Queimava. A humilhação, a tristeza, a dúvida, a raiva, tudo queimava.

Ele aguentou por muito tempo. Não importava se foram dias ou meses; fora tempo demais. E ele precisava de ajuda, sabia que sim. Mas não havia a quem pedir.

Ele havia se esquecido de como rezar.

Santos, protejam-me agora... Ah, isso era besteira. Pura besteira.

Mas ele iria morrer, e seria doloroso, e ele não podia deixar aquilo terminar assim. Não podia deixar o mundo como o machucado, pequeno e frágil ser que ele era. Não podia deixar que aqueles que arrancaram sua esperança e dignidade continuassem com suas detestáveis vidas.

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Não podia.

Venham, anjos do Senhor...

Mas quem disse que havia alguém ali em cima para ouvi-lo? Quem disse que queriam ouvi-lo? Os anjos os ignoravam. Ele já havia chorado, já havia implorado, já havia gritado. Nada resolvera.

Ele precisava tentar de outra forma, e no fundo, parecia que sempre soube que acabaria ali. E até que gostava disso. Sentia uma raiva presa no peito quando voltou a rezar; só que agora, para quem quisesse ouvir.

Venham, anjos do desconhecido.

O desconhecido não demorou. Nem hesitou. O desconhecido atendeu às suas preces, não chorosas, mas firmes e determinadas.

O desconhecido apareceu à sua frente e lhe sorriu. Estendeu-lhe os braços. Disse que só queria uma coisa em troca, algo que o menino nem acreditava ter mais. Não importava para ele.

Naquele momento, o desconhecido era tudo o que ele precisava. Algo novo, produto de seu ódio e de sua vingança, demônio, mordomo. Também não importava para ele.

O título e as consequências eram secundárias. Tudo era secundário. Ele fez uma promessa e iria cumpri-la; seu coração batia forte com a premonição do que inevitavelmente chegaria. Mas isso não era ruim. Era algo a se esperar.

O fim do contrato. Ele o temia e o esperava, e logo depois do desconhecido aparecer, logo depois das feridas do menino serem fechadas e beijadas, os dois souberam que tudo se resumia àquilo: o fim prometido.

O menino nunca conseguiria explicar porque essa expectativa foi o que o fez acordar. Levantar a cabeça. Viver.

Os anjos lhe negaram tudo, mas o desconhecido lhe dera o mais doce dos beijos; aquele que termina na mais violenta ruptura. O menino achava que havia feito o melhor negócio que poderia. Simplesmente pegara uma alma perdida e dedicou sua perdição a ele, ao seu anjo negro.

E ele nunca se arrependeria, não enquanto pudesse sentir o calor daquele abraço, com as penas tocando sua pele e a queimando, tão forte quanto o ódio sempre o queimou.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.