Good Girls Go Bad

Reveal the secrets - part I


Eles se sentaram numa roda. Dominique escondia o rosto de leve no braço de James, que trocava olhares preocupados com Fred. Roxanne e Molly, apertando as mãos, ombros encostados com Nique. Makayla roía as unhas. Malfoy, no canto mais afastado, sombrio como sempre fora. Alvo, parecendo mais perdido que Rose. Lily entrou na sala, os olhos arregalados em desespero.

O clima era pesado. O próprio ar parecia ser feito de coloide, difícil de respirar. Lily jogou a bolsa num canto e sentou no último pufe vago.

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–Acho que está claro o que devemos fazer. – Roxanne se pronunciou, trocando olhares com as amigas.

–Não será fácil ou bonito. – Molly emendou, como se tivessem ensaiado. Anuiu para Dominique continuar.

A loira colocou o cabelo para trás da orelha.

–É isso. Se quisermos sair dessa o mais ilesos possível, precisamos contar tudo. – ela olhou em volta, o azul gelo de suas íris penetrantes. – Todos nós temos segredos. Segredos que serão nossas ruínas. Pelo menos entre nós, tudo precisa ser esclarecido.

Scorpius bufou.

–Isso é absurdo! – disse, puxando um cigarro. Ninguém tentou impedi-lo. – Eu não... – desistiu no meio da frase, negando com a cabeça.

–Não é como se eu gostasse da ideia. – James concordou, respirando forte. Ele não queria que Dominique soubesse de tudo. O detetive, as mulheres. Ele queria deixar tudo para trás e ser feliz com ela. Mas talvez, aquela voz sufocante em sua consciência tivesse razão. A relação deles precisava de novas bases, erguidas em algo sólido. Precisavam, mesmo que entre os dois, da verdade. Ela, como se lendo seus pensamentos, beijou seu ombro e apertou sua mão.

Lily entralaçava os dedos, sem erguer o olhar. Mas que tudo, queria sair dali. Mas que tudo estava arrependida. Se ela pudesse voltar no tempo, não teria sido tão idiota. Ela devia saber. Seu egoísmo a impedia de manifestar concordância, mas fez o que pode para engoli-lo.

–E-eu concordo. – falou, bem baixinho, antes de repetir. – Eu concordo. Precisamos falar. Todos nós. – encarou Rose e Malfoy. – Os mínimos detalhes. Ou nunca sairemos dessa.

Fred tirou os olhos de um ponto perdido.

–Então quem começa?

Lily riu, nervosa. Ninguém queria começar. Mas tudo estava subindo sua garganta, escalando suas cordas vocais. É claro que ela não queria. Os irmãos estavam ali, principalmente James. O que ele iria pensar dela? Rose observava-a, como se a incentivando.

–Eu. Eu vou começar. – Lily respondeu, antes de respirar fundo. – Eis aqui a minha verdade.

Setembro de 2012

Lily Luna Potter tinha acabado de completar dezesseis anos. Mal terminara as comemorações, e a vida no mundo particular e restrito do Upper East Side tinha virado de cabeça para baixo. Dominique Delacour tinha voado de volta para a França. Seu irmão, James, estava cada dia mais afundado na vida de estrela do rock que levava, morando em seu quarto de hotel. Alvo tentava segurar as pontas do cabo de guerra entre Rose e Malfoy, enquanto as outras primas e Makayla pareciam ocupadas demais com suas festas e com a briga silenciosa de quem tomaria o lugar de Dominique na hierarquia restrita da escola. Lily sabia quem ela era. A mais nova do grupo. A princesinha de James. Ninguém que ele não considerasse adequado chegaria perto dela. Os irmãos eram como leões de chácara, controlando por toda sua vida com quem falava, com quem saia, com quem se relacionava. Às vezes, encarando o teto do seu quarto lilás a noite, Lily achava que eles só a mantinham no grupo para vigia-la.

Pelo menos tinha Hugo. O otaku, o representante de fora, seu amigo de infância. Hugo Weasley. Não que Lily ignorasse a existência da paixão platônica do menino por ela (quase todos os desenhos dele eram sobre uma heroína ruiva que usava botas de cano alto e macacão apertado de espiã, com olhos verdes que pareciam os dela), mas não tinha nada em troca além de sua amizade. Apesar do vai e vem com Wood, ela verdadeiramente nunca tinha se apaixonado, e isso a corroía por dentro. Lily gostava de romances, e era um amor desses que esperava. Um cara ruim que fosse bom e mudasse só para ela. Beijos na chuva, cartas escritas à mão e uma viagem para a Toscana. Por que ela não poderia ter aquilo?

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Foi quando ele apareceu. Com pinta de James Dean, cabelos longos e jaquetas de couro. Além da moto. Lily sentiu o coração parar. Como se estivesse... num filme. Ela sabia que ele era o tipo de uma noite que fascinava Roxanne, mas não conseguiu esconder o rubor quando ele olhou bem para ela. Depois de tudo acabado, Lily saberia que apenas tinha sido o alvo mais fácil. Mas não sabia no momento.

Sem se tocar exatamente como, ele se aproximou dela no verão. Nathaniel Brown. Nate Brown. O nome deslizava pela sua língua como caramelo, doce e delicioso. Ele tinha sotaque do sul, e Lily achava encantador. Ele sempre aparecia quando ela precisava de carona, e pegava suas bebidas. Ajudou-a com as malas. E conversava com ela, meu Deus, como conversava. Ele contava como queria conhecer o mundo e indicava-a músicas de bandas indie que ela não conhecia. Ela desabafava sobre seus medos, e secretamente adormecia pensando que poderiam fugir para Califórnia, e ela venderia flores, porque ele sempre dizia.

–Ei, Lily, vamos embora dessa cidade. – com aquele sotaque sussurrado e ela derretia como açúcar na chuva.

Eles tinham momentos escondidos como uma canção apaixonada. Beijos roubados atrás de portas fechadas, jantares de pronta entrega no terraço da cobertura do Potter, mãos dadas quando ninguém estava olhando.

Era bem verdade que Nate não era tão rico quanto os Potter, os Weasley, os Malfoy ou os Cho. Sua mãe era assistente e amiga de Gina, e era assim que Brown havia parado em Nova York. Talvez isso só os tornasse mais perfeitos um para o outro. Quando Lily finalmente confessou a Rose o que estava acontecendo, a prima foi cética.

–Lils, sai dessa enquanto pode. Estou te dizendo, esse menino não presta. Ele está te usando, Lily. Você é inocente demais ainda. – Rose repetia, no seu tom condescende que Lily odiava. A amiga avisara. Foi por isso que doeu tanto quando Lilían Luna apareceu na porta dos Weasley, num domingo de manhã, com um exame de DST nas mãos e um segredo ainda mais pesado guardado no peito.

A narrativa de Lily, já com o choro a todo vapor, deixara todos num estado de choque. Apesar das tentativas de Dominique, James levantou e socou a parede.

–Eu vou matar esse vagabundo!

–James, não. Não. – Lily pediu. – Não é... Eu sei que deu a entender mas não é... Não é bem assim.

James voltou os olhos escurecidos para a irmã. A sala estava em silêncio, e alguns escondiam o riso. Sabiam que no fundo, Lily não era um poço de santidade.

–Ele não... Merda, Lily, você é minha irmãzinha!

–Ele me chantageava. Chantageia. – Lily vomitou as palavras o mais rápido que conseguiu. – E eu não tenho como sair dessa. – ela enrolou os dedos. – Ele... O Brown filmou enquanto... Bom, a minha primeira vez.

Ela não conseguia dizer alto. Ela não conseguia olhar para ninguém. Não conseguia admitir que tinha feito sexo pela primeira vez com um chantagista nojento, um fingidor de primeira, e que tinha sido pega nos seus próprios devaneios de amor. James socou a parede mais três vezes. Lily sentia seu sangue gelar. Era isso. Ele a odiava.

–Para o que ele usa o dinheiro?

–Drogas. – a mais nova respondeu no automático. – Pagar as apostas que perde jogando. Qualquer putaria dessas. – o palavrão escorreu antes que ela retese. Seu filtro não funcionava, assim como colocar isso para fora mudaria toda sua vida.

James se preparou para socar algo de novo quando Dominique o impediu, as mãos pequenas abaixando o punho dele, sussurrando “por favor” e “se acalme”. Ela tomou as rédeas da situação.

–O Brown – Nique não conteve o nojo. – Ele ainda faz isso? Ele te chantageia?

Rose felizmente respondeu por ela.

–Às vezes. Com menos frequência agora. Mas a Lily deve ter gastado alguns milhões com esse imprestável.

Scorpius ergueu uma sobrancelha.

–A Rose sabia? – falou, sozinho e surpreso.

–Alguém precisava me ajudar. – Lily admitiu. As lagrimas ainda escorriam. – Eu não podia me voltar para Jay, ou para o Al. Eles iriam me odiar. Como me odeiam agora. Iriam me chamar de burra por arriscar a família assim.

Alvo levantou para abraçar a irmã, tão forte e tão longamente como não fazia há anos.

–Não poderia odiá-la nem se quisesse. E eu não quero. Nunca, Lils.

Os mais novos olhavam para James agora, sentado com a cabeça baixa, Dominique sussurrando sem parar ao seu lado. Os minutos se arrastaram em silêncios e olhares trocados em dúvida pelo que pareceram horas. James levantou, por fim, a raiva controlada. Encarou Lily, e como exemplo de Alvo, abraçou a irmã, para depois de afastar e olhar nos olhos verdes dela.

–Nunca mais esconda nada de mim quando tiver problemas, Luna Luna. – disse, usando o apelido de infância. Lily se permitiu sorrir, e sentar entre os irmãos, sem o peso do que parecia o mundo nas suas costas.

A sala estava, se possível, mais pesada. Era como se a própria Gossip Girl estivesse ali, provocando.

–Quem será o próximo? – eram as palavras invisíveis que pairavam no ar.

Dominique Delacour se levantou. Limpou a gargante, encarou as amigas. Encarou James. E respirou fundo.

Fevereiro de 2010

–38? Você está vestindo 38? – Fleur olhou para a filha mais nova.

Dominique se encolheu no seu vestido de marca. Estavam na boutique preferida da mãe, atrás de algumas peças novas, e ela tinha gaguejado quando a mais velha pedira um modelo 36 para a vendedora, e Dominique corrigira.

–Mãe, é que...

–São as pizzas, certo? Ah, Nique. – ela segurou o rosto da filha. – Você é linda querida. Me lembra tanto como eu era quando nova. Não quero que cometa os mesmos erros. Não se engane, Nique, aparência importa. E você pode ser o melhor possível, meu amor. Fast food não leva a nada. Quem sabe uma nutricionista?

As palavras, para Fleur, poderiam ter sido delicadas, considerando sua língua afiada de jornalista e crítica, e suas intenções eram boas, mas caíram como um meteoro no mundo de Dominique. Ela sempre tinha sido a queridinha da mamãe, a filha modelo. E, Deus que a perdoasse, não poderia entrar no mundo fashion dos negócios Delacour como desejava, se fosse gorda. As imagens se formavam nítidas em sua cabeça. Cada ano maior, mais peso na balança. Ela recusou a calça 38, e voltou para casa com a meta de perder os três quilos que ganhara naquele inverno.

Era mais fácil falar do que fazer. Apesar do pilates e da dieta, Dominique sentia como se nada fizesse efeito. Os modelos 36 não fechavam, que dirá o 34 de Victorie. Ela sentia a ansiedade escorrer pelo seu corpo enquanto observava uma vitrine de doces. Ela queria se afogar no açúcar até não poder mais, fazer uma noite cheia de fondue e pipoca. Mas ninguém olharia para ela se fosse gorda. O ganho de peso seria como sumir. E Dominique Delacour poderia ser tudo, menos invisível.

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Foi então que a solução chegou, como mágica. Ela estivera namorando alguns brownies enquanto voltava da corrida. Ela comprara os brownies e agora os encarava. Era isso. Dominique comeria aquilo, pelo prazer do chocolate derretendo na boca, e colocaria tudo para fora depois. Ela não lembrava de ter lido ou escutado aquilo. Parecera natural, o pensamento. Quase desistiu quando se aproximou da privada pela primeira vez e forçou o vomito. Aquilo não poderia ser certo. Mas as possibilidades... Ela poderia comer de vez em quando, sem culpa. Seria como se aquelas calorias não tivessem sido ingeridas. Ela contou até cem a primeira vez, antes de colocar tudo para fora.

–Eu não sabia – Dominique completou, encarando os olhos de cada um na sala. – Não sabia o que era aquilo. Que era uma doença. Não sabia que estava no peso ideal, e eram apenas mudanças no corpo. Não sabia os problemas que me traria. Eu só... Me pareceu prático.

James estreitou os olhos.

–Você fazia isso quando nós... Bem, antes de ir para França. Quando saímos algumas vezes.

Dominique assentiu. Não queria que ele se sentisse culpado por não notar, mas aquele não era o momento para mentir sobre nada.

–Foi um dos motivos pelos quais minha mãe não me deixou ficar. Ela descobriu, e a decepção nos olhos dela foi tão grande. E a culpa. Ela não queria tirar os olhos de mim. Victorie gritou com ela. Foi feio. Eu passei um tempo em tratamento, na França. Foi como comecei as aulas de dança.

–Você acha que é isso que a GG tem contra você? – Makayla perguntou temerosa.

–Que ninguém mais saiba? – Dominique riu, sem graça nenhuma no gesto. – Nunca tive uma vida muito privada. – a loira sentou-se. – E isso não é algo que tenho orgulho. Que aceite sobre a minha vida. Queria poder apagar. Era terrível, e me corroía por dentro.

E a voz invisível e inexistente de novo.

–E agora? Quem será? Quem quer admitir seu passado mais sombrio para mim?

CONTINUA...