O Colecionador De Lembranças

Eu sinto muito...


Essa é uma parte da história que eu odeio contar, é a minha pior lembrança, mas ainda sim é uma coisa que merece ser lembrada.

Lembra que eu falei do Matias indo buscar a Lily do baile? Pois bem, a coisa estava realmente feia. Corri atrás deles na esperança de descobrir o que tinha acontecido de tão grave, e quando cheguei na casa de Lily eu pude entender. Os meninos estavam voltando para casa com o padrasto, e este estava muito bêbado. Resultado: acidente de carro.

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Quando chegamos no hospital onde eles estavam (a ambulância levou a gente) Lily quase não se aguentou e escondeu o rosto em meu ombro para chorar. Thomas estava com pontos na testa e Leo estava em coma.

E agora? Ela estava muito mal e não tinha nada que eu pudesse fazer, nem por ela e nem pelo Leo. Só o que pude fazer foi ficar ali, abraçando e consolando Lily. Mas percebi que ela não queria consolo, ela estava com raiva, muita raiva (eu também ficaria) do padrasto, porém este tinha desaparecido depois do acidente.

***************

As duas semanas seguintes foram algumas das piores da minha vida, mas não pelo que você está pensando, Thomas e Leo estavam bem, não precisa se assustar, mas acontece que depois da recuperação deles foi a vez da avó da Lily ficar doente (até hoje eu não entendo como essa garota atrai tanta coisa desastrosa) .

Lily passava a maior parte do tempo no hospital com a avó e evitava ao máximo falar conosco pois sabia que não aguentaria falar com ninguém sobre aquilo, ela estava sofrendo muito.

Mas então, vou evitar focar na Lily agora pois ela está mal e tudo mais, então vou falar na briga que rolou enquanto ela estava visitando a avó. Descobrimos o motivo da briga entre os “el’s” (Mabel e Samuel), e foi nada mais nada menos que ciúmes. Samuel queria voltar a falar com Annie pois viu que ela tinha realmente mudado, mas Mabel estava maluca com isso, não ia deixar o namorado falar com quem ela estava brigada.

Ah, e no meio dessa desgraça toda tem um lampejo de felicidade, Alan finalmente conseguiu o que queria, ele beijou a Annie no baile, a única coisa que tirou o sorriso dele foi o meu telefonema falando sobre o acidente, mas o que passou, passou, não vou ficar voltando muito, apesar de já estar aprendendo a importância das lembranças, remoê-las pode ser doloroso.

As semanas foram passando e a avó da Lily só foi piorando, ainda não sei ao certo o que houve, mas acho que ela tinha finalmente entendido que o marido morreu e estava sofrendo do choque, algo do gênero. Os gêmeos voltaram com a corda toda apesar disso, nem parecia que tinham sofrido um acidente feio, já corriam e pulavam com energia máxima.

Pra minha alegria (ok, já admiti que estou apaixonado por ela, então falar sobre ela me deixa feliz certo? Certo.) o maior consolo de Lily eram as minhas visitas diárias. Então um dia eu resolvi mostrar pra ela a minha coleção de lembranças, e essa foi uma das melhores decisões da minha vida.

Passados três meses do acidente e com a avó ainda no hospital, Lily precisava realmente de algum incentivo pra sorrir, e eu achei que minha coleção seria uma coisa boa, pois ela tinha sido a razão da minha extraordinária mudança de vida. Então levei o meu baú pra ela no hospital.

- Ei, trouxe uma coisa pra você. – Ela me olhou sorrindo, apesar das marcas de lágrimas no rosto.

- Ah, nem precisava, mas o que é?

- Ahn... Uma coisa um pouco besta, mas com um valor sentimental muito grande.

Uma hora se passou enquanto eu explicava e detalhava cada uma das minhas lembranças pra ela (com exceção do prendedor, essa ainda estava no bolso da minha calça), e um sorriso cada vez mais largo brotava em seu rosto, fazendo- a voltar a sua antiga vida.

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- Nossa Luka, isso é profundo. Mas devo admitir que é esquisito.

****************

Depois daquele dia, Lily passava cada vez mais tempo me perguntando sobre as minhas lembranças e eu tinha que lhe contar repetidas vezes tudo o que eu tinha dito da primeira vez.

- Mas como você escolhe suas lembranças?

- Já disse que depende do momento, pode ser qualquer coisa referente ao ocorrido.

- Que show! Minha favorita é a da briga, aquela em que você chorou...

- Eu chorei? Pelo que eu me lembre você quem ficou dizendo pra ele não me bater. Foi até fofo. – Se ela estivesse um pouco menos abalada eu teria levado um soco por isso, ter amiga violenta é uma coisa triste, sabia?

- Aquilo não foi fofo, e sim constrangedor, eu não estava ciente dos meus atos, eu estava em choque. Fofo mesmo foi você apanhando pra me defender.

- E eu faria aquilo de novo... – Ferrou, as palavras saíram antes mesmo que eu pudesse fechar a boca, que constrangedor, esperava que ela não tivesse levado aquilo a sério.

- Muito cavalheiro de sua parte – Ela brincou falando formalmente mas eu pude perceber a vermelhidão de seu rosto. Foi então que ouvimos o barulho que avisava que o coração da avó dela tinha parado de vez.

**************

Enterramos o corpo da avó dela no cemitério local, um enterro bem simples e reservado apenas para os parentes e os amigos de Lily. Foi deprimente vê-la daquele jeito, ela já não falava nada, nem eu conseguia confortá-la.

Eu estava indo em direção a ela quando percebi um pequeno brilho no chão. Uma moeda antiga. Peguei ela e coloquei no bolso, era muito importante e dolorosa, ela sempre me lembraria do dia em que a menina por quem eu estava apaixonado precisava de mim e eu não podia fazer nada para afastá-la daquela terrível dor.