápido.

- Não, Ju, você deve ter entendido mal... Olha, eu encontrei ele na escola dos nossos irmãos hoje e ele parecia querer voltar com você! - Não era bem uma mentira, era? Dinho provavelmente iria querer voltar com a namorada assim que recobrasse o juízo.

-E quanto a você?

-Você entendeu errado! Eu não sinto nada pelo Dinho e ele não sente nada por mim, relaxa. A gente nem combina, não sei de onde você tirou essa ideia! Eu e o Dinho? - Lia riu. - A gente ficou uma vez, já deu, já foi! Foi só um lance da hora, uma experiência, nada demais! E se a gente teve a mesma ideia de ir atrás do grafiteiro, é só porque...

-Porque vocês são tão parecidos que até nisso combinam. - Ju falou triste.

-A gente não é tão parecido assim e, fora esse dia, a gente não tem nada a ver! Ele é flamenguista!

Juliana não sabia se ria ou se encarava Lia, esperando pelo primeiro escorregão, mas algo no humor da garota, e em seu sorriso irônico lhe apontava honestidade. Mais que isso, queria acreditar na amiga, não só para recuperar sua irmã de criação, como também porque não estava pronta para aceitar que Dinho gostasse de outra, muito menos de Lia.

-Amigas de novo? - Lia perguntou, a expressão pedante voltando ao seu rosto.

-Acho que sim... - Ju queria acreditar, tinha que acreditar, iria acreditar. Antes que mudasse de ideia, levou a melhor amiga para o apartamento dos Martins.