Hurricane

Capítulo 57


Hurricane II

Capítulo 34 - Fim

Horas depois, o bote atravessava o mar de lírios que os levariam a seu destino. Edmundo e Caspian remando, Ripchip, Lena, Colin, Eustáquio e Lúcia. Conversavam para passar o tempo, procurando desviar o assunto de qualquer coisa relacionado à ida deles de volta ao mundo de onde vieram. Era doloroso para todos.

– E como foi? - perguntou Edmundo, evitando que o silêncio preenchesse o bote. - Quando Aslam transformou você?

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– Por mais que eu tentasse, não estava conseguindo sozinho. - admitiu Eustáquio, enquanto Ripchip se apoiava na ponta do bote, observando seu destino. - Daí ele se aproximou de mim. Doeu um pouco, mas foi uma dor boa. Tipo... Quando você tira um espinho do pé. - ele deu de ombros. - Ser dragão não foi nada mal. Eu acho que fui um dragão melhor do que menino mesmo. Desculpe ter sido tão chato.

Lena sorriu, colocando a mão sobre seu ombro em um gesto de simpatia.

– Tudo bem, Eustáquio. Você foi um dragão bem legal.

Todos riram, mas logo foram interrompidos pelas palavras do ratinho.

– Meus amigos. Nós chegamos.

E todos se viraram para ver a grandeza do espetáculo. O mar de lírios acabou-se pouco antes de encontrarem a areia da praia. Ondas gigantescas cruzavam o ar pouco depois. Podiam-se ver altas montanhas por trás da espuma branca e um canto de pássaro também podia-se ser ouvido. Ripchip foi o primeiro a desembarcar, e os outros desceram logo atrás, admirados. Andaram lado a lado, suas sombras os seguindo-o. Até que uma outra sombra surgiu um pouco atrás daquelas. A sombra de leão. Eustáquio olhou em volta, admirando tudo ali, e deparou-se com um leão se aproximando.

– Aslam! - ele murmurou, chamando a atenção de todos.

Seguiram seu olhar, e pararam de andar ao ver o majestoso leão ainda se aproximando.

– Bem vindas crianças. - disse ele, parando em frente a eles. - Agiram muito bem. Muito bem mesmo. Estão bem longe. E agora, a jornada acabou.

Lúcia, Lena e Edmundo se entreolharam.

– Estamos no seu país? - perguntou Lúcia.

– Não. Meu país fica para lá. - ele meneou a cabeça, indicando as ondas que quebravam para trás. Ou o que estava por trás delas.

Caspian seguiu seu olhar, engolindo em seco.

– O meu pai está em seu país?

– Só pode descobrir isso por si mesmo, meu filho. - Caspian olhou mais uma vez para as ondas, ainda hesitante. - Mas fique sabendo: se prosseguir, não há retorno.- avisou Aslam.

Caspian se aproximou das ondas sob o olhar atento dos amigos, e tocou na água, que se dividiu levemente sob seus dedos. Hesitou, pensou, e decidiu. Não haveria honra em desistir de tudo o que batalhou para conseguir. Recolheu a mão, e se virou com a cabeça baixa e um brilho embaçado nos olhos.

– Você não vai? - perguntou Edmundo.

– Meu pai não iria ficar orgulhoso de mim vendo eu desistir do que ele morreu para conseguir. - respondeu Caspian, e Lena o olhou com orgulho e admiração. - Passei tempo demais querendo o que foi tirado de mim e não o que recebi. Eu ganhei um reino, um povo. - e virou-se para o leão. - Eu prometo ser um rei melhor.

– Já está sendo. - garantiu Aslam, antes de se virar para os outros. - Crianças...

Lúcia abriu um sorriso singelo, até ouvir as palavras do irmão, às quais chegou a ela com incredulidade.

– Já está mesmo na hora de voltarmos, Lúcia.

– Mas você adora isso aqui. - disse Lúcia, incrédula.

– Adoro. - ele confessou, sentindo dificuldade em dizer tais palavras. - Mas adoro nossa casa. E nossa família.

Lúcia se calou, refletindo sobre suas palavras. De certa forma, ela sabia que Edmundo tinha razão. Não poderia abandonar sua casa e sua família. O que Pedro e Susana diriam se ela desistisse agora e decidisse por ficar? Mas também não haviam só eles do outro lado. Havia a amizade dos outros, que ficariam em Nárnia.

– Lúcia, passamos aventuras aqui, mas é hora de irmos. - disse Lena calmamente, colocando a mão sobre o ombro da amiga. - Nárnia é incrível e eu jamais me esquecei dela. Me trouxe novas experiências e grandes amigos. Aqui é e sempre será o meu lugar. Mas não fisicamente, pois não pertencemos a esse mundo. Mesmo indo embora, Nárnia sempre terá seu espaço em minha mente e meu coração.

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Lúcia suspirou derrotadamente, abalada pelo discurso da amiga. E, apesar de apenas ela demonstrar, os outros também se emocionaram. Quem diria que Lena ganharia ainda mais confiança depois de tudo?

– Eminência... - interrompeu Ripchip, dando alguns passos à frente e fazendo uma reverência a Aslam, segurando a pena que tinha costume de ficar atrás de sua orelha. - Desde a mais tenra idade, eu sonhei em ver o seu país. Eu vivi grandes aventuras neste mundo e nada, aplacou essa vontade. Eu sei que posso não ser digno, mas com sua permissão, eu deixaria de lado a minha espada pelo prazer de poder ver o seu país com meus própios olhos.

– Meu país foi feito para corações nobres como o seu. Sejam eles grandes ou pequenos.

– Majestade. - exultou o ratinho, com um sorriso que mal cabia em seu rosto.

– Ninguém seria mais merecedor. - disse Caspian, quando Ripchip se virou para ele.

– Grato. - murmurou o rato de volta.

– É verdade. - concordou Edmundo, abaixando a cabeça em sinal de respeito.

Ripchip o reverenciou e se virou para Lúcia.

Lúcia parecia prestes a chorar. Aproximou-se do ratinho e se ajoelhou à sua frente, esforçando-se para segurar as lágrimas.

– Posso? - ela perguntou, levemente acanhada.

E Ripchip sabia bem o que ela queria dizer. Nunca ninguém havia feito isso, mas talvez pudesse abrir uma exceção desta vez.

– É... Acho que é a hora. - ela o pegou nos braços, e ele avisou. - Só dessa vez!

Lúcia fungou, abraçando mais o rato que logo cedeu e a abraçou de volta como podia. Ela o colocou no chão, mas Lena foi logo o pegando novamente.

– Epa! - exclamou o rato, esforçando-se para se equilibrar entre os braços levemente trêmulos de Lena.

– Ela pode, eu também posso! - disse ela, colocando-o novamente no chão. Colin apenas o cumprimentou com poucas palavras.

O ratinho se virou para o último amigo, Eustáquio, que se aproximou e se ajoelhou à sua frente. Eustáquio, diferente das meninas, já não impedia que as lágrimas fossem derramadas. E era fácil de entender seu lado. Ripchip fora o primeiro a deixar seu orgulho de lado para ajudá-lo enquanto ainda era um dragão. O rato fora o primeiro a consolá-lo, e ficara ao seu lado todo o tempo. Fora seu primeiro amigo verdadeiro.

– Não chore. - pediu Ripchip.

– Eu não entendo. Eu não mais ver você? Nunca mais?

– Que surpreendente enigma você é. E um verdadeiro herói. - disse o rato. - Foi uma honra ter lutado ao seu lado. E um ótimo amigo.

Ele abaixou a cabeça em sinal de respeito, e Eustáquio se levantou. Aslam virou-se para o ratinho, que fez uma última reverência a todos e correu até as ondas.

– Eu não preciso mais disso. - disse Ripchip, confiante, cravando a espada na areia próximo à água.

Pegou um pequeno bote deixado ao lado, e subiu nas ondas, remando. Aos poucos, ele já não mais podia ser visto. E um dos grandes vazios se formou nos corações dos que ficaram. Nunca era fácil se despedir de um amigo.

– É a nossa última vez aqui, não é? - perguntou Lúcia a Aslam.

– É. Vocês cresceram minha querida, assim como Pedro e Susana.

Lúcia aproximou-se, e estendeu a mão para acariciar a juba de Aslam. - Vai nos visitar em nosso mundo?

– Vou estar de olho em vocês sempre.

Lúcia levou o cabelo para trás da orelha. - Como?

– Em seu mundo, eu tenho outro nome. Devem me reconhecer nele. Foi por isso que foram trazidos a Nárnia. Tendo me conhecido um pouco aqui, podem me reconhecer lá.

– Vamos voltar a nos ver? - ela perguntou num último fio de esperança.

– Hum... - Aslam pensou por um momento, cuidando para não dizer mais que o necessário. - Vamos, querida. Um dia.

A menina afastou-se quando o leão virou e rugiu para as ondas, que se abriram em um círculo no meio que não podia se ver o fim.

– Vocês são a única família que eu tenho. - disse Caspian, se aproximando-se com Colin. - Inclusive você Eustáquio. - ele disse sorrindo e colocando uma mão no ombro dele.

O menino sorriu sincero.

– Obrigado. - ele murmurou.

Caspian abraçou Edmundo. Logo após abraçou Lúcia e Eustáquio. Edmundo se aproximou de Colin.

– Sinto muito por todos os meus ataques. - disse Edmundo, o tom sincero evidente em sua voz. - Lena disse que você tinha uma namorada, então deve imaginar como é ter ciúmes.

Colin riu descontraído. - Sim, eu sei como é. E não tem problema, acontece. - ele deu de ombros. - Cuide dela. - apontou com o queixo para Lena, que se despedia de Caspian e Aslam. - É uma garota muito especial. E você não tem ideia de como ela te ama.

Edmundo sorriu. Ambos trocaram cumprimentos rápidos e Lena se aproximou enquanto o moreno ia se despedir de Aslam. Lena abraçou o loiro fortemente, sentindo o coração se cumprimindo à medida que se dava conta de que nunca mais ia ver seu amigo novamente.

– Sem choro, por favor. - disse ele, em tom brincalhão, vendo algumas lágrimas escorrendo pelas bochechas de Lena. Mas ele mesmo estava lutando para se controlar.

Lena riu nervosamente, secando o rastro úmido. - Sabe, não é todo dia que eu faço um segundo melhor amigo, então eu estou no meu direito de chorar.

Colin riu.

– É, imagino. E também não é todo dia que eu tenho que dizer adeus a uma das únicas pessoas que já me entendeu na vida.

Lena sorriu tristemente, voltando a abraçá-lo. - Sentirei sua falta.

– Eu também, Lena. Mas você mesma disse que nunca esquecerá Nárnia, então espero que nunca me esqueça também. - ele lançou-lhe uma piscadela e o sorriso de Lena se tornou verdadeiro.

– Pode deixar. E manda um beijo pra Keyla.

Ela se afastou, e se juntou aos outros, enquanto iam para as ondas.

– Eu vou voltar? - perguntou Eustáquio ao leão, hesitante.

– Nárnia ainda pode precisar de você.

Ele assentiu, e voltou com os três para dentro das ondas. Olharam uma última vez para o rei, o marinheiro e o leão, até que a água preencheu o espaço onde estavam. A água os preencheu por inteiro, e Lena apertou a mão de Edmundo, garantindo-se que ele estava realmente ali. Respiravam bem ali na água, mas logo a luz acima deles os atraíram e, assim que os quatro emergiram, perceberam estar em um lugar menor, com móveis brancos. Edmundo segurou-se na barra de ferro da cama e se sentou, enquanto a água abaixava e puxava Lena para perto, garantindo que ela esta ali ainda.

Ele passou a mão pelo cabelo, assim que a água se fora, e percebeu que estava seco. Lúcia, ao chão junto com Eustáquio, fizera o mesmo movimento e percebeu o mesmo vestido azul de antes. Lena, sentada sobre o colo de Edmundo, olhando atônita ao redor, tinha um vestido roxo semelhante ao de Lúcia, e estranhava-se com tal roupa depois de tempos usando as roupas de marinheiro de seu primo.

Edmundo, sem conseguir se conter, apertou os braços ao redor da cintura de Lena e a beijou na bochecha. Eustáquio sorriu ao ver que a menina realmente havia ido para seu mundo. A água retornava ao quadro, que se encontrava ao lado dele.

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– Eustáquio? Eustáquio! O que está fazendo aí em cima? A Jill Pole veio ver você!– gritou uma mulher do andar de baixo da casa, fazendo Lena se assustar e Eustáquio sorrir sem graça.

Viraram-se a tempo de ver o resto da água retornando ao quadro. Eustáquio se levantou com o quadro em mãos, e voltou com ele ao seu devido lugar. Lena e Lúcia se levantaram e Edmundo foi em direção à porta, encorajando Lena com um sorriso. Ela sorriu fracamente, e os acompanhou para fora. Hesitou juntamente com Lúcia, enquanto esta fechava a porta e tinha uma última visão do Peregrino da Alvorada retornando para sua casa.