Quando As Borboletas Se Foram

#05 Ceder ao futuro


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Acordei de manhã, sem o barulho do despertador. Minha mente estava turbulenta e meus olhos ardiam. Havia tido um pesadelo e acordado no susto. Não conseguia me lembrar de detalhes, mas Mel estava lá e quando eu ouvi sua voz acordei.

Aproveitei que era cedo para tomar um banho demorado, tentar esquecer a voz esganiçada de Melissa, me chamando, pedindo por socorro.

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Joguei a toalha molhada em cima da cama e me olhei no espelho. Nesses últimos tempos meu rosto estava ficando tão pálido e triste quanto o dela.

Desci as escadas correndo ao ouvir batidas na porta. Destranquei a porta e abri, mas não havia ninguém. Assustador. Por um momento me senti em uma cena de filme, mas era real. Olhei para o chão, uma cesta de palha. Cutuquei-a com medo. Não era um bom dia para abandonar uma criança na minha porta, sabe? Mas nenhum choro. Abri, então, e ao ver que não tinha nenhum bebê, levei para dentro e coloquei em cima da mesa. Sentei na cadeira e fitei aquela cesta que me deixava instável, me fazia pensar que havia um mistério dentro dela. Resolvi olhar o que continha dentro.

Abri, encontrando alguns objetos estranhos. Um desenho de panda, um All Star preto, um envelope e um anel. Sim, coisas da Melissa. E no fundo uma revista, a qual não dei importância. Por que isso estaria aqui?

Peguei o anel que tanto me prendia a atenção, pois ela sempre o carregava, e senti que ainda possuía calor humano. Suspirei.

Peguei o envelope, sem remetente. Não tinha destinatário. E se não fosse para mim? Pensei, antes de ler: "Agora sim, a Fênix foi visitar as estrelas". Arregalei os olhos e tive medo do que estaria ali dentro. Meus dedos tremeram e meus olhos nem sequer piscaram.

Abri, com cuidado. Peguei o papel que estava dentro, desdobrei e vi a letra. Nada muito caprichado.

"Oi amigo,

Primeiramente, gostaria de lhe agradecer por me ouvir nos últimos dias, nas últimas semanas. Então, obrigada.

Não sou de falar (não mais...), mas escrever ainda é hábito, então resolvi que assim seria a minha deixa.

Você realmente fitava esse anel, imagino o que pensava. Ele deve estar na sua mão agora. Sim, esse anel era do Panda. Do meu Panda. Ah, um dia foi meu...

Eu não tive coragem de me desapegar a ele tão fácil. Quando estávamos juntos, eu peguei seu anel por "um tempo", que nunca teve fim. Eu gostava de levar sempre comigo, porque tinha um pouco dele comigo, onde quer que fosse. Tinha amor comigo. Tinham coisas boas. E eu sou do tipo que acredita que se você leva coisas boas, traz coisas boas.

E depois que tudo se acabou, foi o que me restou. Agora estou lhe dando, porque poderá fazer melhor proveito.

Sobre a menina do All Star... Sim, você já deve ter notado, fomos 'amigas'. Eu pensava que éramos. Mas um dia, sem que eu percebesse, ela levou tudo de mim, e me deixou para trás. Ela tem um amigo Panda agora, e faz questão de esfregar isso em cima de mim (sim,ela me pisoteava com aquele pé de encaixe perfeito para um All Star preto e ranzinza). Ela era minha única amiga, desde que éramos pequenas, depois que ela se foi, não fui forte o suficiente e não confiei em mais ninguém. Estava sozinha até você aparecer.

Sim, você foi importante pra mim e eu não gostaria que me esquecesse, por isso deixo meus rastros contigo.

Vou admitir, estou indo embora por diversos motivos, um deles é você. Vai estar sempre nas minhas memórias, não me leve a mal. Mas, ainda tenho medo de me apaixonar novamente e achei que era isso que acontecia.

Outro motivo é finalmente conseguir deixar para trás a cidade que tem tantas lembranças e pessoas me querendo o mal. Eu sei o que você ia dizer ontem... "Por que você não segue em frente?". Não estava pronta. Mas tomei coragem. Vou deixar toda a magoa para trás. Vou dar uma chance, vou ceder a um futuro que provavelmente será algo melhor (eu espero)

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Ah, sim, a revista esta cheia de partes faltando, que eu cortei. É a revista que peguei ontem. Ela tem uma jornada, lugares para visitar. Virei a noite recortando meus destinos. Ontem comprei meu violão azul, e enquanto você lê isso eu já devo ter partido com ele nas costas.

Vou te falar, um dia já fui um livro aberto. Bem mais do que estou sendo agora. E sabe o que acontece com livros abertos demais? Alguém lhe estraçalha um dia, arrancando página por página. Por isso me fechei, por isso deixo meus sentimentos em palavras anônimas hoje.

Sou mesmo como uma estrela. Já brilhei muito um dia, até que fui encoberta por essas nuvens. Tenho medo que elas nunca irão embora, mas quem sabe... Tentarei sorrir. Eu vou em busca da felicidade que me foi arrancada. Vou deixá-los para trás. Vou ir atrás de mim, vou me procurar até me encontrar. Até encontrar o meu caminho. Eu decidi que devia ceder ao futuro que me aguarda.

Enfim, é hora de ir, esta amanhecendo. Deixo pra você uma lagrima e um beijo. Eu deixaria um sorriso, mas estou indo exatamente atrás dele,

Adeus amigo;

Mel"

No final havia um ponto molhado, imaginei que ela realmente tivesse chorado escrevendo isso. Chorado as últimas lágrimas. E depois disso, uma marca de batom vermelho.

Reli a carta. Reli. Reli. Reli. Mais uma vez, reli. Chocado. Ela realmente se foi? Isso é um blefe, certo? Senti-me fraco, zonzo. Queria desmaiar. Queria... Eu não sei o que eu queria.

Não sabia se estava triste pela história trágica de Mel ou se por mim. Ela estaria mesmo se apaixonando por mim? E... E se eu estivesse me apaixonando por ela também?

Eu poderia ter sido o futuro...

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.