Suspeitas

Eu pensei em ligar para Tyler, mas já era tarde, além do mais aquele era um assunto que era pra ser tratado pessoalmente e por que Tyler havia escondido isso de mim? Fora minha mãe e meu pai ele era a pessoa que eu mais confiava no mundo todo, Lea também é minha amiga, mas ela já espalhou um segredo meu uma vez, eu a perdoei, mas não voltei a confiar nela. Achei que ia demorar a pegar no sono, mas logo que eu deitei na cama adormeci.

Acordei com o som do despertador 21 guns do green day, eu não tinha dificuldade para acordar, adorava acordar cedo, meu pai sempre dizia “nos acordamos cedo para viver mais” o que era verdade, me arrumei, havia colocado uma blusa, um casaco, calça jeans e all star. Desci para tomar café meu tio ainda dormia, ele trabalhava com ações dentro de casa.

Meu café foi rápido, já estava pronta para ir, peguei minha mala. A escola ficava a poucas quadras daqui então eu ia andando. Tranquei a porta com cuidado e guardei as chaves na mochila, o sol ainda nascia, e a brisa da manha deixava a paisagem linda, o bairro não costumava ter muito movimento a esse horário, a maioria das pessoas ainda dormiam. Passei na casa de Ty que era caminho para escola, havíamos combinado de ir juntos, ele estava trancando a porta de casa quando fui ao seu encontro. Eu corri para alcança-lo, mas no meio do caminho vi uma senhora, ela parecia da época passada, usava uma saia longa preta, uma camiseta de cetim azul de mangas compridas, colar de perolas, e um chapéu preto que possuía um véu cobrindo toda sua face. A senhora ficava exatamente na minha frente, como se não tivesse medo que eu a atropelasse correndo, mas então ela correu na minha direção, eu tentei desviar, mas a velha passou por mim, sim ela era uma alma, o que me deu medo, eu tentei correr mais rápido, mas parecia não fazer muito efeito.

—Tyler- gritei pelo que meu pai me disse, ele também via as almas, logo que me viu abriu um sorriso tímido e parou me esperando.

—Eu quero meu filho, fale com meu filho, diga a ele- a velha ainda corri atrás de mim, o que ela queria? Quem era o filho dela?

—Eu não sei o que você dizendo- disse a senhora, chegando perto de Tyler e agarrando seu pulso.

—O que esta acontecendo Ayla?- ele me olhou estranhando, mas como ele não havia visto? Então lembrei que meu pai me disse que a pessoa já havia se curado.

—Tyler tem uma alma me perseguindo- disse por fim, ele parecia olhar para todos os lados.

—De novo isso, Yla? O que ela quer?- perguntou

—Ela quer que eu diga algo ao filho dela- quando percebi ainda estava agarrada no braço de Tyler, corei e soltei-o.

—Você precisa falar pro meu filho, eu quero falar com ele, você vai se comunicar através de mim- disse a alma, ela gritava um grito de terror, de ameaça.

—Senhora, quem é seu filho?-perguntei, enquanto Tyler ficava observando eu falando com o “nada”.

—Adam Kiord, 82 anos, mora em Melpisd.- eu fiquei atordoada, isso era impossível, Melpisd fica longe daqui, e quantos anos a senhora tinha? Além do mais eu não sou nenhum tipo de pombo correio.

—Mas isso é impossível- disse a ela

—Você terá que falar com ele- ela parecia raivosa, estava com medo dela- ou irei te perseguir até você fazer o que eu quero- e com essa frase ela se foi sua imagem dispersou. Eu olhei pra Tyler, estava tremula.

—O que aconteceu Yla?- ele perguntou segurando os meus braços, tentei me estabilizar, contei primeiro a parte da senhora, o que pareceu surpreendê-lo.

—M-mas, então ela vai voltar?- ele perguntou, me acompanhando até o colégio.

—Provavelmente sim- disse- Afinal, foi o que ela disse.

Então eu tomei coragem, e comecei a contar tudo que havia acontecido até então, o lance das almas e todos os detalhes, até chegar à parte que eu queria:

—(...) Então ele me deu um endereço- disse.

—E aonde é?- ele perguntou

—Na sua casa, Tyler por que não contou que já viu almas?

—Mas eu nunca vi nenhuma alma morta- ele disse- não acha que eu te contaria?

—M-mas- isso me atingiu como um soco, não era ele, ele nunca havia escondido nada. Agora tinha certeza de quem era, precisava falar com a mãe de Tyler.

—Nos podemos pelo menos ir pro colégio? Depois você vai a minha casa e me esclarece tudo isso- disse Tyler confuso.

Eu tinha que concordar tinha provas a fazer, eu não podia parar de estudar. Quando cheguei ao colégio, todos olhavam pra mim, e alguns diziam sinto muito, e blá blá blá. Eu fui até meu armário, Tyler me acompanhou:

—Ainda se lembra de onde é seu armário?- ele riu

—Ah, nem foi tanto tempo- sorri.

A primeira aula havia começado, e como eu sou a pessoa mais sortuda do mundo, adivinha qual era a minha primeira aula?! Física, que legal, a primeira aula com o Sr. James Rabugento Will, sentei no meu lugar, Tyler atrás, Lea estudava em outra sala. Em partes, o sufoco de ficar em casa vendo almas tinha parado, mas eu tinha que aturar Jenna Elgrem, a garota popular, chatinha que ficava dando em cima de Tyler. Eu já estava acostumada com isso, ser a melhor amiga de um dos garotos mais bonitos, simpáticos, gentis do colégio, não era fácil, afinal que menina não se derreteria por um menino lindo de cabelos escuros e olhos incrivelmente azuis, bem, não estou dizendo que eu me derreto, quer dizer, sim ele é bonito, mas só somos amigos. Mas Tyler ignorava, ignorava todas as garotas que vinham dar em cima dele, e eu adorava isso, adorava ver Jenna no vácuo.

—Ei Jenna, da para parar de falar?- virei-me para a garota, que revirou os olhos.

—Senhorita Sullivan, algum problema?- Perguntou o professor a mim.

—Jenna não para de falar- disse a ele.

—E você não colabora nada virando para trás- retrucou dando um sorrisinho.

Posicionei-me na cadeira corretamente, o que aquele professor tinha contra mim? Só de eu pensar ele disse:

—Aproveitando, senhorita Sullivan, pode me explicar, como podemos chegar a esse resultado?- ele sorriu, sabia que eu não poderia, eu não havia acompanhado esse conteúdo, como ia poder adivinhar?

—Não tem como ela responder- disse Tyler- Ela faltou nessa aula.

—E dai? Não sou culpado disso, ela não pode simplesmente dar as costas aos estudos. - disse o professor se mantendo calmo.

—A resposta é: V= 15,750 V- disse Tyler

—Eu não perguntei a você- disse o professor, mas então o sinal tocou.

Fui até o armário pegar o material da próxima aula.

—Obrigada Ty- sorri

—Você me deve um favor- ele disse

—Mas eu não mandei você fazer aquilo- disse a ele fechando a porta do armário e ele sorriu.

—E precisa mandar pra eu te proteger?- eu o fitei, ele corou, eu acho que também.

O restante das aulas foi tranquilo, os professores conversaram comigo pondo em ordem todo o conteúdo que havia perdido, já havíamos marcado provas no contra turno. Quando saímos do colégio, fui com Tyler na casa dele, o caminho me fez lembrar-se da senhora, eu tinha que esquecer, não queria atrai-la, mas assim que entrei avistei a senhora do lado de dentro da casa.

—Você de novo?- perguntei à senhora, e Tyler me olhou, parecia confuso, como sempre.

—Apenas vou deixar de aparecer quando conseguir o que eu quero.

E então ela me atingiu, mas dessa vez ela parecia materializada. Como isto era possível? Cai no chão.

—Ayla?- Tyler me ajudou a se levantar.

—Saia daqui- disse a Tyler, não sei o que aquela velha maluca podia fazer.

—Tá maluca? Eu não vou te deixar Yla.- ele segurou em minha mão.

Nesse pânico todo apareceu minha mãe, ela parecia nervosa.

—Filha escute bem, quanto mais velha as almas ficam, mais méritos elas tem, é raro, mas essa alma pode se materializar. Você tem que tomar cuidado. - ela desapareceu, a alma não estava mais lá, tinha certeza que voltaria e faria coisas piores.

—Entre logo- disse a Tyler- preciso falar com a sua mãe.

—É que tem um problema...