- Eu só estou dizendo que essa festa tem que ser uma mistura de aniversário com despedida, ou seja, tem que bombar! - disse Vanessa ao telefone, me fazendo ensurdecer com toda sua animação.

- Você sabe bem o quanto eu odeio ser o centro das atenções, não sabe? - eu disse sem tirar o olho da página da Universidade da Flórida que brilhava em meu computador.
- Amiga, você passou pra uma universidade estrangeira! Você vai morar na Flórida! Tem noção? TEM NOÇÃO?! - ela disse, tão alto que quase fez meus tímpanos explodirem. - E além do mais, seu aniversário de 18 anos está chegando - como se eu não soubesse ou não tivesse ouvido nas últimas dez vezes que ela repetiu isso.
- Eu sei, eu estou animada também... - não tanto quanto ela. - Mas eu não gosto de festas. Nem de tumulto. Nem de pessoas. Não podemos fazer alguma coisa só nós duas? - eu disse e, pelo silêncio, pude sentir que tinha a decepcionado.
A viagem da minha vida estava se aproximando junto com o meu aniversário, sabia que era importante. Vanessa Valdez é minha melhor amiga e eu sabia que ia sentir muita a falta dela e ela a minha, quando eu partisse. Sei o quanto ela gosta de festas e, se eu ainda vou em alguma é porque ela chora, grita e implora para eu ir com ela. Mas não era uma questão de diversão, e sim de dar um "último adeus". Ela sempre esteve do meu lado e agora eu vou deixá-la para ir para um lugar a, aproximadamente, 6730 km do Rio de Janeiro. Eu devia isso à ela. Pensei bem e, antes que mudasse de ideia, disse:
- Talvez uma festa pequena - pude ouvir os gritinhos de alegria pelo telefone. - E com poucas pessoas. Agente pode comprar as comidas, bebidas e a decoração amanhã à tarde.
- Isso, isso, isso, isso, Ana. Beleza! Ai, que bom que mudou de ideia rápido. Eu te asseguro que não iria desistir tão fácil disso.
- Tudo bem, mas eu tenho mais uma condição...
- Diga, meu bem.
- Eu escolho a playlist!

§

No dia seguinte, chegamos do mercado e colocamos todas as sacolas no balcão da minha cozinha. Depois fui preparar um lanche para nós enquanto Vanessa ia organizando tudo que compramos em seu devido lugar e tagarelava sobre os detalhes da festa. Sabia que seria muito mais elaborada do que eu tinha planejado e já estava ficando com o estômago revirado de nervoso quando o telefone tocou e cortou meus pensamentos. Pelo visto não os de Vanessa, já que ela ainda tagarelava, agora sobre nossos vestidos.
- Alô?
- Oi, meu nome é Beth Bakes, diretora da Universidade da Flórida. Poderia falar com Ana Fernades? - Levei um susto quanto ouvi a voz de uma mulher, que parecia já estar nos seus 50 anos, falando em inglês comigo. Tudo bem, foi pra isso que eu fiz cursinho por 5 anos. Esse era o meu teste.
- Sou eu mesma – disse, arranhando um inglês.
- Que ótimo! Só liguei para avisá-la de um pequeno problema...
Eu estava entendendo! Nem acredito que entendia ela falar inglês comigo! Tudo bem que não foi muito, mas mesmo assim. Sou, oficialmente, uma bilíngue agora.
- Sim, sim. Pode me falar! – eu disse soando um pouco mais animada do que deveria.
- Só queria que soubesse que houve um imprevisto em relação à divulgação de informações incorretas e o responsável por isso já foi demitido.
Nossa, essa foi rápida demais. OK, não sou tão bilíngue assim...
- I’m sorry. I don’t... – murmurei, envergonhada.
- Querida, suas aulas não começam daqui há um mês. Começam semana que vem.
Infelizmente, essa frase deu pra entender perfeitamente.

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