Não Arrisque

A Última Nota


Mais uma melodia sedutora.

"Você vê. Sua alma enxerga. Ilusão. Visão. A voz."

Um enigma. Ah, como eu adorava esses joguinhos tediosos...

- O que você vê? - Leon se aproximou.

- Uma garota salvou as almas - contei, hipnotizada. - Ela quer que nós vamos atrás dela. Ela diz ter a resposta.

- Você não pode acreditar em qualquer coisa. - ele disse. - Pode ser uma ilusão.

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Sem resposta, avistei uma figura correr para longe de nós.

- Ali! - apontei, a tempo de Leon perceber também. - Temos que segui-la!

- Não, Luna... - ele me segurou.

Eu ia responder, mas o cenário ao nosso redor mudou. Logo me dei conta de que era a paisagem da Floresta Vermelha. O véu teria se desprendido? Zattara teria conseguido seu intento?

As cores foram tomando forma - como uma pintura que era "redesenhada". Fiquei de frente com a árvore assassina que tentou me matar com os espinhos. Dessa vez, porém, ela estava quieta; petrificada, paralisada. Não havia mais aquela aura de lugar assombrado. Agora estava vazio.

- Quem fez isso? - Leon murmurou.

- "Você vê. Sua alma enxerga. Ilusão. Visão. A voz." - citei.

- O quê?! - ele me olhou confuso.

- É um enigma - falei. - Talvez não estamos na Floresta Vermelha de fato. Quem fez isso quer brincar conosco. E foi esse alguém quem parou Zattara.

- Era uma voz musical? - ele quis saber, e confirmei. Ele suspirou. - Acho que sei com quem estamos lidando...

- Era uma garota - engoli em seco. - Ela disse que só a encontraremos quando escutarmos a última nota. - franzi o cenho, sem entender. Depois, meneei a cabeça. - Você a conhece?

- De um tempo atrás - ele disse rápido, como se fosse um segredo. - Eu e ela já...

A voz dele foi sumindo, até que desapareceu.

- Leon! - gritei. Eu não podia ficar sozinha ali! - Há algo erra do aqui!

"Algo muito errado"

A voz ecoou por todos os lados, como um eco. Parecia estar em toda a parte, como numa sala de espelhos.

Ela queria brincar com a minha consciência.

- O que você quer?! - gritei.

Ela riu.

"Apenas dar um aviso"

- E por que não se revela? Pra quê esse joguinho?

"Nada vem fácil na vida. Zattara alterou o equilíbrio mais uma vez com esse sacrifício. E dessa vez afetou a Floresta Vermelha."

- Mas é uma floresta assassina! - contestei, um tanto receosa por falar com o vento.

"Você está errada. A Floresta Vermelha guarda segredos precisos. Estando doente, ela não tem nada a oferecer. Veja por si só."

O cenário mudou mais uma vez.

"Eu vi a Floresta Vermelha cheia de vida e verde, mas sendo atacada por monstros terríveis. Eles devoravam os animais, e uma garota tentava ajudá-los. Quando ela tomou um dos animais nos braços, vi uma fumaça negra sair de sua boca, e o animal morreu."

"Vê? A resposta para tudo está aqui."

- E por que está me mostrando isso? - indaguei. - O que quer dizer? Revele-se!

" O cemitério das almas perdidas perdeu o controle. E a floresta foi tomada por uma doença. E a cura está com a fera. Sem ela, as almas escaparão."

- Pare com isso! - gritei. - Chega desses enigmas! O que você fez com Leon?! Traga-o de volta!

" Precisa fazer isso sozinha. Por algum motivo,a floresta enxerga algo em você. Ela precisa da sua ajuda."

A Floresta Vermelha estava doente!

- Cemitério? - eu disse. - Almas perdidas?

" Ainda não acredita em mim. Precisa escutar a última nota para me ver. Precisa entender. Para isso, tem que ver uma coisa."

O cenário foi pintado com novas cores.

" Me vi no meio de uma horrenda guerra. Vi Zattara pressionando uma garota; gritando com ela, e pasmei - era Clara, a sua melhor amiga. Ela se parecia comigo.

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" - Onde ele está?! - gritou Zattara. - Pra onde o levaram? "

" - Sinto muito. - lamentou Clara. "

A imagem mudou de novo, como uma superfície d´água tremulando.

" Zattara estava algemada e furiosa. Todos pareciam fazer vaias à ela, que permaneceu calada. Num momento, ela gritou de ódio, e a vi se tornar a Morte em pessoa, e ela foi jogada na prisão."

- Como sabe disso tudo? - perguntei quando voltei à mim. - Você...estava lá?

Mais uma risada.

" Mais ou menos. Faz parte do que sou mostrar as coisas a você dessa maneira. Assim como você, não sou humana. "

- Eu percebi - falei, sarcástica.

" Sou amaldiçoada, Luna. Desde que nasci. Fui marcada a me comunicar somente através do meus poderes de ilusão. Está no meu sangue. "

A última frase saiu com amargura.

- Mas por que foi amaldiçoada? - quis saber, começando a acreditar.

Como resposta, ela limpou a lousa mais uma vez.

" Vi um casal. Eles pareciam apaixonados. A mulher tinha um sorriso irradiante, enquanto o homem parecia tanto feliz quanto preocupado. A mulher então segurou um bebê nos braços, e o homem se afastou. Só então notei que ele tinha olhos vermelhos. "

Engoli em seco. Só as Mortes tinham olhos vermelhos.

- Você está me torturando! - disse-lhe.

" Queria que tivesse outra maneira de me expressar, Luna. Preciso que faça isso por mim e por você. Concentre-se. Só assim me verá. A última nota. "

A última nota.

Fechei os olhos com força esperando que, quando os abrisse, encontrasse algum conhecido, e tudo estivesse no lugar. Mas não. A garota permaneceu em silêncio, apenas esperando qualquer resposta minha.

" Estou em sua mente. Está sonhando. "

O quê?!

" A última nota. "

Esse sussurro repetitivo me consumia. A tal resposta devia estar à um passo de mim.

Uma lágrima escorreu do meu rosto. Ao cair no chão, ela triplicou de tamanho, alastrando-se por todos os cantos, desfazendo a ilusão.

Eu sorri, finalmente entendendo.

A última nota. O último lamento. A última escolha.

Meu alento desencadeou uma espécie de "quebra" daquele campo ilusionista.

A garota riu.

" Você compreendeu. "

Sua voz falou na minha mente dessa vez, não como se fosse mais numa caixa de som invisível. Era mais forte do que o contato mental ao qual estava acostumada.

" Feche os olhos. "

Eu obedeci. Queria logo escapar daquele tormento. Por que tudo em um mundo paralelo tem que ser por enigmas?

" Abra. "

Quando os abri, me vi num cemitério sombrio. Uma densa névoa permutava sobre os túmulos e os epitáfios.

Era a Floresta Vermelha.

- Não é o que você vê - disse a garota. - A floresta assassina apenas cobre o que você não pode ver.

Um vulto passou.

- Apareça! - ordenei.

Um estalar de galhos me fez olhar para frente. Aos poucos, a névoa tomou a forma de um corpo feminino. Quando ela se dissipou por completo, eu finalmente a vi.

Ela era alta como uma modelo. Vestia jeans e um salto elegante, além de uma jaqueta marrom. Seus cabelos eram curtos e repicados, em um tom acaju. Seu sorriso tinha segundas intenções.

- Quem é você? - dei um passo para trás.

- Sou Marion - disse ela, como se fosse óbvio e eu devesse saber.

- Estou sonhando... - murmurei.

Ela se aproximou de mim e suspirou.

- Então acorde e divida esse pesadelo comigo. - ela gesticulou para o cemitério.

- Por que? O que houve?

- A Floresta Vermelha adoeceu - contou ela. Seus olhos eram claros. - Com isso, libertou todos os mortos. Precisamos encontrar a cura.

- Devagar. - eu disse, cautelosa.

Ela revirou os olhos.

- Zattara bagunçou tudo outra vez. Ela libertou todos os mortos com o sacrifício, e eles precisam voltar. Com a liberdade, eles vão reivindicar a sua vida de volta, e vão querer atacar os humanos.

Fiquei em choque.

- E o que temos que fazer?

- Existe um modo. - ela disse, animada. - Mas está perdido em um labirinto na floresta.

- E como sabe de tudo isso? - perguntei.

Ela sorriu, triunfante.

- Sou uma Mestiça. Minha mãe era humana, e meu pai, um Ceifador. - ela sorriu mais ao ver minha incredubilidade. - Sim. Meu pai era a Morte da minha mãe. Eles se apaixonaram, e sou o fruto. Sou filha da Morte.