Devasta-me (Hiatus)
Capítulo 3
Tive um sonho.
Apenas a algum tempo depois de me deitar.
Um alarme soava alto no meu quarto – e em todo o edifício -, uma voz repetia: Este é um código 7, todos os soldados devem se apresentar ao esquadrante imediatamente. Este é um código 7, todos os soldados devem se apresentar ao esquadrante imediatamente...
Não sei exatamente de onde vem o som, pois está tudo negro, mas sei que ainda não anoiteceu.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!O alarme para, mas sinto o clima do edifício mudar para uma enorme agitação.
Mas isso é só um sonho que espanto e volto a dormir tranquilamente.
–
Quando acordo, está tão cedo que nenhum raio de sol ousou perfurar as nuvens.
Estico-me, esperando que as familiares dores do concreto me ataquem, mas não sinto nada.
Por que não estou no chão.
Estou numa cama, de verdade.
Num prédio.
Presa.
Sento-me e acostumo meus olhos á escuridão da madrugada.
Lembro do alarme soando e de passos – vários – acima de mim e em volta do quarto.
O clima ainda está tenso e estou preocupada de ter acontecido alguma coisa séria demais enquanto dormi.
Levanto-me e vou até a janela, empurro para frente e lados mas ela nem se move, também procuro fechaduras, mas elas não existem. Tento, através da janela fechada, olhar a rua lá embaixo; percebo que estou alto demais, talvez alguns onze ou doze andares. Mas a rua está vazia.
Caminho até a porta e forço a maçaneta, empurro e puxo a porta e, assim como a janela, não obtenho sucesso.
Balanço-me nas pontas dos pés ansiosa por estar trancada aqui. Não sei se alguém virá me trazer comida como ontem, enquanto eu estava no banheiro.
Talvez...
Vou até o banheiro, encosto a porta, calço os sapatos e aproveito para dar uma lavada no rosto, me despertando mais. Não me preocupo com o banho, talvez mais tarde consiga pensar nisso. Primeiro preciso ter certeza de que está tudo tão normal quanto ontem.
Quando volto para o quarto, não há nenhum prato de comida em cima da cama e a porta parece intacta. Mesmo assim, forço-a novamente.
Procuro uma fechadura, mas só há abertura para um tipo de cartão, o que eu não tenho nem imagino como possa forjar.
Sento na beirada da cama e olho as câmeras nas paredes, me observando e capturando cada movimento meu. Então, simplesmente sei que não vou sair daqui. Não por que tenham me prendido e que agora eu seja uma prisioneira, mas não vão abrir esta porta, não vão me dar comida, não irei ver outro cenário por um bom tempo.
A não ser que eu arrume um jeito de sair.
Antes de conseguir pensar em algo ouço.
Cleck
E novamente.
E vem da porta.
Levanto-me e vou até ela, a maçaneta se move, com força, e cambaleio para trás.
A porta se abre e não é um guarda que aparece por trás dela.
É uma mulher.
Baixa, de cabelos castanhos e grisalhos. Magra, faminta. Roupas gastas.
Não deveria reconhecê-la, mas me é tão familiar...
Depois de olhar os dois lados do corredor, me chama com as mãos; hesitante, vou até ela, que me abre passagem.
- Venha - murmura.
Seus olhos são amáveis, saudosos; seus gestos são tão amigáveis e fraternais que parecem te chamar para se sentar em seu colo, deitar a cabeça em seu peito e contar-lhe todos os problemas que tem passado. E eu quero me sentar, encostar a cabeça e contar meus problemas.
O corredor está vazio, somos só ela e eu. Avisto o elevador e murmuro um obrigado para ela.
É preciso, também, um cartão para abrir o elevador. Viro-me para a senhora, mas ela não se encontra mais lá.
Percebo do meu lado esquerdo uma escada que leva ao andar inferior e é ela que uso.
Desço um dois três quatro e então cinco lances sem encontrar ninguém.
No sétimo, ouço passos.
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Pelo menos seis conjuntos de pés batem sucessivamente contra o piso.
Encolho-me entre os degraus e os espero passar. Vão em direção ao elevador e, depois que as portas se fecham, desço o resto das escadarias.
Ouço uma voz robótica falar e congelo. Parece estar tão perto parece que está falando no meu ouvido, mas está no fim do corredor.
Chego mais perto e ouço o fim da conversa:
-... Onde? – Pergunta a voz robótica.
- Ontem a tarde. Talvez para a cidade. Nós... Os perdemos de vista. – O homem que responde parece ressentido.
Chego perto o bastante para ver quem está falando. O homem utiliza roupas de soldado, mas o outro, a voz robótica, não está na sala. Está numa tela presa numa parede branca.
Poderia muito bem ser uma televisão. Não fosse tão fina, grande e tecnológica. Há realmente muita tecnologia nesta. A face na tela é estranha, modificada. Muito provável que não seja dono da voz.
Volto aos degraus e, finalmente, chego ao que parece ser o térreo.
Pelo menos não há mais escadas.
Mas há uma porta no fim do corredor, entreaberta, e o céu e o cimento e algumas “árvores” aparecem pela fresta.
Não há ninguém neste corredor também, todos parecem muito ocupados.
Abro, devagar, a porta e espio para fora.
Vários vários vários homens estão parados em fila, olhando para frente, um único ponto, um homem que dita comandos.
Assim que o homem fala, cada fileira se dispersa e corre para um lado.
Piso no cimento do lado de fora do edifício e o medo se instala. Podem me ver, a qualquer instante.
Então corro. Pela esquerda.
Livre.
Corro até estar bem longe e cansada demais para continuar.
Começo a caminhar, e percebo o estado da situação em que tudo se encontra.
Casas abandonadas, empoeiradas, tetos que um dia protegeram famílias como a minha mas agora são inúteis.
Cartazes pichados e rasgados e aos pedaços estão pendurados por toda a parte. Anúncios como “Junte-se a nós!” ou “Restabeleça a sociedade!” que acabei decorando, tampam janelas e marcam postes.
Antes, todos esperavam que O Restabelecimento nos ajudasse.
Antes, todos tinham esperança de que o mundo voltaria a ser como era.
Tenho certeza que, agora, até os mais otimistas desistiram de pensar assim.
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