Pequenos Infinitos

CAPITULO 7


Encontrei Grace no parque na hora marcada. Ela estava sentada a sombra de uma arvore e eu me fiquei parado em pé. Havia muitos parques na cidade, e aquele poderia nãos era o maior deles, mas com certeza era o que tinha mais árvores com certeza. E Grace estava encostada na maior delas. O tronco tinha mais ou menos um metro e meio de largura e ela media uns três metros de altura. Ela estava linda como sempre. Eu tinha que ter ido com a mesma roupa que estava na casa de Luke. Uma camiseta verde musgo, com o símbolo de uma cabeça de uma águia dentro de um círculo, que levava escrito dentro de si as palavras: “Forças Unidas da America”. O símbolo da facção secreta onde o tal cara bombado do jogo que Luke e eu estávamos jogando trabalhava. O cigarro entre os dentes. Sorrindo. Ela estava usando uma camiseta de alcinha azul bem clara com a barra larga e com enfeites que parecia um vestido que ia só até altura da cintura e uma calça jeans preta. Ofereci a mão para ela, que segurou e se levantou.

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Nós começamos a andar. Eu estava constrangido. Era meu primeiro “encontro” e nem tinha sido eu quem tinha marcado ele. Ela não faliu nada também, parecia estar pensando profundamente em algo. Resolvi leva-la para um lugar bonito. Metade to parque era constituído por uma trilha de arvores que se engalfinhavam fazendo parecer que você estava andando em um tipo de caverna arbórea. E talvez isso não tenha sido uma boa escolha, porque ao longo de todo o caminho casais de namorados estavam se beijando ou abraçados, lendo algumas das placas que falavam sobre os tipos de árvores que estavam espalhados por ai.

– Eu... – falamos juntos – Diga.

– Você primeiro.

– Eu tenho algo para confessar a você. Não fui eu quem mandou a mensagem para você. Foi o Luke. Eu comentei que estava a fim de você, e ele pegou meu celular e...

– Olha. Eu, na verdade, não vim por você exatamente. Eu só queria passar um tempo fora de casa. Com alguém que não me entendesse. Sabe?

Assenti. Mesmo não entendo a lógica dela. Quer dizer, acho que ela estava tentando dizer que não estava interessada em mim e que eu deveria procurar outra. Mas o problema é que eu não queria qualquer outra. Só ela. Quando eu estava com ela me sentia calmo, feliz. Eu não consegui nem ao menos me sentir bravo por ela ter ido naquele “encontro” contra a vontade.

– Então, quer ir tomar um sorvete.

– Eu já disse, eu não vim aqui por...

–Por minha causa. Tá, eu entendi. Só não quero estragar o dia. E sério, preciso sair do meio desse monte de gente se agarrando!

Ela soltou um sorriso que eu gostei de ver. Gostava de vê-la sorrindo. Quando ela fazia isso, parecia tipo, a coisa mais fascinante do mundo. Tá, isso era bobo. Mas aparentemente até ali eu tinha sido MUITO bobo, por que não continuar?

Nós andamos com passos apressados e fomos até uma padaria ali perto. Compramos sorvetes de palito e sentamos em um banco de pedra cinzenta do parque. Tirei o cigarro da boca para poder chupar o sorvete.

– Sabe, eu não entendi o que você disse lá na Caverna Arbórea.

– E esse é o seu ponto forte! – ela disse – O que você não entendeu?

Eu sorri e dei uma mordida no sorvete, sentindo a ponta do palito de madeira.

– Você disse que queria ficar longe das pessoas que te entendem. Eu não entendi.

– Eu não quero que as pessoas fiquem se lamuriando a minha volta. Na minha casa todo mundo chorava por minha causa, e eu simplesmente odiava isso, porque: (a) Chorar não me cura e (b) todo mundo vai sofrer o que eu estou sofrendo um dia - Então... Ela estava morrendo? Eu estava entendendo cada vez menos – Eu fui para a casa da Lili, porque lá ninguém sabia do meu problema. Mas para eles me aceitarem lá eu tive que explicar toda a situação e agora toda família dela me olha com a dó que eles teriam por um condenado a forca. E talvez eu não passe mesmo disso. Uma condenada a forca. Então, eu queria me afastar de tudo isso. Sabe, de pessoas que olham para mim como se eu fosse a própria morte transfigurada? Isso é chato e sem motivos, para falar a verdade.

Eu entendi algo dessa vez. Mas resolvi não perguntar de mais.

– Então, você esta com uma doença mortal e as pessoas te olham com dó para você? E você não gosta disso. Isso é inédito.

– E agora que você sabe disso nós temos duas opções. Você se salva da dor de eu ter um problema incurável ou nós nos afastamos e você não precisa olhar para mim com uma cara de cãozinho desamparado. O que você prefere?

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– Prefiro sugerir uma coisa.

– E o que seria?

– E se nós nos tornássemos amigos – ela ia protestar, mas eu levantei o dedo indicador pedindo silencio, mordi o último pedaço do sorvete e fiquei com o palito entre os dentes, como se fosse um dos meus cigarros – Eu posso me tornar um amigo. Eu não vejo por que olhar você como se sua doença fosse algo a se dar pena. Pessoas morrem todos os dias e isso é um fato imutável do mundo. Então, por quê não aproveitar os últimos dias que você tem?

– Você vai acabar ficando mal.

– Juro que não.

– Todo mundo é igual. Todos vão chorar. Se magoar. Talvez eu esteja fazendo do jeito errado.

– Tudo que o ser humano deixa para trás são feridas. Algumas maiores que outras. Mas e se eu dissesse que sou diferente?

– Eu não iria acreditar.

– Então eu vou te provar. Eu prometo que vou.

– Eu não acredito muito nas pessoas sabe? Coisas aconteceram para que eu chegasse a esse ponto, mas eu não acho produtivo confiar nelas.

– Confie em mim. Acredite. Eu vou provar, eu prometo. Eu vou provar para você que sou diferente de qualquer outra pessoa que você já tenha visto!

– Quero só ver...

– Isso é um Sim?!

Ela ficou em silêncio. Olhou para o sorvete por um tempo.

– Me de uma chance? – pedi.

– Talvez... – começou ela, mas se interrompeu.

– O que?

– Talvez você se magoe. A verdade é que eu vou morrer e mesmo se acontecer alguma coisa entre nós, eu vou morrer.

– Você não parece doente.

– Mas estou! Eu não vou fazer mais amigos. Estou morrendo, não tenho que fazer mais nada.

Ela era realista. E eu concordava, de certo modo. Entendia. Mas mesmo assim...

– Isso não me importa! Eu sei que você vai morrer, mas e dai?! Isso não quer dizer que você tenha que agir como alguém que esta morrendo.

Certo, de certo modo tinha sim.Uma pessoa que esta morrendo esta morrendo, e não há força no universo forte o suficiente para mudar esse fato. Mas há forças mais simples que as forças divinas que podem a ajudar a melhorar o fato de se estar morrendo. E se eu pudesse eu seria essa força para ela. Era tudo uma droga, tudo bem, mas eu era a reabilitação. Era o único canto em que ela poderia sentar e chorar como uma criança, ou sorrir como um bebe, se quisesse. Eu QUERIA ser essa pessoa para ela!

– Tá.

Meus olhos brilharam. Meu coração disparou.

– OBRIGADO! – eu berrei e abracei ela na imerso na emoção do momento.

Ela deixou o sorvete escapar e quando eu notei o que estava fazendo e me afastei de súbito. Me desculpando loucamente.

– Tudo bem – ela ria.

Eu a olhei nos olhos por alguns segundo e depois me ajeitei no banco e coloquei devolvi o cigarro para a boca. Fiquei olhando, cintilante de felicidade (eu nem sei porque!), havia um casal andando de mãos dadas no outro lado da rua. E eu me imaginei andando com Grace, do mesmo jeito que eles.