Ainda no intervalo, entrei no banheiro da escola e ouvi minha melhor amiga - ops, ex-melhor amiga - conversando com a inimiga dela - ops, amiga dela - , enquanto passavam brilho nos lábios.

Parei no pequeno corredor que levava a parte principal do banheiro, e fiquei escutando, sem que me vissem. Então ouvi meu nome.

- Eu to falando pra você, ela não presta - disse a voz enjoada de Bruna - Pode ser até má influência pra você.

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Entrei no banheiro, passando pela pia de mármore falso em que as duas conversavam, fingindo não ter escutado. Entrei em um desses banheiros.

Saí de lá, e as duas ainda conversavam, como se não tivessem notado minha presença ali. A raiva era tanta, que a infantilidade foi mais forte que eu. O batom ultra-vermelho que ela usava serviu de auxílio, quando esbarrei em Inajara, manchando a blusa amarelo-ovo.

Ela olhou a blusa, surpresa, antes de falar qualquer coisa.

- Qual é teu problema, garota? - bufou.

Ri com o canto do lábio. Por dentro, meu coração chorava, já desesperado dentro de mim. Mas, sabia que tinha que estar a altura da menina em minha frente.

- Não sei, curiosidade, talvez - fingia pensar - Talvez um bando de amigos falsos.

E ri. Bruna tocou o ombro de Inajara, fingindo solidariedade.

- Iná, não deixa ela falar assim!

Vi os olhos de Inajara lacrimejarem. Arrependimento? Tarde demais.

- Cala essa boca! - gritou - Você não sabe nem falar, se não fosse por mim, nem provocar desse jeito saberia!

Era a verdade.

Quando cheguei a Estrada Alegre, mal sabia ignorar uma pessoa, ainda mais provocá-la desse jeito. Ela me ajudara a me defender e ser menos inocente.

Com o orgulho ferido, voei a mão no rosto dela, deixando lá minha marca de dedos. Furiosa, Inajara agarrou meus cabelos e fez com que eu caísse no chão.

Mal consegui me defender, quando vi os socos chegando, ela em cima de mim.

♥♥♥

O olhar desaprovador da diretora, fez com que nós duas trocássemos os famosos "olhares que falam" uma para a outra, mesmo brigadas. Sabíamos bem o que a outra estava pensando. Tínhamos olhado um filme em que a diretora sofisticada tentava conversar com as duas personagens que brigaram.

- Meninas - o olhar da diretora gerava piedade - Isso que vocês fizeram não é comportamento de duas meninas lindas. Violência só gera violência...

Eu e Inajara, que achamos graça no discurso repetitivo da diretora, nos seguramos até agora, mas acabamos por soltar uma gargalhada, lembrando do filme e das palavras em comum.

- O que foi? - indagou a mulher, agora irritada de verdade - Por acaso fiz alguma piada?

A risada era involuntária e não conseguíamos parar. Sem ter o que fazer, ela mandou que nós nos retirássemos.

- Conversem esse período - ela disse - Depois podem voltar para a sala de aula.

Tentávamos parar de rir, para podermos conversar, mas sem escolha, nos olhávamos e caíamos na gargalhada. Quando finalmente paramos de rir, Inajara entristeceu-se e baixou a cabeça.

- Desculpa por tudo isso, Mila - ela falou - Eu não devia fazer isso, vey, você só queria matar uma curiosidade sua, isso é normal - ela olhou para mim, os olhos suplicantes - Eu e a turma toda , a gente combinou de te dar um castigo, para que ingenuamente, cê não entrasse nesses trem aí, entende? Eu sei, foi idiota, me desculpe.

Completamente idiota.

Minha turma teve a infeliz ideia de fazer uma brincadeira comigo. Todos iriam me ignorar, e André e Inajara iriam conversar com as pessoas que normalmente não eram no seu círculo de amizades.

Nada legal, a brincadeira.

Eu dei um sorriso, e as lágrimas escorreram, copiosamente pelo meu rosto.

- Eu quebrei uma promessa que fiz ao meu pai, ao meu tio e a André. Você tinha razão de estar brava. Eu fui uma idiota.

Ela sorriu para mim, e me deu um forte abraço.

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Tudo voltava a ser o que era.

Por pouco tempo.