Mexia minhas mãos nervosamente em meu colo, tinha medo de que ele tivesse alguma má intenção com aqueles punhos assustadores.


Levantei o rosto, esperando que tivesse partido. Deparei-me com ele, parado na minha frente, com uma das mãos erguidas esperando um aperto.


-Olá, como se chama?- Perguntou-me com a voz rouca, nem um pouco convidativa.


-Marina, e você?- Respondi vacilante apertando lhe a mão.


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Sua grande mão envolveu a minha sem dificuldades, apertando-a com uma força desmedida. Ele a largou rapidamente ao notar minha careta de dor.


-Er... Chame-me de Jessie. - Respondeu-me envergonhado.


-Jessie?- E então comecei a rir. –Mas esse não é nome de menina?


-Hm... Sim. - Respondeu desconfortável.


“Não era piada, sua idiota.”


-Er... Quantos anos você tem, Jessie?- Perguntei cessando o riso.


-16. –Respondeu-me olhando nos meus olhos.


Eram de um azul tão claro!Chegavam até a parecer vampíricos... Tive o ímpeto de perguntar-lhe se não eram lentes de contato, mas poderia soar como uma ofensa depois do que lhe disse.


Então ele desviou o olhar. Estava observando-me agora.


“Estamos igualados agora.”


Se fosse parar para pensar, nós éramos contrastantes. Minha pele bronzeada não parecia ser incrivelmente chamativa perto dos meus olhos e cabelos escuros. O que podia chamar algum tipo de atenção eram minhas mechas roxas que se perdiam entre meus cabelos curtos e um tanto espetados. Minha roupa estava dentro dos padrões normais da moda: uma calça skinny no meu tamanho, uma blusa vermelha e um tênis que não era novo, mas também não estava totalmente acabado.


-E você?- Perguntou-me após a sua análise.


-13, mas vou fazer 14 logo, logo!- Respondi presunçosa.


-Pareceu-me ter mais. –Disse surpreso.


-É o que todos dizem...


-Isso já lhe causou problemas?


-Vários... -Respondi automaticamente.


-Com seres do sexo oposto?- Perguntou, de repente sondando-me.


-Sim. –Respondi novamente sem pensar.


Encarei as minhas mãos cerradas em cima da mesa. Más recordações sempre mexiam muito comigo.


-Sinto muito.- Disse pegando minhas mãos.


Mesmo sendo grandes, eram sutis. Mas era estranha a forma como a sua mão direita parecia ser menos quente e elástica que a esquerda.


-Talvez devesse comprar luvas... –Disse surpreendendo-me. - Tem mãos geladas.


-Ah,sim...Sendo assim, você deveria comprar uma só. – Disse levantando sua mão direita.


Assim que lhe disse isso, tirou rapidamente as mãos de me domínio. Parecia sofrer certo nervosismo, como se tivesse dito algo que o desmascarasse.


-É, acho que está certa. – Disse com a voz tornando-se rouca novamente.


Depois do ocorrido, seguiu-se um silêncio torturante. Ele evitava olhar-me nos olhos, e parecia esconder sua mão direita de mim. Senti que havia criado um clima tenso entre nós, e então acabei por quebrar o gelo.


-E o que te trouxe aqui, Jess? Posso te chamar assim, não é? – Disse forçando certo animo.


-Ah, claro! – Disse animado. – Eu trabalho aqui.


-Sério?Aonde?


-Em muitos lugares. – Disse rindo, como se desfrutasse de alguma piada. – Falando nisso, eu preciso ir, meu horário de almoço acabou. – Disse levantando-se.


- Espere! – Disse com minha mão fechando em sua camisa. – Er... Vou te ver de novo?


- Com a freqüência com que vem aqui, creio que sim. Adeus


-Tchau... - Disse sozinha


E fiquei ali, sozinha com os restos mortais de meu almoço, digerindo o que acontecera. Um garoto extraordinariamente belo (e alvo), que se vestia muito mal viera falar comigo. Com seu modo de falar tão formal e seus modos tão tradicionais (como cumprimentar-me com um aperto de mão) que parecia até ser de outra época. Parecia ser tão interessado em mim, que chegara até a me perguntar se já sofrera algum tipo de abuso...


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Ele era realmente estranho, e se ele fosse algum tipo de psicopata ou serial killer? Ah! Aquilo era demais para mim!


Acabei adormecendo sob a mesa da praça de alimentação, após terminar minha lição de casa.


-Ei, Mari!Acorda, o shopping vai fechar!- Disse Stephanie chacoalhando-me.


-Hm...Desculpa Ste, eu não dormi nada ontem – Disse a encarando.


Ela pareceu espantada, me abraçou com os olhos marejados. Eu retribuí o abraço, com os olhos igualmente lacrimosos.


-Dorme lá em casa, minha mãe vai me matar se souber que eu não estou cuidando da minha pirralhinha. – Sussurrou com a voz trêmula.


-Tá.


E assim fomos embora, abraçadas. Ambas lamentando o ocorrido da noite passada.