O Moulin Rouge: o centro da perdição do século XIX. A maior danceteria da França, um bordel fervoroso, o ponto de diversão na vida de mediocres senhores do mais alto escalão da sociedade, comandado por Santana Lopez, repleto de criaturas da noite, dispostas a tudo.

A mais bela de todas, era o seu desejo, a sua amada: Rachel. Uma prostituta (Sim, falando da forma mais rude, uma prostituta) que vendia seu amor aos homens. Todos a chamavam de Diamante Cintilante. E ela era a estrela do Moulin Rouge.

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Quinn sentia sua garganta se fechar e uma lágrima se desprender de seus cílios, correndo sua bochecha, pescoço, morrendo por entre seus seios. A mulher que ela amava estava... morta.

"Eu vim a Paris pela primeira vez há um ano. Era 1899, o "Verão do Amor". Eu nada sabia sobre o Moulin Rouge, Santana Lopez ou Rachel. O mundo havia entrado numa revolução boêmia e eu viera fazer parte dela.

Perto de Paris ficava a vila de Montmartre. Não era, como meu pai dizia: uma aldeia de pecado, mas o centro do mundo boêmio.

Músicos, pintores, escritores. Eram conhecidos como os Filhos da Revolução"

Quinn se lembrou por qual razão havia se decidido de ir a Montmartre: para escrever. Mesmo que aquilo significasse sobreviver na miséria, mas escreveria sobre seus princípios: verdade, beleza, liberdade e amor, acima de tudo, amor.

Sempre essa ridícula obsessão com o amor!, a voz de seu pai continuava a lhe soprar no pensamento.

"Havia um problema. Eu nunca tinha me apaixonado.

Então, um asiático inconsiente atravessou meu teto."

Ele não estava sozinho. Um anão loiro e bocudo vestido de freira atravessou a porta do seu quarto.

– Como vai? - ele parecia drogado, pensou ela - Meu nome é Sam Marie Raymond Toulouse-Evans. Eu sinto muito. Estavamos lá em cima ensaiando uma peça.

– O que? - Quinn perguntou. O pequeno homem lhe respondeu "Uma peça. Algo moderno chamado Espetacular Espetacular."

– Se passa na Suiça. - o menor falou antes de explicar que o asiático sofria de narcolepsia - Bem em um momento, inconsiente logo em seguida.

– Como ele está? - vozes se fizeram escutar, chamando a atenção de Quinn para o buraco acima de si: três pessoas observavam ansiosamente - Maravilha. Ele está inconsiente. Agora a peça não será mostrada ao patrocinador amanhã.

– Ainda preciso terminar a música. - outro falou.

– Outra pessoa pode representar. - o anão respondeu.

- Onde acharíamos alguem para representar um jovem e sensível poeta suiço? - o primeiro falou, se alterando com o menor.

Quinn não sabia explicar. Em um momento, ela estava em seu quarto sem saber como escrever sobre o amor. Em outro, estava no andar de cima, vestida que nem um homem holândes, representando um jovem poeta suiço, papel de um asiático narcoléptico.

O anão cantava algo nada agradável, sem melodia alguma, o que fez o homem, que Quinn descobriu ser o autor da peça, surtar.

– Oh, pare com esse barulho insuportável! Está abafando minhas palavras! - o homem falou, pulando em seus pés até o outro, que estava nos instrumentos - O piano deve ser decorativo.

Os dois se deram em guerra por diferenças entre suas respectivas funções: letra e melodia.

– Eu não acho uma freira diria isso. - o homem, que Quinn descobriu se chamar Satie, um senhor mais velho, casando seus 50 anos, falou.

– Que tal: "As colinas são as entoações vitais da melodia"? - o único careca questionou.

– As colinas... - Quinn tentou falar, mas foi surpreendida pela voz de todos expressando seus versos. Muitas colinas, ela pensou ao ver o narcoléptico se levantar, falando algo antes de apagar por uma segunda vez - As colinas... - novamente ninguém se focou a ela.

A gritaria ao seu redor por colinas era forte e extremamente irritante, mas ela não perdeu sua paciência.

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– As colinas... - ela tentou uma última vez, sendo silênciada mais cruelmente do que das vezes anteriores.

The hills are alive with the sound of music, bradou ela em alta voz, chamando a atenção de todos. O asiático narcoléptico se levantou em um pulo, assustando-os.

– "The hills are alive with the sound of music". Adorei! - ele bradou com sua voz grossa.

– Encaixa perfeitamente! - o careca disse, se virando na direção dela com uma expressão surpresa.

With songs they have sung for a thousand year, ela terminou de cantar, olhando ansiosa para os homens a sua frente.

– Esplêndido! - disse o anão bocudo - Audrey (o nome escritor da peça), vocês deviam escrever o show juntos.

– Perdão? - ele falou.

Aquele perdão deixou extremamente claro o que aconteceria a seguir para todos os presentes. Audrey se foi, levando consigo a peça, ainda gritando um adeus revoltadamente irônico ao passar pela porta.

– Ao seu primeiro trabalho em Paris. - Evans brindou ao fim do grande eco deixado pela batida da porta.

– Lopez nunca vai concordar. - o careca falou para o anão - Me desculpe perguntar, mas você já escreveu uma peça antes? - Quinn percebeu que agora o homem estava se direcionando a ela.

– Não. - respondeu de imediato.

– Ah, a garota tem talento. - o asiático narcoléptico disse, se aproximando da então jovem Quinn, e passando o braço pelo seus ombros e a puxando para si - Gosto dela! - então a soltou sem graça, olhando ao redor e completando - Não tem graça. Aprecio o talento.

O anão tomou uma taça de um liquído verde que deixou Quinn curiosa: o que era aquilo? Os quatro homens se afastaram levemente, a deixando seriamente curiosa ao pé do cenário.

– Com Quinn, nós podemos escrever o show da revolução boêmia que sempre sonhamos. - a voz de Evans se fez mais alto.

– Como convenceremos Lopez? - o careca perguntou.

"Evans tinha um plano."

– Rachel. - disse ele.

"Vestiria o melhor terno deles, e fingiria ser um homem, um famoso escritor inglês. Quando Rachel escutasse minha poesia, iria insistir para Lopez que eu escrevesse Espetacular Espetacular, e eu poderia sair da farsa. Mas eu ainda escutava a voz do meu pai: Vai arruinar sua vida no Moulin Rouge."

– Não posso escrever o show! - Quinn disse apavorada, passando entre os rapazes e se direcionando ao buraco.

– Porque não? - perguntaram os quatro.

– Não sei nem mesmo se sou uma verdadeira revolucionária boêmia. - ela falou, olhando para Evans, que lhe observava esperançoso. Todos se encararam surpresos ao fim da fala da garota.

– Você acredita em beleza? - Sam perguntou.

– Sim. - ela respondeu.

– Liberdade? - o asiático questionou.

– Sim, é claro.

– Verdade? - foi a vez do careca.

– Sim.

– Amor? - Satie perguntou com certo receio.

– Amor? Amor? - Quinn repetiu - Sobretudo, acredito no amor. Amor é como oxigênio. Amor é algo maravilhoso, o amor nos eleva, tudo o que nós precisamos é amor!

– Você não pode nos enganar! Você é a voz dos Filhos da Revolução! - Evans falou, com animação até exacerbada. Os outros gritaram um singelo "Não pode nos enganar" em uníssono, a puxando do buraco para o apartamento do andar superior por uma segunda vez - A escritora do show revolucionário boêmio!

"O plano era perfeito. Eu iria virar homem, ia fazer uma audição para Rachel e provei meu primeiro copo de absinto."

Quinn não sabia mais o que era, onde estava, ou se aquela fada verde que via ali era verdade ou não, mas sabia que o líquido verde era responsável por aquilo. Mas ela desejou mais daquilo. Seja qual fosse a condição, o momento precisava.

Eles iriam para o Moulin Rouge, ela iria recitar para Rachel. Num piscar de olhos, ela se viu passar pelas portas, ajeitando sua cartola para esconder o cabelo, atravessar as cortinas e o ar diferente do Moulin Rouge lhe invadir os pulmões.