E Se...?

Capítulo 23


10... 9... 8...

– Minha maquiagem tá legal? – pergunto.

– Alice, ninguém vai ligar pra sua maquiagem – responde Roberta ao meu lado.

7... 6... 5... 4...

– Os microfones vão ser ligados – Pedro avisa no meu ouvido.

3... 2... 1...

E a cortina sobe no mesmo tempo que os instrumentos começam a reproduzir som. Uma multidão grita pelos Rebeldes por toda a extensão da casa. Crianças, adolescentes e adultos apertando-se no espaço pequeno para poderem enxergar o palco. Todos agitados e gritando desesperadamente por seus ídolos. Alguns chorando de emoção, outros rindo e apontando felizes.

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Tomás começa a cantar Rebeldes Para Sempre e a multidão acompanha sem errar a letra. E assim o show se segue... Essa energia no palco é a única coisa que me fortalece nos últimos dias. O modo como os fãs demonstram o carinho, é tudo muito maravilhoso.

Quase no fim do show, uma menininha de longos cabelos cacheados e ruivos com aproximadamente seis anos sobe no palco. Ela está vestida com calça jeans e uma blusa rosa dos Rebeldes, enquanto segura uma boneca da Alice. Sorrio com isso, admirando o fato de que uma garotinha aparentemente indefesa conseguiu burlar a segurança.

Assim que ela me vê, seus olhinhos azuis brilham e seu rosto fica vermelho. Ela corre para um abraço apertado e eu não faço nada, a não ser retribuir. O segurança tenta afastá-la, mas o paro antes que toque nela. Acho que não tem problema a ruivinha ficar ali...

A música acaba e logo Carla vem ver o que se trata o tumulto do meu lado. E a menininha abraça a morena também, abrindo um sorriso gigante.

– Parece que temos uma penetra – fala Tomás no microfone em tom brincalhão.

A menina cora e solta uma risadinha, enquanto seus olhos marejam. Ela conta que hoje é seu aniversário e que esse foi o melhor presente que poderia querer.

– Sendo seu aniversário... – começou Pedro.

– Você tem direito a um pedido... – continuou Diego.

– De qualquer um de nós! – terminei.

– Qualquer um? – ela pergunta no microfone. – Pode ser dois de vocês?

A multidão começa a se agitar animada e curiosa, mas ao mesmo tempo invejando a menininha que está ali no palco.

– Eu quero... – ela me olhou com um sorriso sapeca. – Que a Alice beije o Tomás!

– O que? – pergunta Carla.

– Princesa – fala Tomás. – Eu tenho namorada.

– Eu sei – ela fala. – É só um beijo. Por favor.

Então juntou as mãozinhas e fez a carinha do gato do Shrek e toda a plateia fez “owwww” em coro. Troquei um olhar nervoso com Carla e ela deu de ombros. Olhei para Tomás e ele encarava o chão balançando a cabeça. Pedro estava de punhos cerrados e Roberta se segurava pra não rir.

Então todos começaram a gritar “beija” repetidas vezes. Eu corei, óbvio, e minha mão começou a suar. Eu... Eu quero beijar Tomás, mas não esse. Eu quero tocar no rosto de Tomás, mas não no desse. Porém, a saudade é tanta que não me importaria de beijar esse mesmo, eles têm a mesma aparência...

– Alice? – chamou Tomás. – Tudo bem por você?

Olhei para a garotinha. Ela me olhava esperançosa e vi que seu maior desejo era ver a gente se beijando. Não sei porque, mas fãs costumam juntar casais. Vai ver ela é fã do casal... Hum... ToLice? Enfim, uma vez só não vai me matar. Não tô namorando o Pedro e esse Tomás é a cara do outro Tomás!

Meus olhos encontram o da Carla e minha respiração falha. Talvez ela fique brava comigo... Mas sei lá. Nossa amizade aqui é tão... Não diria superficial, mas na falta de palavra melhor... A nossa amizade é superficial. Quero dizer, lembro da outra Carla. Minha Carlinha. Ambas são meigas e doces, mas... Sei lá. A Carlinha foi uma amiga de verdade. Sempre se preocupando comigo, fofocando comigo, compartilhando segredos... Mas mesmo assim, isso não é motivo para beijar o namorado da Carla.

A multidão continua gritando “beija” e a ruivinha já tem lágrimas nos olhos. A Carla não vai se importar, afinal, é o desejo de uma fã. Além do mais, vai ser um beijo técnico. Eu acho...

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– Tudo bem.

Tomás assente e a ruivinha pula de felicidade. Roberta não se aguenta e cai na gargalhada enquanto Pedro cochicha algo no ouvido da Carla. Minhas mãos estão suando. Minha nossa. Eu vou beijar o Tomás.

Ele coloca as mãos no meu pescoço e aproxima nossos rostos com um sorriso zombeteiro do rosto. Envolvo seu pescoço em meus braços, sorrindo também, porém nervosa.

– Tomás – sussurro. – Com língua ou sem língua?

– Sem língua, né Alice? – ele responde, fazendo-me corar.

– É. Claro. Com certeza. Perfeito.

Tomás solta uma risada pelo nariz e cola nossos lábios. Sinto sua língua pedir passagem. Filho da mãe! Ele disse sem língua. Não, eu não vou deixar ele colocar a língua na minha boca! Até porque, não é meu Tomás. Eles não têm o mesmo hálito de canela. Esse Tomás não me deixa arrepiada com um simples toque.

Esse beijo? Não significou absolutamente nada.

– Achei que tinha dito sem língua.

– Não conte para Carla – ele sussurra e se afasta.

Bom... O final do show foi normal. Sem muitos detalhes. Não pensei no beijo. Na verdade verdadeira? Esse beijo realmente não me afetou. Fim. Ponto. Foi apenas um beijo.