Os 7

Envelopes e Descobertas


Naquela noite, não vi Daniel voltar. Fiquei me perguntando o que ele tanto fazia lá naquele lugar. Nem quando eu ia pra lá ficava tanto tempo fora.

Fui para o quarto de Dylan e comecei a vasculhar uns livros que ele tinha na prateleira. Peguei um que eu conhecia, só que o dele era um pouco grosso de mais. Assim que abri, alguns envelopes brancos caíram do livro. Envelopes brancos...

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Iguais àquele que ele “escondera” hoje de manhã. Catei todos os que estavam no chão e guardei dentro do livro novamente. Por que ele tinha tantos iguais? O que ele fazia?

Então me lembrei que seus pais não tinham acesso a telefone e nem conseguiam mandar e-mails. Ele deve escrever algo pra eles, é claro. Mas por que esconder todos ali?

Decidi esquecer aquilo, talvez fosse pessoal de mais pra perguntar. Peguei minha mochila preta, que estava perto da cama e decidi vasculha-la. Não achei nada de mais (óbvio, a mochila era de Carly, ela não guardaria nada de mais ali dentro). Achei só papéis de bala e alguns centavos. Joguei tudo de volta na bolsa e decidi dormir.

No meu sonho, eu estava em cima dos carros de novo. Pulava de um pra um, que nem naquele dia. Então me desequilibrei e caí. Meu corpo todo doía. Tentei me levantar, mas só consegui ficar um pouco apoiada no braço. Ao meu lado havia uma poça d’água. Olhei o meu reflexo e vi a cor dos meus olhos. Arco-íris. Foi a última coisa que eu vi antes de tudo ficar negro.

Acordei assustada. Olhei para o relógio ao meu lado. 8:30 da manhã. Mas já? Eu sentia como se só tivesse se passado 5 minutos. Mesmo com relutância, levantei-me da cama.

Dirigi-me ao banheiro e tomei um banho. Quando saí, coloquei uma roupa básica, como os outros dias. Sequei meu cabelo e saí.

Mia e Dylan estavam na cozinha. O cheiro de pão quente fez meu estômago roncar. Parece que Dylan percebeu, pois logo virou-se para fazer duas torradas pra mim. Agradeci e sentei-me ao lado de Mia.

- Bom dia. – falei.

- Bom dia – ela disse animada. Levantou-se da cadeira.

- Aonde você vai Mia? – perguntou Dylan.

- Vou ver se o carteiro já passou. – ela disse abrindo a porta.

- Não, deixa que eu vou. – ele falou. Parecia tão nervoso quanto no dia anterior.

Ele saiu da casa e foi ver a caixa de correio. Mia ficou me falando como ela adorava receber aquelas cartas. Sorri, pensando que eu gostaria de receber uma carta depois de amanhã. Senti-me um pouco triste por isso, então Dylan voltou.

- Aqui está Mia. – ele falou, entregando à garotinha um envelope branco.

Mia sorriu e deixou o envelope na minha frente, enquanto lia a carta. Analisei o envelope. Ele era igual aos outros que Dylan guardara naquele livro. E igual ao outro que Dylan tentara esconder no outro dia.

Olhei para ele. Ele escrevera aquela carta. Ou então era só coincidência. Mas é muita coincidência ambos terem envelopes iguais.

Analisei a expressão de Dylan. Ele estava feliz, esperando a irmã terminar de ler. Quando ela acabou, passou a carta para ele, que leu. Mia virou-se para mim e falou:

- Eles disseram que sentem a nossa falta. – ela estava mais animada que o normal.

- Que bom. – falei.

- Mas também disseram que não podem mais mandar cartas durante um tempo. Eles vão para um lugar mais afastado da cidade. – ela disse.

Dei um pequeno sorriso. Será que fora realmente eles que mandaram isso? Não falei nada, até Mia disser que ia para seu quarto.

Quando ela fechou a porta, falei para Dylan:

- Eu posso falar com você? – perguntei.

- Claro, um minuto.

Mia saiu do quarto naquele instante. Agora vestia um vestidinho verde, que combinava com os olhos dela.

- Dylan, estou pronta, podemos ir?

- Aonde vão? – perguntei.

- Mia vai na casa de uma amiga, ela tem que sair um pouco. – ele explicou.

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- Ah ta.

- Quer ir? Depois a gente passa em algum lugar pra tomar um café. – ele propôs.

- Tá, tudo bem.

Saímos da casa e entramos no carro. Depois que Dylan deixou Mia em uma casa amarela, que ficava perto de uma praça, fomos a um café. Dylan pediu um chocolate quente e eu um cappuccino. Sentamos no sofá de couro bege, que não combinava nem um pouco com o lugar.

- E então – falou Dylan, dando um gole em seu chocolate – O que você queria falar comigo?

- Ontem eu vi que você estava com um envelope no bolso de trás da sua calça. E mais tarde... Eu abri um livro seu e...

- Um monte de envelopes caiu no chão? – ele perguntou, completando a minha sentença.

- Sim – afirmei. – E hoje eu vi que o envelope que a Mia recebeu era igual. – dei uma pausa. Ele abaixou a cabeça e então continuei – Por que você escreve aquelas cartas?

Ele não respondeu. Ficou como Daniel no dia anterior.

- O que houve com os seus pais?

Ele levantou a cabeça novamente. Seus olhos estavam cheios de lágrimas. Eu já tinha entendido.

- Eles morreram três anos atrás – ele falou. – Numa das viagens deles. O barco afundou no meio do mar. – ele deu uma pequena pausa, como se estivesse recordando o que aconteceu – Daniel e eu nunca contamos à Mia. Naquela época ela tinha só seis anos. Então inventamos as cartas.

“Daniel começou com isso. Ele começou a escrever as cartas e sempre que Mia perguntava por nossos pais, trazíamos as cartas. Mas então houve um dia que ele estava na floresta, ele e um grupo de amigos. E ele não voltou naquela tarde com eles. Sumiu durante dois dias. Então voltou na madrugada do terceiro dia. Só que estava diferente, havia mudado. Ele começou a ficar frio conosco, principalmente com Mia. Desde então, assumi as cartas.” Ele completou.

Não era possível que Daniel já tivesse sido bom alguma vez na vida. Ele não parecia ser/ter sido.

Abracei Dylan. Os olhos dele estavam vermelhos, mas ele não queria chorar. Eu o entendia muito bem.

- Desculpa por tocar nesse assunto.

- Tudo bem, acho que eu precisava falar isso pra alguém.

- Mais alguém sabe? – perguntei.

- Só a Cloe, mas ela entende em parte. A mãe dela também morreu quando ela era pequena e o pai mal fala com ela.

Nesse momento percebi o quão sortuda eu era. Meus pais se importavam até de mais comigo. O de Cloe mal falava com ela e os de Dylan estavam mortos. Esse foi um dos poucos momentos da minha vida que quis estar em casa.