Abri os olhos lentamente, meu corpo todo doía. Ergui uma mão para esfregar os olhos, mas estava pesada. Eu estava pesada. Virei a cabeça, a visão ainda embaçada, e só vi uma fresta de luz.

Algo estava errado. Eu não deveria me sentir tão pesada, minha visão já deveria ter clareado e eu não deveria estar no escuro. Tentei me levantar, mas algo me prendia naquela posição, meio deitada, meio sentada.

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Respirei fundo e me concentrei. Em lugar algum eu conseguia encontrar uma fonte mínima de energia que fosse. Que lugar era aquele, sem uma vida que fosse?

Minha visão começava a clarear, mostrando paredes com longas rachaduras e uma porta forte com um pequeno buraco. Olhei para mim mesma, pensando no que veria. Correntes, grossas e fortes, me prendiam pelos pulsos e na cintura.

Minha mente estava um pouco confusa, mas nada que me afetasse muito. Minha luzinha piscava irregular. Voltei a recitar o mesmo versinho de sempre.

Apesar de dizer que temos muita esperança,

Se estou perdida, é apenas por pouco tempo.

Tentei raciocinar. Não foram Urgals que me pegaram, com toda a certeza. Eles não eram daquele jeito. Mas nenhuma criatura que conhecia era. A porta se abriu de repente.

O que era aquele ser? Era alto e magrelo, com uma pele tão branca, transparente, e de cabelos e olhos vermelhos. Não, o pior não era esse, o pior era o sorriso cruel no rosto.

– Ora, vejo que despertou. Bom, não vamos demorar muito agora. – O que ele estava falando? Começar o que?

– O que é você? – Minha voz era um sussurro, estava áspera pela falta de uso. Ele apenas alargou o sorriso e respondeu.

– Eu sou Durza.

Ele saiu da cela logo em seguida. Senti um nó se formando na minha garganta, estava angustiada. Tudo o que eu queria era chorar, passar o resto do tempo chorando.

E que diferença faria ao final? Ninguém viria me resgatar, e seja lá o que ele fosse fazer, não seria nada bom. Eu estava sozinha, e não era só por um pequeno tempo.

Eu estava livre. Não precisava mais cumprir minha promessa de encontrar os Varden, não tinha mais nada meu, não tinha nem cavalo mais. Só correntes.

Respirei fundo. Será mesmo, que eu não tinha mais saída? Se eu precisava de uma razão para desbloquear minha própria energia, a hora era aquela. Seria um golpe de sorte se eu conseguisse, mas poderia acontecer.

Tentei me mexer, mas as correntes estavam muito apertadas. Fiquei olhando as rachaduras nas paredes, pensando em coisas sem nexo.

Cavaleiros, histórias de Urgals e outras. Minha mente deu um lampejo de repente.

5 dragões. Vermelho, azul, dourado, verde e preto. Eu estava elevada no céu, por cima de algo, não sei o que. O dragão verde não era nítido como os outros, era como um borrão.

O dourado sumiu, o preto em seguida. O verde ficou bem nítido. Eu estava mais elevada ainda, mas a sensação era tão natural que eu não me incomodei.

Uma moça jovem, de pele muito escuro estava logo atrás deles, um exército inteiro. E era um dia bonito, ensolarado e...lindo, só isso.

Uma rachadura apareceu em frente aos meus olhos. O que eu estivera pensando?A porta se abriu, apenas uma fresta, e uma bandeja escorregou para dentro da cela. Descobri que conseguia me sentar para comer.

Comi o pão com satisfação, mas não tomei a água, por mais que minha garganta implorasse. Brom me ensinara um feitiço para encontrar alguma coisa na água e essa estava com algo.

Tentei lembrar o que eu tinha sonhado. Imaginado. Visto? Não sei. Não faço ideia do que eu tinha observado de qualquer jeito.

Eu podia perceber os minutos, as horas se arrastando ao meu redor. Minha mente estava totalmente clara quando Durza entrou na cela novamente.

O que ele era? O que, afinal? Ele não tinha mais aquele sorriso cruel e doentio. Parecia até desapontado.

– Houve uma mudança de planos. Você e suas coisas vão para outro lugar. Tenho que concordar com ele de que Gil’ead é pequena para você. Você é...especial.

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– O que é você?

Ele não respondeu. Deu um leve sorriso e saiu de novo. Dessa vez só me deram água. Ignorei a jarra.

Quem era ele, que Durza comentou? E por quê eu era especial, como me dissera? Minha cabeça doía. Acabei cedendo e tomei um gole d’água. Minha mente começou a ficar confusa de novo.

Voltei a me deitar. Ficar sentada fazia minhas costas doerem. Acabei dormindo, as perguntas ainda se embaralhando na minha mente.

The Sender deslizava pelas águas cristalinas dos mares além de Du Weldenvarden. Eu estava no topo do mastro, no ponto mais alto. Mas eu não sentia meu corpo, era como se eu fosse uma pena.

Eu estava feliz. Eu não era mais a filha de Galbatorix, eu era apenas Silbena, filha de Delrio, a capitã. Meu amigo era Wayn, eu não tinha que cruzar a Algaësia, eu não tinha espadas, era só uma pena, voando no céu.

E que delícia de sensação. Me levantei no mastro, tremendo um pouco. Uma brisa leve fazia meu cabelo chicotear um pouco. Fechei os olhos e saltei.

Vieram me buscar. Podia sentir dois pares de mãos grandes e calejadas me arrastarem. Não abri os olhos. Não me preocupei em ver o que eram aqueles que me arrastavam. Para aonde me levavam também não importava mais.

Eu estava entre o sono leve e a clareza. Via longos corredores com celas e nada mais. Fiquei imaginando quantas delas estavam em uso de falta.

Me amarraram e me trancaram, não sei no que. O sono começava a ganhar espaço sobre a clareza, por mais que eu tentasse ficar acordada. Tinha outra pessoa ali dentro, comigo.

– Quem está ai? – Rolei no chão, grunhindo quando rolei sobre as mãos presas nas costas.

– Uma alma perdida, como você. Mas pode me chamar só de Rine. – A voz dela era suave, mas triste.

– Pra onde estão nos levando, Rine?

– Uru’bâen.

Não consegui responder. Na verdade, não consegui reagir. Eles estavam me levando exatamente para as mãos de quem eu queria fugir.