Essa é mais uma daquelas histórias onde o cavaleiro tenta salvar a princesa. Não que a princesa em questão quisera ser salva, mas cavaleiros costumam ser um bando de nobres metidos a besta que não aguentam ver um vestido em uma torre.

Não olhe para mim desse jeito, eu estou do lado da princesa, ora, onde já se viu um membro da realeza que não pode ter um tempo recluso em paz?! Cavaleiros...

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Mas lá estava a ilustre figura, de armadura completa, montado em seu belíssimo cavalo branco, com uma espada presa à cintura e uma rosa junto da bainha. Pelo amor de todos os deuses, qual é o livro toscamente escrito que está dizendo "Leve rosas para a princesa"? Todos os presentes são rosas! A mente de nossos espadachins não compreende que toda e qualquer dama pode muito bem ter um jardim só para rosas? Aparentemente não. Mas voltando à história:

O rapaz se chamava Edward, assim como mais quatro Edwards do regimento da cavalaria (pequena curiosidade derivada de minhas andanças como bardo: todo reino sempre terá pelo menos dois Gerards, três Edwards e um Harry.) e era um jovem alto, forte, com o cabelo meticulosamente aparado e aquela expressão idiota que todos os jovens armados tem.

A expressão idiota? Sobrancelhas um pouco franzidas para demonstrar "concentração" e a boca sempre, sempre, com a ponta de um sorriso.

Se eu fosse um daqueles velhos caquéticos contadores de histórias diria que ele cavalgava pela floresta como o próprio vento, tendo como único objetivo a salvação da nobre donzela, parando apenas para rechaçar os terríveis monstros de seu caminho. Mas eu sou um bom bardo a favor do realismo, então eu lhe digo que ele cavalgava num ritmo descompassado, tendo como único objetivo a taberna mais próxima e um copo de hidromel (pois cerveja é ''bebida de camponês"), e toda vez que encontrava com algum tipo de outro ser vivo, conduzia seu cavalo na direção oposta, correndo como se fugisse da própria Hel. Mas não tirarei o mérito do rapaz, uma vez quando um duende bêbado cruzou seu caminho, ele deu um pontapé meio torto na traseira do bicho, e bradou para quem quisesse ouvir:

"Eu, sir Edward, irei resgatar a doce e gentil donzela Margareth de seu exílio, e nem o mais temível monstro irá me deter!"

Pobre coitado.

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"Ô JOHN, TRAZ MAIS UM CANECO DE CERVEJA DA BOA PRA CÁ, QUE HOJE EU SOU CAPAZ DE BEBER UM BARRIL INTEIRO!"

Essa frase normalmente é ouvida da boca de fazendeiros, bêbados ou fazendeiros bêbados. Mulheres mais vulgares também são ouvidas dizendo isso.

Mas ninguém nunca, eu repito, nunca, imaginaria ouvir Lady Margareth dizendo aquilo em voz alta.

É claro que ninguém daquela humilde, ah pro inferno com as delicadezas, daquela taberna imunda chamada "A Alça do Caneco" sabia que ela era alguma Lady, não, para eles ela era a "Maggie" como a própria havia se apresentado. E nem mesmo o olhar mais aguçado do melhor espião do castelo reconheceria a princesa, tal como estava trajada.

Mas não sou nenhum espião, sou um bardo. E foi graças a um acaso do destino que eu estava presente n'A Alça do Caneco naquela engraçada tarde de verão. E nem mesmo o melhor dos disfarces passa ao olho de um bom menestrel.

"Deixe que eu cuido disso." Disse enquanto pegava a caneca da mão de John e me dirigia à mesa da princesa. "Aqui está o seu pedido, milady."

"Milady?! Pelos cinco demônios, parece que estou num castelo! Senhor Educadinho, por aqui me chamam de Maggie!" A princesa falou num tom alto o suficiente para todos da taverna rirem.

"Por aqui lhe chamam de Maggie, senhora?" E então diminuí o tom da minha voz para que apenas ela ouvisse "Pois me lembro muito bem de minha mãe ensinando-me a tratar a realeza sempre por 'Vossa Majestade'."

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Um brilho de compreensão iluminou os olhos castanhos da princesa.

"Quem é você? E o que diabos quer de mim?" Ela perguntou entredentes.

Soltei uma gargalhada alta que arregalou os olhos de "Maggie".

"Eu?! Sou um pobre bardo, minha senhora! Nada tenho a ver com intrigas políticas ou a Cavalaria, e a única coisa que busco do mundo são histórias!" Inclinei o tronco para frente "E a sua parece-me bem interessante."

"Veja só se você não é um bastardo atrevido! Os outros tratarem-me assim é perfeitamente compreensível, mas mesmo sabendo de minhas condições reais atreve-se a perguntar sobre minha vida! Pois de bardo não tens nada, não diferes de uma velha fofoqueira!"

Ri com gosto da afirmação. E de toda a hipocrisia do fato, já que mesmo querendo viver no anonimato, insultava-se quando era tratada como camponesa e já mudava para a segunda pessoa do singular.

"A senhora se assustaria com a semelhança entre bardos e velhas fofoqueiras!"

"Para o inferno com 'senhora', sou jovem demais para ser chamada desse jeito, e se não reparou em minhas roupas, abdiquei de meus títulos há tempo." Margareth passou a mão pelo cabelo emaranhado. "Bom, bardo, desde que você se encontra tão interessado em minha história, acho que posso satisfazer sua curiosidade, mas requerirei algo em troca."

"Diga-me seu preço."

"Como parece saber, estão atrás de mim e eu não tenho intenção em ser capturada. Aqui na cidade já pude ver alguns cavaleiros rondando, o que significa que tomaram meu rastro. Preciso sair daqui sem levantar suspeitas, e já que você é um bardo, passa por todos os lugares sem ser percebido. Leve-me com você até uma cidade distante, que lhe conto minha história no caminho. Esse é meu preço."

"A senhora se parece mais como uma criminosa do que com uma princesa, Maggie."

"Aceite meu preço e saberá o por quê."

Margareth estava séria, e certamente esperava que eu relutasse em levá-la comigo, pois se surpreendeu quando eu gargalhei.

"Deixe-me ver se entendi: Em troca da sua história, eu levo-a comigo em uma viagem? Mas que barganha! Diga-me quando partimos!"

"Gosto de seu jeito, bardo, mas antes de sair por aí contando segredos a um desconhecido astuto, preciso que prove sua identidade."

Assenti com a cabeça e tirei meu cordão de prata de debaixo da camisa, um pingente e um anel tilintando, o pingente em forma de lua representando minha guilda e um anel de ouro com um brasão estampado que podia tanto sinalizar algum membro do alto escalão administrativo da Coroa quanto um bom bardo. Para o inferno, quanto um dos melhores bardos.

"Acho que isso é prova o suficiente de que sou um bardo, ou pelo menos um ótimo falsário." Disse enquanto me levantava. "Agora com toda a licença, eu preciso arrumar os preparativos, pois viajarei amanhã bem cedo, minha senhora." Fiz uma mesura e dei as costas à ela, coloquei minha capa azul com o símbolo de minha guilda, depositei algumas moedas no balcão do bar e saí. Ainda consegui ouvir John, o dono da taverna, perguntando à Margareth "Quem era o bacana ali e o que ele queria com ocê, Maggie?" Ao que ela respondeu rindo:

"Aquele? Um bastardo da pior raça, John."

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.