Devasta-me (Hiatus)
Capítulo 6
As minhas últimas memórias dele voltaram novamente á minha cabeça.
Estamos correndo há algumas horas.
Está um dia nublado, mal conseguimos ver uns aos outros.
Viramos uma esquina, atravesso a rua e corro. Até que não ouço mais seus passos acompanhando os meus.
Viro-me.
- Venha. – Digo á ele - Venha!
Mas ele não se move, está parado, do outro lado da rua.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!- Sarah! – Carl me chama, metros a frente. – Vamos logo.
As outras pessoas da Comunidade que foram conosco á busca, poucos, estavam sumindo á minha visão, salvando suas vidas e as de quem puderam carregar junto.
Olho para Drake, do outro lado da rua.
Os soldados estão quase virando a esquina e ele continua imóvel.
Entro em pânico. A névoa quase tampa minha visão dele.
- Drake, venha, por favor! – Dou um berro imenso e penso em fazer birra até que ele volte a andar, mas Carl me pega nos braços e me arrasta pra longe.
Lágrimas escorrem pelo meu rosto e a face de Drake se contrai.
Penso se agora ele irá se mexer.
E se mexe.
Mas para o outro lado.
Assim que os soldados chegam em nossa rua, Drake corre para o lado contrário ao que estamos indo, e os guardas o seguem.
A neblina tampa minha visão e amoleço nos braços de Carl.
Drake os despistou.
E talvez eu não o veja novamente. – Foi meu último pensamento, antes de me desligar da realidade.
E, agora, ele está na minha frente.
Ele parou de andar com as bandejas em mãos, deixando uma May falando e andando sozinha, meio confusa.
Estamos nos encarando, provavelmente, tem alguns minutos e há tanta coisa que poderia fazer agora, de abraçá-lo a socá-lo, que continuo imóvel.
O clima começa a ficar pesado, May assobia para Carl, que se levanta e sai. Mas não tiro os olhos de Drake.
Vejo ele se obrigando a andar, e se senta no banco a minha frente, onde Carl estava.
Ele apóia as duas bandejas na mesa, olhar baixo, expressão dura. Me empurra uma das bandejas. Puxo-a para minha frente, meus olhos pregados nela.
Ouço-o respirar fundo.
- Então, decidiu voltar... – A frase soa quase como uma pergunta. Ele vira o rosto para o outro lado.
Suspiro. Não há outro jeito se não conversar.
- Na verdade, me acharam. – Me ajeito sobre o banco – Estava... desacordada quando vim para cá.
Seu olhar sobe, rapidamente, até meu rosto. – Desacordada? – Ele pergunta. Provavelmente, conhecendo-o como o conheço, sua cabeça está a mil por hora, tentando ver um motivo para o fato de eu estar desmaiada.
- Só saí rolando por uma ladeira, bati a cabeça, nada demais, sabe. – Dei de ombros.
Ele pega o garfo e mexe na comida.
Ouço passos e vozes conversando, crianças correndo. Todos estão vindo para a hora do almoço. Olho na direção do barulho.
Algumas pessoas vem na frente, com pressa, guardando lugares e indo pegar seu prato, outras trocam idéias com algumas pessoas, enquanto caminham calmamente.
Drake se levanta com sua bandeja, e antes que de algum passo, diz,, sem me olhar: – Fico feliz de que esteja bem. E aqui. – Então some no meio das pessoas.
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- Talvez devêssemos arrumar outro quarto para você. – Diz May.
Estamos no meu antigo quarto, que eu dividia com ela, antes.
- Não, não precisa. – May me olha. – De verdade.
Ela está mexendo e remexendo em caixas, pegando coisas que eram minhas, e que ainda possa usar.
- Ah, mas é claro que precisa. Esse quarto está pequeno demais para nós duas agora. – Antes que eu pudesse dizer qualquer outra coisa, ela retorna a dizer: - Não se oponha!
Sorrio um pouco com seu jeito mandão. Ela sempre foi assim:
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Olhar super protetor, carranca no rosto, gestos irritados – Sentimental, racional, coração de manteiga.
- Você também precisa de roupas novas. E de um banho. Vou procurar com outras garotas, se não se importar. Volto logo. – May sai do quarto assim que diz isso.
Sento na minha antiga cama e a espero voltar.
Desde que cheguei aqui, dormi com ela, no seu quarto. Fazia as refeições com ela, Carl e Drake, e, normalmente, com algumas outras pessoas que precisam conversar com May ou Carl.
Ajudava a cuidar das crianças junto com Drake; ele contava histórias, ensinava, dava lições. Eu brincava com elas, e cuidava. Tanto da parte física quanto sentimental: quando estavam tristes, por exemplo.
De noite, ajudava dia na cozinha, dia com as roupas. Tirava um dia por semana de folga.
Coincidentemente, o mesmo dia que Drake.
Combinávamos de nos encontrar, quando todos estivessem dormindo, num lugar que só nós dois conhecíamos. Era um lago. Fora do perímetro da Comunidade.
O mato era verde, a água cristalina.
Tão estranho que nada tenha atingido o lugar.
Passávamos a noite inteira conversando, ou sem dizer nada, dependendo de como nos sentíamos.
Sei no que está pensando... E não. Tínhamos 14 anos. Éramos somente excelentes amigos.
Ouço o barulho da porta abrindo, e May adentra o quarto.
- Aqui. Trouxe calças, blusas e roupas de baixo. Lembra-se onde fica o banheiro, certo? – Afirmo com a cabeça – ótimo. Pegue uma bolsa, coloque uma das toalhas da gaveta – aponta para o seu armário - e as roupas, e vá tomar um banho. Enquanto isso, vou tentar arranjar um quarto para você.
May me entrega uma bolsa, sai do quarto, e faço o que ela mandou. Abro o armário, uma das gavetas e pego uma toalha. Pego uma das calças e uma das blusas que ela me trouxe, fora as roupas de baixo, e coloco na bolsa. Também me lembro de pegar um sapato. Arrumo o resto das roupas no canto da minha cama, e vou em direção ao banheiro.
É exatamente o lado oposto ao do refeitório.
Distintos por feminino e masculino, quando entro, vejo as mesmas seis separações. Cada uma delas tem um amplo espaço, com privada, pia e box.
Escolho uma delas, entro e fecho a porta. Coloco a bolsa em cima de uma prateleira, tiro minhas antigas roupas – agora sujas de terra e rasgadas – e as jogo num canto.
Quando ligo o chuveiro, lembro que a água não será tão quente quanto a do Edifício, mas já tomei banho em piores situações, então não me incomodo tanto. Mas, mesmo assim, a água está morna. E penso que eles devem ter refeito o encanamento e arrumado os chuveiros enquanto estive fora.
Lavo meus cabelos, esfregando-os bem, para tirar tudo o que possa haver grudado nele.
Me toco de que nem pensei que pude ter ido ao refeitório com alguma folha na cabeça.
Droga.
Continuo o banho até que me sinto finalmente limpa, livre de todo o tipo de sujeira que possa ter acumulado.
Me enrolo na toalha, enquanto tiro as roupas de dentro da mochila, me seco e as visto.
Não são perfeitas, mas não caem e nem apertam.
Pego minhas roupas sujas e a bolsa, calço o sapato e saio do banheiro. May me espera na porta.
- Dê-me aqui estas roupas – ela pegas minhas roupas sujas e coloca debaixo do braço. – Já achei onde vai dormir. Aqui estão suas roupas novas – Ela me entrega uma bolsa grande, cheia. – Vamos, vou te mostrar seu novo quarto.
Ela atravessa a Comunidade, passamos por mulheres recolhendo as roupas, e crianças sendo mandadas para a cama.
O Sol já se pôs tem mais ou menos uma hora, mas todos dormem cedo. A noite está boa, com uma brisa fria, mas não sinto frio.
Reconheço o caminho que estamos fazendo mas, por via das dúvidas, fico quieta.
May bate na porta – uma porta que me lembro – e a porta se abre.
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