- Então saia por essa porta, Malfoy!

- Eu vou sim! Adeus, Weasley, estou cansado de suas idiotices!

- E eu estou cansada de você! Vá embora, e não volte nunca mais!

Cindy se debruçou na bancada da cozinha, cansada. Sentia dor de cabeça e pra variar não conseguia dormir por conta de seus dois vizinhos escandalosos. Aqueles dois nunca conseguiam parar de brigar. Eles eram como cão e gato, nunca conseguiam ser civilizados um com o outro.

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Lembrou-se de repente de quando os vira pela primeira vez. Eles pareciam estar completamente apaixonados. Sempre os via através da janela da sala deles, dançando ou cantando juntos alguma música. A garota parecia ter uma paixão por Celestina Warbeck, uma cantora que o garoto parecia completamente odiar, então ela cantava a plenos pulmões enquanto ele tampava os ouvidos e começava a em resposta gritar desafinado músicas d’As Esquisitonas. Ela adorava vê-lo desconcentrando a ruiva enquanto esta tentava em vão ler o seu livro. Ela adorava o jeito que ela o olhava com raiva, e ele fazia uma piada boba, que apagava com um sorriso a carranca de antes. E ela amava quando os dois iam para o jardim, e ficavam sentados no banco juntos, apenas apreciando um dia de sol.

Cindy gostava de vê-los. Eles eram tão jovens e cheios de vida! Ela sempre debruçava-se em sua bancada só para dar olhadelas furtivas nos dois. A jovem bruxa nunca gostara muito da ideia do amor, mas a visão apaixonante da Weasley e do Malfoy lhe tirava o fôlego como nenhum outro casal conseguia. Apenas ver como eles se olhavam já era o bastante para saber que queriam passar o resto da eternidade juntos, e que enfrentariam qualquer coisa para que fossem felizes.

Até estourar a primeira briga. Cindy não poderia dizer que estava surpresa por ouvi-los brigando, afinal todo o casal tem seus dias ruins.

Mas não parou por aí. Depois da primeira, não houve um dia sequer que o jovem casal não brigasse. E como eles brigavam. Toda a vizinhança podia ouvir os berros cuspidos com veneno e ferocidade da casa aconchegante, uma, duas, até mesmo três vezes por dia...!

Era sempre o mesmo ritual. Eles gritavam, ela o dizia pra ir embora e nunca mais voltar, e ele dizia que “sim! Era isso que ele iria fazer!” E então ele saía, dava três passos porta afora, e voltava correndo, batendo na porta como um desesperado, implorando por desculpas. E ela esperava cinco minutos e abria a porta se debulhando em lágrimas, falando que sim, é claro que ela aceitaria suas desculpas, logo depois o envolvendo em um forte abraço e o deixando entrar.

Cindy no começo achava tudo isso muito bonito e romântico, mas agora ela já se irritava com os vizinhos. Ela achava fora da capacidade de qualquer ser humano ser capaz de brigar com a mesma pessoa tantas vezes assim, e nem dez minutos depois se debulhar em lágrimas de remorso e ir correndo pedir desculpas! “Eles não se cansam disso?” Ela pensava irritada. Já chega. Todas as pessoas a um raio de dez quilômetros dali sabiam que eles não deveriam ficar juntos, que eles não se amavam mais, menos eles!

Na verdade a irritação de Cindy não vinha realmente das brigas do casal vizinho. Não. Ela estava só cansada de admitir pra si mesma que aqueles que um dia a haviam inspirado a amar estivessem começando a se odiar bem diante dos seus olhos. Ela simplesmente não podia admitir que o casal perfeito estivesse prestes a desaparecer da face da Terra, assim, sem mais nem menos.

Ela ouviu a porta dos vizinhos se abrir em um estrondo. Ela pensou "Vamos, terminem tudo de uma vez logo." Pôde o ouvir correndo pela grama molhada, rápido demais. Cindy se debruçou na bancada, para poder ver melhor. Ele estava na calçada, olhando para trás. E então pop. Desaparatou.

Cindy ainda pôde ouvir vindo da casa ao lado um grande estrondo de alguma coisa se desfazendo em mil pedaços, enquanto a vizinha gritava desesperada. “Talvez,” ela pensou, “isso seja o coração da Weasley se partindo.”

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E sem saber a razão exatamente, o seu grito se misturou ao da Weasley. Porque por mais que sua cabeça lhe dissesse que ela estivesse feliz por finalmente poder ter noites de sono tranquilas, o seu coração se partia também.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.