A Linhagem Sagrada

Capítulo 18 - It's Too Late To Apologize


Amy sabia que Kevin e Isabelle tinham conversado a partir do momento que ela viu a amiga sentada no pequeno píer localizado na parte de trás do chalé de seu pai, Poseidon. Belle tinha os pés submersos e suas mãos apertavam os próprios joelhos com demasiada força, mas, por um motivo que Amelie jamais entendera, a amiga não parecia sentir dor desde que estivesse em contato com a água.

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- Hey, o que houve? – Perguntou Amy, sentando-se com as pernas cruzadas ao lado da garota.

- Kevin. Ele me traiu. – Despejou ela, com lágrimas nos olhos.

- Sinto muito.

- Dá pra acreditar? Como ele pôde fazer isso comigo?

- Talvez você devesse tentar entender as razões dele.

- Razões dele? Ele ficou com outra garota enquanto ainda estávamos juntos. – Mas percebendo o tom ponderado da amiga, uma desconfiança brotava na mente de Isabelle Bel’aqua. – Você... você sabia? – Amy assentiu com a cabeça olhando para a água sob a madeira do cais. – Esse tempo todo o Kevin vem me traindo e você sabia? Não posso acreditar, Amy. Eu fui traída pelas duas pessoas que mais amo no mundo. Você foi a primeira amiga de verdade que eu tive e quando meu namorado me trai você não move um músculo pra me contar?

- Belle, espera... – Suplicou Amy, segundo o braço da amiga que agora se levantava.

- Não, Amy. Eu não quero ouvir.

- Isabelle, você vai me ouvir.

- Não, eu não vou.

- Sim, você vai. – Finalizou, arrastando a filha de Poseidon para longe dali.

- O que é isso, você tá louca? – Berrou Isabelle.

- Talvez, mas isso não é motivo pra permitir que você seja tão cega a ponto de não ter deixado que Kevin apenas explicasse quando e o quê aconteceu. Você sequer sabe sob quais circunstâncias ele fez o que fez.

- Você está defendendo ele? Bom, então talvez seja você a vadia com quem ele passou a noite.

O que sucedeu essa sentença de Isabelle talvez tenha sido o mais próximo que os semideuses e outras criaturas chegaram a presenciar de um enfrentamento entre os Três Grandes Deuses. Sim, porque é nessa hora que Kevin McHale entra e tenta apaziguar a situação. Como previsto, não deu nada certo.

Os olhos de Amy novamente adquiriram o tom acinzentado da semana anterior, mas, dessa vez, era possível ver pequenas faíscas brotando dos olhos dela como se um relâmpago pudesse se formar ali mesmo a qualquer momento. Isabelle ainda tinha os pés e as pernas molhadas, o que serviu de energia suficiente para que ela “invocasse” – na falta de expressão melhor – pequenos filetes de água do rio que não estava muito longe delas.

- Chega! – Gritou Kevin, que apareceu correndo depois de ouvir os trovões e relâmpagos provocados por Amy. Nenhuma das duas garotas o ouvia e, neste momento, uma pequena piscina se formava ao redor dos pés de Isabelle. – Vocês estão malucas, ou o quê? Querem acelerar o apocalipse?

- Kevin, esse problema não é seu. Vá embora. – Bradou Amy.

- Na verdade, é tudo sobre ele.

- Eu não queria, mas vou ter que fazê-las parar. Vocês pediram por isso.

E então tudo cessou. Não havia mais tempestade nem poça d’agua, o sol brilhava novamente e havia duas garotas estiradas no chão. Kevin McHale usara um de seus dons e as desacordada provisoriamente colocando uma mão no rosto de Amy e outra no de Belle, empurrando-os levemente para que elas tombassem a cabeça para trás. Elas sequer pareciam desmaiadas, era como se ambas estivessem... dormindo.

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* * *

Estavam todos no chalé de Hades; não, estavam no chalé de Kevin. Tudo era escuro e eles estariam num completo breu se não houvessem as bonitas e elaboradas luminárias que pendiam do teto. Luminárias estas que Amy suspeitava que fossem de diamantes pelo brilho e efeitos de reflexão da luz da lâmpada que provocavam.

Tudo era de granito preto ou verde muito escuro, os móveis eram todos na cor de tabaco e o lugar exalava um ar poderoso e refinado, ao mesmo tempo em que poderia ser um tanto assustador também. Não era difícil admitir que filhos de Hades tinham bom gosto, mesmo ela que sempre foi a favor de locais claros e amplos.

- O que foi aquilo lá fora, McHale?

- Você sabe muito bem o que foi aquilo, Isabelle.

- Tá, mas isso não te dá o direito de apagar a gente daquela forma. Nunca – nunca mesmo – faça aquilo comigo de novo.

- Ok.

- Bom, eu não faço a mínima ideia do que aconteceu lá fora, mas isso não é hora pra resolver esse problema em particular.

- Concordo. – Disse Isabelle.

- Antes de qualquer coisa, eu queria que você soubesse que eu jamais tive nada com o Kevin. Você entendeu tudo errado, Belle. Ele conversou comigo pouco antes de te contar tudo. Não era que eu fosse te esconder alguma coisa, mas era ele quem deveria fazer isso.

- Me desculpe. E-eu estava de cabeça quente, não pensei direito. Só precisava despejar toda a minha raiva em alguém ou alguma coisa e lá estava você, defendendo-o. Não foi difícil ligar os pontos.

- Eu já escutei essa frase antes. – Disse Amy, divertida olhando para Kevin. – Enfim, vocês tem que parar com isso. Os dois são péssimos em seguir sinais. Por favor, nunca mais tentem fazer isso de novo.

- Como assim?

- Você vai saber, Kevin vai te contar.

- Eu não quero escutar nada dele, não quero nem continuar aqui dentro.

- Belle, por favor? – Suplicou Amy.

- Não, eu não quero e não vou.

- Vai, sim. Senta essa bunda ai e fica quietinha. Escuta o que ele tem pra dizer, oras.

- Quem você acha que é pra mandar em mim?

- Garotas! – Repreendeu Kevin. – Nós somos únicos nesse lugar, não existem outros representantes dos Três Grandes aqui no Acampamento. Surpreendemos a todos sendo amigos por tanto tempo, fomos contra nossos instintos mais básicos e selamos uma corrente maravilhosa. É sério que vocês querem destruir essa conquista histórica de paz entre descendentes diretos de Zeus, Poseidon e Hades?

- Eu nunca quis nada disso e, honestamente, espero que algum dia Amy me perdoe por tê-la ofendido. – Sussurrou Isabelle, sentindo-se derrotada e afetada pela voz do ex-namorado. – Mas nem isso vai ser suficiente para que eu perdoe ou ao menos esqueça o que você fez comigo, Kevin.

- Você pelo menos sabe o que realmente aconteceu?

- Ela não me deu tempo pra falar. – Esclareceu Amy.

- Já disse que não quero escutar nada. – Disse Belle, impaciente.

- E eu já falei que você precisa. – Começou Amy, insistindo para que a amiga ficasse e prestasse atenção no que Kevin tinha pra contar. – Não to pedindo que o perdoe pelo que fez, todos temos plena noção de que foi errado.

- Isso já não é suficiente?

- Não, Belle. Você tem todo o direito de continuar magoada com o Kevin...

- Magoada, não. Eu to puta da vida. – Interrompeu a garota.

- Sim, isso também. Só que eu acho que você deve pelo menos o direito de defesa a ele, deveria escutar o que ele estava sentindo e o que estava passando na cabeça de Kevin. Não é justificável de forma alguma, mas é algo a se pensar sobre. Pensar sobre o que você faria na situação que ele se encontrava.

- Eu, certamente, não me jogaria na cama de outro cara.

- Eu, tecnicamente, não me joguei na cama de ninguém. – Murmurou Kevin, sem realmente pensar nas palavras que acabara de proferir.

- Kevin, assim não tá ajudando! De qualquer forma, vocês deveriam conversar. E Isabelle, deixe-o falar dessa vez. – Aconselhou a garota. – Eu to saindo, acho que precisam de um tempo sozinhos. Precisando de qualquer coisa, estarei no chalé das colunas de mármore branco logo ali. – E ela se foi com um sorrisinho esperançoso nos lábios.

“Espero que se entendam”, pensou ela enquanto descia as escadas de piso escuro da frente do chalé de Hades.

* * *

Algumas horas depois de ter deixado Kevin e Isabelle, a garota irrompia pelo chalé de Zeus procurando por Amy.

- Hey, onde você está? Amy?

- Aqui em cima. – Respondeu a garota. – Tem uma escada escondida atrás da porta do hall principal.

- Uau, o que temos por aqui? – Perguntou a amiga, maravilhada com a beleza do sótão. – Quando você descobriu isso aqui? Será que tem algo assim no meu chalé que ainda não encontrei?

- Talvez façamos uma ronda lá qualquer dia, mas não foi pra conhecer meu sótão que você veio aqui. E ai, como foi lá?

- Não tem nenhum lugar onde podemos conversar com mais privacidade?

- Belle, só estamos nós duas aqui. Esqueceu que vivo sozinha?

- Eu sei, mas é que... pode aparecer alguém.

- Ah, sim. Vem comigo, eu conheço um lugar onde teremos privacidade.

* * *

- Amy, era com você mesmo que precisava falar. – Era Kevin, que vinha correndo com um pequeno envelope nas mãos.

- Kev, agora não.

- É sério, eu não queria mesmo interromper, mas é que é importante. – Disse ele, entregando o pequeno envelope para a garota.

- O que é isso? Como conseguiu esse envelope? – Perguntou Amy, reconhecendo o brasão do Instituto de Nova York gravado no selo.

- Foi a Emma. Eu estava por ai andando e a encontrei vagando nas colinas aqui perto, foi então que me dei conta que tinha saído das guardas do Acampamento. Ela me encontrou e disse que precisava te entregar isso, mas nunca conseguia encontrar o tal acampamento que você disse que estava.

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- E então, o que diz? – Perguntou Belle, ansiosa.

- Diz que a mansão já está pronta. – Respondeu a garota, com um sorriso imenso nos lábios.

- Que mansão? – Indagaram Belle e Kevin, simultaneamente.

- Uma propriedade que meus pais compraram em Nova Jersey. A mesma que mandei preparar pra ser o nosso QG.

- Uau, parece importante.

- E é. Nephilins não podem entrar aqui e semideuses não podem entrar no Instituto e, como preciso da ajuda de ambos, tive que dar um jeito. Vocês dois vão comigo e encontraremos apenas Emma e Tony lá. Peguem todos os seus pertences, não quero que voltemos por um bom tempo. Os outros serão chamados depois.

- Quando partimos? – Perguntou Belle.

- O mais rápido possível.

- Que é... – Incitou Kevin.

- Amanhã à noite. – Disse ela, se despedindo dos amigos sem tirar o sorriso do rosto.

* * *

Assim que Amy estava longe o suficiente para escutar qualquer coisa, Kevin tocou o braço de Isabelle, assustando-a um pouco.

- O que você quer?

- Você de volta. Eu te amo, não tenha dúvidas disso.

- Eu também te amo, mas você me machucou muito.

- Eu...

- Não, eu realmente compreendo que aconteceu. Eu sei que você achava que eu tinha morrido e que você estava emocionalmente abalado, mas não justifica ter levado a Bridgitt pra sua cama. Pra nossa cama. Isso eu nunca vou esquecer.

- Me perdoe, meu amor. Eu te imploro, não consigo ficar sem você.

- Eu preciso ir, tenho minhas coisas pra guardar.

- Belle, será que algum dia você vai me perdoar? – Perguntou ele, assim que ela se afastou um pouco na direção de seu chalé.

- É tarde demais pra se desculpar, Kevin. Tarde demais.

- Isso significa que nunca mais ficaremos juntos de novo?

- Nunca é uma palavra muito forte.

- Então, eu posso cultivar minha esperança?

- Todos dizem que ela é a última que morre, não é mesmo?

Nenhum dos dois sabia, mas, ao se darem as costas, as lágrimas tomavam completamente as faces de ambos.