Dani deu um passo para frente, porém não conseguiu ver o Moroi que se projetava ali. Ele tinha olhos azuis vidrados, e o cabelo castanho bagunçado ao extremo. Parecia viver de um modo frenético, e quando deu dois passos para frente, até ficar de frente para Daniele, tive a impressão de ver um robô.

-- Uma ex shadow kissed e uma dhampir comum. – O Moroi completamente monótono disse, mesmo sem ter olhado para mim. – Que... Estimulante.

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-- Não queremos machucá-lo... – Dani hesitou, provavelmente tentando convencê-lo a sair dali. Porém ele soltou uma risada amarga.

-- Eu fiz a minha escolha. – E então deu mais um passo de forma que ficasse de frente para ela. Dani ergueu a estaca na mesma hora, e eu me preparei para driblá-los e chegar a Dimitri, quando ele ergueu a mão na minha direção e eu e Dani hesitamos ao mesmo tempo. – Não. Se. Mexam. – Sibilou para nós.

Não entendi bem a frenesi que tomou conta do meu corpo, apenas tentei me mover. Trabalhei todos os meus músculos para saírem daquele tipo de transe e se moverem, quando percebi que Dimitri não estava amarrado, porém também não se movia.

Olhei para o Moroi novamente, me dando conta daquela verdade. Ele estava usando compulsão conosco. Dani ainda tinha o braço erguido, e a lâmina da estaca reluzia diante do meu olhar, mas por alguma razão, não conseguia atacá-lo. Nem eu.

Então os olhos azuis se voltaram para mim, e após me analisarem, voltou-se para Dani. Ela havia conseguido um pequeno progresso e quando o Moroi se virou para ela, quase recebeu um corte no pescoço. Ele deu um sorriso malicioso para a menina, antes de abrir a boca: -- Esfaqueie-se.

O movimento foi rápido. O braço de Dani que segurava a estaca tremia, e mesmo que ela tentasse mantê-lo de pé, o próximo barulho foi o grito da mesma, e então tudo o que eu pude ver foi o cabo da estaca de um lado, e uma grande mancha de sangue na área do estômago dela.

-- Não. – Gritei, concentrando todas as minhas forças em Dani. E em como ela estava morrendo, e em como isso se concretizaria caso eu não fosse forte e acabasse com aquele Moroi. Uma vez havia lido, há muito tempo, enquanto pesquisava mais sobre os efeitos da compulsão, que uma vez que o Moroi é morto, toda a compulsão e tudo o que ele impeliu era desfeito.

Daniele também pareceu entender isso, porque mesmo que ele ordenasse para que ela pegasse a estaca – que agora estava no chão – e terminasse o serviço, e que seu braço tremesse, ela não pegou o objeto. Ela segurou o membro rente ao corto, apertando-o na altura do peito sem deixar com que ele saísse daquela posição. Eu tentei me concentrar da mesma forma, e no momento seguinte, havia dado um passo na direção do Moroi. Ele se virou para mim no segundo seguinte, e então ergueu a mão.

Um tremor percorreu sob os meus pés, e tudo parecia estar desmoronando. Procurei algo para segurar, mas eu estava no meio de uma rachadura, e ela começava a se abrir, separando os meus pés. Um grito escapou, e eu voltei a olhar para o Moroi.

Ele continuava o mesmo – aliás, todos continuavam os mesmos. Eles não pareciam afetados diante daquele desmoronamento. E mesmo que eu não estivesse estendendo merda nenhuma, pude ver que aquele Moroi era como Victor Dashkov.

Ele era um usuário de terra, porém era experiente quanto à compulsão. E agora eu estava sendo iludida pelo seu elemento.

Concentrei-me no seu sorriso malévolo, fixei meus olhos nele e ignorei os tremores abaixo de mim. Eu não sei bem o que aconteceu, ou como descrever o ato, mas fui invadida por uma grande onda de ódio, e no momento seguinte eu o jogava contra a parede.

-- Levante, seu inútil! – Gritei para ele, vendo que os tremores diminuíram. Meu corpo projetava uma sombra perante o dele, e foi então que eu percebi o líquido quente que escorria da sua cabeça. Ele estava morto.

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Mãos fortes me puxaram para trás, me envolvendo completamente. Tentei me desvencilhar daquele abraço, quando finalmente percebi que era Dimitri. Ele ainda estava fraco e muito machucado, mas não estava mais impelido a ficar naquele canto. Conseguia andar normalmente, apesar das dores.

-- Acho melhor cuidarmos da sua amiga. – Ele lembrou. Voltei meu corpo imediatamente para Dani, que se segurava contra a porta da parede, ainda apertando o lugar onde sua estaca havia adentrado.

-- Vamos sair daqui. – Ela choramingou, segurando a estaca. Passei meu braço ao seu redor, e então começamos a andar. Estávamos quase alcançando a porta da frente quando uma dhampir imergiu. Ela tinha cabelo cacheado que caía até meados das costas e olhos negros como a noite. Os lábios rosados davam uma aparência angelical nela, porém o brilho mortal do olhar deixava isso se dissipar.

-- Pensaram que seriam tão fácil? – A voz áspera desdenhou, e então deu um passo para Dimitri.

-- O caramba. – Rosnei de volta, me colocando a sua frente e desviando do golpe dela. Segurei seu pulso, que conseguiu se desvencilhar com um golpe, e atingiu meu nariz. Passei por debaixo do seu braço quando tentou enfiar a estaca em mim, ficando de frente para suas costas, e então enfiei a estaca.

Assim que o corpo caiu, vi que Dani lutava. Ah, merda. Puxei seu corpo para trás, desferindo uma sequência de golpes contra o agressor. Parecia ter quinze anos, então não era completamente experiente. Havia se aproveitado do machucado de Dani e tentando combatê-la, mas contra mim? Ele não tinha chance alguma.

Bem, foi isso o que eu pensei quando dei um chute em seu estômago, e depois o puxei pelo braço até fazê-lo bater com a cabeça na parede, pronta para cravar a estaca. Porém ele retirou algo do bolso interno da jaqueta. Uma arma.

E então apontou para mim com a mesma rapidez, em um instante eu estava pronta para dar o golpe final nele, mas então ele já tinha o dedo no gatilho. Esperei pela dor que deveria ser seguida pelo barulho, mas não veio. E então percebi o vulto que havia entrado na minha frente, e que agora caía aos meus pés.

Torci o pulso do menino fazendo com que a arma caísse, e após chutá-la para longe, enfiei a estaca em seu coração.

Dimitri já estava agachado ao lado do corpo de Dani semi consciente. Percorri a área com o olhar, e ao ver que não havia sobrado ninguém – pelo menos do lado de dentro – me agachei também. Rasguei um bom pedaço a minha blusa e tentei estancar o sangramento, mas não funcionou. Ela deu um sorriso pálido, assentindo.

-- Meu... Meu... Meu sonho, Rose. – Balbuciou. Assenti para ela, me lembrando de suas palavras anteriores. Ela tinha o sonho de morrer para salvar alguém que amava, algum amigo. Porém na época havia me dito que não tinha ninguém para defender, e agora tinha a mim. Ela me considerava uma amiga, havia dito isto. E então morrera para me salvar, do mesmo modo como havia sonhado.

Sua mão estava fria, mas ainda era sua mão. E eu a segurei. Por um milésimo de segundo, eu segurei sua pele fria em contraste quanto à minha, quente. E eu a apertei para fazê-la entender que eu havia compreendido o sentido de tudo aquilo. Adam havia me avisado que eu perderia muitas pessoas, e que no final o golpe final teria que ser meu.

Eu pensava que era porque eu lutaria em uma única batalha e seria um forte oponente. Mas não era isso – a verdade era que eu também receberia um tiro, e Dimitri também. Mas eu parti para o homem mesmo enquanto minha amiga caía no chão, e dei o golpe final.

Pensara que a última luta teria sido aquela antes de abrirmos a porta, mas nada é definido. Não em uma missão, principalmente de resgate.

Do lado de fora, eu podia escutar que os barulhos da luta haviam acabado – estava acabado. Havíamos ganhado, e Dimitri estava bem o suficiente para ficar lúcido e andar. E também para girar pelo corpo de Dani, e passar o braço pelo meu ombro. Mas eu não me importei em sair daquela casa, não enquanto Daniele continuava ali.

Por Deus, eu havia prometido à Amanda! Eu havia prometido a ela que tomaria conta da “baixinha” – que ironicamente era mais alta que nós duas – e não havia feito.

E então Daniele fechou os olhos e deu o último suspiro – e tudo o que ela fez, pensou, sonhou ou idealizou foi engolido pelo mar de lembranças.