A morte chega cedo,
Pois breve é toda vida.

Fernando Pessoa.


***

Prólogo


Floresta Negra.

Dois milênios atrás.



Ela sabia que corria perigo. Só não sabia o porquê. Seus pés moviam-se rapidamente, sua respiração era acelerada. Tudo passava por ela como um borrão, enquanto lutava para sobreviver ao desconhecido.

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Ou nem tão desconhecido assim.

Talvez seu perseguidor quisesse seu poder. Matá-la e tomar seu lugar perante a Vida, e ela desconfiava em quem poderia ser: sua oposta, aquela que adorava a Morte, a idolatrava mais do que tudo.

Bufou. Era óbvio que ela iria querer o poder de sua rival, transformar o mundo em um antro de dor e morte. “Não, não, não, minha querida. A morte é doce, tranquila. Tudo que alguém pode querer!” sempre exclamava quando tinham que se encontrar.

E era tudo mentira... Ela não queria a morte. Queria viver pela eternidade.

Mas, às vezes, a eternidade podia durar apenas alguns segundos.

Continuou a correr, sem ao menos cogitar olhar para trás. Tinha medo e realmente não queria saber quem a perseguia. Só queria fugir para bem longe dali e continuar sã e salva, bela e imortal.

“Acha mesmo que pode escapar?” riu uma voz em sua mente. Aquela gargalhada lhe deu dores de cabeças fortes, mas ela não parou de correr, mesmo tendo que diminuir sua velocidade.

“Você não pode, querida! Eu voltei, ou melhor, voltarei!” continuou rindo. A aliada à Vida deu grito quando seus pés tropeçaram em uma raiz saltada e intrincada. Uma armadilha que neste momento poderia ser mortal.

“O que você quer?” gritou de volta, em desespero. “Quem é você?”

“Por que você não se acalma, querida? Acredite em mim quando digo: você só pode me ajudar se estiver viva.”

Percebeu que um vulto aproximava-se de seu corpo dolorido. A figura estava coberta por um manto, que não deixava ver mais do que o seu sorriso amplo e radiante, brilhando mais do que a própria lua.

— O que você quer? – agora ela pronunciava as palavras, que saiam quase que silenciosas.

— Quero um receptáculo. O próximo filho ou filha da Vida e da Morte. Quero de fato voltar. – a voz doce que lhe respondeu estava sendo sussurrada em seu ouvido.

— Não nesse milênio. Já foi feito.

Ouviu-se um silêncio carregado de pensamentos. Finalmente, a mulher de preto deu de ombros, e falou com uma voz irritada:

— No próximo, então. – uma pequena pausa foi feita. – Temos um acordo?

Sem mais forças para dizer o que quer que fosse, a mulher no chão acenou positivamente. Era agora aliada da Morte, tinha absoluta certeza.

Que ironia! Mas agora podia sentir sua transformação, imaginá-la com os mínimos detalhes, precisamente. Pôde imaginar-se como a sua antecessora.

E o pior: gostava dessa nova imagem.

— Ótimo! – ela ouviu a palavra cantarolada e sentiu uma forte pressão em sua jugular.

Sua última visão foi uma mecha de cabelos cor do fogo.

“Acho que vou me queimar...” pensou e desmaiou.