In Wonderland

O Jardim da Rainha


Alice acordou ofegante. Quando ela pensou que aquela noite, fora do comum, daria com o que sonhar ela não esperava pesadelos. Assim a menina passou as mãos pelo cabelo sem saber direito o que pensar. Era como se todas as cenas ruins de sua vida a tivessem perseguido durante o sono.

– Você acordou – uma voz disse.

Alice se virou assustada para Raphael e só então se lembrou de tudo o que havia acontecido. A menina assentiu com a cabeça.

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– Você parece pálida – ele acrescentou.

– Tive pesadelos – a menina se limitou a responder secamente.

– Ah... Sobre aquilo? – ele perguntou.

– Sobre tudo.

– Sabe Alice, às vezes precisamos esquecer o passado e as coisas ruins para seguirmos em frente – o rapaz aconselhou.

– Não quero esquecer meu passado – a menina respondeu. – Fico feliz por todas as decepções que já passei, se não fossem por elas eu ainda seria a menina que chora por qualquer coisa.

– E prefere ser a menina que guarda todo o sofrimento para si? – ele perguntou com as sobrancelhas arqueadas.

– Não é de sua conta – a garota falou um tanto ofendida.

O rapaz negou com a cabeça, como se não aprovasse o comportamento de Alice. “Como se ele precisasse aprovar alguma coisa sobre mim”, a menina pensou irritada, “Ora, ele nem me conhece”.

Raphael desamarrou as cordas que prendiam Alice a árvore, mas ainda a manteve presa. Empurrou a garota para fora do tronco oco. Alice apenas bufou para falta de cuidado.

– Para onde vamos? – a garota perguntou.

– Para onde você pensa? – ele respondeu com outra pergunta.

Alise calou-se, sabia muito bem que ele a estava levando para o castelo da rainha.

– Como é a rainha? – a menina finalmente perguntou, temerosa.

– Não preciso dar-lhe mais motivações para fugir minha cara – o moço se limitou a responder.

– Raphael, eu preciso saber se há alguma chance de eu sair viva de lá – a menina parou de contribuir com a caminhada e encarou Raphael.

Ele passou as mãos pelo cabelo, parecendo estar decidindo o que falar, ou até mesmo pensando nas chances de Alice não ter a sua – bela – cabeça cortada fora.

– Há boas chances, eu diria – ele respondeu, se arrependendo no momento seguinte.

Raphael sabia que para a menina sobreviver ele teria que ajuda-la, mas ajudar aquela garota que lhe deu dor de cabeça o suficiente para lidar em apenas três dias? O rapaz suspirou, sabia que no fim a ajudaria.

– Agora, vamos – ele falou secamente e tornou a puxar a menina pelo braço.

Alice estreitou os olhos e voltou a contribuir com ele para a caminhada. Eles andaram por um longo tempo, só pararam ao chegar a uma fonte de água. Alice, que estava dominada pela sede, foi logo começando a beber da fonte.

O estômago da menina deu um ronco tão alto quando ela acabou de tomar água, que inclusive a fez corar.

– Você está com fome – não era uma pergunta. – Desculpe, esqueci-me completamente da comida, eu já havia comido quando você acordou, sabe? – ele prosseguiu.

O rapaz começou a mexer na bolsa que trazia consigo e tirou de lá de dentro um pacotinho pardo, que entregou a Alice.

Notando que estava sendo mais gentil do que pretendia o rapaz logo acrescentou: – Trate de não demorar.

Alice revirou os olhos. “Um caso sério de bipolaridade”, a menina pensou ao começar a comer seu rocambole.

Assim que a menina terminou de comer, eles voltaram a caminhar, mas dessa vez Alice não foi arrastada, o que de certo modo foi um alivio. O braço da menina estava vermelho de tanto ser puxado de lá pra cá.

Em pouco tempo eles chegaram a um jardim muito encantador e Alice soltava exclamações de alegria sempre que via novas flores.

Raphael que já estava impaciente com a menina, disse que se ela não andasse mais rápido, ele teria que diminuir as chances dela no castelo. O sorriso de Alice instantaneamente morreu.

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Eles continuaram a caminhar em silêncio, e mesmo calada, Alice ainda apreciava o jardim. Ela nunca soube que existiam tantos tipos de flores vermelhas. Nesse momento eles entraram em uma seção na qual lindas roseiras – vermelhas – predominavam. Quer dizer, quase todas eram vermelhas. Uma era metade branca e metade vermelha. “E que cartas enormes são aquelas? Pintando a roseira?”, perguntou-se mentalmente Alice.

– O que está acontecendo aqui? – Raphael perguntou sem muita paciência.

– Raphael? – perguntou o soldado-carta, assustado.

O rapaz apenas cruzou os braços, esperando uma resposta. Alice notou que isso era muito amedrontador para aquele “baralho”.

– Nós... Nós estávamos... – a carta tentou se explicar para Raphael.

– Entendo... – a rainha surgiu, seguida pelo rei e mais algumas cartas.

– R-rainha – a carta começou a implorar.

– Cortem-lhe a cabeça! – a majestade ordenou, aos gritos.

Outros soldados – dessa vez, humanos – chegaram e levaram aquelas cartas estranhas para longe. Alice ficou de boca aberta, como podiam decapitar o coitado apenas por pintar roseiras?

– Raphael, temos uma reunião, depois cuidamos da forasteira – ela ordenou.

Alice olhou amedrontada com o tom que a rainha empregou a palavra “cuidamos”. A menina começou a andar de um lado para o outro, esperando impaciente.

***

– É só uma lagarta louca, você acha que deveríamos ouvir quando ela diz que uma Alice veio derrubar sua tirania? – Raphael perguntou. – Com todo o respeito, majestade, mas acho que não é uma fonte muito segura.

– Você sabe muito bem que aquela lagarta nunca errou em uma só profecia – o rei complementou. – Devemos tomar cuidados especiais a partir de agora.

Raphael engoliu em seco e perguntou: – Que tipo de cuidados? Sair decapitando toda Alice que encontrarmos?

– Gostei dessa ideia – disse rainha. – Espalhem a ordem.

– Mas...

– Sem “mas” Raphael! – a rainha esbravejou. – Agora vamos a forasteira.

– Tudo bem, vamos – o rapaz concordou suspirando.

***

Alice continuava impaciente, mas de repente a chamaram na sala real. Raphael logo foi de encontro a ela com os olhos arregalados, decidindo se contava ou não da profecia.

– Não diga que seu nome é Alice – ele sussurrou, deixando Alice curiosa.

Por que ela não deveria dizer que seu nome era Alice? As chances dela eram boas? Será que diminuíam apenas por um nome? É claro que não.

– Como é seu nome forasteira? – a rainha perguntou, com certo desdém.

– A... – a voz da menina foi morrendo.

– A...? – a rainha se inclinou para a frente.

– Anita, majestade – Alice mentiu, rapidamente.

– O que a trás até meu reino Anita? – a rainha perguntou.

– Novos conhecimentos, ar fresco, você sabe – Alice continuou mentindo – Você e seu reino são muito interessantes de se ver, para a minha pesquisa.

– Pesquisa? – a rainha e Raphael perguntaram em coro.

– É, estou fazendo uma pesquisa jornalística sobre populações diversificadas e boas governantes – Alice apressou-se em responder. – Suponho que seu reino seja perfeito para o que eu procuro.

– Então creio que se acomodar no palácio seja a melhor forma de fazer isso – disse a rainha e em seguida gritou para os guardas: – Preparem as acomodações de hóspedes.