— Acorda, Fatinha! – Gritei ao entrar no seu quarto e me deparar com ela embaixo de quarenta cobertas. Ela estava sozinha no quarto até eu chegar.

Fatinha murmurou alguma coisa que eu sinceramente não entendi e virou-se para o lado da parede.

— O que houve? – Perguntou.

— Tenho que falar com você.

— Fale.

— Seria ótimo se eu pudesse olhar no seu rosto. Com os seus olhos abertos, de preferência.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Desculpe – Falou e sentou-se na cama – Então, o que aconteceu?

— Isso vai parecer banal, esquece...

— Já me acordou, agora fala, né – Sorriu fraco.

— Não é nada demais.

— Fale...

— Tudo bem. Eu só vou lhe contar isso porque não quero que você saiba por outras pessoas, mas saiba que o que aconteceu não tem importância. Eu nem ia contar para ninguém, mas fiquei tão confusa que a primeira pessoa confiável que eu achasse no saguão eu contaria. Bem, eu contei para Bruno e ele me disse que você não ficaria brava com o que aconteceu. E é melhor que não fique mesmo.

— Espera aí, você falou com quem?

— Bruno.

— Argh – Ela falou deitando novamente e cobrindo seu rosto com a coberta.

— Já vi que você está em um dia bom – Ironizei – Agora se levante de novo que essa não é a pior parte.

— Tudo bem.

— Você mantém a sua opinião ruim sobre Fera?

— Mas é claro! – Falou como se fosse óbvio. Ela podia colaborar, não é?

— Então você não vai gostar do que aconteceu.

— Fale, eu estou ficando curiosa demais – Riu levemente.

— Bem... Há alguns minutos eu e Fera nos... Beijamos – Abri um sorriso forçado e ela começou a rir.

— Estou falando sério, Malu, conte logo o que aconteceu.

— Eu também estou falando sério, Fatinha – Olhei-a firme e ela parou de rir, arregalando os olhos.

— O que? E por quê?

— Na verdade, ele me beijou. Mas, acalme-se, foi porque ontem na festa ele teve que fingir que saía comigo para afastar uma garota que corre atrás dele.

— E você o ajudou?

— Sim...

— Não acredito! Quantas vezes eu lhe falei para não se aproximar dele? – Ela levantou da cama, ficando na minha frente.

— Ah, agora você manda na minha vida? – Perguntei sem pensar. Ela suspirou e balançou a cabeça negativamente.

— Não. Mas eu não quero ver você mal, do mesmo jeito que eu estou agora.

— Por que eu ficaria mal? Fatinha, ele não me beijou porque quis! Isso tudo é fingimento. Fin-gi-men-to!

— Malu.. Você faz o que quiser da sua vida. Depois, só não diga que eu não avisei.

— Por que toda essa tempestade em copo d’água, Fatinha? Você não acha que está exagerando? – Elevei o meu tom de voz.

— Me desculpe por querer ver você feliz – Revirou os olhos.

— Eu sei me cuidar!

— Tanto sabe que foi se aproximar justo da pessoa mais mesquinha daqui. Ele me magoou, Malu, que tipo de amiga é você?

— Ah, agora eu não posso ser amiga de uma pessoa só por que ela foi um pouco rude com você?

— Você fala como se nunca tivesse me impedido de falar com alguém que você não gostava.

— É. Eu realmente fiz isso. Mas foi há anos atrás, fatinha!

— Há anos atrás... Antes de você mudar desse jeito.

— Eu mudei? Por quê? Fatinha, eu não sei você sabe, mas Bruno já magoou inúmeras garotas. Já pensou se cada uma delas pedisse para você não falar com ele?
— Nenhuma dessas é a minha melhor amiga.
— Quer saber? Você fala tanto que Fera magoou você, mas você não percebe que Bruno lhe magoou muito mais. E sabe por que você não percebe? Você está totalmente cega com esse amor que não vai levar você a lugar nenhum! Isso é hipocrisia da sua parte, não querer que eu fale com Fera, sendo que você sonha com Bruno dias e noites, e agora está aí, jogada e chorando. Por que não percebe quem realmente está machucando você? – Soltei rapidamente as palavras sem pensar. Só percebi o estrago delas quando analisei a expressão incrédula de fatinha. Notei que ela estava assustada e prestes a chorar. Eu me odeio.
— É... – Ela soltou com um fio de voz – Eu sei quem realmente está me machucando agora. E uma dessas pessoas é você – Uma lágrima caiu de seus olhos.
— Fatinh, eu não quis dizer isso, por favor... – Falei com os olhos já molhados também.
— Tanto faz... – Ela falou baixo e abriu a porta, como se pedisse para eu sair.
— Tudo bem – Falei cabisbaixa e saí porta a fora. Fui para o saguão e lá ainda estava Bruno, jogando o seu videogame – Você é um péssimo conselheiro – Falei e sentei-me ao seu lado.
— O que houve?
— Me descontrolei e acabei magoando-a.
— Ah – Ele murmurou e voltou a jogar o seu videogame.
— Nossa, quanta preocupação – Ironizei.
— Não... É que Fatinha se magoa muito fácil, logo vocês já estão se falando de novo.
— Bruno... Você sabe por que ela está frágil... Não sabe? – Perguntei olhando-o.
— Sei – Ele murmurou fingindo indiferença.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

—Malu! – Fera me chamou enquanto eu estava andando no corredor e indo para minha sala de aula.
— Fale.
— Naomi está vindo – Ele escondeu sua cabeça em meu ombro e eu revirei os olhos.
— Fera, já chega. Você não acha que já está na hora de você enfrentar o seu problema sem mentir? Vá lá e fale com ela, resolva do jeito que quiser, só pare de me meter nisso.
— Por que essa mudança de atitude repentina? Fala sério, você está amando fingir estar saindo comigo – Ele sorriu com malícia.
— Mais modéstia. Nem todas as garotas daqui têm esse desejo por você.
— Mas você tem – Falou e eu ri ironicamente.
— Ah, tenho? Quem disse?
— Eu disse.
— Procure um médico – Disse fechando o meu armário e guardando um livro na minha mochila.
— Tudo bem, depois nós discutimos sobre a minha sanidade, ela está logo ali.
— E daí? Eu disse que não vou mais fingir nada.
— Eu não disse nada sobre você ter que me beijar agora, mas já que você insiste... – Ele falou e se inclinou para me beijar, porém eu coloquei a mão sobre o seu peito, impedindo-o de se aproximar mais.
— Pare com isso,. Parece um desesperado – Gargalhei e comecei a andar, sendo seguida por ele.
— Desesperado? Por você? – Ele riu ironicamente – Faz-me rir, Maria Luiza.
— Se não está, então por que insiste em me beijar o tempo todo? – Sorri triunfante e entrei em outro corredor, deixando-o para trás.

-------------------------

— Fatinha está no saguão – Ju me falou quando estávamos almoçando no refeitório.
— Ela não vem almoçar? – Gil perguntou.
— Disse que não estava com fome – Respondeu.
— Você sabe se ela está sozinha? – Perguntei.
— Que eu saiba está sozinha, por quê?
— Tenho que falar com ela.
— Imagino o assunto – Sorriu fraco. Apenas assenti, peguei um suco e fui ao seu encontro. Eu precisava urgentemente falar com ela. Eu sei que a magoei, mas não fora de propósito. E, ela também me magoou. Entrei no saguão e ela estava na sala, assistindo televisão. Não tinha absolutamente ninguém lá, além de nós, todos provavelmente estavam almoçando.
— Oi... – Falei baixo, porém alto o bastante para ela ouvir. Mas não respondeu. Continuou a prestar atenção na televisão, fingindo que eu não existia – Você vai me ignorar?
— O que você quer? – Ela perguntou. Não em um tom seco, ela apenas fingia indiferença. Observação: Fatinha é uma péssima mentirosa.
— Falar com você.
— Não quero. Você mesma disse para eu deixar para lá quem me faz mal.
— Então eu lhe faço mal? – Perguntei com a voz já trêmula. Ela ainda tinha a sua máscara de indiferença.
— Faz.
— Fatinh, você sabe que eu não queria lhe dizer aquilo! Eu estava estressada, mas você não acha que eu teria sido uma amiga pior se eu não tivesse lhe contando a verdade? Bem, claro que eu contaria com palavras mais amenas se eu soubesse que você ficaria assim...
— Não estou brava por você ter ficado com Fera. Eu não mando na sua vida, lembra? Estou chateada pela maneira que você falou comigo. E pela sua falta de motivos de ter falado assim.
— Mas eu estava estressada! Quer saber? Eu nunca devia ter contado para você. Afinal, não foi algo importante! Eu nem senti nada!

— É assim que começa. Com algo sem importância, depois você vai ver como terminará.
— Fera beija várias garotas por dia. Eu fui um nada, Fatinha! Foi como Bruno disse, ele...
— Espera aí – Ela me interrompeu – Bruno? Pelo jeito você está bem amiguinha dele, não é?
— Ah, não! Ciúmes agora, não.
— Não é ciúme. Eu não ligo para o Bruno. Não mais.
— Não, claro que não! Você só está aí toda frágil, mas não é nada de mais, não é? – Ironizei.
— Você tem certeza que veio aqui para nós fazermos as pazes? Pois não parece.
— Poxa, Fatinha, você sabe que eu me irrito facilmente.
— Eu não estou te dando razões para ficar irritada! – Ela falou alto e então sua máscara caiu, revelando todas as lágrimas ainda existentes em seus olhos – Você falando isso só comprova o fato de eu achar que você mudou. Nós nunca brigamos, Malu, você sempre conseguiu controlar esse estresse. E agora não consegue por quê?
— Não tenho culpa, você é frágil demais. Bruno estava certo – Levantei enxugando algumas lágrimas e saindo.