Demigoddess

The New Mission


– Cadê meu irmão? – Dante ergueu os olhos de um copo que ele segurava. Uma garrafa de rum estava destampada sobre a mesa.

– Já tomou aquilo? – Ignorei a pergunta. Apontei para a garrafa.

– Não. Por que? Vai querer um pouco? – Ele deu aquele sorriso torto que me dava vontade de matá-lo.

– Não. Vamos roubar um carro. E encontrar um japonês. – Abri a porta do apartamento. Dante franziu o cenho, colocando o copo na mesa.

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– Chad, cadê ele? – Ele pegou uma camisa sobre o sofá e a vestiu. Preta, justa, marcando os músculos dele.

– Eu não sei, ok? Aquilo que estava na sala não era ele. – Dante paralisou na porta. – Pegue as chaves e vamos logo. Te explico no carro.

– Tudo bem. – Ele fechou a porta e me seguiu, guardando a chave. – Por que precisamos do outro cara?

– Porque preciso de dois de você. – Olhei para ele, séria. – Não posso simplesmente deixá-lo por ai, sabendo que ele é um semideus e que há uma chance dele ser um inimigo.

– O que “Chad” disse? – Ele perguntou, olhando o estrago que eu fizera no portão.

– Para ajudarmos Annabeth, Atlas não é nosso amigo. – Passei a caminhar na direção do meu apartamento. Com muita sorte, Yamamoto ainda estaria por ali.

– Atlas? Tipo, o mapa? – Parei no meio da rua, deserta àquela hora. Olhei para ele, incrédula.

– Você é um semideus, mas não sabe quem é Atlas? – Ele me empurrou até a calçada oposta.

– Não. Ele é um inimigo dos deuses? – Ele deu de ombros.

– Bem, ele foi condenado a carregar o firmamento nos ombros. Não acho que isso seja uma aposta de amigos. – Revirei os olhos, procurando o rosto de Yamamoto.

– Ele carrega o mundo nas costas? – Dante parecia bem surpreso. Concordei com a cabeça. – Caramba, ele deve ter irritado MESMO os deuses.

– É. Ele...anda me vigiando? – Parei na esquina do meu prédio. Dante parou atrás de mim.

– Por que Atlas te vigiaria? – Ele colocou as mãos nos bolsos, confuso.

– Não estou mais falando de Atlas. – Indiquei o asiático com o queixo. Ele observava meu prédio, com alguma coisa nas mãos.

– Isso é bizarro. O cara anda te seguindo?

– Parece que sim. – Dei de ombros. – Toma conta do carro. Eu vou até ele.

Dante parecia relutante em me deixar sozinha, mas acabou cedendo. Tinha que ser rápida. Assim que o loiro irritante voltasse com o carro teríamos que correr. Fugindo da polícia, de novo.

– O que faz aqui, Japa? – Atravessei a rua, brincando com meu anel. – Procurando alguém?

– Pensei que talvez precisasse de mim. – Ele deu o sorriso torto. – De verdade, alguma coisa está muito errada.

– O que é isso? – Apontei para a mão dele.

– Um dracma. – Ele ergueu a moeda, comprovando o que dissera. – Seu amiguinho loiro me disse para te entregar.

– Quando foi que o viu? – O encarei, franzindo o cenho.

– Não o vi. Achei a moeda no chão perto de um portão destruído e foi como se eu tivesse ouvido a mensagem. – Ele deu de ombros. Cruzei os braços sob a menção do portão destruído.

– Muito bem. Pode me entregar agora. – Estendi a mão, esperando. Ele ficou girando a moeda entre os dedos.

– Sabe que meu primeiro instinto seria roubá-la, certo? Digo, de verdade. Eu sou cleptomaníaco.

– Faz sentido, se pensarmos no seu pai. – Dei de ombros. – Mas já que não a roubou, poderia me entregá-la?

– Claro. – Ele colocou a moeda na minha mão, fechando meus dedos sobre o metal. Ainda segurando minha mão, ele se aproximou de mim. – Você é estranha.

– Não sou eu quem sai por aí seguindo os outros. – Dei de ombros. Aquela proximidade era constrangedora, e eu não tinha para onde recuar enquanto ele me segurasse.

– Sério. Passei os últimos 7 anos da minha vida fugindo dessa história de semideuses, pais olimpianos e sei lá mais o que! Quase morri em uma missão imbecil. Mas confio em você.

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– O que? – Ele se inclinou e beijou minha testa. Abri um pouco minha boca, em choque. Como se aquilo fosse me ajudar a respirar.

– Senti falta de fazer isso. Principalmente depois que minha mãe decidiu nunca me buscar no Acampamento. – Ele parecia realmente triste, por um segundo. Então soltou minha mão e voltou a sorrir do jeito torto.

Guardei a moeda no bolso, ainda com a boca um pouco aberta. Yamamoto me olhou de lado, sorrindo ainda mais.

– O que? Queria o beijo em outro lugar? – Não consegui responder. Só o encarei de volta, com uma expressão completamente embasbacada. – Fecha essa boca, garota. Isso quase parece um convite.

– Sossega. – Fechei minha boca, sentindo meu rosto queimar. Eis o tipo de coisa que meu bloqueio devia impedir: de corar. Tive que virar o rosto para que ele não me visse completamente vermelha. – Dante já deve chegar.

– Chegar de onde? – Yamamoto olhava para os dois lados da rua. Uma caminhonete preta parou na nossa frente.

Era uma caminhonete extremamente parecida com a última que tínhamos roubado, quando...Tri morreu. Engoli o nó que se formou em minha garganta e entrei.

– Sério? Uma caminhonete? – Yamamoto entrou, me apertando contra Dante enquanto punha seu cinto. Me virei para Dante. – E se precisarmos de mais um lugar?

– Quem você tem em mente? Meu irmão? – Dante me olhava sério, como se fosse uma ideia ridícula.

– Scirus também. – Dei de ombros. – Ele é nosso sátiro e amigo. Poderia ser útil.

– Se for o caso, deixaremos essa em algum lugar fácil de ser achada e pegamos outro carro, ok? – Ele se inclinou para mim, tirando os olhos do sinal vermelho. – Se concentra em pensar o que vamos fazer agora e me deixa responsável pela locomoção.

Claro que a falta de espaço não era a única coisa que me incomodava quanto à caminhonete. O nó voltou para minha garganta. Respirei fundo. Talvez eu conseguisse bloquear sentimentos assim também, além de dor.

O nó sumiu. O sinal ficou verde e Dante arrancou. Yamamoto ligou o rádio. Quando o encarei, ele simplesmente deu de ombros.

– O que? Um pouco de música nunca faz mal.

– Achei que também traria um CD do Eric Clapton. – Sorri para ele do mesmo jeito torto. Ele revirou os olhos.

– Você devia fazer como o amiguinho ali sugeriu e se preocupar com um plano. Deixe a locomoção com ele e a diversão comigo. – O sorriso cínico voltou para seu rosto, mas não me incomodou dessa vez.

– Alguém pode explicar a piada? – Dante ergueu um pouco as mãos do volante, por um segundo.

– Ele é filho de Hermes, cleptomaníaco.

Dante deu uma risada, fazendo Yamamoto revirar os olhos. E então a cabine voltou a ficar silenciosa. Fechei meus olhos e tentei me concentrar.

Tínhamos que ajudar Annabeth contra Atlas. O único problema é que eu não fazia ideia de onde Atlas estaria. Ou Annabeth. Talvez Percy soubesse, mas como eu o acharia?

E além de tudo, Chad estava desaparecido. Eu tinha que encontrá-lo, antes que algo de muito ruim acontecesse. Será que Luke estava no meio disso também?

Uma ideia surgiu na minha mente. Onde seria um lugar ideal para um titã carregar o firmamento? Monte Ótris. Bem, havia vários outros montes que poderiam servir de resposta, mas o Ótris era o mais distante de nós no instante.

– Dante. – Ele murmurou em resposta, sem desviar os olhos da estrada. Senti Yamamoto se mexendo ao meu lado. – Quanto acha que demora para chegar ao Monte Ótris?

– Ótris? Tipo, o Monte Ótris da Grécia? – Ele me olhou, confuso.

– Não, o Ótris de São Francisco.

– Sei lá, em uma situação cotidiana, talvez uns dois dias. Mas, se lembrarmos da nossa última viagem, talvez uma semana.

– Muito bem. Yamamoto, você dirige? – O japonês me encarou, com o cotovelo apoiado na porta e a mão para o alto.

– Deve ter mais de uma ano que eu não encosto num volante, mas acho que ainda sei. – Ele apoiou a cabeça na mão. – Eu alterno com Dante.

– Ok, então. – Dante concordou. – Mas por que quer ir até São Francisco?

– Um monte me parece o lugar ideal para se carregar o céu. Nesse instante, São Francisco é o mais longe de nós. E o único onde cruzamos o país inteiro.

– Acha que vamos encontrá-lo? – Dante me olhava agora, sem se preocupar com a estrada. Yamamoto vigiava qualquer curva para nós.

– Precisamos encontrá-lo. É Chad. Não posso perder um amigo a cada vez que saio do Brooklyn. – A ideia de bloquear a tristeza tinha funcionado. Minha voz saiu sem qualquer emoção.

– Ei, El. – Dante voltara a encarar a estrada, com um sorriso triunfante no rosto.

– O que foi?

– Achei que Chad fosse mais que um amigo. – Ele alargou o sorriso e voltou a dirigir em silêncio.

Abri a boca para responder, mas nada me veio a mente. Olhei para Yamamoto como se ele fosse me ajudar, mas ele só deu de ombros. Talvez concordasse com Dante.

– Só, dirige. – Falei, por fim. Voltei a fechar os olhos e segurei o colar com o anel. Eu tinha que achar Chad. Seja lá se fosse como amigo ou como namorado, eu tinha que encontrá-lo.