Bipolar

Pão de queijo de goiaba!


Acordei com muito mau humor. Sem motivo aparente, já que no dia anterior eu tinha passado um bom tempo com a Ana, assistindo filme, jogando, e conversando. Mas, mesmo assim, eu sentia que poderia arrancar a cabeça de alguém com um chute a qualquer momento.

Olhei no meu celular: Ainda era terça-feira, e às 6 e meia da manhã. Levei alguns segundos para processar de que estava atrasado.

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─ Se bem que seria legal faltar hoje... Mas ainda tem 4 dias inteiros, contando com hoje, pela frente, até o sábado... Gah. ─ Levantei-me num pulo, e troquei de roupa tão rápido que nem percebi que estava com a blusa ao contrário... É, eu gostaria de ter percebido isso antes de tomar o café da manhã ou antes de sair de casa, ou até mesmo antes de ouvir as risadas dos alunos à minha volta, no portão do colégio. ─ O que deu nesse povo hoje?

Continuei calmamente até a sala de aula, arrancando risadas por onde passava. Quando fui cumprimentar a Ana, ela me olhou estranho, e eventualmente começou a rir, tentando disfarçar. Ela em agarrou pela manga, e me levou até um canto afastado.

─ Você se olhou no espelho antes de sair? ─ A garota perguntou, e não entendi de início. Foi quando olhei para a minha camisa e saí correndo até o banheiro, para trocar.

"Já vi que hoje vai ser um dia péssimo... Eu sabia, devia ter ficado na cama." Suspirei, voltando pra classe um pouco antes de nosso professor.

Revisão... Que coisa mais chata. Tudo bem, as provas seriam na semana que vem, mas se já foi explicado uma vez não precisa ser explicado de novo... Bom, comigo pelo menos ouvir e ler tudo uma vez já bastava. Acho que aulas de revisão não deveriam ser obrigatórias, só assistia quem queria/precisava. "Bom, fazer o quê..." Pensei, apoiando minha cabeça na mão, e disfarçadamente olhando para a direita, para a garota ao meu lado. Ela observava o professor, tão entediada quanto eu.

Tive um mini ataque cardíaco quando a Ana me olhou de volta e sorriu, logo depois colocou as mãos em volta do pescoço, fazendo um sinal de que não aguentava mais aquela aula, e eu assenti com a cabeça, concordando. Ela voltou a olhar para frente, mas eu não. Deitando a cabeça na mesa, acabei dormindo. Não sonhei com nada em especial, porém.

─ Acorde, Nicolas. Se você veio pra escola só pra dormir era melhor ter ficado em casa. ─ A professora deu uma leve batida com seu livro na minha cabeça, e em minha cabeça respondi "Bem que eu queria". Quando percebi, já estávamos no meio da segunda aula.

─ Desculpa. ─ Falei, sem muita vontade.

Essa cena se repetiu mais uns 2 ou 3 dias no resto da semana. O estranho era que na sexta-feira depois de dormir na aula eu acordei na minha cama.

"Tá, isso é algo pra se preocupar"

Olhei em volta, procurando por um vestígio de que algo possa ter acontecido. Nenhuma mensagem no celular, nenhuma ligação perdida, nenhum e-mail, ninguém gritando comigo, então... O que acontecera? Por quê eu teria esquecido tudo assim se não fosse pelo fato da troca de personalidade?

Desci as escadas, não tinha ninguém em casa. Minha mãe tinha arranjando um trabalho recentemente, então nem ela nem meu pai estariam presentes até mais ou menos as 7 horas. Liguei para a Ana, ela saberia de tudo melhor que eu.

─ Alô? ─ Uma voz meio sonolenta atendeu.

─ Sou eu. ─ Falei.

─ Oh, olá, eu, prazer em conhecê-lo! ─ Ela disse, irônica.

─ Ha ha. ─ Dei uma risada forçada. ─ Você sabe o que aconteceu?

─ Você não lembra? ─ Ela parecia confusa.

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─ Não... ─ Respondi, hesitante.

─ Bom, a professora brigou com você mais uma vez, então você arrumou suas coisas, pegou sua mala, deu tchau e foi embora da escola.

─ Simples assim?

─ Simples assim.

─ Cara, às vezes até eu me surpreendo... Bom, pelo menos eu não explodi uma dinamite nem nada assim. ─ Ri ─ Foi só isso mesmo?

─ Aham. Ei, quer passar aqui em casa? Eu fiz pão de queijo de goiaba! ─ Ela falou, feliz, e eu fiquei meio surpreso.

─ Existe algo assim? ─ Perguntei.

─ Sim, é pão de queijo normal recheado com goiabada. Vem logo! ─ Falou, cheia de si e orgulhosa do seu trabalho.

─ Tá bom, então. Tô indo aí. Tchau.

─ Tchau. ─ E desliguei o celular.

A Ana sempre foi cheia dessas coisas, querendo fazer receitas diferentes. Ainda na semana passada ela tinha feito um tal de "Dango", um bolinho japonês. Eu era sempre seu avaliador de qualidade, e quase sempre estava uma delícia. Meu estômago agradece.

Nossas casas eram relativamente perto. Quero dizer, a casa dela era na parte de trás do mesmo quarteirão que a minha. Eu andava uns 2-3 minutos e já estava lá. A mãe dela já me conhecia muito bem, e minha presença em sua casa era parte do cotidiano, assim como a presença da Ana na minha.

Depois de bater na porta e receber permissão para entrar, fui surpreendido. Uma garota de cabelos longos surgiu atrás de mim com um cachecol na mão e ameaçou me sufocar.

─ IT'S A TRAP! ─ Gritei, correndo. ─ EU JURO QUE NÃO FUI EU!

─ Você nem sabe do que eu vou te acusar! ─ A garota protestou.

─ Seja lá o que for, sou inocente! ─ Levantei as mãos, pedindo paz. Ela relaxou um pouco, e deu um suspiro. ─ O que foi?

─ Não é nada, é só uma loucura minha... ─ Ela coçou a cabeça.

─ Olha, Ana, que você é louca, disso eu já sei. Mas você não é louca sem motivo.

─ Palavras reconfortantes as suas. ─ Falou, irônica, ao se sentar no sofá. ─ É que hoje, no intervalo, eu fui conversar com o Gustavo e...

"Ah, tinha que ter ele no meio."

─ E...? ─ Perguntei, não muito ansioso, mas tentando parecer assim.

─ Ele pensou que eu fosse a sua namorada! ─ Arregalei os olhos. "Bem que eu queria...", pensei.

─ Se você explicou tudo pra ele depois, qual o problema? ─ Perguntei, depois murmurei "Posso pegar um?", me referindo ao pão de queijo e, depois de receber a permissão, o devorei. Gente, isso é muito bom!

─ Sei lá... Eu só fiquei um pouco estressada. Bom, que seja. Hoje eu comprei um jogo novo de FPS. Nesse você não me vence! ─ Ela levantou e tirou uma caixinha de dentro do armário, empolgada.

─ Ha ha, você sempre perde!

─ Hoje não! ─ Depois daquilo, ela ganhou umas 2 ou 3 vezes porque EU DEIXEI, e eu ganhei o resto.

Jogamos por mais umas 3 horas, depois fizemos a lição de casa juntos, e eu fui pra casa.