Transtornada

Mesmo não querendo, Carlos Daniel teve de aceitar a ideia por medo de perder a ideia. Mais calma, Lupita continuou com seu segredo e conseguiu que Simon a desculpasse pelo ocorrido. Lizete havia entrado na faculdade, e Carlinhos, para desanimo dos pais, havia repetido de ano na faculdade. Paulinha continuava a estudar, e tornava-se a cada dia mais uma menina timida. Raimundo e Roberta acabaram por entender Lupita e a perdoaram. Tudo ia relativamente bem... mas os montros internos de Lupita ficavam cada vez mais fortes, e ela continuava a se cortar, além do bullying continuo ainda ser presente. Porém, um dia...

– Lupi, olha lá. O menino novo! – disse Roberta, apontando pro menino novo que havia chegado na escola.

– Ele é um gatinho, Beta! – observou Lupita, com um sorrisinho.

– Porque não vai lá falar com ele? Você é bonita! Quem sabe ele não se interesse! – afirmou Roberta

– Não... – suspirou – eu sou gorda, desajeitada, feia... ele nunca vai me olhar. Capaz de acabar namorando com a Bianca, olha lá, ela toda saidinha pro lado dele! – falou

– Ah, qual é? Se você consegue ser a Demi Lovato, porque não ia conseguir um pirralho? Não custa tentar. Olha só, ele tá olhando pra cá. Vamos lá falar com ele! – disse, puxando a amiga.

– O que a tribo das desajustadas está fazendo aqui? – comentou Raquel, amiga de Bianca.

– Roberta e Lupita, o bonde das maravilhas pra sua informação, meu amor – respondeu Roberta, e olhou para ele – Oii, Paulo. Prazer, sou Roberta Bracho. E essa aqui é minha amiga, Guadalupe Bracho, mas pode chama-lá de Lupita. Tudo bom? – soltou

Lupita ficou vermelha.

– Tudo sim! E com vocês? – perguntou ele

Bianca ferveu.

– Tudo bem sim! O que acha de sairmos pra tomar um suco amanhã? – convidou Lupita, por impulso.

– Tudo bem. As 14h na lanchonete aqui do lado da escola, pode ser? – perguntou

– Combinado! – respondeu, feliz e se afastou

– Vai mesmo sair com aquela baleia? – perguntou Bianca, observando que elas já estavam longe.

– Vou... vai ser divertido até! – deu de ombros

– Fala sério. Não vai me dizer que vai namorar ela? Por favor!

– Ficou maluca, claro que não. É que preciso ter alguém pra dar risada... e ela parece ser bem boboca! – comentou, rindo.

– Vai tirar onda com a cara dela? – perguntou Bianca, adorando aquilo.

– Sim... vou deixar ela acreditar que to afim dela pra na hora H, fazê-lá passar mico! – explicou ele

No dia seguinte...

– OMG! Não acredito que vou sair com o Paulo! – disse, subindo no carro da mãe.

Paulina riu. Achava fofo os namoros naquela idade. Era algo tão inocente.

– Boa sorte! – disse, dando um beijo no rosto da filha, e deixando ela descer – não esquece de prestar atenção no ônibus! – lembrou, e seguiu para a fábrica.

Lupita passou horas rindo com ele. Acreditava que ele estava começando realmente a gostar dela.

Na escola...

– E ele disse que queria me falar uma coisa hoje! – contou Lupita, animada.

– Olha lá, ele está te esperando no banco de baixo da árvore! – apontou Roberta, para o pátio central onde todos os alunos ficavam antes de entrar.

– Me desejem sorte. Acho que ele vai me pedir em namoro! – disse, quase pulando.

– Boa sorte! – desejou Paulinha

E os três ficaram a observar ela sentar ao lado dele. O grupo de Bianca fazia o mesmo. Sabia que aquela era a hora.

– Então, o que tinha pra me dizer? – perguntou ela, o olhando.

– Bom... quer ser minha namorada? – foi direto

Ela abriu um largo sorriso.

– Mesmo?

– Sim! – afirmou, se aproximando do rosto dela.

Lupita fechou os olhos, seria seu primeiro beijo. Ele aproveitou e pegou uma pedra do chão, ficou a observando, e rindo a colocou na boca dela.

– Beija a pedra, panaca! – riu, aproveitando que todos estavam olhando.

Lupita tirou a pedra da boca com a mão, e assustada perguntou:

– O que? O que tá acontecendo?

– Você achou mesmo que eu iria namorar você? – riu alto para todos ouvirem – uma menina feia, sem graça, gorda que mais parece um porco? Só rindo! – gritou

Lupita sentiu as lágrimas escorrerem dos olhos e correu para fora da escola. Roberta, Paulinha e Raimundo a seguiram.

Lupita foi percorrendo as ruas, a encontro de sua casa.

– Não! Deixa que eu vou atrás Lupi! Fiquem aqui e botem moral nesses idiotas! – sugeriu Roberta, seguindo a amiga.

– ESPERA AI, DO QUE VOCÊ ESTÁ RINDO? – perguntou Raimundo, apontando pra Paulo – DO QUE VOCÊS ESTÃO RINDO? ELA É ALGUÉM COMO VOCÊS. SER GORDO NÃO FAZ DIFERENÇA NENHUMA. ALIÁS, ELA NÃO É IGUAL A VOCÊS, ELA É SUPERIOR POIS NÃO JULGA AS PESSOAS PELAS APARÊNCIAS! – gritou ele

– Cala essa boca, garoto. Você não passa de um bastardo sem pai que só sabe correr atrás da Demi Lovato. Recadinho pra você: ela nem sabe que você existe! – respondeu Bianca, caindo nos braços de Paulo

– Ah, sabe sim. E tenho certeza que ela tem vergonha de ter fãs como vocês, e não de mim! – respondeu Raimundo

Lupita correu muito até chegar em casa.

– Lupita? O que está fazendo em casa a essa hora? Não deveria estar na escola! Porque está toda suada? – perguntou Adelina

Ela não respondeu, apenas subiu e se trancou no quarto.

Chorou, a única coisa que tinha vontade de fazer era de chorar. Seu coração doia. Sentia-se desanimada. Mais uma vez, cortou-se. Queria descontar em si, toda a raiva e angustia que estava sentindo. Levantou-se do chão, e caminhou vagarosamente até o espelho.

Olhou-se. Se olhou como nunca havia feito antes. Realmente, ela era gorda, pensou. Virou vagarosamente o rosto e viu uma de suas barbies na estante. Se aproximou, a pegou e observou:

– Sim, ela é bonita! – disse a sí mesma – acho que é por isso que ninguém gosta de mim, por ser feia... mamãe é muito parecida com ela, e é amada por todos... assim como Bianca... e acho que é por isso que Paulo gosta dela. Ela é magra, arrumada e bonita como essa barbie. Eu preciso ser assim! – disse, e voltou a se olhar no espelho – mas, como emagrecer tanto? – perguntou a si mesma – Talvez... parando de comer. Papai sempre fala que só faço comer. Vou parar de comer e quando tiver que comer, vou colocar pra fora. É o único jeito. E fazendo shows da Demi, nas danças vou acabar perdendo peso mais fácil! É isso! Vou emagrecer e ser como essa Barbie! Todos vão começar a gostar de mim, inclusive o papai! – disse, e sorriu. Colocou a boneca de volta no lugar, foi até o banheiro e com o auxílio de uma escova, vomitou o que havia comido. Sentiu naúseas, e tontura nas primeiras vezes que fizera aquilo. Mas, foi se acostumando com aquela sensação.

E o tempo foi passando... Lupita continuava a sofrer Bullying na escola, a rejeição do pai, praticava automutilação... e ainda sim, era obrigada a ver Bianca e Paulo se agarrando pelos cantos. Aos poucos, acabou pegando bulimia. Sempre que comia algo, colocava pra fora, no intuito de ser magra. E realmente... com os esforços que ela fazia como Demi Lovato, e a falta de alimentos no corpo acabaram por fazê-la diminuir até 12 quilos. Muitas vezes, subia no palco de estômago vazio e não demorou muito pra Simon notar que sua voz estava mais fraca. Lupita acabou tendo a obsessão de ser magra, e como via que seus esforços não era correspondidos, fazia cortes por todo o corpo. Ela estava transtornada. Um dia, quando estava nervosa, acabou dando um tapa em Paulinha. Levou uma bronca da mãe e quase apanhou do pai. E isso continuou por meses... até que...

Lupita estava a entrar em casa, havia acabado de chegar da escola. Não prestou atenção, mas havia esquecido de passar maquiagem nos pulsos, e estava sem pulseiras naquele dia. Estava tão acostumada com os cortes, que meio que esqueceu que estavam lá.

Paulina estava a entrar atrás e a parou na escada.

– Lupi... ainda está triste pelo que aconteceu com a Paulinha? – perguntou Paulina

– Um pouco, não sabia o que estava fazendo. Ainda bem que ela me perdoou. Mãe... agora vou subir, tô com sono! – disse, colocando a mão sobre o corrimão da escada e deixando os cortes a mostra. Paulina acabou vendo, e segurou o braço da filha.

– Lupita... o que é isso? – perguntou, perplexa