Invisible

Capítulo 20


Connor on

Estava inquieto. Quase não tinha visto Charlie o dia inteiro. Mas não conseguia parar de ter um pressentimento ruim. E de pensar nela também. Nossa, não lembrava do quanto fazia falta não vê-la durante o dia. Olhei ao meu redor. Chandler estava dormindo no sofá e Harry e Mason estavam jogando cartas, sentados no tapete. Eu estava tão dentro dos meus pensamentos, que só “acordei” quando Mason me chamou a atenção, estalando os dedos.

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- Cara, você começou a gostar disso?

Olhei dele para a televisão e vi que estava passando um programa sobre beleza e moda... para garotas. Troquei rapidamente de canal para um filme, mas, infelizmente, por obra do destino cruel, era um filme de romance, bem numa cena do beijo dos protagonistas. Maldita TV a cabo. Mason começou a rir.

- Eu estava olhando o programa anterior... – falei, sentindo meu rosto esquentar.

Isso foi motivo para ele rir mais ainda, então desliguei a televisão e fechei a cara. Mason percebeu minha expressão e parou.

- Watson, eu estava brincando...

- Sei, estava sim... – levantei, interrompendo um inicio de fala dele – Vou sair.

- Para onde? – ele levantou num pulo, fazendo a mesinha com as cartas virar e Harry ficar emburrado. Olhei para ele com a minha expressão “Charlie, óbvio” e ele fez que entendeu com a cabeça – Está chovendo.

Ás vezes, Mason fazia o papel de responsável melhor que Damon.

- E daí? – falei, vestindo meu casaco. Mason só me olhava, cuidando cada movimento – Além do mais, ela mora aqui do lado e... – ele já não prestava mais atenção. Estava ajudando Harry a arrumar o antigo jogo.

- Posso ir, mamãe querida? – perguntei ironicamente, piscando freneticamente.

Ele olhou para mim revirando os olhos e apontou para a porta.

- Diga “olá” por mim – e voltou sua concentração nas cartas.

Abri a porta e caminhei até a beirada da varanda, observando a chuva. Caia constantemente, forte. Coloquei meu braço na chuva e sorri ao sentir o mesmo molhando. Comecei a dar alguns passos, mas voltei correndo quando me toquei de uma coisa. Não tinha motivo para ir lá. Não tinha razão nenhuma. O que ela ia pensar se eu chegasse lá e falasse “Oi Charlie, como vai? Eu estava lá em casa pensando sem parar em você e decidi vir aqui te ver, para saciar minha vontade louca de te ter sempre por perto”. Não ficaria bem. Olhei em volta, pensando, até que meus olhos pousaram sobre um canteiro de flores no jardim dela. Lírios. A flor favorita da Charlie. Sorri, com um plano formigando em minha mente. Saí na chuva de novo, mas dessa vez não parei. Só parei no corredor que levava até a porta. Invadi o gramado e colhi um punhado de lírios, mas só dois saíram por inteiro. Largando os outros, arrumei os lírios, como se fossem um buquê, e fui até a porta. Toquei a campainha e virei do costas, ensaiando o que falar.

- Oi Char... não, eu não chamo ela assim faz tempo – falei sozinho, sussurrando- Charlie! Não, falsa empolgação muito na cara...

Quando peguei fôlego para continuar ensaiando, a porta se abriu e meu coração veio parar na garganta.

- Charl... – virei sorrindo, mas meu sorriso desapareceu quando eu vi que estava na porta- Damon?

- Eu?! – ele respondeu sorrindo, mas seu olhar estava confuso, preocupado e com medo.

Ficamos em silêncio por algum tempo, apenas nos olhando. O. Que. Damon. Estava. Fazendo. Na. Casa. Da. Charlie? Não me entenda mal, é claro que ele pode ir lá... Só que... Ah, esquece.

- Damon? – perguntei mais irritado, esperando uma explicação, e espero que seja uma decente.

- Connor! – ele respondeu, franzindo o cenho- Mais alguma pergunta idiota?

- O que você está fazendo aí? – falei num suspiro- Cadê a Charlie?

Ele suspirou pesadamente, me olhando com certa... pena? Por que ele estava me olhando com pena?

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- Isso não é uma pergunta idiota – falou e riu pelo nariz- É melhor você entrar.

Me assustei com a fala dele, mas entrei mesmo assim. A casa parecia vazia e silenciosa, como se estivesse vazia. Damon foi subindo as escadas na frente, virando para trás às vezes, para, acho eu, conferir se eu ainda estava o seguindo. Estranhei de novo o jeito que Damon estava: surpreso e preocupado. Um arrepio passou pela minha espinha, como se fosse um aviso para eu já me preparar para o pior. Ele andou até a porta do quarto da Charlie e parou, me olhando temeroso.

- Você precisa estar calmo – ele disse, olhando diretamente para os meus olhos.

- Por quê? O que está acontecendo, Damon? – falei alto, quase gritando, nervoso demais, meu coração palpitando mais rápido.

- Shh Connor, não grita – ele olhou de esguio para a porta- Ela pode se assustar e acabar piorando.

Minha respiração ficou irregular e tudo de pior passou pela minha cabeça. É claro que eu sabia de quem ele estava falando. Que outra pessoa estaria no quarto dela, na casa dela. Charlie... Não...

- Fala logo o que aconteceu com ela - minha voz falhou e senti meus olhos marejarem.

Engoli o choro. Não sabia o que tinha acontecido de ruim. Ainda. E se o pior tivesse acontecido, não poderia chorar, não na frente dela.

- Você tem que ser forte, como eu estou me mantendo. Por você, por ela, por todos nós. Por favor, faça isso. Eu te imploro! – ele falou colocando a mão na maçaneta.

- Damon, você está tornando tudo mais difícil para mim. O que aconteceu?

- É melhor você ver com seus próprios olhos – disse ele, abrindo a porta e dando espaço para eu entrar.

Quando a vi, meu coração parou. Deitada ali, naquela cama, parecendo... morta. Como doía pensar que ela estava morta. Minhas lágrimas caiam livremente pelo meu rosto. Não me importei em segurá-las. Sentia o olhar de Damon em mim, mas não estava nem aí.

- Ela...

- Vai lá logo, eu sei que você quer – Damon me interrompeu.

Não me segurei e corri para dentro do quarto, me ajoelhando no chão ao lado da cama. Soluçando alto, segurei sua mão e olhei em seu rosto. Nunca pensei que veria Charlie assim, a minha Char. Eu prometi a mim mesmo que nunca deixaria nada acontecer com ela, e falhei. Falhei comigo, com ela. Minha mente estava totalmente desligada, mas ainda assim ouvi passos rápidos pela escada.

- Damon, eu encontrei... – a voz da Annie invadiu meus ouvidos- Ah, Connor...

Sua voz ficou chorosa e senti seus braços ao redor de mim. Ela estava me abraçando. Estava compartilhando sua dor comigo. A mesma dor que eu estava sentindo. Nosso choro parecia uma sinfonia, estávamos quase sincronizados. Nossa Charlie... Quem teria coragem de fazer isso com ela? Parei de chorar de repente ao me dar conta de uma coisa. Charlie não ficou assim do nada. Alguem tem que ter feito isso com ela. E esse alguem vai me pagar. E caro. Tirei lentamente os braços da Annie dos meus ombros, recebendo um olhar confuso dela, e me levantei, olhando para Damon. Ele estava escorado na parede oposta a cama, de lado de uma estante repleta de livros, comendo um bolinho. Levantei uma sobrancelha e o encarei, limpando minhas bochechas das lágrimas. Ele devolveu o olhar, entendendo o que eu queria dizer.

- O quê?- disse ele de boca cheia- Eu estava com fome.

Revirei os olhos e suspirei.

- Tudo bem – fiquei pensando se já estava na hora de fazer aquela pergunta – Eu quero saber o que aconteceu.

Damon indicou com o dedo para eu me aproximar. Me escorei ao seu lado e ele me contou tudo. Com todos os detalhes, pelo menos o que ele sabia.

- E quem... quem foi que fez isso?

Ele balançou a cabeça.

- Eu não sei.

- Você deve ter visto alguma coisa... – insisti, ficando um pouquinho irritado.

- Eu não vi nada do cara. Desculpa Connor, mas eu cheguei tarde demais.

Perdi minha calma. Não com Damon, e sim com a situação.

- Isso não é aceitável! O monstro que fez isso está lá fora, solto, podendo fazer isso com quem quiser.

Damon olhou de relance para Annie, que prestava bastante atenção na nossa conversa.

- Tenho quase certeza que ele não faria com qualquer um.

- Não entendi...

- Connor, sabe...

- Vocês sabem de alguma coisa que eu não sei? – interrompi a fala de Annie, olhando de um para o outro, e vice-e-versa.

- Não, claro que não. Estamos tão perdidos quanto você – Damon falou.

- Mas temos uma teoria... Melhor, uma ideia na cabeça, mas é tão macabra que eu prefiro esquecer – Annie falou, se levantando e fazendo carinho no cabelo da minha menina.

Olhei para Damon.

- Você sabe do que ela está falando? – falei rápido, meu coração batendo forte.

Ele afirmou com a cabeça e olhou para a janela, como se preferisse não responder. Ficamos em silêncio por um tempo, eu apenas esperando algum deles tomarem a iniciativa de falar alguma coisa. Isso não aconteceu.

- Vocês poderiam, por favor, me contar a ideia macabra de vocês? – perguntei.

- Acho melhor não... – Annie respondeu, finalmente.

- Por quê?

- Porque você vai ficar alterado – ela disse, dando de ombros.

Respirei fundo, fechando os olhos e tentando me controlar.

- Não vou! Eu prometo – falei, olhando para ela com uma carinha de pidão.

Annie riu pelo nariz e pareceu pensar por um tempo.

- Ta bom, eu falo. Mas se você se alterar...

- Eu não vou – interrompi ela, ansioso.

Annie respirou fundo e olhou nos meus olhos.

- Nós achamos que alguem mandou esse tal homem bater na Charlie, de propósito.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.