Me sentei de imediato, encarando as chaves na mão de Murtagh. Ele pegou meu pulso e começou a procurar uma fechadura onde pudesse colocar a chave.

Assim que encontrou algo, me soltou. Continuei sentada por um instante, me sentindo muito mais leve do que era de se esperar. Murtagh, que já estava de pé, me encarou, com urgência.

Me levantei devagar, apoiada na parede. Me desencostei devagar, mas quase cai. Minhas pernas pareciam não ter se acostumado com o peso a menos.

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– Ei, calma. Vai funcionar. – Ele correu até mim, me dando apoio.

– Tem que funcionar. – Eu o encarei, aceitando o apoio sem protestar. – Vamos.

Ele me levou até a porta, no passo mais rápido que eu aguentava. A todo momento, Murtagh procurava alguém nos corredores. A cada segundo que se passava eu ia me sentindo mais forte. Em pouco tempo estava seguindo-o pelos corredores, correndo por conta própria.

– Onde está Tornac? Ele vai ter muitos problemas por isso.

– Buscando seu cavalo nos campos fora do castelo. Você precisa fugir de Uru’baen, não só do castelo. E sim, ele vai ter muitos problemas. – Aquilo ficou ecoando na minha mente, fazendo meus joelhos tremerem.

Fui seguindo-o, entrando e saindo de vários corredores e sempre procurando algo ou alguém. Já estávamos quase saindo do castelo quando um ruído vindo de uma sala daquele corredor me fez congelar.

Murtagh assentiu de leve, indicando a sala. Se aquilo não fosse uma armadilha, eu deveria entrar ali. Abri a porta devagar e entrei, depois dele. Tornac estava lá, com minha mochila entre seus pés.

– Oh, vocês conseguiram. Fico contente. Recuperei suas coisas, por isso não fui te buscar, sinto muito. – Sorri pra ele, feliz ao ver as espadas sobre uma mesa ali perto.

– Tornac, precisamos ir. Agora.

– Claro, claro.

– Vocês também vem, não é? Eu sei do seu voto, Tornac, mas se você realmente quiser pode sair desse lugar. E Murtagh não precisa acabar suas lições aqui.

Ele não respondeu, só deu um sorriso leve, iluminando seu rosto. Ele se aproximou de mim, tirando alguma coisa de um bolso.

– É seu agora. – Ele pegou minha mão e colocou um cordão nela. Era uma corrente delicada, prateada, com um pingente de cristal. – Sempre o tive comigo, nem me lembro como o consegui, mas me parece mais útil pra você.

– Obrigada. – Ele deu um sorriso rápido, mas não me parecia nada feliz. – Vamos?

Antes que ele respondesse, um homem sinuoso, com cabelos escuros compridos e a barba por fazer entrou na sala, me fazendo tremer. Murtagh parou ao meu lado, como um cão de guarda.

– Tomou cuidado dessa vez. Me surpreende. – Ele deu um sorriso largo. – Não creio que seja um bom momento, mas é um prazer conhecê-los. Meu nome é Aidan.

– Quem é você? – Murtagh estava tenso.

– Ora, Aidan, eu acabei de dizer. Eu sou um mago, amigo de Tornac. E não poderia deixar de ajudar nos planos dele.

– Vamos logo. A liberdade nos aguarda. – Peguei minha mochila e as espadas, prendendo-as da melhor forma que consegui, com uma tira de couro que encontrei jogada sobre a mesa da sala, à cintura.

Olhei o cordão em minha mão por um segundo. Tornac parou atrás de mim e o pegou. Senti ele prendendo-o ao meu pescoço, sentindo seus dedos roçarem minha nuca, me fazendo arrepiar.

Ele sorriu e abriu a porta da sala. Estávamos a poucos passos da liberdade, do fim daquilo tudo. Segui-os para fora da sala, feliz com o peso das espadas.

Eu tinha certeza que assim que eu atravessasse aquele corredor e abrisse a porta eu estaria fora daquele lugar abominável. Aidan nos alertou para possíveis armadilhas, mas a euforia não me permitia ter cautela.

Por duas vezes Murtagh ou Tornac tinham que me segurar para que alguma lâmina me acertasse ou fogo me atingissem. Eu estava desesperada para sair dali, correr até Thunderbolt e seguir os outros três.

Depois de um tempo que me parecia infinito, chegamos ao fim do corredor. Uma porta de madeira comum me separava da liberdade. Tornac segurou meu pulso e se virou para Aidan.

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– Sabe o que fazer agora.

– Sabe o que quero em troca, certo? – Tornac simplesmente assentiu. – Muito bem, se quiser alguma condição para o que estou prestes a fazer, a hora é essa.

– Quando o cristal for destruído. Só então. – Aidan respirou fundo e concordou. Fiquei encarando Tornac, confusa. Por que ele simplesmente não me deixava sair dali?

– Vocês dois, fiquem quietos. – Murtagh me encarou, parando ao meu lado de novo. Tornac olhou nos meus olhos, com uma expressão triste, mais triste que o comum, antes de soltar meu pulso.

Aidan ergueu uma mão, ficando de frente para Murtagh e eu, murmurando algo na Língua Antiga. Com toda a certeza era um encantamento, mas eu não podia entender.

– Silbena e Murtagh, ouçam bem. – Cumprir àquela ordem me parecia uma necessidade, me deixando num tipo de transe. Eu ouvi o que ele disse. – Vocês se esquecerão dessa noite. Se esquecerão um do outro.

“Silbena se esquecerá de Murtagh e Tornac. Se esquecerá de mim também. Murtagh, por sua vez, não vai se lembrar dela, ou de mim. Isso nunca existiu para vocês. E assim será, até que o cristal seja destruído. Silbena vai sair por aquela porta, passando por todos nós como se não nos visse.”

Olhei ao redor. Como eu tinha saído daquela cela maldita? E quanto tempo eu tinha passado ali? Quando recuperei minhas coisas? Todas aquelas perguntas me atingiam de uma só vez.

Minha mão agarrou algo preso ao meu pescoço. Um pingente de cristal numa corrente prateada. Não sei como consegui aquilo, e como ainda o tinha depois de ser presa.

Olhei o que estava usando. Era uma roupa de linho leve, muito suja. Não me importei. Eu sempre carreguei uma roupa na mochila. Algo leve, mas que poderia ser útil.

Abri a porta e senti o ar frio contra minha pele exposta. Respirei fundo, ainda pensando em várias perguntas, que eu decidi ignorar, por agora.

Corri por um gramado, procurando meu cavalo. Ele estava ali perto, pastando sob o luar. A noite estava quieta, calma, tranquila. Corri até ele, sorrindo, como quando minha mãe me deixava passar a noite com os homens.

– Como vai, Thunderbolt? – O cavalo me fitou. Montei-o no mesmo instante, já fazendo-o galopar. Para bem longe dali. Para Surda. Para os Varden.

Eu teria que descobrir como sai dali em algum momento. Mas naquele instante, eu só queria ir embora e apreciar a brisa noturna, que me fazia arrepiar.

Me deixei cair sobre o pescoço de Thunderbolt. E enquanto cavalgava e sentia a brisa, eu dormi. Dormi, sem me preocupar com uma possível visita de Galbatorix.