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Capítulo 18


Capítulo 18

Já amanhecia, o sol aparecendo timidamente no horizonte. Lena, Susana e Lúcia esperaram até que todos tivessem ido embora para que pudessem se aproximar do corpo de Aslam, estirado sobre a Mesa de Pedra, amarrado e sem o pelo majestoso de sua juba. Lúcia rapidamente subiu pelos degraus e se sentou na Mesa, ao lado de Aslam, enquanto Lena e Lúcia permaneciam em pé, perto da cabeça dele.

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Todas três ainda choravam.

Lúcia pegou o elixir que trazia no cinto e tentou abrir a tampa para pingar sobre a boca entreaberta do leão.

– Não... – disse Lena, entre soluços, segurando a mão da amiga para impedi-la. Lúcia olhou confusa para a menina.

– É tarde. – disse Susana, também soluçando. – Se foi.

Susana e Lena também subiram na Mesa e se sentaram ao lado do leão, deitando sobre ele e chorando.

– Ele sabia o que estava fazendo. – disse, olhando para Lúcia, mas acariciando o cabelo de Lena, que fungava cada vez mais, sempre se culpando.

Ouviram um barulho vindo das cordas que amarravam o leão e Lena foi a primeira a levantar a cabeça, vendo ratos roendo-as. Susana e Lúcia logo os viram também.

– Saiam daí... Todos vocês! – disse Susana, tentando espantá-los.

– Não, olhe! – disse Lena.

Observaram enquanto os ratos retiravam as cordas. Susana logo se apressou a ajudar e Lúcia tirou as cordas que prendiam o focinho dele. Susana observou enquanto Lúcia e Lena secavam as próprias lágrimas.

– Temos que contar aos outros. – sussurrou.

– Mas não podemos deixá-lo. – disse Lúcia.

– Eu não quero deixá-lo. – completou Lena.

– Eles precisam saber. – insistiu Susana. – Não há tempo.

Lúcia e Lena olharam em volta, ouvindo o barulho do vento carregando as folhas.

– As árvores. – sussurrou Lúcia.

~*~

Edmundo e Pedro conversavam, dentro da tenda deles.

Sobre garotas.

– Eu sei, cara, eu sei. – disse Edmundo.

– Então finalmente assume que Lena é muita areia pro seu mini caminhãozinho? – perguntou Pedro sarcasticamente para o irmão, rindo.

– Sim, ela é muita areia pro meu mini caminhãozinho! – falou Edmundo, imitando a voz de Pedro, mas logo lhe tacando um travesseiro na cara. – Ah!, mas sei lá... – disse ele, voltando a se deitar e cruzando os braços sobre o peito, olhando para cima. – Acho que eu estou... – engoliu em seco, jamais dissera essa frase antes. – Acho que estou...

– Será que dá pra assumir logo que está apaixonado por ela?! – disse Pedro, fingindo estar nervoso.

– Será que dá pra ter paciência?! – retrucou o mais novo. – Não é fácil admitir isso não! – soltou um longo suspiro e logo depois voltou a respirar fundo.

Apenas vinte segundos de coragem, Eddie!, disse para si mesmo, aflito. Você consegue!

– Tá, tudo bem! Eu assumo! – contou que tinha ainda mais quinze segundos. – Eu estou apaixonado por Lena Campbell.

A tenda ficou silenciosa. Pedro não imaginara que seu irmão iria realmente admitir algo que jamais conversara antes com ninguém. Pensou que ele iria enrolá-lo até que se desviassem do assunto; mas não.

Ele realmente admitira que amava Lena.

Edmundo de repente se assustara com o silêncio que o irmão fizera. Levantou-se da cama e o encarou surpreso.

– Não vai rir, falar que bobeira ou até mesmo dizer que estou mentindo?!

– Não. – respondeu Pedro. – Por que faria isso?

– Quem é você e o que fez com meu irmão?!

Pedro riu, mas depois sua expressão tornou-se sonhadora.

– O que foi? – perguntou Edmundo. – Está pensando na Hailee? – disse brincando.

– Pior que eu estou. – disse Pedro. – Você não é o único apaixonado.

A tenda ficou novamente silenciosa. Exceto pelo som do vento que batia na entrada da tenda. De repente, flores entraram na tenda, formando a imagem de uma mulher. Pedro, por instinto, desembainhou a espada.

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– Preparem-se, meus príncipes. – era apenas uma dríade. – Trago más notícias de suas irmãs e da anja mais nova que a acompanhava.

Eles se entreolharam, prevendo o pior. O que, na realidade, era.

~*~

Uma grande águia sobrevoava o campo de batalha, tentando avistar o exército inimigo. Edmundo, que operava com os guerreiros da retaguarda, estava aflito – mas aliviado por saber que Lena não participaria desta carnificina. Para Pedro, estava tudo ótimo, já que as meninas estavam fora e Emma e Hailee permaneceram no acampamento.

A águia pousou ao lado de Pedro, que liderava as linhas de frente juntamente Oreius.

– Chegaram, Alteza. – disse a águia. – Em número e arma que superam em muito os nossos.

– Números não vencem batalhas. – disse Oreius, tentando tranquilizar o menino.

– Não. – respondeu o loiro. – Mas aposto que ajudam.

Ao longe, apareceu apenas um minotauro que subia a pequena colina. Ele levantou a foice que carregava e guinchou, rugindo. Fez sinal para que quem que estivesse atrás si, avançasse.

E então apareceram milhares de soldados. Minotauros, anões, orcs e gigantes eram os que mais se viam. Mas havia também outras espécies de seres, todos provavelmente das profundezas de Nárnia. A Feiticeira pôde ser vista ali no meio, em uma biga de ferro puxada por dois ursos polares. Em sua mão via-se o cajado de gelo e em volta de seu pescoço, algo que parecia um colar de pelos. Era o pelo da juba de Aslam.

Pararam por um instante. Ambos os exércitos se analisando, procurando romper a forte barreira de ambos os lados.

Pedro deu rápida olhada para trás, para seu irmão Edmundo. O moreno apenas assentiu com a cabeça, encorajando o mais velho a seguir em frente e não desistir. Pedro voltou-se para frente e desembainhou a espada. Os guerreiros narnianos manejaram as armas e gritaram de entusiasmo e coragem.

– Não tenho interesse em prisioneiros. – disse a Feiticeira para seus aliados, ao ver a coragem do outro exército. – Matem todos.

O exército da Feiticeira urrou e avançou em direção ao outro.

Edmundo desembainhou a espada e respirou fundo, prometendo a si mesmo que se manteria vivo para ver Lena mais uma vez. O exército narniano esperou pelas ordens de Pedro. Pedro fez sinal para que as aves sobrevoassem o outro exército, prontas para atirar-lhes pedregulhos pesados o suficiente para esmagá-los.

– Você está comigo? – perguntou Pedro a Oreius.

– Até a morte. – respondeu o centauro.

– Por Nárnia e por Aslam! – gritou Pedro, puxando a linha de frente em direção aos inimigos, prontos para a batalha.

~*~

Lena, Susana e Lúcia ainda estavam deitadas sobre o corpo de Aslam. Susana levantou-se, olhando ao redor e vendo o sol já nascido.

– Temos que ir. – disse às garotas, quando as viram se levantar também.

– Está frio. – disse Lúcia tristemente, descendo da Mesa de Pedra depois da irmã. Elas andaram alguns passos e se viraram para Lena, que ainda olhava inconsolavelmente para o corpo do leão.

Susana suspirou, sabendo que a partir do momento em que vieram a Nárnia juntas, seria como uma irmã mais velha para a menina, mesmo que esta já tivesse duas.

Aproximou-se da menina e colocou a mão sobre seu ombro.

– Vamos, Lena. Precisamos ir.

– Mas... Aslam...

– Se foi. Precisamos ajudar os outros.

Lena fungou, sem saber o que fazer.

– Emma e Hailee estão lá, precisando de sua ajuda. – tentou Susana, mas sabia que não colaria. Ambas sabiam que elas eram autossuficientes. Sabiam cuidar de si mesmas. Só haveria mais um jeito de tentar. – Edmundo precisa de você...

Ao ouvir o nome do menino, seus sentidos se apuraram e rapidamente ela levantou a cabeça. Susana soltou uma risadinha triste e ofereceu uma mão a Lena. A mais nova aceitou a ajuda e pulou da Mesa de Pedra. Andaram até Lúcia e Susana, com o outro braço, abraçou a irmã pelos ombros.

Começaram a descer as escadarias, mas um vento forte passou por elas e um barulho de terremoto atrás delas as fez cair nos degraus, quase correndo o risco de rolarem.

– O que foi isso? – perguntou Lena, assustada.

Lúcia olhou para trás.

– Susana! Lena!

Elas se viraram e viram. A Mesa de Pedra estava rachada e o corpo do leão sumira. Levantaram-se e voltaram.

– Cadê o Aslam? – perguntou Lúcia, confusa.

– O que fizeram? – questionou Susana igualmente confusa.

Observaram o portal atrás da Mesa de Pedra, onde o sol brilhava mais forte. Mas logo o sol foi tampado por uma silhueta. De leão. Aslam apareceu inteiro ali, com a juba crescida novamente e claramente vivo.

– Aslam! – gritaram as meninas, contornando a Mesa e correndo até o leão para um abraço conjunto.

– Mas nós vimos o punhal. – disse Susana, ao se separarem.

– A Feiticeira... – continuou Lena, mas logo se calou, sem querer relembrar.

– Se a Feiticeira entendesse o significado de sacrifício... – disse Aslam, contornando a extensão da Mesa de Pedra, acompanhando das meninas, que observavam os escritos antigos entalhados nas laterais. – Talvez tivesse entendido a Magia Profunda de outro jeito. Se uma vítima voluntaria, inocente de traição, é morta no lugar de traidor, a Mesa de Pedra se partirá e talvez a própria morte seja revogada.

– Mandamos avisar de sua morte. – disse Susana. – Pedro e Edmundo já foram para a guerra.

Lúcia empunhou seu punhal e Lena encostou na sua cintura, procurando pela espada no cinto, mas percebendo que a deixara no acampamento.

– Precisamos ajudá-los. – disse Lúcia.

– E vamos, querida – disse Aslam, abaixando a mão de Lúcia –, mas não sozinhos. Preciso que Lena volte ao acampamento e pegue a espada.

Lena olhou-o confuso.

– Edmundo precisa de sua ajuda, querida. Tenho certeza de que você será a mais apta para isso.

Lena sorriu e abriu suas asas, pronta para partir, mas esperaria que eles fossem primeiro.

– Subam em minhas costas. – disse Aslam a Susana e Lúcia, enquanto essas o faziam, ele continuou. – O caminho é longo e o tempo é curto. Talvez queiram cobrir as orelhas.

Aslam deu um forte rugido e Lena sentiu isso como sua deixa para dobrar os joelhos e alçar voo em direção à batalha, para ajudar Edmundo.