Lost Memory

Chapter Two


Sara ergueu uma das sobrancelhas e franziu a testa mediante aquela fala do marido.

— Como assim Gil? Você não sabe quem eu sou?

O homem sentou-se na cama e se pôs a fitar brevemente aquela desconhecida. Esforçou-se para tentar lembrar-se do rosto dela ou quem era a mulher, mas foi em vão porque não conseguiu lembrar nada a seu respeito. Ela lhe era uma completa desconhecida!

— Me desculpe, mas não sei mesmo quem é você, nem onde estou e muito menos quem sou.

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Ele disse atordoado com aquele "vazio" em sua mente.

— Grissom se isso for algum tipo de brincadeira sua, saiba que é de péssimo gosto.

Ela reclamou séria.

Muito embora seu marido não fosse dado a esse tipo de "brincadeira", ela quis acreditar que ele estivesse jogando com ela e por isso estava dizendo aquelas coisas sem sentido.

— Não é brincadeira! Minha cabeça está vazia!... Eu não me lembro de nada e nem de ninguém.

— Não pode ser verdade!

A expressão de confusão e pânico estampada no rosto dos dois, principalmente na da esposa era gritante. Sara desejou que aquilo fosse alguma espécie de pesadelo.
Como seu marido acorda assim do nada, sem lembrar-se de nada?

Ontem a noite, antes de dormir ele estava perfeitamente bem e com todas suas lembranças, agora amanhece assim: desmemoriado.

Como podia ser possível?

A esposa podia ver nos olhos do marido um enorme e profundo vazio.

Confuso e desorientado, Grissom olhava cada canto do quarto buscando ter algum resquício de lembrança de onde podia estar, entretanto isso não acontecia. Tudo o que ele observava ali, inclusive a mulher a sua frente, eram totalmente desconhecidos para ele. Era como se estivesse vendo tudo àquilo pela primeira vez, não reconhecia nada.

— Por que não me lembro de nada?

Ele perguntou a esposa que estava tão assustada com aquilo que estava acontecendo, quanto ele.

— Eu não sei!... Também gostaria de saber!

Ela murmurou mais para si mesma do que propriamente ao marido.

Levando as mãos na cabeça, o homem disse angustiado e com desespero:

— Onde estão as minhas lembranças?... Por que as perde?... O que está havendo comigo?... Como fiquei assim?

À medida que lançava aquelas perguntas, o desespero por não conseguir encontrar respostas começou a bater no homem. Sua respiração foi ficando ofegante, as mãos apertaram com força a cabeça em uma tentativa de quem sabe assim, "reaver" as lembranças, mas elas não voltavam. Totalmente perdido e deslocado, o homem desabou em choro.

Ao ver o marido naquele estado nervoso, chorando compulsivamente, como nunca tinha visto antes, Sara não pensou duas vezes em abraçá-lo para acalmá-lo e também acalmar a si própria diante daquela situação assustadora que estavam vivenciando naquele momento.

Por longos minutos o homem chorou abraçado a esposa e ela também não se contendo, deixou algumas lágrimas escorrerem por seu rosto. Silenciosamente, Sara pedia aos céus que aquela aparente perda de memória do marido fosse algo momentâneo e passageiro. Todavia, um medo se instaurou nela ao pensar na possibilidade desse acontecimento que o assolou não ser passageiro como ela rezava.

E se seu amado esposo ficasse desmemoriado para sempre?

Como seria a vida deles daqui para frente?

E os filhos? Como seria para eles, principalmente para Matt que era agarrado demais com o pai, descobrir que este não se lembrava mais deles?

E seu casamento, como ficaria diante dessa situação?

Deus eram tantos questionamentos e nenhuma resposta lhe ocorria naquele momento.

Após mais alguns minutos, Sara pode sentir que Grissom parecia ter se acalmado um pouco mais, então ela achou que agora pudessem conversar melhor e tentar entender o que estava acontecendo com ele.

— Gil!

Com cuidado, Sara desfez o abraço deles e se afastou um pouco do marido para que pudesse olhá-lo enquanto se falavam. O olhar vago e confuso continuava ali nos olhos de seu esposo.

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— Tem certeza que não se lembra de absolutamente nada?

Ela perguntou tentando manter-se calma e serena, para assim não se desesperar diante daquele fato, e assim acabar por consequência também desesperando o marido bem mais do que ele já se mostrava pelo que estava lhe acontecendo.

— Tenho!

Ele a olhava como se ela fosse uma completa estranha, quando na verdade, ela era a mais íntima das pessoas na vida dele.

Eles dividiam a casa, a cama e uma história de amor que já durava mais de quinze anos somando o namoro e o casamento. E ele a olhava daquela forma tão sem brilho tão... Tão... Estranha, que fazia o peito da esposa doer.

— Como pode isso?

Ela questionou, fechando os olhos desolada e segurando-se para não chorar outra vez.

— Eu vejo tudo aqui e é como se estivesse vendo pela primeira vez... É uma sensação tão horrível, um vazio angustiante na minha cabeça.

Sara ainda custava a crer que estivessem passando por aquilo. Uns instantes de silêncio se fez entre o casal, até que Grissom quis saber dela:

— Como se chama e o que você é para mim?

Ao ouvi-lo lhe lançar aquelas perguntas uma nova pontada de dor lhe atingiu o peito. Seu marido e o amor da sua vida não lhe reconhecia, nem sabia seu nome e muitos menos o que ela era para ele. Triste! Mas parecia ser uma amarga realidade.

A mulher demorou para lhe responder, e quando o fez, foi com a voz trêmula e embargada.

— Eu me chamo Sara. Sou sua esposa Gil!

O espanto dele foi nítido.

— Minha esposa?

Ele falou meio sem acreditar, que aquela mulher tão bonita e aparentemente jovem fosse realmente sua esposa.

— Sim! Sua esposa.

Ela ratificou e ainda ergueu a mão esquerda mostrando ao marido a aliança de ouro branco, que enfeitava seu anelar.

Ao ver a jóia na mão dela, Grissom imediatamente olhou para sua própria mão esquerda e vislumbrou a mesma peça, só que um pouco mais grossa que a de Sara, enfeitando um dos dedos da mão esquerda.

— Somos casados há quinze anos.

A mulher lhe revelou o tempo de união deles.

O homem ficou estático olhando para ela. Tinha uma vida com aquela mulher, mas nem ao menos se lembrava dela.

Sara vendo que seu amado ainda parecia confuso e querendo ajudá-lo nesse sentido, ela teve uma idéia.

— Aonde vai?

Ele quis saber tão prontamente viu a mulher se levantar de maneira repentina da cama.

— Vou pegar uma coisa que talvez te ajude a recobrar de algo.

Grissom ficou apenas a obsevá-la ir até o grande guarda-roupa do quarto e poucos segundos depois, voltava segurando uma caixa de tamanho médio.

Sara sentou-se ao lado dele e lhe explicou que ali dentro havia várias fotos de momentos que fizeram parte da vida deles, e quem sabe se ele visse as fotos talvez não se lembrasse de algo ou melhor ainda, de tudo.

O homem apenas assentiu em concordância com a ideia daquela mulher.

Então com calma e uma paciência que Sara não sabia de onde tinha tirado mediante a gravidade da situação, a mulher foi mostrando ao marido fotos e lhe contando coisas sobre a vida deles: como eles se conheceram, quando começaram a namorar, o casamento quando e onde foi. Depois ela contou sobre os dois filhos que tinham: seus nomes, idades, como eram e tudo mais. Aí, ela falou sobre ele próprio: seu nome, onde trabalha e em quê, seus amigos e tudo mais que fazia parte da vida dele e que pudesse fazê-lo lembrar das coisas esquecidas.

Mais calmo, Grissom apenas escutava. E mesmo sem reconhecer a esposas, ele aos poucos ia sentindo confiança e segurança nela e em suas palavras à medida que ia ouvindo-a relatar sobre ele. Vez ou outra o homem lhe fazia perguntas que ela prontamente respondia.

Grissom olhava vidrado e demoradamente cada fotografia que Sara lhe estendia. Nelas, ele quase sempre se via sorridente ao lado da esposa e das duas crianças que ela lhe disse serem seus filhos.

E apesar de tudo que via e ouvia, nada lhe vinha a cabeça, tudo aquilo era simplesmente desconhecidos para ele. Aqueles rostos das fotografias e aqueles momentos narrados por Sara, ele não conseguia se lembrar.

Ao fim de quase uma hora em que a esposa lhe contou tudo a seu respeito, o homem ainda não havia conseguido lembrar-se de absolutamente nada.

— Como eu posso ter me esquecido da minha vida inteira assim?

Ele pôs às mãos na cabeça e uma lágrima solitária e teimosa desceu por seu rosto de novo.

— Gil, nós vamos descobrir o que houve com você. Vou te...

— Me deixa sozinho.

Ele pediu de maneira ríspida e interrompendo a fala da esposa.

— Não me peça isso.

— Por favor, saí e me deixa só.

— Não!

Ela não pretendia deixá-lo sozinho, queria estar do seu lado.

— Eu preciso de um tempo pra assimilar tudo o que me disse. Será que não pode entender isso? - Sua voz subiu um pouco no tom e pegou Sara desprevenida. - Saí, estou te pedindo moça!

Aquele "moça" no final foi a pior coisa tudo para ela.

— É Sara, Gil!! Me chame de Sara!

— Que seja, mas me deixe.

Ele retrucou de maneira displicente e fria.

Mesmo não querendo, Sara decidiu deixá-lo ali como ele pediu. Talvez lhe fizesse bem ficar um pouco sozinho.

Ela saiu do quarto e foi para a sala. Sentada no sofá chorou tudo o que já vinha segurando. Foi um choro desesperado, compulsivo, de alguém que via seu mundo desabando com o fato ocorrido com o marido. Era como se tivessem lhe arrancado o chão completamente.

Seu pensamento agora era só em seus filhos, em como contaria para eles o que houve e em como eles reagiriam com aquela situação do pai.

Enquanto isso no quarto...

Grissom andava de um lado para o outro inquieto. De novo aquelas malditas lágrimas vieram lhe visitar a face, ao mesmo tempo em que a insegurança e o medo vinham lhe assombrar.

Ele repassou na cabeça as informações todas que Sara havia lhe dado. Se perguntou como era possível esquecer-se assim do nada da esposa que parecia amá-lo muito e dos filhos que tiveram. Aquilo não fazia muito sentido.

Se dirigiu até a caixa que Sara havia deixado sobre a cama e por mais uma vez, ele olhou algumas daquelas fotos só que nada lhe veio a mente. Nelas só haviam pessoas que ele não fazia idéia de quem fossem.

Por que aquilo estava lhe acontecendo?

Pelo que pode detectar nas fotos, ele era um homem feliz com a família que tinha, mas agora se perguntava como viveria com aquelas pessoas que nem reconhecia e por quem agora, ele não sentia absolutamente... nada!

Na sala Sara ainda chorava, quando ouviu o barulho de carro e uma buzina, pela hora só podiam ser seus filhos que estavam retornando da escola. Uma única pergunta lhe veio à cabeça: e agora?