The Secret Weapon

Dragons And Gray Eyes


A chuva estava fria. Passei a mão pelo meu cabelo, tirando alguns dos fios de dentro dos meus olhos. Sano e Orun estavam ao meu lado, com os joelhos dobrados.

– Ok. Sabem o que fazer. – Os dois concordaram, passando a ordem para os companheiros.

Olhei nosso alvo novamente. O grupo de Urgals estava na nossa frente, no centro do nosso cerco. Tudo estava indo como planejado. O verdadeiro alvo, no entanto, estava numa árvore.

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Os dois dos nossos homens estavam amarrados à árvore, com vários cortes. Mais alguns minutos e os Urgals os matariam.

Olhei nossa posição de novo. Sano já tinha se afastado para o lado oposto, com três dos nossos dez homens. Orun liderou outros quatro para a frente do acampamento inimigo.

Tive que mandar Gnus com outros dois para fechar o círculo. Fiquei sozinha com um soldado. Respirei fundo mais uma vez. Mandei um sinal com minha mente para Orun e Sano. Quando Orun se levantou, Gnus tomou o sinal para si.

Eram exatamente 23 Urgals, todos armados. O plano era que os outros distrairiam o grupo até eu conseguir soltar os prisioneiros. Se algo desse errado, Elrohir poderia lanchar um cardápio diferenciado.

No meu segundo passo tive que cravar a lâmina vermelha num dos Urgals. Foram cinco até que eu conseguisse chegar até a árvore. Cortei as amarras com dois golpes, me virando logo em seguida.

Dessa vez era uma fêmea, carregando uma clava. Travei o maxilar. Armas pesadas eram mais difíceis de bloquear. Apertei a empunhadura das espadas, respirando fundo. Não era hora pra temer.

Gnus passou correndo por trás de mim, auxiliando os dois prisioneiros para longe dali. Agora era hora do último movimento. Retirada. Investi primeiro, girando as espadas na horizontal.

A inimiga conseguiu se desviar e me atacar com sua clava. Rolei pro lado, antes que fosse atingida e consegui cortar a lateral do seu tórax. Aquilo só serviu para enfurecê-la.

Investiu de novo. Não consegui me esquivar direito, levando um belo golpe nas costelas. Cambaleei para trás, arfando. Doía. Que droga. Dei um golpe de cima para baixo, com toda minha força. A Urgal caiu no chão, já sem vida.

Olhei ao redor do acampamento. Tinha sido uma chacina. Cambaleei até os outros, embainhando as espadas.

– Capitã! – Gnus surgiu na minha frente, com um odre. Tomei um gole, dispensando a ajuda.

– Estou bem, Gnus. – Olhei o homem atarracado, com os cabelos castanhos bagunçados pela chuva. – Vamos prosseguir.

– Certeza? – Orun parou, coçando o queixo.

– Tenho. – Olhei séria para ele. – Vamos logo.

Sano prendeu a lança nas costas e passou a andar. Orun deu de ombros e me seguiu, calado.

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– Muito bem, todos vocês. – Ajihad deu um aceno com a cabeça. – Descansem, teremos um longo dia amanhã.

Chegamos logo depois do por do sol. Depois de falar com Ajihad fui direto pro meu quarto. Estava exausta e dolorida. Tirei o corpete e minha camisa, avaliando o lugar do golpe num espelho atrás da porta.

– Que droga. – Um roxo enorme coloria toda a área, doendo ao mais leve toque. Voltei a vestir a camisa, me jogando no catre. – Argh.

Fechei os olhos, colocando um braço sobre eles. Acabei cochilando logo, naquela posição. Acordei com uma batida na porta. Suspirei, me levantando com custo.

– Não tem nem duas semanas que eu voltei e você me larga para trás assim? – Elwë parecia realmente irritado. – Não esperava tamanha traição.

– Não tive escolha. Ajihad ainda não te definiu como do meu batalhão, propriamente dito. – Dei de ombros, me arrependendo do movimento. – E não foi nada divertido.

– Tudo bem? – Ele franziu o cenho. Me sentei no catre, fazendo um gesto com a mão. – Não me parece bem.

– Por que não estaria?

– Talvez por ter enfrentado um bando de Urgals? – Respondeu naquele tom sarcástico dele. – Palpite.

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– Só estou um pouco dolorida. – Ele mudou a postura imediatamente, preocupado. – Não é nada grave. Minhas costelas estão inteiras.

– Venha cá. – Ele me puxou pelo braço, me prendendo de costas pra ele. – Qual lado?

– Direito. – Ele passou a mão por baixo da camisa. – Ei, ei, ei. O que acha que está fazendo?

– Vendo se você está mesmo inteira. – Eu tentava me soltar. Ele apertou minha cintura com o braço. – Fica quieta.

– Isso é muito impróprio! – Os dedos dele passaram pelo roxo, me fazendo arquejar de dor. – Ai!

– Parece inchado. Mas os ossos estão normais. – Me soltou depois de um segundo. – Quer que eu cure isso?

– Posso fazer isso sozinha. Obrigada. – Era a primeira vez que eu corava em tanto tempo. Elwë percebeu e deu um sorriso triunfante. – Pode me deixar dormir?

– Claro. – Ele concordou facilmente e saiu do quarto. Me deitei de novo, travando o maxilar. Pus a mão sobre o hematoma e proferia algumas palavras baixas. Simplesmente me livrei da dor e fui dormir.

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– Tem que se cuidar mais. – O homem falou mais uma vez, colocando um pano molhado sobre o machucado. Eu me cobria com um cobertor, calada. – Poderia ser pior.

Obrigada. – Olhei para o homem dos cabelos castanhos sorridente. – Por cuidar de mim.

O garoto entrou no quarto, com uma vasilha de água gelada. Ele tinha a mesma idade que eu, com os cabelos escuros e os olhos cinzentos. Pousou a mão na espada, casualmente.

Vamos logo. Quero treinar de novo.

Isso vai tomar algum tempo, garoto. Treino com você mais tarde. – O homem respondeu. O garoto simplesmente deu de ombros, conformado.

Acordei com a cabeça latejando. A luzinha na minha cabeça piscava, variando de um tom de azul para um vermelho abruptamente. Fechei os olhos de novo, cobrindo-os com as mãos.

Me levantei, sem sentir a dor do hematoma. Calcei minha botas apressadamente e saí do quarto correndo, na direção da sala de Ajihad. Me preocuparia com o sonho estranho depois. Algo estranho estava acontecendo naquele instante.

Passei pelos guardas, quase ignorando os cumprimentos. Parei de chofre, com a porta ainda aberta. A sala estava cheia. Ajihad, alguns guardas e os Gêmeos. E um par de garotos desconhecidos.

– Silbena, bom que veio. Ia mandar um dos guardas te chamar. – Ajihad parou de encarar os dois, passando a me olhar. – Os Gêmeos trouxeram esses dois da cachoeira.

– Claro. – Fechei a porta, parando atrás dos dois. Não sabia qual deles me chamava mais a atenção.

– Obrigada pela consideração, Silbena. – Um dos Gêmeos falou com um sorriso predatório. Retribui o sorriso.

– Cale a sua boca. – Me voltei para Ajihad. – Senti algo estranho, decidi vir checar.

– Muito bem. Estamos discutindo sobre esses dois aqui. – Minha mente deu um lampejo azul quando ele apontou para o de cabelos castanhos.

Dei um passo pra frente e agarrei o pulso do garoto mais novo. Ele tentou se soltar, mas firmei o aperto.

– Fica quieto. – Qualquer um acharia divertido uma garota tentando impor respeito, mas ele ficou quieto. – Obrigada.

Virei a palma da mão dele pra cima, achando a marca prateada parecida com a minha. Claro que menor. Minha Gedwey Ignasia a esse ponto já tinha coberto meu braço direito e começava a atravessar minhas costas até o outro braço.

– Interessante. – Olhei na direção dos guardas, soltando o braço dele. Encarei a espada na mão de um deles. – Qual carregava aquilo?

Peguei a espada da mão do guarda, olhando a lâmina vermelha e a pedra azul no botão. Eu conhecia aquela espada de outra cintura. Brom. O garoto do cabelo castanho parecia tenso com meus movimentos.

– É sua? – Ele concordou com a cabeça. – O que aconteceu a Brom?

– Como...Como sabe?

– Que era a espada dele? O conheci uma vez, passando por um pequeno vilarejo. Carvahall, eu acho. – Olhei pro garoto, devolvendo a espada ao guarda. – É de lá?

– Sou. Vim com Brom, mas... – Ele passou a mão pelo rosto. – Ele morreu.

– Brom morreu? – Ele concordou com a cabeça de novo. – Como? – Antes que o garoto começasse a responder, o cortei. – Se bem que não importa. Que ele descanse em paz.

Fiz o gesto que sempre fazíamos no navio quando um dos nossos morria, de riscar de um ombro ao outro com a unha do polegar. Alguns me olharam curiosos, mas ninguém comentou.

– E você... – Me virei para o outro, com um dedo erguido. Parei, fitando o garoto dos olhos cinzentos. Ele tinha minha idade. Recolhi meu dedo, fechando a mão. – Murtagh.

O nome mal saiu da minha boca, e eu franzi o cenho. Como eu sabia quem era ele? Aliás, por que eu sonhara com ele? O garoto franziu o cenho, me encarando.

– Você o conhece. – Ajihad quebrou o silêncio. – Acho que todos sabem do filho de Morzan.

– Morzan... – Me era um nome familiar. Como de uma memória antiga ou uma história que eu ouvira. Não saberia diferenciar. E era um jeito de desviar a atenção do que eu acabara de fazer. – O Cavaleiro...

– Não fale. – Ajihad me cortou. O outro garoto parecia chocado.

– Um filho não pode escolher seu pai. – Dois guardas o viraram de costas, descobrindo-as. Uma cicatriz enorme ia de seu ombro ao lado oposto em sua cintura.

– Ajihad, não se julga ninguém pelos pais. – Murtagh se soltou, arrumando suas roupas. – Eu sei disso mais que ninguém.

– Silbena, não é o mesmo caso. – Ajihad começou a protestar.

– É, sim. – Dei de ombros. – Vocês me aceitaram aqui, mesmo depois de descobrirem meu pai.

– Você o escondeu, no início. – Um dos Gêmeos falou, provocativo.

– Não foi um problema, foi? – Prendi um dedo no cinto e deixei a outra mão na empunhadura da espada verde. – Nada te impediu de entrar na minha mente feito um rato e roubar a informação. Aliás, eu não poderia nem dizer qual de vocês o fez.

– Silbena... – Ajihad tentou me calar, mas continuei.

– Pode até ser que eu tenha ficado prisioneira por algum tempo, mas nunca me influenciei pelo fato.

– Você não foi criada em Uru’baen. – Ajihad começou. – Não teve contato com ele.

– Realmente, fui atirada num rio antes de sequer respirar direito. – Respirei fundo. – Não estou te pedindo para deixar Murtagh livremente por ai. Só estou dizendo para não nos precipitarmos.

– Ela tem razão. – Um dos guardas falou, hesitante. – No início, quando a notícia se espalhou, ninguém mais confiava nela. Hoje em dia, ela é uma de nossas capitãs. Mal nos lembramos que ela é filha de Galbatorix.

– Obrigada. – Me virei para Ajihad de novo, ignorando a expressão de espanto dos dois novatos. – Mas faça o que quiser. Você é o líder, não eu.

– Muito bem. Temos uma rotina aqui. Precisamos revistar suas mentes antes de decidir qualquer coisa.

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– Não. – Murtagh foi firme falando. – Minha mente é o único lugar que ainda não foi violado. Não quero perder essa privacidade.

– Tem certeza? – Perguntei, cruzando os braços. – Se você preferir, eu posso fazê-lo. Prometo só checar o necessário.

– Ainda assim, eu me nego. É a única coisa que tenho intacta.

– Respeito sua escolha. – Dei de ombros. – Uma decisão que poucos fariam. Me surpreende.

– Podemos revistar o outro? – Os dois Gêmeos falaram juntos, me dando um arrepio.

Agarrei a gola da túnica de um deles e sussurrei, no tom mais ameaçador que eu tinha. O mesmo do dia que achei um deles na biblioteca.

– Não tentem nada idiota pra cima do outro, entenderam? Sei que não é exatamente o forte de vocês, mas não sejam tão brutos. – O soltei com a raiva habitual. – Falo sério.

– Silbena, controle-se.

– Alguém tem que impor limites a essas duas crias. – Foi minha única resposta.

O garoto ficou tenso por alguns minutos, mas logo voltou ao normal. Os Gêmeos pareciam desapontados em dizer que não havia nada de errado.

– Muito bem. Cavaleiro de Dragão, seja bem vindo. Quanto a você, sinta-se livre para mudar de ideia. Até lá, temos de mantê-lo sob guarda.

Murtagh aceitou seu destino. Mandei dois dos guardas escoltarem o dono dos olhos cinzentos tão familiares até a cela onde eu ficara. Eles deixaram a sala, em silêncio.

– Silbena, leve Eragon até Orik e retorne, por favor. O resto está dispensado.

– Venha. – Abri a porta, esperando ele passar. Tive que esperar o dragão nos encontrar, mas até que valeu a pena.

– Qual o nome? – Cruzei os braços, parando de frente para o dragão.

O réptil abaixou a cabeça azul até a altura dos meus olhos, numa posição feroz. Dei uma risada, que fez Eragon franzir o cenho.

– Admiro sua beleza, nada mais. E sinceramente, não me assusto tão facilmente. – O dragão me respondeu diretamente depois disso.

“Saphira. E você é?”

– Silbena, Saphira. É um belo dragão. – Não sei se elogiei o dragão ou seu dono. – Bem, vamos. Orik pode ser bem impaciente quando quer.

Encontramos o anão não muito longe, com um sorriso satisfeito. Deixei Eragon e Saphira sob seus cuidados depois de poucas indicações. Não podia dar ordens a Orik, não era da minha divisão.

– Vou encontrar-lhes depois. Aproveitem. – Fiz o caminho de volta, achando Ajihad sozinho em sua sala.

– Silbena. – Ele deu um suspiro e nos serviu duas taças de vinho. – Sente-se.

– Isso é sobre Murtagh, não é?

– Você não sabia quem ele era por causa de seu pai, certo? – Assenti, tomando um gole do vinho.

– Eu tenho sonhos com ele, Ajihad. Ele e um outro homem. Não sei quem são. – Acabei a taça em um segundo gole, colocando-a sobre a escrivaninha. – Não sei o porquê. Sinceramente, sempre achei que fosse uma explicação da minha mente de como eu conseguira fugir.

– Talvez ele tenha te ajudado.

– Talvez. Mas eu me lembraria dele, não? – Apoiei a cabeça nas mãos. – Eu não sei, Ajihad. Ele só é familiar, só isso. Eu sinto que podemos confiar nele, mas é só um sentimento.

– Talvez ele te conheça. Se você o conhece... – Ajihad deu a sugestão, terminando a própria taça.

– Talvez. – Me levantei. – Tenho que ir, Ajihad.

– Tudo bem. – Dei um aceno e deixei a sala. Antes que eu pudesse pensar, estava dispensando um guarda de seu posto por alguns instantes e estava dentro da cela.

– O que...? – Murtagh se levantou, surpreso. Parei de frente para ele.

– Você me conhece? – Prendi meus olhos nas íris cinzentas dele, esperando a sua resposta.