- Não tem como mudarmos de assunto não? – ele perguntou.

- Ah, de ter tem, mas é que eu queria saber – falei – porque ai, eu te ajudaria.

- Me ajudaria? Laura eu não estou doente ou qualquer coisa, só estou aqui pelos mesmos motivos que você.

- Não Miguel, cada caso aqui é um caso e não existe nada igual – expliquei – e eu estou aqui... Você sabe por que eu... Me cortava.

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- Cortava? Não se corta mais?

- Não percebi que não tinha necessidade pra isso.

Enquanto falava estranhamente via ele passar a mão nos seus braços que estavam cobertos pelas longas mangas do casaco de malha, eu acho que a minha curiosidade naquele momento me segava e eu não percebia o óbvio.

- Pode ao menos me contar o que aconteceu com você depois que se mudou?

- Vamos fazer assim se você me contar como também veio parar aqui eu te conto como eu cheguei – opinou ele – pode ser?

Assenti e comecei a contar para ele tudo, desde da minha decisão de ir ate a sua casa até a parte em que fui parar no hospital, percebi o quando ele ficou assustado quando eu lhe falei que acabei tendo que ir pra aquele lugar, pois tinha perdido muito sangue e meu caso estava se tornando grave mais que tudo deu “certo” e eu estou bem e viva mas que tive que vim pra a clinica, no final quando eu terminei ele me abraçou e foi tão especial aquele abraço que até esqueci a minha curiosidade de lado e só queria aproveitar aquele bom abraço, poderia ficar ali daquele jeito pro resto da minha vida.

- Agora eu vou te contar como eu cheguei aqui – disse ele interrompendo o abraço.

~*~ ~*~ ~*~ ~*~

Relatos do Miguel.

Depois da morte do meu pai a minha mãe, eu e o Roberto decidimos nos mudar daquela casa, pois eu e minha mãe não conseguíamos entrar na cozinha, então depois do enterro seguimos pra casa arrumamos as malas e nos hospedamos em um hotel até achar uma outra casa em que pudéssemos ficar. Depois de um semana já tinha encontrado a casa então começamos arrumar as coisas para a mudança.

- Sabe Laura aconteceram varias coisas comigo em que eu falei que nunca iria fazer e fiz.

- Que tipo de coisas? – ela me perguntou.

- Deixa eu terminar de contar que você vai saber.

Na ultima semana daquele mês já estávamos instalados e bem acomodados, o peso da morte dele veio à tona, a culpa foi minha totalmente minha se tinha alguém que deveria morrer então deveria ser eu, foi ai então em que eu pensei em uma coisa, eu fui até a cozinha da nova casa aproveitei que não tinha ninguém então eu... Eu peguei uma faca e fui para o meu quarto.

- Como? Eu não acredito que você tentou se matar!

- Eu não ia me matar – expliquei – eu só iria tentar tirar aquela dor que eu sentia, aquela coisa que me prendia, posso terminar?

- Pode.

Então eu fui para o meu quarto, e chagando lá, tranquei a porta me sentei na cama e tentei... Tentei me corta, mas eu fui um fraco e não conseguir fazer larguei aquela faca em cima da minha cama e andava de um lado para o outro, como não conseguia então abrir a porta do quarto e escondi a faca na gaveta, tentando tirar aquela ideia da minha mente eu então fui tomar um banho para ver se melhorava.

Entrei no banheiro e comecei a tirar a minha roupa depois entrei no boxe e fui pra debaixo do chuveiro, do nada comecei a lembra do meu pai e de como era antes dele levar o emprego primeiro do que a família, lembrei também do dia da briga com minha mãe que ela saio de casa, do dia em que ele e o Roberto brigaram e dessas péssimas lembranças uma raiva e uma culpa, não sei começava a crescer em mim, e sabe aquela ideia que eu tentava esquecer ela voltou e junto com ela a coragem que não tive da primeira vez, por incrível eu encontrei uma lamina que ficava no lugar aonde guardava as escovas e coisas da higiene e enquanto a água caia eu passei a lamina nos meus braços que primeiro doeu e muito, mais foi aquilo que me libertava daquela culpa e de tudo.

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- Nossa Miguel então esses são os mesmos motivos que você falou.

- Sim são esses, eu também me corto Laura.

- Eu te entendo Miguel, eu te entendo e muito– ela disse – continua.

Durantes o resto do mês e comecei a fazer aqueles cortes que não doíam mais, até que minha mãe viu as cicatrizes e me perguntou o que era aquilo tentei contar uma mentira e ela não acreditou mais ficou de olho até que um dia me viu e então me levou a uma psicóloga que ao invés de me ajudar só piorava falando do meu pai, até que do nada eu mesmo resolvi parar.

- Pelo visto você não conseguiu – ela falou – acertei?

- Acertou – desabafei.

Mais a razão mesmo de está aqui, é que um dia estava sozinho em casa e já tinha conseguido ficar um tempo sem nada, mas aquela era a minha primeira vez sozinho então não aguentei e... Voltei a fazer aquilo de novo foi quando meu irmão chegou.

- Miguel! Cadê você moleque, a mãe ligou e disse que iria se atrasar hoje, Miguel? Será que saio e deixou a porta a aberta de novo? – ele veio até o meu quarto – meu Deus garoto o que você fez, olha pra isso, você é louco Miguel. Deixa ver, você prometeu que não iria mais fazer, porque, olha pra e me diz por que? – ele falava desesperado.

- Você nunca iria entender – falei.

- Você é louco se eu não chegasse você poderia morrer... Já não basta o pai ter se matado.

- Você me ama irmão?

- Ahn? Que pergunta é essa claro seu idio... – ele respirou e então disse – Claro que te amo.

- Então me deixa mim sentir vivo, me sentir eu, sentir dor.

- Você não tá normal, cadê? – ele perguntou – Foi com o que se cortou dessa vez? Anda me entregue.

- Que droga, será que não entende eu odeio essa vida, eu odeio tudo isso, eu não quero ficar nesse mundo imundo, eu quero saber chorar. Gritar, sumir.

- Chora, grita, faz qualquer coisa, desde que não se machuque, sabe por quê? Olha pra mim – ele disse – a sua família te ama. Agora me diz o que tá acontecendo.

- Nada, não foi nada – chorei.

- O que foi isso? Miguel meu filho, de novo... – disse minha mãe ao entra no quarto.

- Calma mãe eu já fiz os primeiros socorros ele está “bem”

- Você está bem mesmo filho?

- Sim mãe estou, só quero deitar.

- Deita aqui.

Então ai eu peguei no sono com minha mãe me pondo pra dormi e cantando, e não sei o que aconteceu, só vim ter a surpresa no outro dia quando acordei.

- Bom dia família.

- Bom dia meu filho.

- Bom dia moleque – disse o Roberto.

- Ih mãe que cara é essa? – perguntei vendo o seu semblante triste.

- Estou triste pelo que você fez ontem.

- Ah mãe... Me desculpa.

- Quem deve ser? – disse ao ver a campainha tocar.

- Não! Deixa que eu atendo – falou o Roberto.

- Bom dia, aqui é a casa do Miguel Sier – perguntou alguém na porta

- Sim – ele respondeu

- Quem é que tá me procurando? – perguntei confuso.

- Filho só fizemos isso para o seu bem, espero que nos entenda.

- Vamos garoto – disse o homem que entrou e me pegou pelo braço.

- Eu não vou para lugar nenhum... Me solta... Eu não vou... Mãe... Mandam eles me soltarem Mãe! Eu te amo, não me deixa ser levado... Mãe!