Pessoa Certa

Capítulo 18


Eu estava encarando um grande mural de “procura-se empregos”. Mas na verdade eu queria era estar enterrada debaixo de um prédio. Jake estava concentrado lendo o jornal (aquela parte que ninguém lê que fala sobre finanças... Espera ai, quem é que ainda lê jornal?)

Coloquei as pernas em cima do banquinho que ficava no balcão da cozinha onde estávamos tomando café da manhã e me preparei emocionalmente pra falar rápido e sem vacilar.

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- Jake eu aceito me casar com você.

Eu vi os dedos dele se apertarem no jornal e fazê-lo tremer. Ai meu Santo Deus... Jake abaixou o papel e olhou sério para mim.

- É? Infelizmente eu mudei de ideia.

Arregalei os olhos e soltei uma gargalhada, peguei uma laranja e joguei nele.

- Ei!

- Mudou de ideia seu sacana? Você me ama!

- Não amo mais!

Ele estava rindo e tentava se proteger com o jornal das frutas que eu jogava nele. Um pêssego acerto sua cabeça e ele caiu do banco.

- Meu Deus! Jake?

- Ai...

Desci do meu banquinho e dei a volta na bancada me ajoelhado perto dele. Ele estava de olhos fechados, uma marca vermelha no lugar onde o pêssego tinha acertado.

- Jake?

- Calli, eu estou morrendo... Você é amor da minha vida... E lembre-se sempre: ISSO FOI CULPA SUA!

- Babaca!

- Me ajude a levantar assassina.

- Não.

Eu apenas ria e olhava ele estatelado no chão. Jake sorriu para mim, então achei que já que íamos nos casar era melhor socializar um pouco. Estendi a mão para ajudá-lo a levantar.

- Você me ama afinal!

- Demais...

Jake me puxou para baixo me fazendo cair em cima dele. Só me fez rir mais, pois com a força do puxão ele sentiu mais dor do que eu. Lotte veio trotando até onde estávamos caídos e subiu em cima das minhas costas, se alongando toda e logo tratando de deitar em cima de mim.

- Folgada.

- Parece você, Calli.

- Você me puxou.

Cheguei minha boca na dele e o beijei. Segurei seu cabelo com força e tentei me aproximar mais... Só que, dois corpos não ocupam o mesmo espaço. Abri os olhos quando senti as unhas finas de Lotte nas minhas costas.

- Ai! Gata do mal!

Ele gargalhou alto e eu fiz cara feia. De repente ele ficou bem sério e colocou a mão no meu cabelo. Senti um arrepio atravessar meu corpo e o olhei por baixo das pálpebras.

- Você quer mesmo se casar comigo?

- Sim.

- Não está fazendo isso só para me agradar está?

- Não.

- Se você quiser, a gente pode esperar mais um pouco. Sinto muito ter dito aquilo, é que na maioria das vezes você está tão feliz, que acabo me esquecendo que você está sozinha no mundo...

Abri um sorriso e toquei seu nariz com o dedo.

- Não estou sozinha. Você prometeu que não me deixaria, lembra?

- Eu quebrei minha promessa.

- Eu não considerei uma quebra, mas uma alteração no contrato.

Jake sorriu e suas covinhas apareceram, sorri também e dei impulso para me levantar. Charllote caiu no chão e saiu pulando para longe de nós. Estendi a mão para ajudá-lo a levantar.

- Vamos contar para minha mãe?

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- Não podemos ligar? Não estou afim de sol...

- Ela não vai fugir do manicômio pra ir atrás de você Calli!

É, podia parecer que não, mas eu estava morrendo de medo da maluca da Savana fugir e ir me matar. Talvez ela pudesse usar um celular para isso. Bugiganga do diabo!

- Nunca se sabe querido. Nunca se sabe!

- Está bem Calli! Eu ligo para ela. Mas você sabe que vamos ter que ir visitá-la em algum momento, né?

- Claro! Mas isso não precisa ser agora...

Ele ficou de pé e soltei minha mão da sua, arrastei-me até o quarto e tropecei na minha bota. Me segurei na parede e escutei Jake rindo atrás de mim.

Apenas sorri e fui até o banheiro. Liguei a torneira para encher a banheira.

- Jake!

Alguns segundos depois ele apareceu na porta com Lotte nos braços. Ou no pescoço... Depois na cabeça.

- Oi?

- Vai para a boate hoje?

- Claro que sim! Aonde mais eu iria numa noite de terça-feira?

Dica: use ironia quando você souber que tem cara para ser irônico. Caso contrário, cale-se. E adivinha só? Ele não tinha nem um pouquinho de ironia naquela cara linda cheia de covinhas... Ainda mais quando tentava soltar a gata do cabelo dele.

- Nossa, hã, segure pela barriga... Não, assim você vai machucá-la! Sai pra lá Jake, deixa que eu tiro ela daí... Não! Meu Deus!

Mais ou menos nessa confusão toda, Charllote caiu dentro da banheira e depois de se esforçar pra tirar o corpo obeso da água, saiu correndo ensopando todo o apartamento. Quinze minutos depois de ter esvaziado a banheira e a enchido novamente, secado o chão e dado comida para a Lotte, eu estava desfrutando de um belo banho quentinho.

Que não durou muito.

- Calli, seu celular esta tocando!

- Deixa tocar!

Jake entrou no banheiro e agradeci pela espuma exagerada do sabonete liquido. Jogou o telefone na minha cara e saiu novamente. Olhei o número, e não fazia ideia de quem era. Atendi então.

- Alô?

- Adivinha quem é...

Meu Deus de novo!

- Hã... O papa?

- Acorda Calli!

- Estou brincando Cam! Como vai?

Respirei fundo por que por um momento pensei que fosse Savana com uma gripe tão forte que deixou sua voz grossa.

- Estou bem... Só liguei pra confirmar seu convite...

- Ah... AH! Verdade! Eu não o vi aqui, espere, deve estar jogado no meio do ninho de correspondência! Vou dar uma olhada.

Sai da banheira e me enrolei numa toalha que era por acaso menor do que seria apropriado. Corri até a cesta perto da porta da sala e agachei para remexer os papéis. O convite do casamento de Cam com a Shelley estava de baixo da conta do celular. Sorri feliz.

- Encontrou?

- Encontrei sim Cam! Ficou lindo.

- Obrigado Calli, e você vem, não é? Você e o Jake.

- Claro Cam!

- Certo.

- Ér, tchau.

Ele desligou e eu abri o convite. O nome deles estava escrito de forma grafitada, e algumas flores feitas de spray adernavam as bordas do papel.

- Casamento de quem Calli?

- Do Cam.

- Nós vamos?

- Claro que sim!

Fiquei de pé e encarei-o. A barba estava por fazer e ele estava com a roupa que dormiu. Ou seja, sem camiseta.

Lembrei-me então da minha minúscula toalha. Comecei a ficar vermelha. Jake sorriu de lado.

- Gostei da toalha.

- Obrigada.

Ele colocou as mãos na minha cintura e beijou minha testa. Automaticamente passei os braços ao seu redor.

- Lembra quando a gente se conheceu?

- E tem como esquecer? Quase matei você naquele dia.

- É, não é pra tanto.

- Sério Calli, eu entrei em desespero quando você caiu e não queria acordar. Eu pensei que tinha acabado de matar a garota mais bonita do universo.

Apoiei o queixo em seu peito e fitei seu rosto. As listrinhas me fitaram de volta.

- Porém isso não te impediu de dormir com uma garota naquele mesmo dia.

- Eu não sabia que ia me apaixonar por você.

- Perdoado. Mas por que raios você jogou aquela caixa?

Jake sorriu e imaginei que vinha alguma merda bem feita em seguida. E acertei em cheio.

- Tinha uma aranha na caixa. E eu tenho pavor de aranhas.

- Aham.

- É sério!

- Sei...

- Ok, na verdade foi só um pretexto pra pegar minha vizinha gostosa.

Ri e joguei a cabeça para trás. Jake continuou me segurando pela cintura e quando me endireitei, ele estava lá, sorrindo igual a um idiota.

- Que foi?

- Eu fiz minha escolha.

- Eu sei que fez.

- Quer saber qual é?

- E eu já não sei?

- Só sabe a metade.

- Ok, me conte o resto.

Jake pegou minha mão e me puxou até o sofá, pegou a blusa dele que estava lá e a jogou para mim. Coloquei-a por cima da mini toalha. Sentei-me no sofá ao seu lado.

- Eu escolhi ficar com alguém, um alguém apenas. E esse alguém por acaso é minha vizinha, com um cabelo vermelho muito doido, que se veste de um jeito estranho e que trabalha de madrugada enquanto todos os outros estão dormindo. Ela tem também uma péssima mania de não acreditar no que eu falo e às vezes parece que vive em um mundo à parte, lá junto das sereias dela. Mas sabe de uma coisa? Eu amo esse alguém.

Meus dentes estavam aproveitando o momento para dizer oi para os dentes do Jake, por que nós dois estávamos sorrindo feito idiotas, crianças olhando para um brinquedo. Só que o Jake é um pervertido!

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- Eu também amo você.