Acordei com os olhos semicerrados, enquanto o celular tocava na manhã de agosto. Coloquei as minhas pantufas de estimação - eram de coelhinhos rosa - que estavam em baixo da cama e segurei o celular. Olhei o número. Era da casa de André.

- Oi - falei, bem acordada agora - Amor?

A voz de dona Nara, a mãe de André, soou aflita do outro lado.

- André tá doente, Mila - ela disse - Acho que está deprimido. Não come, nem levanta da cama.

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- Mas, por quê? - perguntei. - O que aconteceu?

Ela suspirou.

- A irmã dele outra vez, claro - respondeu aos prantos - Sempre ela.

André não aparecera na escola nos últimos dias. Disse que precisava resolver problemas.

E eu nem mesmo o procurei. Tonta.

- Mila? - chamou dona Nara, do outro lado - Ele quer ver você.

A mão livre foi para a cintura e ergui a sobrancelha.

- Ok.

Fechei o celular com urgência e abri a porta do armário. Coloquei o short xadrez de que mais gostava e a blusa que sempre usava quando estava com pressa. Olhei minha prima dormindo na outra cama, tirei a rasteira preta de baixo da cama e saí.

Ela não vai sentir falta.

**

Cheguei em frente a porta e bati. O suor escorria frio na minha testa, aflita. Apesar da tremedeira, a batida saiu firme e forte, como sempre.

A porta se abriu. Um dos garotos dos cabelos castanhos e olhos verdes me sorriu. Não sei dizer se era Gui ou Elias. Eles era gêmeos. Idênticos.

- Oi - falou, me cumprimentando com um abraço característico de Gui - Tá no quarto - falou, antes que eu perguntasse.

André estava sentado na sua mesa particular, os olhos postos em um de seus livros preferidos. Ao seu lado, a pilha de outros livros fazia se sobressair o isolamento dele.

- O que é que está fazendo? - perguntei, e ele deu um pulo de susto, pois antes não percebera minha presença.

Antes que eu pudesse ver a pilha de perto, ele a escondeu em uma gaveta. Eu gruni.

Ele riu, zombando de mim.

- Acho que percebeu que estava lendo - respondeu minha pergunta, finalmente.

Eu dei um sorriso falso, irônico.

- Por que não foi na aula esses dias? - perguntei.

- Problemas de família, eu falei - ele disse, percebi que os olhos dele encheram d'água.

- Sério, André - eu sentei na cama, de frente pra ele, brava - Sua mãe disse que você está deprimido. Sua cama está intacta, e isso é impossível, tratando-se de você. E tem três pratos de comida aí no chão. O que tá tentando fazer, morrer de fome?

Ele negou com a cabeça, seus olhos baixos e tristes. Levou a mão a testa, como a pedir ajuda, em desespero.

- Por que não me conta o que tá acontecendo? - perguntei, carinhosamente agora, como a um amigo - Que é que sua irmã tem?

Seu choro foi compulsivo. Durou mais de vinte minutos, antes que ele explodisse, e passasse a tocar objetos nas paredes.

- André, para! - gritei, furiosa agora - Senta aí, droga!

Ele me olhou. Tinha ódio nos olhos dele, mas não era contra mim. Era um ódio velho.

- Desculpe - ele pediu - Desculpe, desculpe.

Ele chorava como uma criança. Deixei que chorasse.

- Agora fala, por favor - pedi - O que acontece com a sua irmã, meu amor?

Ele respirou fundo e fez que não com a cabeça. Bufei, vencida.

- Tudo bem - falei - Vou ficar aqui cuidando de você, então.

Tirei o celular do bolso e disquei o número de Inajara.

- Iná - falei, sem tirar os olhos do meu namorado - Eu e André não vamos no hoje, ele tá deprimido, vou ficar cuidando dele, durmo com a irmã dele hoje.

Ele ergueu os olhos pra mim e fez que não. Pediu o telefone e eu entreguei a ele.

- Camila vai com você - ele falou, para a minha melhor amiga - Vocês duas têm que se distrair, precisam disso.

Enruguei a testa, confusa.

- Mas... - tentei falar.

Ele fez que não e tocou o dedo indicador nos lábios, pedindo silêncio.

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- Tá bom - falou ao telefone - Sem problemas, então. Pega ela aqui às dez. Beijo, divirtam-se.

E desligou o telefone. Eu toquei nele a almofada em forma de bola de futebol. Ele deu de ombros.

- Não é justo - emburrei - Por que a gente tem que se distrair e você fica aqui, trancado no quarto?

- Porque sim - ele disse.

- Idiota - revirei os olhos.

- Seu idiota - ele piscou, então beijou meu rosto, carinhoso - Vá se divertir, amor, por mim.

Concordei, relutante. Olhei o relógio. Eram três da tarde.

- Tenho tempo ainda - sorri.

Ele fez que sim.

- Mila - pediu - Promete não subir ao segundo andar?

Eu gargalhei.

- Claro.