Rendendo-se

Cor-de-rosa.


–Oi, Caspian. - disse ele.

–Oi – falei, sem reação certa. Eu não esperava que ele fosse aparecer, não sabia como agir. Se o tratava como o amigo que ele sempre foi ou como o cara que está apaixonado pela mesma mulher que eu, afinal, ele é ambos.

Ficamos em silêncio, então ele gesticulou com a mão.

–Eu posso entrar? - perguntou. Assenti sério, dando-lhe passagem. Fechei a porta.

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–Não esperava que viesse aqui. - confessei. Ele deu uma rápida risada.

–Vai por mim, eu também não esperava estar aqui. - Pedro estava de pé no meio da sala, com as mãos nos bolsos da jaqueta.

–Então...

Ele tomou fôlego para falar de uma vez.

–Edmundo e Lúcia me falaram da viagem à Ermo. - começou. - E ela me disse também que não sabia se ia, por minha causa. Para falar a verdade, eu não pretendia ir quando ela me convidou, mas mudei de ideia. Queria saber se está tudo bem para você caso eu vá... - olhei-o surpreso e ele entendeu, bendita amizade. - É, eu sei, é estranho para mim também, de certa forma. Eu estava decidido a não ir, mas então soube o que Susana acha disso e para falar a verdade eu concordo com ela, sobre a nossa amizade – ele gesticulou para nós dois. - Não me estranhe! - ergueu as mãos como em rendição. - Mas acho que não faz sentido continuarmos com essa rixa já que vocês estão namorando...

Franzi o cenho, mas logo me dei conta de que seria fácil chegar a conclusão de que Susana e eu estamos namorando. Só que não estávamos e eu faria questão de que ele não soubesse disso.

–Não era você que estava apaixonado por ela? - arqueei uma sobrancelha.

–E eu estou. - falou convicto. Senti meu sangue ferver. - Mas ela escolheu você, não? Se ela está certa ou errada com essa decisão... Acho que ela deve descobrir por si mesma. Sei que isso é meio cor-de-rosa, mas não quero ficar brigado com você, Caspian.

–Isso seria estranho, além de cor-de-rosa. - falei. - Gostamos da mesma garota, Pedro, acha que isso seria saudável?

–Nossa amizade é mais antiga que esse sentimento. - ele deu de ombros. - O que quero dizer é que tanto você quanto eu teremos uma parte que odiará o outro por gostar da Su, só que teremos ainda a outra metade que nos manterá praticamente irmãos como sempre foi por que ainda somos as mesmas pessoas... - ele fez um breve pausa, como se um novo pensamente surgisse em sua mente. - Acho que temos mais uma coisa em comum...

–Parece que sim... Mas isso tem mesmo que ser tão... Menininha? - perguntei. Pedro riu.

–Claro que não!

–Que bom, já estava ficando com medo. - sorri. Nós rimos.

–Certo... Acho que já vou indo. - indicou a porta, caminhando para ela. Dei-lhe passagem.

–Pedro – chamei, quando ele abriu a porta. - Tudo bem se você for para Ermo conosco – falei, depois de lutar mentalmente para não dizer. - Não seria a mesma coisa sem você. - sorri. Ele sorriu de volta.

–Obrigado. - e virou-se para a porta aberta novamente, mas então voltou-se para mim. - Ah, Caspian

–Sim?

–Chega de coisas cor-de-rosa, ok?

–Pode deixar.

Então ele fechou a porta.

[…]

Não, claro que não... - ri mentalmente.

–Você não me engana, Caspian, é claro que iria sentir falta de Pedro caso parassem de se falar. - minha consciência rolou os olhos.

Sentiria falta de Susana, se ela parasse de falar comigo, ou de Lúcia.

Pode dizer o que quiser, mas eu sei que Pedro é importante para você.

–Quer fazer o favor de parar com essa coisa cor-de-rosa?!

–Caspian? - uma voz de fora da minha cabeça me chamou, tirando-me de meus devaneios. De pé ao meu lado, Susana me olhava curiosa.

–Oi, Su! - falei, ainda sentado. - Faz tempo que você chegou?

–Não, mas... Por que você está sentado aqui no corredor?

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–O chão é um bom lugar para pensar. - falei.

–Ah... - ela largou a sacola no chão e sentou ao meu lado, com as costas apoiadas na parede, como eu. - E no que você estava pensado?

Puxei a respiração.

–Pedro veio aqui pouco depois que você saiu. - falei. Ela pareceu nervosa.

–Mesmo? E?

–Nós conversamos...

–Conversaram? Nada de socos...?

–Nada.

–Puxa, parabéns, você conseguiu. - ela sorriu, segurando minha mão. Sorri de volta.

–Obrigado.

–E então?

–Acho que ele vai conosco para Ermo.

–Mesmo?!

–Sim. Ele disse que concorda com você, Lúcia deve ter falado o que você acha a respeito.

–Na verdade... Eu falei com Pedro quando você foi até o apartamento de Edmundo... - confessou. Olhei-a.

–Como é...?

–Eu liguei. E conversei com ele. - falou calmamente.

–E porque não me falou?

–Talvez você não gostasse...

–Não gosto. - afirmei. - Então foi por isso que ele veio até aqui, por que você falou com ele! Por que você foi falar com ele? Por que não veio falar comigo!

–Eu falei com você e não adiantou. - tentou explicar, mas eu estava começando a me exaltar.

–Agora eu passo pelo arrogante por ter me mantido firme e Pedro passa pelo bonzinho humilde que passou por cima do seu orgulho e veio falar comigo. Grande Pedro!

–Caspian, está se ouvindo? Qual a importância disso?!

–Você não devia ter falado com ele pelas minhas costas...

–Eu falei com você e você deixou bem claro que não teria nenhuma atitude a respeito. Além disso, por que eu não posso falar com Pedro?

–Quanto mais você se aproximar dele mais ele vai ter esperanças!

–Ele pensa que estamos juntos, Caspian, não pensa?!

–Mas não estamos! E se ele continuar alimentando esse sentimento, quando descobrir isso vai atacar!

–Caspian, pare de agir assim, isso não é uma guerra. Pedro é seu amigo! Tratá-lo como inimigo só vai piorar as coisas!

–Eu não entendo você, Susana. Me beija, deixando bem claro que devo ficar despreocupado quanto a sua escolha, mas então descubro que você tem falado com Pedro nas minas costas! O que quer que eu pense?! - pus-me de pé.

–Se eu beijei você, é por que eu gosto você! - defendeu-se ela, pondo-se de pé outra vez.

–Você diz isso, mas eu lembro muito bem que você beijou Pedro também, lá no terraço do Ed, eu vi! - minha voz estava alterada e eu enchi-me de razão novamente, começando a não pensar direito antes de falar. - Tô começando a achar que você quer os dois!

–Foi Pedro que me beijou, não o contrário e acho bom que fale direito comigo!

–Você retribuiu! Retribuiu!

–Caspian, pare de birra! Você está se ouvindo?! Só liguei para Pedro por que queria que vocês se acertassem, caramba!

–Me faz passar pelo vilão, isso sim.

–Quer parar com isso? Ouça o que está dizendo! Deixe de bobagem! Vocês se acertaram e é isso o que importa! - Susana me encarava nos olhos, falando tão alto quanto eu.

–O que me incomoda é saber que vocês se falam pelas minhas costas!

–Nós só conversamos, Caspian!

–Sabe-se lá o que mais podem fazer pelas minhas costas!

–Não acredito que está insinuando uma coisa dessas! - indignou-se ela.

–É o que me faz pensar o fato de você está conversando às escondidas com ele! Por que ligou quando eu estava aqui?!

–Você deixaria?!

–É claro que não!

–Então acho que tem sua resposta!

–Não venha me dizer que faz coisas escondidas com Pedro por minha causa!

–Não insinue isso novamente!

–Ah, é? Me dê um bom motivo para não desconfiar de vocês, das intenções dele?!

–Chega! Eu não quero mais falar disso! - ela apanhou bruscamente a sacola no chão e foi para seu quarto, abrindo a porta.

–Desviar do assunto não é um bom motivo para se defender! - argumentei, alto demais.

Me lançando um olhar fulminante, ela bateu a porta do quarto, estremecendo as paredes, e eu continuei a gritar para a porta fechada.

–Ande, Susana, é tão difícil me dar um bom motivo para não desconfiar de vocês?! Me dê um bom motivo para eu achar que você não está brincando conosco! Ou melhor, será que há um moti...?!

EU TE AMO, IDIOTA!