»POR FAVOR LEIAM AS NOTAS DO CAPÍTULO. BOA LEITURA!«


O homem nojento deu corda aos sapatinhos de verniz, e encaminhou-se para a saída. Ao sair, encarou-nos com um olhar repleto de ódio e vingança. Porém, tinha outras coisas em que pensar.



Retire-a!- ordenei.



Retirar o quê?- perguntou-me, sem perceber.


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Apontei para a mão que ainda estava pousada no meu ombro direito. A mão dele.

Ao perceber do que me referia, rapidamente afastou a mão.

Como soubeste que eu sou inglês?- perguntou-me.

Tens um sotaque horrível.- disse-lhe, sem meias palavras.

A minha tia, que tinha com certeza ouvido e visto todo o incidente, aproximou-se e perguntou-lhe a única coisa que não devia:

– Pode repetir o que disse?- ele não a entendeu.- Afirmou que queria comprar esta mulata?

Estava pronta para traduzir-lhe as citações da tia, quando ele me surpreendeu, colocando de novo a mão sobre o meu ombro. Amuei. “Se é assim que ele quer”, pensei “Ele que se desenrasque!”

– Exatamente.- respondeu ele, em bom (mas com o mesmo sotaque) português. Obrigou-me a encará-lo.- Quanto é que custas, beleza?

Ia eu a responder, quando a minha tia começou a rir-se desalmadamente, apontando na minha direcção.

– Ela? Beleza?- riu-se novamente. Fitou-me.- Ela é demasiado magricela, o rabo dela não é suficiente para encher os vestidos e o peito não pode ser considerado grande.

Realmente… a minha tia sabe colocar-me abaixo.

– Bem, para mim acho que ela não tem nenhum defeito.- acrescentou ele.

Encarou-me novamente com aqueles olhos negros.

– Ainda não respondeste à minha pergunta, querida. Diz-me uma quantia qualquer, asseguro-te que o dinheiro não me é um problema.

Sacudi a mão dele do meu ombro e disse-lhe das boas:

– Primeiro, não me chames querida.- comecei.- É uma grande ofensa para as verdadeiras queridas.

– Em segundo “querido”, - continuei.- Não há dinheiro no mundo que me consiga comprar.

E foi aí que, mais uma vez, a minha tia decidiu intervir.

– Não me digas que depois da conversa que tivemos há dois dias, ainda não mudaste de opinião?!- disse-me ela arduamente.- Nunca tiveste um namorado na vida, e ainda estás à espera do príncipe encantado. Aceita a proposta do senhor, burra!

Sinceramente, a minha tia não sabe quando são os momentos oportunos para falar certas coisas. Decidi ignorá-la, para não ficar mais envergonhada do que já estava.

– Não estou à venda.- Repeti para o ruivo.

Encaminhei-me para o camarim, uma mão parou-me novamente. Encarei-o, já estava farta disto.

– Não sei o que pretendes de mim, mas não estou com paciência para aturar mais tarados hoje. -gritei.- Percebeste?

O ruivo riu-se ainda mais. Será que ele achava divertido a miséria dos outros? Quando vi a minha tia por trás dele, percebi que devia ter ficado calada. Claro que ela explodiu:

– Isso são maneiras de falar para quem te salvou de uma luta?- gritou ela.- Tantos anos a educar-te e é assim que me agradeces? A fazer um escândalo no meu bar?

Naquele momento, só me apetecia gritar-lhe “ Quem está a fazer o escândalo és tu, velha de um raio”, mas contive-me. Uma resposta dessas não me facilitaria a vida.

– Peço imensas desculpas por ela.- disse a minha tia ao rapaz. Virou-se na minha direcção.- Pede desculpas e agradece, se faz favor!

– Não pedi ajuda a ninguém.- relembrei-a.- Teria me safado sozinha.

Ela dirigiu-me um olhar que eu conhecia muito bem. O olhar que me dizia “Ou fazes o que eu digo, ou vais dormir na rua!”. Sabendo que era ela que me dava uma cama quente, e que ninguém me daria outra, virei-me, descontente, na direcção do ruivo e disse-lhe:

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– Peço desculpa pelo que aconteceu e pelo meu comportamento. Há alguma forma de eu o recompensar?

Ele pensou durante um belo período de tempo.

– Uma hora na tua companhia, seria o suficiente.

“Pois, claro”, pensei, “Ele é um homem Esmeralda, e um homem tem as suas necessidades”. Pois adivinhem- eu também tenho necessidades bem hierarquizadas na minha mente. Sabia muito bem o que ele queria dizer com “uma hora contigo”.

Contive a vontade de lhe mandar um murro.

– Não sou dessas. -tentei explicar-lhe.- Se quiseres esse tipo de serviço, terás de falar com a minha colega, a Ambre.- apontei para a rapariga loira e detestável que estava ao balcão, rodeada por homens.

Ele, inesperadamente, riu-se.

– Não era desses “serviços” a que me referia. –confessou ele.- Mas é claro que se quiseres, terei todo o gosto de te dar um pouco de mim.

“Não lhe batas, Esmeralda”, pensei, “Não lhe batas”.

– Mas por agora, ficarei satisfeito com uma conversa entre nós os dois.

A minha tia jubilava de satisfação e êxtase.

– Mas tu deves ser o rapaz perfeito!- exclamou ela. – É claro que podem conversar. Venha comigo que eu mostro-lhe o local mais adequado para conversas privadas. Vem também Esmeralda.

Não tive outra opção senão acompanhá-los até à mesa que, de sossegada tinha pouco e, além disso, era a que estava mais perto do camarote da minha tia.

– Vou deixar-vos à vontade.- disse ela, mesmo eu sabendo que ela iria estar atrás da porta da sua sala, com um copo na mão, a escutar tudo o que afirmássemos.- Vê lá se te portas, Esmeralda.

Esperámos até ela entrar. Fitei-o por momentos. Era jovem, vinte anos se tanto. Tinha cabelos ruivos e, em contraste, olhos negros. Os músculos sobressaíam do colete que usava e as pernas eram elegantes. Era ele (e o seu rabo, suponho) o alvo dos olhares das raparigas (mesmo aquelas que estavam acompanhadas).

Então…– começou ele.- O teu nome é Esmeralda, não é?

Não lhe respondi. Estava concentrada em descobrir uma maneira de sair dali sem a minha tia aperceber.

O meu nome é Castiel.

Talvez se eu fingisse estar doente, eu pudesse…

Sabes se continuares a ignorar-me, acho que terei de chamar aquela mulher. Ela é a dona, não é?– picou-me ele, chamando-me à atenção.

Não tenho nada para te dizer, Castiel.- respondi-lhe.

E que tal elucidares-me do como sabes falar inglês tão fluentemente.

A história era demasiado longa e, sinceramente, não queria desperdiçar muito latim com um “gajo” como ele. Eu sabia inglês porque estávamos numa época de expansões. Porque a Alemanha, a França, a Espanha e, principalmente a Grã- Bretanha, começaram a seguir os passos de Sweet Amoris na conquista do mundo. O bar encontrava-se perto do cais dos navios, fazendo com que muitos marinheiros estrangeiros ansiassem por uma companhia feminina. E desde aí tinha aprendido, pouco a pouco, com eles.

Porque dá jeito.- decidi dizer-lhe.- Posso ser eu a fazer-te uma pergunta?

Claro.- disse ele.

Qual é, sinceramente, o teu interesse em mim?– Perguntei-lhe.- Como a minha tia tão bem te explicou, o meu corpo não é o mais desejável. Além disso, suponho que não vás dizer a todas as raparigas “Quero comprar-te”, certo? Deves ter uma razão.

Ele, sem hesitar (ou sequer pensar), respondeu:

És a rapariga mais interessante que conheci até hoje.

Como podes dizer isso? Nem sequer me conheces.– perguntei-lhe.

Por acaso, já nos conhecemos.

– Desde quando?

– Desde que negaste uma noite com o rapaz mais desejado da Inglaterra.

– Esse teu amigo não deve ser nada de especial, senão lembrar-me-ia dele.– confessei.

Riu-se.

Talvez sim, talvez não. Eu não admiro rapazes, por isso não sei dizer se estás certa ou não. Apenas te citei o que já se escreveu no jornal britânico.

E depois perguntam-me porque os ingleses são pessoas convencidas. Porque antes de dar importância a fomes, guerras e política, os jornais ingleses dão relevância à beleza!

Adiante…– apressei-o.

Há duas semanas, ele acompanhou-me até este local dizendo-me que aqui estariam as mulheres mais bonitas de Sweet Amoris. Acreditando nisto, acompanhei-o e assisti às vossas atuações. Estava aborrecido de morte, até tu apareceres.

– O que é que eu fiz?– perguntei, também eu aborrecida.

Não me interrompas, estou a contar-te uma história.– brincou ele.

Fechei a boca.

Bem, o Nathaniel, o britânico mais bonito e também meu melhor amigo, viu-te e achou-te piada. Chamou-te e perguntou-te se querias passar a noite com ele, na casa dele. E tu respondeste como fizeste há pouco “Não sou dessas. Vai ter com a Ambre”, e viraste-nos costas. O rapazinho, como nunca tinha sido negado, ficou tão chateado que foi para casa e esqueceu-se do propósito de vir até aqui- arranjar um aconchego para a noite. Devo agradecer-te por teres tornado a minha noite numa comédia deveras inesquecível.

Não me lembrava do sucedido. Mas também dizia aquilo a tantos homens, que não me podia lembrar da cara de todos.

Se é só por isso que me achas interessante, só revela que não tens conhecido muita boa gente.– confessei.

– Talvez tenhas razão. Mas mesmo assim gostava de te conhecer melhor. Gostava de ter comédias como aquela todas as noites.

Pois, meu bem, mas eu não faço para ter piada.- disse-lhe com frieza.

E é por isso que tem piada. É isso que te torna interessante, única.

Olhou para o relógio.

Merda!– exclamou.- Tenho de estar no barco daqui a dez minutos

– És marinheiro?– perguntei-lhe.

Marinheiro Castiel ao serviço de Sua Majestade, minha senhora.- fez-me continência.- Ansiando por um dia me tornar capitão do meu próprio barco. E que grande capitão serei…– murmurou, perdido em pensamentos.

Ele fitou-me:

Durante os próximos quinze dias, antes de voltar para o mar, virei até aqui todas as noites para estar contigo.– disse-me.- Até tu me dares um preço… ou melhor, se for grátis!

Riu-se e levantou-se, antes de eu lhe responder.

– Foi um prazer vê-la de novo, minha senhora.- disse em bom português.

Depois de sair, fui bombardeada pelas raparigas questionadas pelo “de novo” e pela “minha senhora”.