Um Irmão Para Se (Odiar) amar.

Capítulo 33 - A hora em que a macheza acaba...


July -

Hm, sabe, minha cabeça está uma bagunça horrível no momento, mas acho que vocês serão capazes de entender o que eu estou sentindo. Basicamente, sabem aqueles filmes? Sim, aqueles filmes bem dramáticos, com sangue, meleca escorrendo do nariz, berros de desespero e tudo mais? Afe, pera, deixa eu resumir logo. Sabe "Crepúsculo"?! Pois é. Todas aquela cenas hiper dramáticas parecem ter se reproduzido em câmera lenta naquele momento. Só que a diferença é que eu duvido que meu irmão quisesse me morder enquanto eu sangrava litros para eu me tornar uma fresca imortal; não estava em Seattle e muito menos tinha um cachorro maravilhoso, bombado e depilado (sério, como ele consegue aquilo?) para me pegar no colo e sair correndo feito louco numa floresta qualquer. Ah, e meu pai não curte pessoas seminuas numa floresta (entendedores...). Mas foi nesse estilo de drama que as pessoas gostam de ver.

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Não lembro de muita coisa, só de sangue, meu irmão me encarando, uma vaga lembrança de conversar com o Paul e puf! Acabou tudo.

–------

Vinícius -

Eu batucava o pé no chão a cada cinco segundos, nervoso até os últimos fios de cabelo. Havia chegado havia uma meia hora, e mesmo que tivessem me oferecido água e dito que estava tudo bem, aquilo estava muito difícil de engolir. E o fato de parecer que jogaram estrato de tomate no meu ombro me deixava ainda mais nervoso.

Apesar de eu ter vontade de sair dessa cadeira e arrombar a porta do quarto onde a estão examinando, eu me forcei a ficar sentado. Sei lá se a July está acordada e resolve arrancar minha vida. Não... Na verdade isso é meio improvável. A July havia desacordado assim que coloquei ela no carro, outro motivo que me deixou nervoso. E quando eu cheguei com ela no colo, me sujando de estrato de tomate, as enfermeiras logo socorreram ela.

Pelo menos isso de bom.

Ainda bem que o Paul distraiu os caras, ou então nem sei como eu teria saído com a July...

Não... Espera.

– Meu deus, o Paul! - Enfiei a mão no bolso imediatamente e procurei pelo celular. Liguei para ele na discagem rápida e coloquei o fone na orelha, esperando que a criatura atendesse.

Tu, tu, tu...

Paul...!

Tu, tu, tu...

PAUL DIACHO!

Tu, tu... O dono do número chamado encontra-se morto ou te ignorando, por favor tente...

AFE, CALA BOCA MULHER!

– Ai que merda... - Resmunguei, enfiando o telefone no bolso enquanto me levantava do banco da sala de espera.

Só faltava isso mesmo... Minha irmã cheia de estrato de tomate e meu amigo provavelmente morto. Então corri que nem louco, já procurando a chave do carro, e quase esbarro numa enfermeira.

– Ei! É proibido correr no hospital! - Disse ela.

AFE MULHER, ENTÃO VEM AQUI E CORTE MINHAS PERNAS!

Depois de um bom tempo sendo xingado, abri as portas de saída e corri para o carro como louco. Mas assim que olho para minha esquerda, paro de correr progressivamente até que finalmente paro e encaro de boca aberta o que parecia ser um zumbi cambaleando.

Mentira que ele andou tudo isso...

– Vinícius... - Paul sorriu, a certa distancia de mim. Mas o que me fez ficar encarando ele foi o braço torcido, a cara roxa e lábios sangrando, e toda a situação da roupa dele toda suja de terra e sangue - Que cara horrível é essa cara homem?

Filho de uma...

– SEU IDIOTA DOS INFENOS! OQUE VOCÊ PENSA QUE ESTÁ FAZENDO?!

– Indo para o hospital...

AH SEU MALDITO... EU TE MATO ANTES DE VOCÊ CHEGAR LÁ.

– Achei que você estava morto!

Então ele riu.

RIU.

– Afe Vinícius, eu não morro só porque uns míseros 30 caras querem me espancar. Eu lutei corajosamente lá... - Olhei bem para cara dele, e então soltei o ar pela boca.

– Eles te jogaram no meio da rua, não foi? - Ele sorriu mais um tempo, mas logo revirou os olhos para mim.

– Tá, foi, mas só porque eles viram que eu sou indestrutível.

– Uhum, estou vendo - Fui até o cara acabado e mesmo que a vontade de bater nele fosse maior, fiz um sinal para ele se apoiar nos meus ombros - Vem logo, não quero que você caia no hospital e suje o chão. Eles prezam muito a higiene lá.

Paul colocou o braço bom nos meus ombros e eu ajudei ele a se manter de pé, andando com ele até a porta do hospital. Quase chegando lá, ele me olha, com o maldito sorriso no rosto.

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– Obrigado.

Olhei ele de canto e então voltei a olhar a porta, pressionando os lábios.

– Fica quieto e olhe por onde anda - Resmunguei, abrindo a porta com minha mão livre, e então passando com ele para dentro do hospital.

–----------

Voltei com um copo de água nas mãos, mais ou menos uma hora depois. Paul me esperava no banco da sala de espera coberto de faixas, esparadrapo e band-aid.

– Ele acabou de vir, outra vez - Pegou o copo que eu estendi a ele, se referindo ao médico responsável pela July - Disse que só estão terminando os curativos na nuca dela, para os pontos não incomodarem tanto. Então podemos ir um de cada vez.

– Ela vai ficar? - Perguntei, sentado do lado dele.

– Vai ficar sobre observação por três dias, parece que perdeu muito sangue - Respondeu, dando um gole da água com os olhos pregados na parede branca do hospital. Então afastou o copo da boca e olhou para a mancha vermelha na minha camisa - Você está bem?

– Não.

– Imaginei, eu também estou me sentindo uma merda com tudo isso... - Então voltou a parede, jogando as costas no encosto da cadeira.

Juntei as mãos perto do joelho e encarei a parede também.

– Pode me responder uma pergunta com sinceridade?

Paul olhou para mim, parecendo não entender muito bem.

– Sim...

– Sou uma merda de irmão.

– Isso não foi uma pergunta - Sorriu, mas eu continuei encarando a parede, a única coisa que parecia um pouco interessante nisso tudo. Paul suspirou - Cara, para com isso. A única coisa que fiz hoje foi observar o Matt ser usado como um saco de batatas e apanhar de uma quadrilha inteira. Eu sou uma merda de namorado, isso sim. - Neguei com a cabeça.

– Eu não reagi na hora certa Paul. Se você não tivesse me entregado ela e distraido os caras... - Balancei a cabeça, e então me lembrei de um detalhe - Por falar nisso, oque aconteceu com o Matt?

– Virou tapete de sala deles. Mas não se preocupe, eu liguei para a polícia por um orelhão que encontrei... Eles vão pagar por terem sequestrado nossa garota e roubado meu celular - Abri um sorriso, quase rindo ao pensar no Paul sendo roubado logo depois de ser espancado.

Sacanagem...

– Mesmo assim... Ela deve estar me odiando agora, acho que não presto para ser um bom... - Paul tocou meu braço com a mão boa dele. A outra foi enfaixada depois de terem colocado o braço dele no lugar certo.

– Você salvou ela Vinícius, só esqueça isso, ok?

Então o médico de antes surge e Paul e eu nos levantamos.

– Então? - Perguntei.

– Podem vê-la - Respondeu com um sorriso mínimo - Mas cada um vai poder ficar 6 minutos e como eu disse, somente um de cada vez. Ela está com um pouco de dor de cabeça para ficar com muitas visitas.

– Certo, não vamos demorar muito - Paul concordou, então seguimos o cara até uma porta de madeira com janelinha, e Paul fez sinal para que eu entrasse primeiro. Hesitei um pouco, me sentindo mal o bastante para me esconder dela. Ele sorriu, de novo - Vai. Eu espero aqui, estou meio tonto para ir agora.

Concordei com a cabeça e entrei no quarto depois de respirar fundo umas cinco vezes.

A cena seguinte foi estranha. Ela estava numa cama de solteiro com um remédio gotejando por uma intravenosa até sob a pele dela. Ela estava pálida como nunca, com alguns arranhões pequenos no rosto e uma faixa cobrindo da nuca até a testa dela. Assim que cheguei ao lado da cama, ela virou devagar a cabeça para o meu lado e deu um sorrisinho fraco ao me ver. Eu fiquei parado, olhando para ela sem ideia do que fazer ou falar. Logo ela revirou os olhos e olhou para o outro lado.

– Meu Deus... Apenas pergunte se eu estou bem e pare de me olhar com esse rosto de cachorro perdido. Acho que não faz mal perguntar isso uma vez na vida.

Pressionei os lábios de novo, desta vez sem perder a paciência com o comentário dela. Sentei na cadeirinha ao lado da cama dela e vi ela me observar de novo.

– Se sente bem? - Perguntei um pouco rouco de mais, e ela sorriu de novo.

– Muito bem, só um pouco mais de treino e as pessoas não se assustarão com sua voz esquisita - Ela riu um pouco, mas parou assim que viu que eu não tinha correspondido - Hm, eu estou melhor. Eu só não me sinto um pouco confortável com minha cabeça.

– Hm...

– ...

– ...

– Vinícius.

– O que?

– Você está me assustando - Olhei para ela depois de passar um tempo olhando o chão, e então vi que ela franzia a testa - Você está com cara de quem viu uma pessoa morrer.

– Não é isso, é só que...

– O que?

Balancei a cabeça, dando um sorriso de meio segundo.

– Acho que também estou com um pouco de dor de cabeça, acho que vou procurar o médico... - Me levantei colocando a mão no rosto, mas sou parado quando sinto ela agarrar minha mão. Estava meio fria.

– Vinícius - Repetiu, então me virei devagar - Eu estou com uma dor de cabeça horrível nesse exato momento e não estou com nem metade do rosto que você está fazendo. É outra coisa.

Virei o rosto para frente, me sentindo estranhamente (estranho mesmo) envergonhado e culpado ao mesmo tempo. Não era do tipo fresco, mas eu até tive razão para isso. Me sentei de novo e por alguma razão a July ainda segurava minha mão, mas ignorei e resolvi encarar a garota.

Tinha que ser sincero, apesar de eu saber que seria um pouco... Estranho e gay.

– July, o que você acha de mim? - Pergunta esquisita, mas ela pareceu realmente levar a sério, pensando por um momento.

– Bem, eu diria que você é um bom irmão, que se importa comigo, companheiro e incomparável... - Arregalei os olhos, de repente emocionado com as palavras dela.

– July...

–... Mas isso é o que uma irmã diria para um irmão normal, e você é horrível - Hã? - Você me atormenta, me xinga, me ignora, me exclui e raramente quer saber como me sinto.

SUA RUIM!! COMO UM SER HUMANO PODE SER TÃO HORRIVEL ASSIM CRIATURA?!

É só ser você Vinícius.

CALA BOCA CABEÇA MALDITA!

– Isso é sério? - Perguntei, tentando manter a calma.

– Sim - Quase caio da cadeira depois dessa - Mas...

Opa, perai, mas sempre é bom sinal.

–... Ah, não... Deixa.

– Hã?! Não, você ia dizer alguma coisa.

– Não é nada.

– Fala logo July, quero saber.

– Esquece!

– FALA LOGO GAROTA! - Preensei os lábios logo que percebi que falei alto com ela, mas em vez de reclamar, ela riu.

Ela estava mesmo com dor de cabeça?-

– Tá! Eu falo! - Ela parou de rir e então amenizou o sorriso - Desde que cheguei aqui você mudou um pouco nos meus conceitos...

– Você não vai começar a me xingar, vai?

– Não! - Ela fez um bico, então eu soltei um sorriso leve. LEVE MESMO! - É que... Você está menos babaca que antes.

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Ai que amor.

–... Foi você quem me encontrou e me trouxe, certo?

– Foi - Ela sorriu, parecendo realmente satisfeita.

– É desse tipo de coisa que estou falando - Apertou minha mão, ainda sorrindo - Você anda se importando mais comigo, falando mais comigo... Você tem parecido mais com um irmão - Então ela me olhou - Então, obrigada Vini. Faz muito tempo desde que esperei que você me mostrasse que se importa de verdade comigo - Ela ficou me olhando até que eu mostrasse alguma reação, mas eu fiquei tão assustado com palavras legais vindas dela que não conseguia falar. Ela franziu o cenho - Vinícius?

– Hã?

– Hã o que garoto?

– Você... Sequestraram você e eu deixei você ser ferida e ainda assim você diz isso?!

– É...

– ENTÃO PORQUE VOCÊ QUASE ME MATOU TANTAS VEZES PORQUE EU NÃO DEIXAVA VOCÊ PEGAR O CACO?! PENSEI QUE VOCÊ FOSSE ME ESGANAR!

– Eu era uma criança Vinícius, pelo amor de Deus!

– Mesmo assim! - Juntei as sobrancelhas e olhei para a mão dela na minha (estranho) - Então você só queria minha atenção esse tempo inteiro?

Foi então que o olhar quase assassino da minha irmã pareceu ter voltado.

– Vinícius, se eu não estivesse toda quebrada, eu juro que pulava em seu pescoço por ainda não ter percebido isso.

– Foi mal.

Então ouvimos a porta ser aberta atrás de mim e uma enfermeira surge.

– Acabou seu tempo, Vinícius.

– Certo... - Me levantei, mas eu sou impossibilitado de ir quando minha irmã aperta minha mão para que eu não soltasse. Me virei para ela e arrepiei com o sorriso de aproveitadora em ação que ela fez - O-O que foi?

– Vini... Vai mesmo sair assim? Sem dar um abraço na sua irmã?

– Mas acabou o horário...

– E você sabe lá o que pode acontecer amanha?! Eu posso estar morta!

– Mas você está em um hospital criatura.

– Afe, me dá logo um abraço Vinícius - Então ela soltou minha mão e abriu os braços de leve, já que um estava com a intravenosa. E com os braços tão esticados, pela primeira vez eu vi vários arranhões avermelhados e marcas vermelhas no meio e arroxeadas em volta. Lembrar que a criatura estava tão machucada me obrigou a baixar a bola, e com um suspiro concordei.

– Tudo bem... - Me abaixei até a criança sorridente de dezoito anos e com cuidado abracei ela pela cintura, mas pensei que fosse morrer no segundo que ela me aperta contra ela com o braço sem intravenosa e então me dá um beijo perto do ouvido.

MEU DEUS.

SOCORRO.

AJUDA SENHOR!

– P-Pirralha...!

– Essa é sua recompensa por ter sido legal - Ela falou, próxima do meu ouvido, então eu senti a maldita ponta de moleza do meu coração duro e frio (como ela sempre dizia para mim) ser alcançada, e a cena a seguir veio involuntariamente.

– July, eu... - Parei de falar no meio da frase, então como sou muito macho para falar algo tão clichê quanto aquela velha frase de amor, me afastei um pouco e retribui o beijo dela em sua bochecha e me afastei. Nem ousei olhar para a cara assustada dela depois daquilo e sai direto para a porta.

Paul me olhou com certa surpresa por eu ter aparecido do nada na frente dele, então olhou meu rosto.

– Cara...

– Fala!

– Você está vermelho...?

– VERMELHO?! COMO DIABOS EU FICARIA VERMELHO PAUL? VOCÊ É LOUCO?!

– Tá! Esquece cara! - Paul sorriu apesar de estar claro que eu fiquei irritado, e entrou no quarto assim que a enfermeira saiu, fazendo cara feia para mim - Volto em seis minutos - Então ele sorriu e sumiu pela porta.

Esperei por ele encostado na porta do corredor. Eu sentia que a enfermeira as vezes me olhava com estranheza pela cara feia que eu estava, mas eu ignorei a guria.

Afe... Esse povo idiota ainda espera que eu sorria quando eu sou abraçado daquele jeito!

VÊ SE PODE?!

Depois que eu comecei a ficar realmente impaciente (passaram cinco minutos) eu resolvi ir eu mesmo chamar o Paul, pois não aguentava mais ficar naquele lugar branco. Assim que parei de frente a porta para abri-la e chamar por ele, parei. Depois de ver o que acontecia lá dentro pela janelinha, eu não consegui abrir a porta. Eu consegui ver claramente July, deitada do mesmo jeito que antes, mas dessa vez com os dedos da mão entrelaçados na mão boa do Paul enquanto o beijava com algumas lágrimas escorrendo no rosto. Me afastei da porta e sem falar nada, bufei e voltei a parede.

Essas meninas...

Chorando só porque o garoto quase morreu por causa dela...

Fracas.