Things Work

Hermione olhou em nossa direção sorrindo e pedindo ajuda. Eu tentei não correr para ajudar. Peguei a mala sem dificuldade, afinal minha forma comum havia voltado.

Hermione passou o tempo todo tagarelando sobre como havia sido cansativo e divertido passar pelo tratamento, uma vez que a clínica tinha um lado meio sítio e meio SPA. Ela contou sobre como há colinas e jardins lindos. E de como uma cidade histórica ficava perto da clínica e às vezes tem passeios. Ela contou sobre a escola para crianças e adolescentes com câncer, que parecia ser normal, exceto pelo fato das pessoas não terem o hábito de se agarrar e usar roupas curtas.

Tá, eu admito. Sim, eu estou com ciúmes de uma clínica. Eu fiquei meio calado, só estudando cada detalhe da Hermione. Ela não parece estar doente. Na verdade ela parece mais saudável até. A menina está mais bronzeada (mesmo que levemente), devem praticar esportes lá, pois o corpo dela está mais definido. E definitivamente ela parece feliz.

Funguei aborrecido. Eu passei meses tristes por causa dela e ela estava curtindo basicamente uma colônia de férias? Nem vou falar nada.

– Acho que a parte mais chata definitivamente são os exames! Temos que fazer todos os dias para o acompanhamento, e eles são muito desagradáveis – Hermione falou. – Mas e aqui? Como foi?

– Foi normal, mas agora eu e o Harry estamos juntos e Simas se declarou para Cho, só que ela deu um toco nele – Gina respondeu. – E o Rony estava com a tal de Naomi, mas só os vi juntos poucas vezes.

– Não foi nada sério – Murmurei agradecido por Gina ter eliminado a parte depressiva.

– Ah – Hermione falou. – Isso é bem legal! Ela é da nossa escola?

– Não – Dei de ombros. – Só estamos ficando.

– Não achava que você era do tipo que fica – Murmurou Hermione mexendo numa pulseira de fios que estava no braço; eu não me lembro dessa pulseira.

– Descobri que não é bom se apegar as pessoas – Dei de ombros.

Eu sei que eu não devia ter dito isso, mas é verdade. Eu já perdoei a Mione, mas em alguma parte ainda estou magoado por ela ter gostado tanto desses meses longe de mim.

O silêncio ficou constrangedor por um tempo, até que chegamos à casa da Hermione.

– Seus pais não vão vir? – Perguntei.

Hermione me surpreendeu só dando de ombros, sem lágrimas nos olhos. Geralmente os pais era o ponto fraco dela.

– Melhor sem eles do que com eles. Descobri que eles são mais irritantes do que eu pensava que eram – Ela falou.

– Bom, e vai ficar sozinha aqui? – Perguntei, tentando não passar a raiva que eu sentia. Como assim os pais dela ainda não voltaram?

– Vou – Ela deu de ombros de novo.

– Você sabe que pode ir para nossa casa, certo? – Gina perguntou.

– Não preciso. Sério. Fico melhor sozinha – Hermione mentiu. Eu sei por que ela franze levemente a testa quando mente.

– Nós já notamos – Falei, sem conseguir deixar alfinetada passar.

– Rony... – Ela começou, mas voz morreu, como se ela desistisse.

– Fala.

– Nada... É só... Besteira – Ela falou. – Bom, eu vou subir e tomar um banho! Vejo vocês mais tarde!

– Tchau – Eu e Gina murmuramos em coro.

Voltamos para casa e eu não parei de me perguntar o que seria que Hermione ia dizer. Por fim revirei os olhos e decidi parar de pensar nisso, afinal ela terminou comigo.

Eu sei que vou sempre ajudar ela com tudo, mas manter distancia é o mais plausível agora. Afinal eu não quero que voltar a sentir minhas mãos suarem perto dela. Já passei dessa fase. O melhor agora é superar o que sinto por ela, mesmo a ajudando em relação à doença e o que mais ela precisar.

Meu celular vibrou me despertando dos meus pensamentos. É a Naomi.

– Oi Naomi – Falei feliz, é tudo tão mais simples com ela.

– Oi Rony! Eu queria saber se você está livre no fim de semana.

– Claro. O que você quer fazer? – Perguntei.

– Queria te chamar para ir comigo no festival de música que vai acontecer em Londres – Ela disse animada. – Pode chamar amigos, estou com nove convites, mas não tinha ninguém para chamar.

– Ah... Acho que posso chamar os meus amigos sim – Falei surpreso por ela me oferecer convites para o festival.

– Legal! – Pude imaginar o rosto sorridente dela. – Então passem aqui de manhã, umas oito e daí nós pegamos a estrada.

– Claro, mas tenho que ver se eles vão topar primeiro – Falei.

– Não seria nada mal ter um tempo sozinha com você, mas eu não quero desperdiçar os convites e eles parecem tão legais!

– Vou falar com eles e depois te envio uma mensagem ok? – Falei sorrindo.

– Certo, então tchau – Ela falou com uma voz alegre.

Desliguei. Por que não pode ser tão simples com a Hermione?

Fui para o quarto de Gina chamar ela e ela teve um surto de alegria ao ouvir “festival de música”. Mas isso não me incomodou, o que me incomodou foi o que veio depois do surto.

– Você vai chamar a Hermione, certo? – Disse Gina ainda sorrindo pela noticia inesperada.

– Ah, é... Sabe como é... Foi a Naomi que me chamou e nós estamos meio que ficando – Falei provavelmente vermelho. – Não acho que vá ser legal, hum... Chamar a Hermione.

– Ah qual é! Deixa de ser criança Rony. Vocês terminaram faz meses, e queira você ou não a Mione ainda é amiga de todos – Gina falou com uma expressão bem parecida com a da mamãe, o que era preocupante.

Suspirei pensando no que fazer. O que será que a Naomi vai fazer se eu pedir para Hermione ir?

– Olha Gina, eu ainda quero bem... Ser amigo da Mione, mas... Se está tudo bem indo com a Naomi, por que arriscar? Ela sabe o que eu ainda sinto pela Mione – Falei tentando explicar.

Quando Gina fez uma expressão de você-acabou-de-se-entregar que eu me liguei no que eu havia dito.

– Então você ainda ama a Hermione! – Ela exclamou empolgada. – É claro que ama! Bem, você ficou vários meses mal... Eu sabia que era por causa dela!

– Não foi isso que eu disse – Falei provavelmente vermelho de novo. – Eu quis dizer do que eu sentia.

– Foi sim! – Gina levantou e tacou uma almofada em mim. – Rony ama Hermione!

– Não, eu não amo – Falei tacando a almofada de volta.

– Já falou, já era! – Ela falou sorrindo.

– Ah é? – Perguntei e levantei com as garras prontas.

Ataquei Gina e comecei a fazer cócegas. Isso é uma coisa que sempre fazíamos um no outro.

– Para Rony! – Ela reclamou rindo. – Eu vou gritar!

– Pode gritar há-há! – Falei ainda fazendo cócegas e rindo junto.

– Rony ama Hermione! – Gina gritou rindo.

Decidi entrar na brincadeira de vez.

– Gina ama Harry – Cantarolei alto, ainda fazendo cócegas nela.

– Não vale! Esse todo mundo sabe Rony. Seja mais original – Harry estava encostado na porta rindo da cena e Hermione estava atrás muito vermelha.

Parei de fazer cócegas em Gina. Será que a Hermione ouviu o grito da Gina? Gina levantou e foi para a porta e deu um beijo na bochecha de Harry, que ajeitou os óculos com um sorriso.

Eu odeio ver Gina com qualquer garoto. E mesmo sendo o meu melhor amigo, Harry não tem um currículo muito bom... Limpei a garganta sonoramente e Gina se virou para mim.

– Convida a Hermione – Ela falou somente mexendo a boca, sem som.

Assenti com a cabeça e Gina puxou Harry para fora do quarto.

– Sabe, eu costumava gostar de você morando aqui – Falei depois de um tempo.

– Eu costumava gostar de morar aqui – Hermione falou com um sorriso.

– Por que não volta? – Perguntei sério. – Não acho que seja a melhor hora para você ficar sozinha naquela casa.

– Você não ficaria... – Ela fez uma pausa e encarou os próprios pés. – Não ficaria incomodado?

– Tudo que eu quero é o melhor para você – Falei sem graça, mas encarando ela até ela levantar os olhos.

– Eu tenho medo – Ela falou.

– Como assim?

– Eu tenho medo de... – Ela olhou para baixo como se estivesse arrependida de ter dito alguma coisa.

– De? – Falei levantando o rosto dela com o dedo.

Ela se aproximou e me encarou penetrantemente. O olhar da Hermione sempre me fez sentir diferente de todo o resto.

– De nós – Ela falou com as bochechas rosadas e se afastou lentamente, suspirando.

– Por quê? – Perguntei.

– Por quê... Mesmo me tratando... Ainda há chances de... Eu ainda posso morrer, e o que eu mais queria no mundo é nunca te deixar – Ela falou, sem lágrimas nos olhos ou coisa do tipo.

Eu encarei Hermione com uma nova percepção. A menina parecia bem mais forte emocionalmente. Talvez os meses na clínica não tivessem sido tão fáceis quantos pareceram.

– Todos nós podemos – Falei.

Hermione avançou e me agarrou. Eu apertei a cintura dela e a puxei para a cama, distribuindo beijos pelo pescoço dela e sentindo seu perfume. Mentira. Foi só meu momento de fantasia.

– Eu... Sinto muito não poder ficar com você agora. Eu vou me curar e tudo vai voltar ao normal – Ela falou e deu um sorriso de canto.

Eu dei um passo me aproximando novamente dela.

– Não sei qual é a definição de normal para nós dois – Falei me curvando para ela, a apenas alguns poucos centímetros de seu rosto.

– Nem eu – Ela falou e deu um passo para trás.

– Hermione Bipolar Orgulho Granger – Murmurei.

Ela me olhou rindo.

– Ronald Bipolar Weasley – Ela falou.

Eu a puxei para os meus braços, em um abraço que durou milênios, (ou não).

– Eu vou sempre estar com você quando precisar de mim – Falei e me afastei calmamente. – Tem um festival de música em Londres, e eu estava pensando se você queria ir. Não só eu e você! Não é um encontro ou nada do tipo... – Gaguejei provavelmente vermelho. – Vai eu, Gina, Harry, Naomi, Dino e Simas.

– Naomi? – Ela perguntou.

– É... A Naomi que eu estou ficando... – Respondi olhando para os pés.

Depois de uma pausa, achei que Hermione ia sei lá... Falar qualquer coisa sobre ser estranho eu convidar ela, mas foi bem diferente.

– Acho que vai ser incrível! Quer dizer... Vai ter Simple Plan lá! – A menina exclamou. – É bem legal você me chamar! Valeu mesmo!

Eu sorri e levantei os olhos. A menina tinha um sorriso do tamanho do mundo, e tive muita vontade de poder beijar ela. Mas eu não posso e ela é Hermione Bipolar Orgulho Granger, sempre muda de ideia.