DO ALTO DO MONTE, uma pedra era chutada em direção ao precipício que ali havia, caindo metros abaixo. A paisagem que se permitia assistir, perdida entre aquelas montanhas rochosa, era composta por ruínas e monumentos que datavam da Era Mitológica.

O lugar era contemplado através dos olhos amendoados de brilho esverdeado, escondidos por trás de duas longas mechas de cabelos escuros rebeldes no alto da cabeça caindo pelos ombros e costas. Nublavam seu rosto de traços fortes e de nariz pequeno levemente arrebitado de um clássico grego das esculturas. Os lábios médios esboçaram um sorriso, acompanhado de um suspiro.

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— Santuário de Athena... — dizia, tirando de vez o capuz que revelava seu rosto jovial de seus quase 20 anos. — Finalmente eu a encontrei. — Fechou os olhos e desapareceu.

Surgiu na garganta das montanhas, mas que por um erro de cálculo foi preciso buscar equilíbrio abrindo os braços para que não caísse no vale metros abaixo. Recuou alguns passos e respirou fundo. Olhou para o alto, vendo onde estivera há poucos instantes e depois aos arredores, vendo o caminho bem logo à sua frente e já dando alguns passos, quando foi surpreendido com uma voz:

"Hey, você! Não tem permissão para entrar nesse território!"

Contava-se ao menos uma dezena de soldados que pareciam brotar repentinamente naquele lugar: três às suas costas, quatro à sua frente e ao menos três num nível mais acima nas rochas que portavam lanças. Um destes por terra, carregando um chicote, ganhara um passo à frente do jovem que apenas os observava de maneira entediada, os braços esticados ao lado do corpo.

— Quem acha que é para aparecer desta maneira assim? Dê meia volta ou vai se arrepender!

O rapaz apenas piscou aturdido, levando a mão na altura da nuca.

— Nossa, mas que recepção mais calorosa! — disse com um sorriso bobo no rosto, mordiscando a língua de canto. Quebrou a cabeça um pouco de lado, descendo a mão esquerda até seu ombro direito enquanto o braço direito mantinha-se na cintura. — Olha, eu adoraria ficar e conversar mais com vocês, mas estou com pouco de pressa, saca? Fica para depois! — disse somente, voltando a caminhar e passando pelo soldado que o olha perplexo pela reação daquele jovem. Quem pensava que era para reagir assim?

As mãos do soldado seguram firme o chicote e, sentindo-se contrariado, ataca o jovem que apenas assiste pelo canto dos olhos aquela reação e sorri de canto. Para a surpresa daquele homem, antes que o chicote estalasse, ele parou sobre o garoto e o contra-atacou, envolvendo todo seu corpo e sendo levado ao chão ao se desequilibrar.

Os outros soldados que estavam por terra, às suas costas, avançaram para atacar, mas sentiram seus corpos serem levitados e serem arremessados contra aqueles à sua frente que também avançavam em ataque, derrubando-os como se fossem pinos de boliche.

O jovem rapaz apenas mantinha-se parado, com as mãos no bolso da calça. Os dois outros soldados arremessaram suas lanças, mas se surpreenderam quando elas desaparecerem numa parede invisível e atacarem de volta, prendendo-os na parede quando fincada na rocha.

— MALDITO! VOCÊ VAI NOS PAGAR! — exclamou o líder, solto do chicote e ordenando o avanço dos soldados.

— Que inferno. Eu já disse que estou com pressa! — comentou sem alterar sua voz, tirando a mão do bolso, e levantando-a num gesto simples, dobrando o pulso.

Todos os soldados que avançavam sentiram seus corpos serem arremessados no alto e despencarem violentamente até o chão. Uma nuvem de poeira se levantou, e apenas assistiram sua silhueta desaparecer no horizonte antes que perdessem a consciência.

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Já no Santuário, vislumbrou o anfiteatro, onde jovens aspirantes a cavaleiros treinavam. Olhou em direção ao monte das Doze Casas Zodiacais e seguindo na direção destas. Ao passar pela primeira Casa, sorriu. Estava vazia, mas não encontraria obstáculos para atravessá-la, não muito diferente de todas as outras. No entanto, havia uma em que se sentiu obrigado a parar, contemplando sua fachada por minutos a fio antes de adentrar no templo zodiacal.

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A sua expressão era de ansiedade quando entrou no templo. Em meio à penumbra, percebeu uma luz dourada e foi guiado por ela, sentindo-a em harmonia também com seu cosmo. Avançou a passos calmos e parando diante da armadura dourada que brilhou ainda mais intensamente. O rapaz apenas sorriu e esticou seu braço em direção dela numa expressão silenciosa de ‘Não!’ ou algo parecido.

— Ainda não. Não é o momento. Ainda não sou digno de vesti-la. — E seu cosmo desapareceu, como se a mensagem tivesse sido compreendida pela armadura. Avançou pela Casa, olhando mais uma vez para trás e avançou por cada um dos templos.

Dentre todos, uma tinha seu Guardião, mas parecia compenetrado em sua meditação que nem mesmo pareceu se importar com aquele jovem. Após avançar cada um dos templos zodiacais, chegava ao Templo do Patriarca. Avançou pelo grande salão, atravessou corredores até parar diante da grande porta dupla ornamentada. Empurrou esta, vendo um homem sentado no trono daquele que seria o Grande Mestre dos 88 Cavaleiros de Athena.

— Estava à sua espera, Van Quine. — disse aquele de costas, frente ao trono de mármore, com suas vestes sagradas.

O jovem atravessou a sala, visando reverenciar enquanto buscava reconhecer aquelas madeixas, mas sendo imediatamente impedido, o que o confundiu.

— Não sou o Grande Mestre para tamanha reverência, somente alguém que o assiste em sua ausência. — e virou-se, revelando-se conhecido, com uma expressão singela e dócil numa expressão amadurecida pelas batalhas.

Comentou sobre o ocorrido na garganta rochosa e por não ter matado os soldados quando assim poderia, mas tê-los poupado. Quine, aquele jovem, sorriu de modo moleque, levando a mão atrás da cabeça.

— Não era minha intenção feri-los, mas precisei fazer algo ou não me deixariam chegar aqui. Afinal, estou aqui com intenção de sagrar-me um Cavaleiro de Athena. — respondeu, repousando o braço de volta à sua perna. — Por outro lado, não posso esconder minha surpresa em conhecer um dos lendários Cavaleiros de Bronze que lutou contra Poseidon e Hades, mas principalmente por ser aquele a derrotar um dos mais fortes dos dourados na Batalha das Doze Casas Zodiacais. Sinto-me honrado em conhecê-lo... antigo Cavaleiro de Andrômeda, Shun.

Shun apenas esboçou um tímido sorriso. Após tantas batalhas, por seu coração puro e justo, estava ali para auxiliar na preparação de novos cavaleiros a pedido da própria Athena. Em sua mente, reviveu cada uma das batalhas enfrentadas ao lado de seu irmão Ikki e de seus amigos Shiryu, Hyoga e Seiya.

— Senti, há poucos instantes, seu poderoso cosmo vindo de uma das Casas Zodiacais. Embora Kiki tenha me falado de ti, de seu progresso quando o ajudava a dominar suas habilidades e técnicas, por que não aceitou a escolha da armadura de ouro? — indagou Shun de maneira curiosa.

— Não sou digno ainda de merecê-la. — respondeu ele humildemente sem pestanejar. — Por isso vim ao Santuário. Conquistarei por meu mérito. Não me sinto à altura para vestir a armadura dourada de Gêmeos, a armadura que pertenceu a Saga... meu pai.

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.

Sentado nos degraus do anfiteatro, Van Quine assistia aos treinamentos dos aspirantes. Porém, seus olhos estavam vidrados numa aprendiz de cabelos longos escuros. "Será que ela era assim, como essa garota...?", pensava ele.

— Divagando, Quine? — dizia alguém surgindo às suas costas. Aquilo não pareceu surpreender em nada o rapaz que mantinha ainda os olhos vidrados na jovem aprendiz. — Já soube de sua proeza e não me espanta de ser o escolhido pela armadura. Mas, por que dizer não ser merecedor da armadura dourada de Gêmeos?

Quine desviara o olhar baixando os olhos, em seguida a cabeça com aquele comentário. Voltou-se para o amigo que se sentava ao seu lado. Era bonito, de longos cabelos castanhos acobreados ondulados e presos por uma fita que caia pelas costas.

— Eu realmente não sou, Kiki. Quero por meu mérito, não como uma herança de meu pai. — disse Quine com certa simplicidade.

— Uma armadura de ouro não escolhe alguém pela hereditariedade, mas por suas virtudes. Se ela o escolheu, julgou-o digno disso. — sorriu baixando a cabeça e voltando-se para o amigo ao seu lado, acompanhando seu olhar até o delfos e assistindo a jovem que ele tanto fitava. — Mas, compreendo a razão pela qual também veio ao Santuário.

— Eu nunca a culpei pela escolha que fez. — comentava, com ar saudoso. — Ela fez aquilo que acreditava ser o certo, mesmo tendo que renunciar algo. Mesmo que essa renúncia tenha sido eu, mas para salvá-lo.

Em meio àquelas palavras, o semblante de Quine não mais era de um jovem moleque travesso, mas uma expressão séria, um olhar saudosista enquanto contemplava o anfiteatro naquele fim de tarde.

— Ela o deixou com aqueles que confiavam, deixando-lhe algo que certamente trouxe contigo. Desde que lhe foi entregue, jamais o deixou. — Kiki desviou os olhos olhando para um ponto qualquer do chão, voltando-se para Quine. — Está com ele, não é mesmo?

Quine baixou a cabeça mais uma vez, removendo a capa de seu colo, revelando um livro de capa de couro e folhas já amareladas amarradas por uma tira entrelaçada, muito parecida com a pulseira que usava em seu pulso esquerdo.

— Ela me deixou isso, como um meio de saber quem ela foi, de como tudo realmente aconteceu, de quando e como conheceu meu pai. — dizia tocando a capa do livro com a ponta dos dedos. — Você foi meu mestre, mas acima de tudo meu amigo, um irmão, Kiki, mas ela conseguiu me orientar bastante através destas páginas amareladas.

— Por isso assimilou tão bem as técnicas e habilidades. — Kiki riu contidamente de maneira orgulhosa e com um sorriso no rosto.

— Sim, e a parte mais importante deixei para ler aqui... — dizia olhando para o livro, os cabelos esvoaçando. — Quando chegasse ao Santuário e sentir tudo que ela sentiu! — a voz dele saia embargada, fazendo-o respirar fundo. — Quero conhecer cada lugar por onde ela passou, quando se amaram, quando ela renunciou a tudo somente por ele.

— Compreendo... — disse Kiki se levantando. — Vou deixá-lo sozinho. Sabe onde me encontrar. Porém, quero que saiba que Selene de Pyxis, sua mãe, foi mais que uma Amazona de Prata de Bússola. Apesar de ter um poder que se igualava aos Cavaleiros de Ouro, não foi através de seu poderoso cosmo que salvou seu pai Saga, mas com o amor que sentia por ele, o mesmo amor pregado por Athena.

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Quine prendeu a respiração por alguns instantes ouvindo aquilo, sentindo os olhos lacrimejarem, mas resistiu. Apenas sorriu, baixando a cabeça.

— Em seu último suspiro... — continuou Kiki, percebendo a emoção do irmão. — Athena confidenciou certa vez ao meu mestre Mu de Áries que, pouco antes de morrer, Saga pediu perdão não somente por sua traição, mas também por sua mãe. Ela realmente o salvou, Quine... e não encontrará isso nessas páginas. — e Kiki desapareceu.

Quine sorriu. dedilhou mais uma vez a capa e seus dedos abriram o livro, inserindo-o nas lembranças de sua mãe contidas naquele diário.