Bipolar

Feira de livros


– Bom dia Crow! – Levantei num pulo (literalmente), com um ótimo humor, no domingo de manhã.

– Uakh Uakh Uakh – Ele grasnava, como se respondesse. Quem diria, ein? Acho que corvos podiam se comunicar com humanos, afinal. Sabia que ele era tão inteligente que conseguia resolver uma Torre de Hanói (de até 5 discos)?

Segui direto para o banheiro, para tomar uma ducha. Já vou logo avisando, eu não sou um daqueles personagens limpinhos dos livros, que acorda cheirando a rosas e toma um banho logo seguida, e outro de noite. Costumo tomar banho apenas um pouco antes de dormir e, admito, as vezes fico com preguiça de tomar. Mas aquela era uma ocasião especial.

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– Vai sair hoje, Nico? – Minha mãe perguntou, entrando no quarto (a propósito, esse era o apelido que minha família me dava).

– Vou pra feira de livros que vai ter aqui perto. Não tem problema, né?

– Claro que não. É até bom você sair da frente desse computador às vezes. – Ela ressaltou. Não perdia uma oportunidade de citar o meu uso excessivo do computador. – A Ana vai também?

– Vai. Como sabe? – Perguntei, estranhando.

– Não é difícil prever isso. São como irmãos siameses, onde um tá, o outro tá também. – Ela riu, e eu concordei. Era verdade, desde os nossos 8 anos nós nos conhecemos, e estamos sempre juntos. Tem gente que até acha que somos primos ou algo assim. Não sei exatamente quando comecei a gostar dela de um jeito diferente, mas já faz um bom tempo, algo em torno de... 4 anos, no mínimo? Talvez seja isso mesmo.

Nós iríamos para lá pela manhã, já que à tarde ia ter muita gente e mal conseguiríamos andar. Peguei meu dinheiro que eu tinha guardado (É daquelas economias que a gente faz desde criança, sabe? Vai juntando moedinhas e tal...) e coloquei no bolso. Droga, ela só chegaria em uma hora e eu já estava pronto. "Hahahaha, eu sou ridículo.", pensei.

─ Filho, tira esse corvo da cozinha. ─ Meu pai reclamou, quando entrei no ditu cujo cômodo com o Crow no ombro.

─ Ele tá com fome. ─ Expliquei, apontando para o mesmo.

─ Ele tem um pote de comida na gaiola! ─ Cruzou os braços. ─ Vai pra sala, sei lá, as penas dele vão voar por aqui.

─ Tá, tá... ─ Suspirei e sentei no sofá da sala, ligando a televisão. Crow saiu voando e pousou em seu poleiro, ao lado.

Não deu outra: Acabei dormindo. Não ouvi a Ana chegando e também não percebi o que ela estava fazendo até acordar com uma bicada no nariz e ela segurando o corvo, rindo.

─ AI! ─ Reclamei, esfregando o local machucado.

─ Vai, a gente tem que sair. Já comeu alguma coisa? ─ Ela falou, pegando sua bolsa.

─ Tomei um copo de café com leite, não tô com muita fome. ─ Falei, levantando. ─ Vou levar o Crow pro quarto e a gente já vai, ok?

Ela assentiu com a cabeça, e fiz o que eu dissera.

Não aconteceu nada demais no caminho, fomos andando e conversando sobre coisas comuns do dia-a-dia, reclamando dos professores, essas coisas. E olha, eu não sei se realmente valeu a pena sair mais cedo ou se piorou depois que a gente foi embora, mas a fila estava gigantesca e lenta, e o local também estava lotado. Tá, talvez não fosse tanto assim e eu que seja exagerado, mas que tinha uma quantidade considerável de gente, tinha.

─ Ouvi dizer que vai ter um escritor famoso lá fazendo sessão de autógrafos. ─ A Ana comentou, na fila.

─ Quem? ─ Perguntei.

─ Se não me engano, é o escritor de Jercy Packson, que veio pro Brasil. Acho que eu vou pegar um autógrafo dele. ─ Nós não éramos lá muito fãs da série, mas a Ana tinha lido o primeiro livro. Não que a história seja ruim, não é isso, é que apenas não gostamos muito desse gênero.

É, além de tudo, nós tínhamos gostos parecidos. Chega a ser irônico. Às vezes penso que eu e a Ana fômos irmãos em vidas passadas, ou, no mínimo, parentes próximos. Não somos parecidos, porém.

Finalmente, depois de quase uma hora, pagamos os ingressos e entramos na feira. Eu não vou mentir pra você: Era gigante. Imagine a maor biblioteca que você já foi/viu/ouviu falar, agora multiplique o número de estantes por 10. Tinha todo tipo de livro que você imaginar. Mistério, ação, aventura, fiçcão, romance, suspense, terror, tudo. Acabei descobrindo que o local era um terreno reservado todos os anos para aquele evento, mas não sei se isso importa muito...

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Tinha bastante gente do nosso colégio lá. Eu podia jurar que até tinha visto nosso professor de matemática andando aos arredores. Tinha inclusive gente que eu não queria ver...

─ Vamos pra lá, é a sessão de autógrafos daquele autor que você falou. ─ Chamei a atenção da Ana e apontei o local comentado, já caminhando pra lá.

─ Tá bom então, né... ─ Ela balançou os ombros e me seguiu.

Como já era outra fila enorme, alguns livros pequenos estavam distribuídos nas prateleiras para se ler enquanto espera, mas a maioria das pessoas ficava conversando (a não ser que não tivessem trazido ninguém junto delas). E entre essas pessoas que ficavam conversando, ouvi a voz daquele que eu estava tentando escapar. Se você ainda não percebeu quem era, lembra daquele cara do segundo capítulo? Aquele que apareceu nos primeiros parágrafos? Então. Ele provavelmente nem fazia ideia de que eu estava lá, mas eu não podia esperar que ele descobrisse pra ver o que ele ia fazer.

─ Enquanto a fila anda, eu vou pra lá ver se tem um livro que eu estou procurando, tá? ─ Avisei.

─ Tá. ─ Ela falou, e eu fui para onde falei. Não era totalmente mentira, eu realmente queria achar um livro que eu estava procurando.

Tinham algumas pessoas naquele corredor, mas ninguém que eu reconhecesse. Pareci avistar o que estava procurando, então estiquei a mão para pegá-lo, só que sem querer o derrubei, que acabou caindo em cima da cabeça de um cara que estava do meu lado.

─ AI! ─ Ele reclamou, levando a mão ao local batido.

─ Ah, me desculpa, foi sem querer... ─ Eu ia continuar a falar, mas ele começou a me olhar estranho. Tinha mais ou menos a minha idade, talvez um ou dois anos a mais, e a mesma altura que eu.

─ Ah, eu te conheço! ─ Ele exclamou, e levantou a mão para alguém ao longe. ─ Ei, Brunão, não é aquele cara da sua escola?

Brunão. Bruno. "Mas que merda! Eu tinha que deixar um livro cair justamente na cabeça de um amigo dele?!", pensei.

─ O quê? ─ Ele se virou, falou algo para seus amigos e veio em minha direção. Desviei o olhar, tentando ao máximo não deixar que ele me visse. Não que tivesse adiantado muito, sabe. ─ Ah, você é aquele carinha de anteontem, né? Hahaha, é bom que traga meu caderno em ótimo estado, viu. Me deu trabalho conseguir fazer aquilo tudo. Mas tudo bem desde que você me entregue tudo de volta.

Ótimo. Ele estava sendo amigável. Por quê ele estava sendo amigável?! Ele não deveria estar sendo amigável. Bom, não sei muito bem o que aconteceu, mas eu já estava bem nervoso, e mesmo com ele tendo aquela atitude, meu pescoço começou a doer e eu estava ficando tonto.

"Não, não, agora não..." Pensava incessantemente.

─ O que foi? ─ Ele me fitou, sem entender. A última coisa que vi foi a Ana lá atrás, olhando para mim, e depois, assustada, vir correndo até onde eu estava, em vão.

Tudo ficou preto depois, e não consigo me lembrar de mais nada.