O resto do dia se passou de forma (quase) tranquila. Os professores não pareciam ligar para o fato de que era apenas o primeiro dia de aula e passaram toneladas de lições de casa. Mas nem isso conseguiu diminuir a animação dos alunos, todos ainda agitados pela fofoca que corria pela a escola: Lily Evans, a nascida trouxa, tinha humilhado Bellatrix Black na frente de todo o sétimo ano.

Lily não podia ir a lugar algum sem ser parada por algum aluno que queria parabeniza-la pelo episódio. Não era segredo algum que Bellatrix era odiada por grande parte da escola e que muitos queriam fazê-la pagar por tudo que já havia feito, mas o fato de que fora Lily Evans, a sangue ruim, que tinha feito isso fazia tudo parecer duas vezes melhor.

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No final do dia, Lily já estava exausta. Ela passara o dia evitando James e se esquivando de alunos curiosos. Tudo que ela mais queria era se jogar na cama e dormir por três dias seguidos, mas havia algo que precisava fazer antes.

Lily caminhou calmamente pelos corredores escuros até encontrar a sala que procurava. Entrou e fechou a porta atrás de si, trancando-a. Estava frio ali, mas ela não parecia se importar. Sua respiração saia em névoa, seus braços estavam arrepiados, mas ela ignorou tudo isso e se sentou no chão da sala vazia, que continha apenas um velho espelho empoeirado. Ela encarou seu reflexo de forma fixa, o rosto impassível. Ela assistiu enquanto o espelho fazia seus pais aparecerem sorrindo atrás dela. Sua mãe, uma moça pequena com longos cabelos ruivos e olhos azuis, acenava alegremente enquanto seu pai, que tinha olhos verdes iguais aos dela, tentava controlar a mulher excessivamente animada. Lily acenou fracamente de volta para a mãe, um sorriso triste pendendo dos seus lábios.

–Oi, mãe. – disse ela – Oi, pai.

A mulher parou de acenar e encarou a filha como se perguntasse o que havia de errado com ela. Tombou a cabeça para o lado, o rosto um ponto de interrogação silencioso.

–Oh, mamãe, as coisas não vão bem. – choramingou Lily – Meus lapsos estão ficando mais fortes. Eu machuquei o Potter ontem. Se o Conselho descobre sobre isso eles não irão permitir que eu fique com a guarda do Potter. E eu não serei mais guardiã. E se eu não for guardiã, eu não sou nada...

Lily não queria chorar, mas não conseguiu se controlar. Lágrimas e mais lágrimas começaram a escorrer por seu rosto corado, caindo no chão sem fazer nenhum barulho.

Ela se deixou sofrer por mais alguns minutos que se passaram de forma dolorosamente lenta. Depois que o momento de tristeza havia passado, ela se levantou, limpou o rosto manchado e deu uma última olhada no espelho antes de deixar a sala, com a intenção de não voltar ali tão cedo.

xXx

No segundo dia de aula, nem Lily nem Marlene tiveram piedade dos alunos. Passaram uma tonelada de exercícios e, como nenhum aluno tinha costume de fazer qualquer tipo de atividades físicas, ninguém estava preparado para nada. Ao fim da aula, todos pareciam a beira da morte, gemendo e resmungando. Para Lily era até engraçado assistir Sirius e James, ambos altos e fortes, desfalecendo ao fazer uma simples série de abdominais. 200 abdominais, mas ainda assim.

E por assim seguiu a semana. De manhã, os alunos sofriam sua tortura matinal. De tarde, eles perseguiam Lily com perguntas. A única pessoa que não a perseguia e sim parecia até evitá-la, era James. Lily não questionou o comportamento do menino, achou até bom que eles não se falassem muito, pois evitava perguntas difíceis. Mas depois de alguns dias as coisas começaram a ficar estranha entre eles.

James então não só a evitava, como parecia fugir dela. Quando Lily entrava no Salão Comunal, ele arrumava uma desculpa para sair. Quando ela chegava para tomar café, ele já havia tomado o seu e saía da mesa rapidinho. Lily tentava não ligar, mas aquilo a incomodava profundamente. Estava tão acostumado com os sorrisos e as gracinhas do Maroto que nunca pensou que iria sentir falta disso.

Era segunda-feira da segunda semana de aulas. Lily tinha faltado à aula de treinamento (era o último dia do “aquecimento”) devido a uma cólica terrível que a abateu. Marlene havia assumido a aula, ordenando que a amiga visitasse a Ala Hospitalar.

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Lily se recusou a sair da cama por alguns minutos, tamanha a sua dor. Ainda bem que o dormitório estava vazio, pois assim ninguém poderia ouvi-la gemer. Quando a dor recuou um pouco ela se levantou e caminhou lentamente até a enfermaria, onde Madame Pomfrey lhe deu uma poção que aliviou completamente a dor dela, mas teve um efeito colateral horrível no humor dela. Lily deixou a Ala Hospitalar como um furacão, pronta para azarar qualquer um que cruzasse seu caminho.

Subindo para a Torre da Grifinória, virando um corredor, Lily ouviu alguém cantarolando no corredor seguinte. Ela reconheceria aquela voz rouca e desafinada em qualquer lugar. Era Amos.

Lily olhou em volta procurando um lugar para se esconder. Não queria falar com Amos agora, ou teria que ouvir a mesma ladainha sobre como ele sentia falta dela e como ele não recebia a atenção que merecia.

Amos na vida de Lily não passava de uma jogada bem feita. Desde o quinto ano, quando Marlene descobriu que o pai de Amos trabalhava como um Inominável no ministério, Lily o mantinha por perto. A paixão de Amos por ela nada mais era que um truque. Uma vez por mês, Lily colocava uma pequena dose de Amortência diluída no café de Amos, apenas o suficiente para criar forte atração e desejo, mas não o bastante para que ele se apaixonasse. Assim, sempre que precisasse ela podia arrancar informações dele, apenas o agradando um pouco em troca.

Lily sabia que era errado controlar as pessoas desse jeito e se consolava com o fato de que Amos era um babaca, que adorava usar e descartar meninas do mesmo jeito que Lily o usava.

O problema é que nessa última semana Amos estava particularmente grudento, querendo vê-la a todo o momento. Provavelmente devido a uma dose de Amortência mal calculada.

Naquele momento, Diggory era a última pessoa que Lily queria encontrar. Ela deu meia volta, mas não havia escapatória, aquele era um corredor longo e sem portas e Amos acabaria a encontrando. Lily correu o mais rápido que podia para o fim do corredor, quando esbarrou com alguém. Era James, vindo do caminho contrário ao dela.

–Potter! Ah, meu Merlin! – exclamou ela quando ouviu os passos de Amos se aproximando – Rápido! Me esconda!

–Do que você está falando? Evans, o que...?

Lily olhou para trás, vendo a sombra de Amos aparecer no começo do corredor, quando sua mente se iluminou com um plano.

E como ela se arrependeria dele depois.

Plano formado em sua mente, Lily virou-se para James e disse numa voz baixa.

–Faça o que eu fizer, Potter.

Com um movimento rápido, Lily empurrou James contra a parede de pedras e selou os lábios dele com um beijo.

No começo James ficou completamente surpreso, seu corpo totalmente tenso, com os braços pendendo soltos. Mas não demorou muito para ele se recuperar da surpresa, e assim que sentiu Lily aprofundar o beijo ele relaxou. Seus movimentos se tornaram mais suaves, seus braços encaixando na cintura dela, puxando-a mais para perto. As mãos da ruiva voaram para os cabelos rebeldes dele, seus dedos correndo por entre os fios, bagunçando-os mais ainda.

Por um momento, Lily esqueceu completamente de Amos e de todo seu plano idiota. Beijar James, ficar perto dele era algo que apagava tudo de sua mente. No momento em que seus lábios se encostaram, o beijo deixou de ser apenas um plano de escapatória e se tornou instinto. Mais que isso, se tornou necessidade.

Tudo ficou em chamas. Onde os corpos dos dois se tocavam, eletricidade corria soltando faíscas, ateando fogo no momento, consumindo tudo a sua volta e queimando a pele até que ficasse extremamente sensível fazendo que até mesmo o mais leve dos toques ardesse.

No meio da chama e da necessidade, havia familiaridade. Beijar James era confortável, como voltar para os braços de alguém que você já amava. O encaixe dos dois era tão perfeito quanto o de duas peças complementares de um quebra cabeça, o jeito sincronizado com que se moviam parecia uma coreografia ensaiada muitas vezes.

E por de baixo do fogo, da necessidade e da familiaridade, havia magia. Lily conseguia sentir o laço mágico que os prendiam ondular em volta deles, apertando Guardiã e Protegido tão fortemente naquele beijo que parecia um crime se separar. E naquele beijo, Lily viu como passaria a eternidade (ou o quanto vivesse) protegendo James Potter.

É claro que no momento que ele começasse a irritá-la ela se esqueceria disso, mas enquanto eles estavam ali, ela jurava que o protegeria.

E, no entanto, tudo isso não durou mais que alguns poucos segundos. Tão pouco o beijo havia começado, Amos finalmente apareceu no corredor e encarou a cena chocado.

–Lily? – exclamou ele claramente horrorizado – O que pensa que está fazendo?

Lily demorou alguns segundos para voltar à consciência e se lembrar de seu plano. Agora, com os lábios vermelhos como o cabelo dela e com o rosto de James tão próximo do seu, percebeu que seu plano era ridículo. Encarou os olhos ardentes de James, que a perfumaram de forma tão intensa que poderia parti-la em dois, e mandou um silencio pedido de desculpas por usá-lo daquela forma.

–O que pensa que estou fazendo, Diggory? – perguntou ela com uma voz irritada de quem fora interrompida no meio de algo importante, um braço ainda enrolado no pescoço de James – Faz tanto tempo que não beija alguém que esqueceu como é?

–Mas... Lily – gaguejou Amos desconcertado e confuso – E a gente? O que tínhamos.

Lily riu. Não de uma forma cruel ou com desprezo, como certamente seria adequado para a situação, mas uma risada de diversão, como se realmente achasse divertida a ideia de ter um relacionamento com Amos.

–Ah. Diggory, não existe “a gente”. – Lily fez questão de fazer aspas com os dedos. Você foi divertido quando eu precisava de você, mas agora eu não preciso mais. Como pode ver, arrumei outra diversão. Mais bonita até, se quer a minha opinião. – ela deu um tapinha no ombro de James – Sempre preferi os morenos mesmo.

Amos ouvia as palavras da menina chocado, mas não parecia triste. Afinal, ele nunca havia realmente gostado dela, não o suficiente para temer perde-la. Com um último olhar raivoso aos dois, Amos juntou o resquício de dignidade que ainda lhe restava e foi embora.

–Obrigada por isso, Potter. – agradeceu a menina arrumando o uniforme bagunçado.

–Ora, o prazer foi meu, Evans. – respondeu James se apoiando na parede, passando a mão no cabelo e arrepiando-o – Valeu cada segundo só para ver a cara de besta do Diggory quando você disse “não existe ‘a gente’” . Você realmente sabe dar o fora em alguém, Lily.

–Você sabe disso melhor que ninguém, Potter.

James riu.

–Se sei. Mas tenho que dizer que você sempre foi especialmente criativa na hora de me dar foras. “Não ficaria com você nem que eu tivesse que escolher entre Dumbledore e você. Até porque para um homem de 200 anos ele ainda é um perigo.” .

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Lily deu de ombros.

–Não disse nada além da verdade.

– Infelizmente para você, fui eu e não Dumbledore que estava passando nesse corredor hoje.

Lily assentiu fingindo pesar.

–Realmente uma pena. As aventuras que poderíamos ter tido bem aqui, nesse corredor gelado... – ela fingiu um arrepio – Enfim. Ei, Potter, o que estava fazendo aqui mesmo? Não tinha aula de treinamento hoje?

James pareceu corar e não respondeu a pergunta da menina.

–Ei, Evans, porque decidiu dar um fora no Diggory?

–Não acho que isso seja da sua conta.

–Não é. Mas eu só queria confirmar que era pelo fato de você finalmente ter percebido que ele era um babaca...

Lily massageou a têmpora, como se estivesse com dor de cabeça.

–Olha, Potter, eu não sou obrigada a te dar explicação. Já não basta... Esquece, eu estou indo embora. – disse ela se virando para ir embora.

–Já não basta o que, Lily?

–Não me chame de Lily.

James jogou as mãos pro alto, num claro gesto de frustração.

–Olha, eu não te entendo. Uma hora você está me batendo, na outra está morrendo. Uma hora está tentando me matar de tanto fazer abdominais e na outra finge que não me conhece e evita minhas perguntas. Ai eu lhe dou um tempo e o que você faz? O que ela faz? Ela me beija! E agora está agindo como se estivéssemos no quinto ano novamente, com todo esse “é Evans para você”. Eu não te entendo.

Lily se virou, batendo os pés em direção a ele.

–Você não tem que me entender! Você tem que me deixar em paz.

–Mas eu tentei! E olha no que deu: nós dois nos agarrando no corredor. Se isso não é um sinal, por Merlin, eu não sei mais o que é!

Lily soltou um gemido de frustração.

–Esse beijo não significou nada, Potter! Foi só um jeito de escapar do Diggory. Poderia ter sido qualquer um: Lupin, Black...

–AH, não diga isso! – James fez uma careta de nojo – Só de pensar em você se agarrando com um dos dois eu tenho vontade de vomitar.

–Mas não deveria! Porque eu não sou nada sua e nem nunca serei. Eu tenho todo o direito de agarrar Black ou Lupin! Essa é minha única chance de fazer alguma coisa antes de...

–Antes de...?

–De perder toda a minha liberdade! – exclamou a menina, lágrimas escorrendo pela sua bochecha – Não vê que estou presa a você, Potter? Tudo que eu serei agora é sua sombra. Tudo que eu serei agora é sua.

–Eu não quero que você seja minha! Não desse jeito!

Lily olhou fundo nos olhos de James, os próprios olhos marejados, ameaçando transbordar. Depois se virou, sem dizer uma única palavra e saiu andando.

–Lily Evans McKinnon, volte aqui agora! – gritou James , mas a menina continuou o ignorando – EVANS, EU ESTOU FALANDO COM VOCÊ!

Lily se virou seus longos cabelos ruivos chicoteando atrás de si. Seus olhos eram como navalhas, frios e cortantes. Por um momento, James achou que havia visto eles se transformarem em cinza, mas antes que pudesse registrar o que viu os olhos dela voltaram para a coloração normal.

–MAS EU NÃO ESTOU FALANDO COM VOCÊ! – e foi embora novamente, dessa vez sem se virar nem quando James berrou seu nome diversas vezes.

James bateu o pé no chão como uma criança frustrada por ser contrariada e passou a mão nos cabelos rebeldes com força, quase arrancando alguns fios. Depois foi embora pelo mesmo caminho que veio, seguindo na direção contraria de Lily.

Quando Lily se viu fora do alcance de James, ela correu. Mas não foi para a Torre da Grifinória. Virou alguns corredores e quando percebeu estava no meio da Sala Precisa, ajoelhada no chão. Quando conseguiu juntar ar o suficiente para isso, ela gritou.

Gritou de frustração, de raiva, de tristeza. Gritou por tudo que estava errado em sua vida, por tudo que ela nunca havia gritado. Enfiou o rosto nas mãos e gritou. Um grito alto e cheio de sentimento, um grito no vazio, que ninguém nunca conseguiria escutar.

Lily gritou por aquele beijo. Gritou por aquilo que sentiu quando teve que afastar James. Gritou pelo que sentiu quando disse adeus. Gritou por ter que ser dele, sem nunca ser dele de verdade.

E por fim, apesar de não admitir, gritou pelo fato de que nunca poderia ficar com James.

Primeiro era contra as leis. Uma Guardiã não pode ter relações amorosas com seu protegido, pois, uma vez apaixonado, o protegido iria querer proteger a Guardiã, colocando assim sua vida em perigo.

Segundo, era perigoso. Lily não tinha controle sobre seus próprios poderes e às vezes ela perdia a consciência de quem ela era. A qualquer momento ela poderia ter um de seus lapsos e machucar qualquer uma a sua volta.

Lily não se lembrava de quando teve seu primeiro lapso. Lembrava-se apenas de se sentir constantemente nas sombras e de ser engolida por elas de vez em quando. Sabia que era algo perigoso, que acontecia toda vez que ela se sentia com raiva ou particularmente má. Ela não se lembrava de nada do que havia acontecido quando acordava desses lapsos, como se estivesse em transe, mas acordava absurdamente cansada e machucada.

Ela parou de gritar e puxou o ar, ofegante. Sentia um formigamento nas pontas dos dedos, além de tontura e mal estar. Lily sabia o que isso significava: que estava à beira de outro lapso e que se não se acalmasse poderia se machucar. Ela respirou fundo e se encolheu em posição fetal no centro da sala. A Sala Precisa, percebendo sua necessidade de paz, fez tocar uma música suave, parecida com a canção de ninar que sua mãe costumava a cantar. Lily fechou os olhos, mas não dormiu, só... Flutuou.

xXx

Marlene liberou os alunos da aula de treinamento mais cedo que o costume, na pressa de subir para a Torre da Grifinória para ver como Lily estava. Subiu os degraus para a torre correndo e praticamente cuspiu a senha para a Mulher Gorda. Não gostava de deixar Lily sozinha, apesar de ser inevitável às vezes.

Quando ela finalmente chegou ao dormitório feminino, Lily não estava lá. Marlene tentou não entrar em pânico imediatamente, pensando que Lily poderia muito bem estar na Ala Hospitalar. Correu par Alá, pegando a passagem secreta que James havia lhe mostrado uma semana antes. Em questão de minutos estava lá, só para descobrir que Lily havia deixado à enfermaria a pelo menos dez minutos. Marlene respirou fundo, procurando não se desesperar. Lily era grandinha e sabia se cuidar. Não havia necessidade de perder a compostura toda vez que não estava próxima a ela.

Tentando manter a calma, Marlene voltou para a Torre da Grifinória, planejando tomar um longo banho para controlar os nervos. Ao abrir a porta do Salão Comunal, ela deu de cara com um James irritado e chateado.

–Potter! – exclamou ela. James já começava a se desviar dela quando ela o chamou de volta – Ei, Potter, espere! Você por acaso viu a Lily?

–Que conversão curiosa de papéis. – comentou ele coma voz irônica – Você perguntando para mim onde Lily está.

–Vá para o inferno. – resmungou Marlene dando as costas para o garoto.

–Não pretendo voltar para lá. Mas se serve de alguma coisa, faz uns minutos que a vi, subindo para o dormitório. Deve estar lá.

–Não está. Já chequei... – Marlene deixou a frase no ar, seus olhos procurando pela ruiva no Salão Comunal.

James perdeu a pose sarcástica e olhou preocupado para a pequena morena. Ele e McKinnon nunca haviam se dado muito bem, tendo ela um gênio difícil e pouca paciência com ele. De aparência, não havia nada nela que atraía James. Ela era bonita, para quem gostava do tipo. Não era muito alto, seu corpo era magro e tudo nela era em pequenas proporções, diferente de Lily, que era alta e cheia de curvas. Os cabelos dela eram escuros como uma nuvem de tempestade e seus olhos eram de um tom exótico de dourado. Ela com certeza era linda, só não era o tipo de menina que James gostava.

–Você não sabe onde está Lily? – perguntou ele confuso.

Marlene fez um muxoxo irritado.

–Na verdade, eu sei onde ela está e só estou falando com você para desfrutar da sua companhia. – respondeu a menina com a voz cheia de sarcasmo – Olha, Potter, sei que você e seus amigos têm um jeito de saber onde estão as pessoas nessa escola. Ache-a.

Antes que a menina terminasse a frase, James já estava subindo as escadas para o dormitório, onde abriu o Mapa do Maroto a procura de Lily. Ele buscou com os olhos o nomezinho da ruiva, mas ela não estava em lugar algum. Isso significa que ela só podia estar em um lugar.

–Sala Precisa – disse ele para Marlene quando a encontrou parada no mesmo lugar. Para a surpresa de James, Marlene não perguntou o que era aquilo, apenas acenou com a cabeça e saiu decidida pela porta.

–Você sabe sobre a Sala Precisa? – indagou James seguindo-a.

Ela assentiu.

–Como?

–Eu poderia te fazer a mesma pergunta, mas eu não ligo.

James bufou.

–Não precisa ser assim, sabe. – disse ele incomodado.

–Assim como?

–Você não precisa me odiar desse jeito. Sou um bom menino. Ou pelo menos é isso que minha mãe diz. Não, espere... Não, ela também não diz isso.

Marlene riu e balançou a cabeça. Era a primeira vez que James a via sorrir.

–Não te odeio, Potter. Te trato como qualquer um com o quem não tenho intimidade.

–Merlin, deve ser difícil para você fazer amigos.

–Você não tem nem ideia.

–Eu sempre achei que você me odiasse...

–Olha, Potter, nada pessoal, eu estou adorando essa amizade aflorando entre nós, mas nós realmente temos que discutir nosso relacionamento agora? Eu meio que estava com pressa.

–Tudo bem, tudo bem.

Eles caíram em um silêncio confortável, com apenas o som de seus passos ecoando nas paredes.

Quando eles finalmente chegaram na Sala Precisa, Marlene passou na frente da parede vazia algumas vezes, os olhos fechados e a testa franzida, concentrada no que procurava: Lily.

As portas surgiram e se abriram sozinhas, revelando a ruiva deitada num saco de dormir que parecia ter surgido em baixo dela. Marlene correu até a amiga e se ajoelhou do lado dela, colocando a mão em sua testa para medir sua temperatura.

–Estão só dormindo. – disse ela com um suspiro aliviado.

–Por que ela tinha que vir para a Sala Precisa para tirar um cochilo? – sussurrou James para não acordar a menina adormecida – Podia ter ido para o dormitório.

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–Talvez quisesse ficar sozinha. – respondeu Marlene enquanto acariciava o cabelo da amiga.

–Não havia ninguém nos dormitórios. – contestou ele se ajoelhando ao lado da ruiva.

Marlene deu de ombros.

–Talvez houvesse alguém que ela não quisesse encontrar ou algo assim.

–Talvez. – concordou James pensando na briga que teve com Lily no corredor.

Ele encarou a ruiva que parecia relaxada e serena em seu sono. Seu peito subia e descia com sua respiração ritmada. Naquele momento, Lily parecia uma criança, tão pequena e calma, tão diferente da pessoa agressiva que era acordada.

–McKinnon, eu não me sinto confortável aqui, assistindo ela dormir. Eu vou...

–Pode ir. Te vejo depois.

James já estava indo embora quando se virou e perguntou:

–Nem adianta perguntar o que Lily tem, não é?

Marlene olhou pra Lily sem dizer nada. Por um momento James achou que ela não ia dizer mais nada, mas a morena se levantou e chegou mais perto dele, puxando-o para fora da sala.

–Eu vou dizer para você o básico, Potter, porque não posso ir muito a fundo sem invadir a privacidade de Lily. – começou a morena - Mas você vai ser o protegido dela, e vai acabar ficando mais tempo com ela do que eu, podendo assim vigia-la melhor que eu.

“O que Lily tem é uma espécie de doença. Uma doença mágica. É como se fosse um transtorno bipolar, mas muito mais perigoso. Chamamos de lapso. Ela perde a consciência de quem, de quem somos. Se torna uma pessoa totalmente diferente e má. E extremamente poderosa. Mas há efeitos ruins, como: automutilação, dores terríveis quando ela acorda e o fato de que ela não pode controlar quando isso começa ou quando isso acaba. E vem ficando pior...”

“Preciso da sua ajuda. Quando ela tiver esses lapsos e eu não estiver por perto, você terá que impedir que ela se machuque. Prometa que fará isso.”

James assentiu, seu rosto completamente sério.

–É claro que prometo. Mas, Marlene, como ela contraiu essa doença? Não há cura? Como...

Marlene lhe lançou um olhar severo, que indicava que a hora das perguntas e respostas havia acabado. James revirou os olhos.

–Entendi, entendi. Segredos, coisas que não posso saber, privacidade de Lily, blé blé blé. – resmungou o menino fazendo um gesto grosseiro com a mão – Estou indo embora. Certifique-se que ela fique bem, por favor.

Marlene assentiu e assistiu o moreno se afastar. Antes que ele pudesse sumir de sua vista, ela o chamou novamente.

–Potter?

James se virou.

–Sim?

–Lily não pode saber que eu te contei tudo isso. Por favor, não...

–Está bem. Lily não saberá.

Marlene o encarou com seus olhos de ouro, um olhar longo e profundo, ao mesmo tempo hesitante.

–Obrigada.

Então os dois seguiram caminhos diferentes e as portas da Sala Precisa se fecharam.