Rise Again

Capítulo 9


Eu ouvia os passos de Krippin e Stoff atrás de mim, mas tudo o mais ao meu redor parecia ter silenciado.

O vento agora era cortante e raios iluminavam o céu tempestivo, mas a floresta parecia estar compartilhando de meu estado emocional, porque as árvores não se moviam como deveriam naquelas circunstâncias e os pássaros estavam calados, como se esperassem por uma ordem minha para voltarem a cantar.

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Assim que voltei para o lugar onde havia deixado Katniss, senti vontade de pegar uma faca e cortar meus pulsos pelo o que havia feito a ela.

Na mesma árvore onde eu a havia aprisionado, ela agora se aconchegava, sentada com os cotovelos apoiados nos joelhos. Seu rosto estava escondido nas palmas das mãos e seu corpo era sacudido por espasmos de choro.

Então eu entendi que, da mesma maneira que tudo parava quando ela cantava, a floresta havia se calado para ouvir o pranto e aflição dela e não o meu.

– Katniss? – minha voz saiu partida.

Como se tivesse levado um soco, ela tossiu e então ergueu-se bruscamente para me enfrentar. Se dois dos soldados não tivessem me obedecido e vindo junto, provavelmente teríamos mais uma discussão para ser acrescentada à nossa lista de desentendimentos.

– O que... O que aconteceu? – ela olhou confusa de mim para os soldados e então de volta para mim.

– Eu não sei. Mas a presidente está esperando por nós.

Ela aliviou um pouco seus músculos, tensionados pela possível discussão. Por um momento pensei que ela havia se perdido dentro de suas memórias, mas então ela retomou a fala.

– Eu estou exilada... Paylor me exilou.

Respirei fundo.

– Se ela convocou você e todos os tributos vencedores para voltar ao Capitol, é porque alguma coisa séria aconteceu.

Como se algo estalasse na sua mente, ela arregalou os olhos e então começou a correr de volta ao Distrito. Pensei inicialmente que ela estava fugindo com medo de que a ida ao Capitol pudesse ser algum atentado contra sua vida, então a segui.

Mas eu sabia melhor que ninguém que Katniss nunca fugia de nada, mesmo que sua vida dependesse disso.

E então eu soube para onde ela estava indo.

Parei de correr por um instante, e disse aos soldados que estava tudo bem e repeti a ordem que havia dado para o soldado Kyle, de que voltassem para o aerobarco e tranquilizassem qualquer um que entrasse em contato questionando nosso atraso.

Retomei a corrida tomando a direção que Katniss fora e então logo a avistei em frente à casa da tal Francis, abraçando com força cada um de seus filhos.

Katniss era o tipo de mulher que só aceitava fugir ou desistir de algo se a vida daqueles que ela ama dependesse disso. E era justamente por isso que eu a amava tanto.

Desacelerei para uma caminhada rápida até que os alcancei. Ela estava agradecendo a Greasy Sae e Francis por cuidarem de seus filhos e tentava arrastar Prim e Fin para longe das outras crianças.

Inicialmente Fin chorou copiosamente, mas assim que me viu, soltou-se da mão de Katniss, passou suas mãozinhas no rosto e correu na minha direção.

Ergui ele do chão com um pequeno giro que o fez rir e esquecer completamente de seus amiguinhos que ainda acenavam da porta.

– Hey, soldado! Você está a fim de dar um passeio de aerobarco?! – ofereci, sorrindo ao ver o brilho nos olhos de Fin ao ouvir as palavras mágicas.

Ele sacudiu seu cabelo loiro para cima e para baixo freneticamente e então passou um dos bracinhos em meu pescoço.

Katniss nos alcançou e mexeu os lábios dizendo um inaudível “obrigado”, enquanto segurava a mão de Prim.

Mesmo estando visivelmente empolgada com o passeio de aerobarco, a menina me destinava um olhar muito diferente de todos os que havia me dado desde que a conheci.

Os olhos de Peeta, colocados estrategicamente naquele rostinho miúdo, estavam atentos aos meus movimentos. Mas eu decidi aplicar nela o pouco de psicologia infantil que eu sabia – conhecimento adquirido após ajudar minha mãe a criar três crianças -, e fingi que não tinha percebido que ela ficou propositalmente entre mim e Katniss.

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Seguimos em direção ao local onde o aerobarco havia pousado. Assim que o veículo entrou no campo de visão das crianças, elas pareceram esquecer do mundo ao redor.

Subimos a bordo e o piloto lançou um olhar azedo para mim e para Katniss quando as crianças se soltaram de nós para explorar o ambiente.

– Me desculpem, eu não podia deixá-los longe de minhas vistas. – ela disse, dando de ombros.

– Tudo bem, apenas não deixe que eles saiam apertando botões e quebrando coisas ok?! – o piloto reclamou, passando a me informar sobre o plano de voo.

Depois de autorizar a decolagem, fui em direção à sala panorâmica para onde vi Katniss se dirigir.

O lugar era circular, com uma janela que dava uma visão de 180 graus, com uma mesa de reuniões no centro e um grande painel para conferências.

Na cabeceira da mesa, escoltado por um soldado de cada lado, estava Haymitch. Primeiro ele não me viu, entretido com o que parecia ser whisky, mas então eu entrei em seu campo de visão.

– Puxa! A briga em família foi feia hein?! Deixa eu adivinhar: o primo bonitão não concordou com a partilha de bens?

Katniss ignorou completamente o comentário de seu mentor, continuando a explicar aos filhos tudo o que eles viam pela janela.

– É bom te ver de novo também, comandante Hawthorne. – Haymitch saudou com ironia, levando o copo em direção à boca, mas então o abaixando em seguida – Tome. – ele empurrou seu whisky sobre a mesa – Você parece precisar disso mais do que eu.

A princípio ignorei seu gesto, entretanto as gotículas de água que indicavam o quanto o copo estava frio me deixaram tentado a aliviar minha dor no olho. Mas eu não daria meu braço a torcer.

– Obrigado, mas não bebo em serviço. Soldados, esperem lá fora.

Os dois soldados se entreolharam e então olharam para Haymitch.

– Está tudo sob controle, não é Haymitch? – perguntei.

– Claro... Controle. – ele se esticou para pegar seu copo de bebida que eu rejeitei e então voltou-se para os soldados – Não ouviram o homem?! Xô!

Assim que a porta foi fechada, me sentei na cabeceira oposta da mesa.

– Você sabe o que está acontecendo? – perguntei. Dessa vez, Katniss desviou sua atenção dos filhos para ouvir nossa conversa.

– E vocês não?! O que andaram fazendo que os manteve tão entretidos? – abri minha boca para responder, mas ele estendeu uma mão enquanto sua outra levava a bebida à boca – Pensando bem, é melhor eu e as crianças não ouvirmos.

No mesmo instante em que fechei minha boca, vi que Katniss tinha feito o mesmo. Ela rolou os olhos e bufou, mas não conseguiu conter o rubor em seu pescoço e rosto. Eu não soube identificar se era de timidez ou raiva.

Fiquei encarando Haymitch por um longo minuto enquanto ele tentava se embebedar, até que ele percebeu que o momento para piadas havia passado.

– Parece que a agenda para a comemoração da Festa das Flores não saiu como a presidente Paylor esperava. – me ajeitei na cadeira, aliviando um pouco minha posição ameaçadora para ficar mais atento ao que ele dizia – Pela manhã, uma comitiva foi ao hospital do Capitol para fazer toda aquela palhaçada que eles sempre fazem todos os anos com os pacientes em frente das câmeras: levar presentes, tirar fotos, ouvir algumas histórias tristes e blá-blá.

Parecia que ao menos em uma coisa Haymitch concordava comigo: que a Festa das Flores passou de uma homenagem às vitimas da Grande Revolta para uma rasgação de seda do governo.

Durante três dias, a presidente e sua comitiva realizava eventos no Capitol que relembrassem tudo o que vivemos durante a Grande Revolta: a crescente onda de insurgentes em cada distrito, o apego da população à esperança que a Mockingjay lhes transmitia em cada Propo, a queda do Distrito 2 e todas as perdas humanas na tomada do Capitol.

Haymitch tomou mais um gole e eu olhei na direção de Katniss, buscando seu olhar. Mas ela encarava o nada pela janela, enquanto seus dedos trançavam despercebidamente os cabelos de Prim.

– O problema aconteceu quando voltaram à Mansão Presidencial para o almoço televisionado, que é exclusivo para a elite do Capitol. Um dos garçons surtou e sacou uma arma do bolso, atirando para todos os lados numa tentativa de matar a presidente. Quando ele viu que não tinha conseguido, tirou uma caixa debaixo de uma mesa, empurrou na direção de onde estava a presidente, disse umas palavras que ninguém entendeu e se matou.

Depois que terminou seu relato, Haymitch tirou uma pequena garrafa de dentro do bolso interno de seu casaco e depositou mais da bebida alcoólica em seu copo. Ele sorveu o líquido e ficou olhando para mim.

– Alguém se feriu? – perguntei.

– Um guarda presidencial levou um tiro na perna ao se jogar sobre a Paylor, mas pouco antes de seus soldadinhos me tirarem de casa, a repórter que cobria tudo disse que ele estava bem.

– Panem inteira assistiu isso? – perguntei analisando os fatos apresentados, embora de uma maneira muito superficial.

– Quase inteira. Só vocês dois não viram porque estavam... Ah é... Caçando na floresta. – ele indicou com o copo a direção do meu olho roxo e então bebeu mais um pouco do líquido.

Longos minutos se passaram sem que ninguém, nem mesmo as crianças, dissessem qualquer coisa.

– Acha que pode ser uma revolta? Como há quinze anos?! – Katniss quebrou o silêncio.

– Não sei. Pode ser... – olhei para ela pela primeira vez desde que entramos no aerobarco – Mas quem quer que deseja matar a presidente, teriam matado e não atirado para todos os lados, sem uma mira específica, não acha?

– O cara era um doido. Estava na cara que era um desesperado qualquer querendo uma morte gloriosa! – disse Haymitch.

– Você realmente acredita nisso? – Katniss o questionou.

Ele sustentou o olhar dela por um instante.

– Não. – respondeu, escondendo seu rosto dentro do copo no instante que a porta se abriu e um soldado avisou que estávamos sobrevoando o Capitol.

Katniss e as crianças colaram os rostos na janela e eu me levantei para observar a paisagem também. Aproveitei o momento de distração de Prim para me aproximar mais de Katniss.

– Me desculpe por... – sussurrei.

– Agora não, Gale. – ela sussurrou de volta – Depois a gente conversa.

Me afastei dando o espaço que ela precisava e deixei que os soldados a conduzissem até o local da reunião.

O aerobarco estava na pista de pouso da mansão onde antes era a residência oficial do presidente Snow e agora era a sede do governo.

Desembarquei e desci a escada até um andar abaixo, de onde eu poderia pegar um elevador até o andar da sala principal de reuniões. As paredes espelhadas do elevador me mostraram o que eu já suspeitava: meu olho estava sumindo dentro da pele inchada.

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Mais uma marca deixada por Katniss em mim. Mas, apesar da dor de cabeça que começava a ficar incontrolável, aquela ferida era remediável. Difícil seria suportar o quanto as palavras dela sangrariam dentro de mim.

Apertei o botão de emergência para parar o elevador e me apoiei nas paredes. Me concentrei apenas em inspirar e expirar o ar.

– Respira... Inspira... – disse para mim mesmo.

Ergui a cabeça para ver meu reflexo. Não melhorou em nada.

Bati minhas mãos sobre minha roupa suja pela caçada e tentei desamarrotar minha camisa para tentar melhorar a imagem de oficial que deveria ser respeitada por meus subordinados. Quando fiquei um pouco mais satisfeito com o que via, voltei a apertar o botão de emergência.

Assim que as portas se abriram, parecia que eu havia entrado em um campo de batalha por causa do caos instaurado no andar.

Eram repórteres, assessores de ministros e secretários e militares em uma batalha corpo a corpo sobre quem conseguia falar mais alto. O objetivo da guerra era ganhar o máximo de informações sobre o que acontecia atrás da misteriosa porta aonde seria a sala de reuniões.

Um repórter chegou a olhar na minha direção ao ouvir a porta do elevador se abrindo, mas meu estado era tão deplorável que ele sequer me reconheceu. Aproveitando minha deixa, deslizei para ao canto do corredor para aguardar a próxima vez que aquela porta de elevador se abriria, porque Katniss precisaria de toda ajuda possível para passar por todo o alvoroço que fariam em cima dela quando a reconhecessem.

Pouco mais de cinco minutos se passaram e então eu ouvi a sineta do elevador.

Tin.

E essa foi a última coisa que se ouviu naquele andar.

Assim que os olhos da multidão sobrecaíram em Katniss, que segurava Fin no colo e mantinha Prim firme em seus dedos, todos congelaram.

Corri para eles no exato instante em que as estátuas voltaram à vida e voaram para a porta do elevador como um enxame de abelhas ensandecido.

Haymitch me ajudou a abrir espaço entre os microfones, filmadoras e máquinas fotográficas, conduzindo Katniss e as crianças em segurança para dentro da sala de reuniões.

Quando as portas se fecharam, mais estátuas.

Dava para perceber nas expressões de todos que ninguém acreditava que Katniss realmente aceitaria se expor após tantos anos de exílio. Em alguns rostos, era possível até ver que sequer acreditavam que ela ainda estava viva.

A primeira pessoa a se pronunciar foi Plutarch.

– Seja bem vinda Katniss! Aguardávamos sua chegada! – ele mudou sua expressão de espanto para dar mais crédito às suas palavras – Vamos, vamos. Cheguem mais perto!

Olhei para ela, aguardando qualquer movimento, mas ela parecia congelada no lugar. Seu único movimento vinha dos olhos, que analisavam os rostos de cada um dos tributos que estavam presentes: Beetee, Johanna e Enobaria. Annie, esposa de Finnick Odair, não estava presente e eu supus que o assunto deveria ser tratado diretamente com os tributos.

Diante de sua hesitação e da crescente impaciência dos ministros, secretários e assessores, me aproximei de Katniss.

– Você está bem? – perguntei.

– Não. – ela me respondeu com o olhar agora focado na atenção que todos dispensavam a ela – Mas eu vou ficar. Só tire as crianças daqui, ok?

Assim que ouviram as palavras da mãe, os pequenos começaram a discordar, mas ela os acalmou. Com palavras firmes e carinhosas, Katniss assegurou a eles que tudo ficaria bem e que eles se divertiriam com algum soldado enquanto ela trataria de assuntos chatos de adultos.

Ordenei a dois soldados da escolta que permanecia na sala para levarem as crianças ao refeitório e que não se desgrudassem delas. Assim que elas saíram, Katniss respirou fundo e caminhou a passos firmes até a mesa de reuniões, sentando no lugar designado a ela entre Haymitch e Johanna.

Me sentei em meu lugar, próximo à presidente. Antes de se levantar, Paylor sumiu debaixo da mesa, aparecendo segundos depois com uma caixa de papelão.

Ela empurrou a caixa em cima da mesa e o rastro de sangue e moscas fez com que algumas pessoas empurrassem suas cadeiras para longe daquilo.

– Sei que todos estão ansiosos por uma palavra minha após o acontecido e vocês devem estar se perguntando por que eu chamaria os tributos vencedores dos Jogos Vorazes aqui. Bem, creio que a resposta está nessa caixa.

Inicialmente ninguém se atreveu a abrir a caixa. E então Enobaria se levantou.

O tempo não tinha sido tão gentil com ela como foi com Katniss. Sua pele estava mais flácida do que eu me lembrava e com um aspecto opaco como se fosse consequência de algum tratamento químico, ou consumo de drogas. Mas uma coisa permanecia a mesma: o mesmo olhar determinado de quando ela matou um tributo rasgando-lhe a garganta com os dentes.

Ela levantou a tampa da caixa e se esticou para ver o que tinha dentro. E então tampou a boca com as mãos em sinal de horror.

Quando ela caiu sentada, ficou com o olhar estático em Katniss e aquilo me alarmou.

A próxima pessoa a buscar por respostas foi Johanna. Seu cabelo estava curto e as pontas espetadas reluziam em um loiro platinado por todos os lados. Ela não aparentava ter a idade que deveria ter, mas eu creditei isso a alguma intervenção cirúrgica no Capitol.

Como Enobaria, ela se levantou expondo sua postura destemida. Após abrir a caixa, ela enfiou a mão e remexeu no que quer que estivesse dentro.

– 13? – ela perguntou para Paylor.

– Sim, 13. Um para cada Distrito.

– Oh.

Dizendo isso, ela retirou sua mão e todos puderam ver seus dedos ensanguentados. Ela se acomodou em seu lugar, mas não permaneceu nele porque foi sacudida por uma ânsia forte que a vez se inclinar ao lado de Beetee.

Como Beetee não se moveu e permanecia com seus olhos grudados em Katniss, como Enobaria fazia, todos permaneceram em silêncio. Pela maneira como encaravam Katniss e Haymitch, pareciam esperar que eles se levantassem para ver o que tinha dentro da caixa. Mas nenhum dos dois o fez.

Então eu fui.

Saí de meu lugar até que cheguei perto da misteriosa caixa. Afastei algumas moscas que zuniram em meu rosto e então me surpreendi quando Katniss se levantou.

Seu olhar conectado ao meu me fez entender que ela jamais teria coragem para correr atrás do motivo de sua presença naquele local sem que eu lhe garantisse que era seguro. Mesmo depois de tudo o que eu fiz e continuava fazendo contra ela, ainda havia uma confiança que eu não merecia.

Antes que pudéssemos abrir a tampa e olhar, Haymitch se levantou de seu lugar também.

O cheiro forte e mais moscas bateram contra meu rosto e senti meu estômago se revirar. Apesar de estar vendo, eu não acreditava naquilo.

A intenção do atentado à presidente nunca foi de matá-la, mas de deixar um recado.

Ergui minha cabeça buscando os olhos de Katniss. Ela estava tão assustada quanto eu estava.

– Como puderam ver, ou estamos em temporada de caça e eu não sabia ou então estão querendo matar todos os Mockingjays que encontrarem em Panem. – a presidente Paylor disse, fixando seus olhos em Katniss.

– É uma revolta? Mas de quem? – Haymitch perguntou.

– Não sabemos. A divisão de investigação recentemente criada pelo comandante Hawthorne está buscando informações, mas ainda não temos nada.

– Então como vamos nos defender de algo que nem sabemos quem ou o que é? – questionou um ministro.

– Por que alguém se revoltaria? – outro ministro questionou e uma crescente agitação se instaurou na sala.

– A primeira providência a ser tomada é acalmar a população. – Paylor disse mais alto e entrelaçou seus dedos sobre a mesa olhando a todos, sem se fixar em ninguém – A cena de hoje foi transmitida ao vivo por toda Panem e as pessoas acreditam que estão inseguras. E eu não tiro a razão delas. Mas se o pânico se espalhar, precisaremos lidar com uma população incontrolável, além desse inimigo desconhecido. Minha prioridade no momento é o bem-estar da população.

Ela fez uma pausa e então sinalizou para que soldados retirassem a caixa de cima da mesa. Dois homens obedeceram, mas o rastro de sangue permanecia no tampão de vidro, como que intencionalmente para não deixar ninguém se esquecer do que viram.

– Por favor, senhores. Me deixem a sós com os tributos, o ministro de comunicações e o comandante da segurança nacional. – Houve um burburinho diante do pedido de Paylor, mas ela estendeu uma mão pedindo por silêncio – Enviarei um relatório detalhado sobre essa conversa para cada um de vocês. E de qualquer maneira, qualquer decisão que tomarmos virá a público mesmo. Por favor, saiam.

Ficamos eu, Plutarch, Beetee, Haymitch, Enobaria, Johanna e Katniss aguardando que a sala se esvaziasse. Até mesmo os soldados e o braço direito de Paylor, Garry Collins, foram dispensados.

Quando a porta se fechou, Paylor recostou-se mais comodamente no espaldar de sua cadeira presidencial e olhou para cada um de nós, detendo-se por último em Katniss.

– O pedido que vou fazer a vocês vai soar injusto e cruel, depois de tudo o que vocês já viveram. Então vou entender se vocês se recusarem. Mas precisamos que vocês estejam à frente dessa batalha.

– Como assim? – eu questionei.

– Você sabe bem, comandante, que uma guerra não se faz apenas de artilharia. É preciso estratégia e comunicação. Panem precisa ver que está preparada contra qualquer ameaça e que ainda temos pessoas fortes dispostas a guerrear por eles.

Me levantei alarmado ao perceber aonde aquilo tudo iria chegar e vi algumas pessoas encolherem assustadas com o som de minha cadeira caindo no chão.

– Como você pode pedir algo assim a eles?

– Comandante sente-se.

– Panem não precisa de um show e de heróis de guerra bem vestidos lendo discursos ensaiados em frente às câmeras.

Paylor se levantou para me enfrentar, mas sua expressão era passiva e controlada, ao contrário de mim.

– Eu sei bem do que Panem precisa, comandante. Nosso país precisa de todo investimento possível em segurança, em todos os sentidos. Se o senhor não estivesse em uma folga não autorizada e estivesse fazendo o seu trabalho investigando quem entra e sai do Capitol e dos Distritos, nada disso estaria acontecendo. Agora sente-se, por favor, ou serei obrigada a pedir que você seja retirado da sala.

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Minha respiração estava agitada assim como as batidas de meu coração. Só a ideia de ter que ver Katniss sofrer todo o processo de estar de novo diante das câmeras quase 24 horas por dia, me fez sentir um calafrio porque aquela era uma situação que poderia sair do controle muito facilmente, custando a sanidade dela. Era um preço alto demais para se pagar caso tudo desse errado.

Decidi obedecer Paylor e ergui a cadeira para me sentar. Imediatamente meus olhos foram fisgados pelos de Katniss e vi que ela compartilhava meus medos.

Então Paylor disse a frase que me fez viajar em uma profusão de memórias e me sentir em um Deja Vu:

– Katniss... – Paylor começou, fazendo uma pausa e confirmando minha suspeita de que o objetivo daquela reunião sempre fora esse – precisamos que você seja nosso Mockingjay.