Ago(u)ra

Destemor nefasto


Eu não tive medo.

Medo de desistir.

Ou perder.

Falir.

Creio que entendeu.

O medo,

O que todos devemos ter.

Mesmo que desejamos não.

O medo que todos têm.

E que tive, outrora.

Quando as tulipas

Ainda nadavam nos campos de minh’mãe.

Quando as rosas

Ensinaram a mim

Onde seus espinhos se encontravam.

Quando vó contou a mim

Que as almas penadas existiam,

Sim.

Esse medo mesmo.

O que eu perdi.

O medo de te perder.

O que perdi.

E que me fez,

Malditamente,

Perder você.

As chances

De rever teus olhos: nula.

Nunca mais.

Nunca.

Vou te ver.

Fazer-lhe sorrir.

Ouvir canções ao teu lado.

Ouvir suas preferências.

Saber os nomes,

O nome queria dar ao nosso filho.

“O primeiro de vinte e sete!”,

Como só você diria.

Há!

Ironia do destino, não?

No dia 27 de novembro,

Você me largou.

E desde então eu não paro de chorar.

Estamos em agosto.

E eu ainda não consigo viver.

De forma alguma.

Sem você, é impossível.

Que meu destemor,

Aquele desgraçado,

Arda em fogo.

Maldita seja a coragem.

Covarde em seus efeitos.