Mind Clock

Capítulo 14


Capítulo 14 – Destino

Na hora do intervalo, Diego viu Bianca e Ciro juntos de novo. Pareciam estar se dando muito bem. O resultado era sempre o mesmo: quando Bianca via o bilhete e conversava com o rapaz na hora do intervalo, os dois praticamente ficavam juntos de vez. Diego não parecia ter muitas chances. Vanessa via a expressão de desespero em seu amigo que via tudo aquilo com uma cara mais do que dramática.

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-Você não pode simplesmente ir lá e falar com ela? - perguntou Vanessa – Não deve ser tão difícil, mesmo que ela já tenha falado com aquele cara e...

-Não dá! - respondeu o garoto – Qualquer tentativa que eu faça, ela dirá que já gosta de outra pessoa. Tá na cara dela que está interessada naquele Ciro.

-E o que pretende fazer? Voltar no tempo pela milésima vez?

-Eu não sei! - exclamou o rapaz – Preciso de ideias...vamos conversar com calma depois da aula?

-Por mim tá beleza. Mas não sei se posso ajudar muito – disse Vanessa – Afinal, quem se acha o mestre do tempo aqui é você!

-Mas você é boa com essas coisas de ficção científica.

-Mais ou menos...

-Então...talvez você possa ajudar!

Depois das aulas, Diego e Vanessa sentaram-se na mesinha de uma praça próxima à escola para traçar algum plano. Diego contou tudo que ocorreu à Vanessa.

-Resumindo: voltei no tempo várias vezes e em nenhuma eu consegui impedir a Bianca de ler o bilhete – disse Diego – O ideal seria impedir o Ciro de entregar o bilhete para ela e conseguir falar dos meus sentimentos para ela.

-Tá...e você não tem como fazer isso depois dele entregar o bilhete?

-Tudo ficaria muito mais difícil! E mesmo se eu impedisse já seria difícil. É possível que ela tenha lido minha mensagem, suspeitado de alguma coisa e passado a me evitar. Para falar a verdade, eu já tenho até chances de ter levado um fora.

-Quanto a isso... - balbuciou Vanessa, com uma expressão pensativa – Acredito que ela não tenha lido ainda.

-Como você pode ter certeza?

-Bem, como você faltou na primeira aula, acabei ficando sem ninguém para conversar e ouvi de uma amiga dela que a Bianca não respondeu um e-mail que ela enviou.

-Sério? - Diego admirou-se – Então...ela ainda não sabe que eu fiz aquele convite.

-O computador dela deve ter quebrado ou ela simplesmente não tem o hábito de entrar na Net todo dia. Não sei. Mas ela não leu mesmo.

-Hmm...talvez isso dê alguma esperança – falou Diego, também meio pensativo – Quem sabe...se eu tentar de novo...

-Tentar de novo o quê? Voltar ao passado?

-Sim. Tive azar até agora, mas não é possível que eu não consiga chegar na escola em um horário específico.

Vanessa desviou o olhar meio pensativa, como se estivesse louca para contar alguma coisa.

-É um saco ter que passar pelo mesmo dia tantas vezes – continuou Diego – Mas é irritante não conseguir impedir um único evento! Não é possível! Agora eu preciso conseguir!

-Diego...- Vanessa começou a falar em tom mais sério – Eu não sei, mas...pelo que você me contou, talvez você nunca consiga impedir esse evento.

-Do que está falando? Por que não conseguiria? Só preciso planejar tudo direitinho e..

-Mas você planejou ser molhado pela vizinha? Ou ser perseguido pelo cachorro? - perguntou ela.

-Não, mas...

-Parece que o universo está conspirando para você não conseguir impedir esse evento, Diego. E isso é mal.

-Conspirando? Como assim?

-Talvez você esteja passando pelo castigo da premonição.

-Castigo da premonição?

-Você já viu esse filme – Vanessa continuava a explicação em voz calma – Alguém tem a visão de que ocorrerá um acidente e impede que algumas pessoas morram nele. Mas eles não conseguem impedir a morte. Todas as pessoas que teriam que morrer naquele acidente, acabam morrendo. Era impossível evitar.

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-Impossível...evitar – repetiu Diego – Isso não faz sentido.

-Faz sentido se considerarmos que existe um destino.

-Destino? Isso seria aceitar um determinismo!

-E daí?

-Não existe determinismo! Nós nunca sabemos se uma coisa vai acontecer antes dela acontecer!

-Como pode ter tanta certeza?

-Já ouviu falar de física quântica?

-A área mais complicada da física? O nome não me é estranho...

-Como eu posso explicar...- Diego desviou o olhar – Por exemplo, pela lei de Newton, nós estamos parados aqui e vamos continuar parados aqui a menos que alguma força nos tire do lugar, certo?

-Certo – concordou Vanessa – É aquela história de que um corpo em movimento tende a permanecer em movimento, não é?

-Exato – confirmou Diego – A menos que alguém venha e me empurre, imagino que vou continuar parado aqui. Mas em escala atômica, não é a mesma coisa.

-Como assim?

-Você nunca sabe onde um átomo vai estar um segundo depois, porque em física quântica nunca conseguimos prever os acontecimentos com exatidão, só conseguimos prever a probabilidade deles acontecerem.

Vanessa pensou um pouco. Diego imaginou que ela precisasse de mais explicações, mas ela pareceu concordar.

-Mas se tivéssemos equipamentos muito fortes poderíamos prever, não?

-Não – disse Diego – Nossos equipamentos interagem com o objeto que estamos medindo. Mesmo que conseguíssemos enxergar um átomo, só o fato de medirmos já muda o que vai acontecer com ele.

-Em resumo, não dá pra prever nada em escala atômica.

-Não – falou Diego – Se conseguimos prever alguma coisa na vida cotidiana, é porque são tantos átomos juntos que nossa física clássica começa a funcionar. Mas, se a base do mundo está na escala atômica, a base do mundo é quântica. E na física quântica, nada é determinado. Portanto, não acredito em destino.

-Mas como pode explicar o que está acontecendo?

-Não sei, mas...não deve ser destino.

-Você disse que só pode calcular as probabilidades de algo acontecer, certo? Mas o evento do Ciro entregando o bilhete para Bianca pode ser um evento com 100% de chance de ocorrer, não?

-Absurdo!

-Não é tão absurdo assim. Isso costuma acontecer em muitas histórias envolvendo viagem no tempo – disse Vanessa – Imagine que você volte no tempo com uma máquina do tempo comum, dessas que não só a sua mente, mas o seu corpo inteiro volta ao passado, e queira matar seu avô por alguma razão.

-Na visão tradicional seria um paradoxo – respondeu Diego – Se eu matasse meu avô, não teria nascido e não teria voltado ao passado para matá-lo.

-Certo – disse Vanessa – Mas há uma teoria interessante para evitar esse paradoxo: o Universo conspiraria para você não conseguir matar seu avô.

-Como assim?

-Não sei, talvez se você tentasse atirar, a bala desviaria. Se você tentasse atacá-lo, um policial viria e te prenderia antes. Se você tentasse quebrar o carro dele, ele não usaria o carro, enfim, tudo no mundo contribuiria para você nunca conseguir matar seu avô. Simplesmente porque seria ilógico você ter voltado ao passado e o matado.

-Mas essa teoria não faz sentido com o Mind Clock – falou Diego – Se a ideia do meu pai estiver certa, quando se volta ao passado com ele, o futuro simplesmente é apagado para se adequar às novas situações. E, para começo de conversa, o Mind Clock evitaria esse paradoxo porque não posso mandar minha mente para um tempo onde meu cérebro ainda não existia.

-Tem razão, não pode – comentou Vanessa.

-Hã?

-Nada, nada, eu não disse nada – falou a garota, um pouco nervosa – Mas...parece que você está mesmo numa situação onde o destino não quer que você fique com a Bianca.

-Isso não faz sentido nenhum! - reclamou Diego – Por que não posso ficar com a Bianca? Que tipo de paradoxo isso poderia causar? Eu simplesmente ficaria com ela, pronto! Qual o problema?

-N-não sei se causaria algum paradoxo ou não – falou Vanessa, um tanto nervosa – Mas...mesmo que você consiga falar com ela, ainda há o risco de levar um fora, não há?

-Sim, há – respondeu Diego – Mas se isso acontecer eu volto com o Mind Clock novamente e vejo o que falei de errado.

-Vai mesmo fazer isso?

-Eu estou apaixonado por ela! Nunca senti nada assim por ninguém antes! - exclamou o rapaz – Eu...eu simplesmente não consigo me imaginar sem ela.

-E-Está exagerando...você só tem dezesseis anos. Se der errado, é só procurar outra garota – disse Vanessa.

-Fala como se fosse fácil... - resmungou o garoto.

-Pode não ser fácil, mas, mas...– agora Vanessa estava mais apreensiva –

-Mas o quê?

-Por favor, me promete uma coisa!

-Prometer o quê?

-Prometa que mesmo se levar um fora, vai superar isso!

-Como assim?

-Prometa que se a Bianca te der um fora, você não vai sofrer com a desilusão! Por favor, isso é muito importante!

-Sofrer com a desilusão? Mas eu estou falando pra você...vou usar esse Mind Clock quando qualquer coisa der errado! É a melhor invenção do mundo!

-Eu sei, mas...tem alguma coisa nessa história que está estranha.

-Não acredito em destino e muito menos que o universo conspire. Se eu ficar com Bianca, não vai acontecer paradoxo nenhum – disse ele – O que está acontecendo aqui é azar, simplesmente azar. E agora que eu sei que ela não leu meu e-mail mesmo, fiquei até mais animado para tentar voltar.

-T-Tudo bem – gaguejou Vanessa – Volte quantas vezes quiser, mas prometa pra mim que nunca vai se render a uma desilusão. Por favor, isso é importante!

-Por que é tão importante?

-Bem, é porque...porque...

Vanessa desviava o olhar, como se buscasse uma resposta em usa mente, mas Diego sabia quando sua amiga estava escondendo alguma coisa.

-Você tá escondendo alguma coisa de mim, não tá?

-Eu?!

-Essa cara...é a mesma que você fez quando não queria que eu descobrisse que perdeu minha revista do Homem-Aranha – reclamou ele – Vanessa...

-Eu não tô escondendo nada! Para de viajar! - mas ela voltava a desviar os olhos dos olhares desconfiados que atravessavam as lentes dos óculos de Diego. O rapaz pegou na mão dela e perguntou mais uma vez.

-O que você tá escondendo? Você sabe de algo que eu não sei?

-Não sei de nada! E você não iria acreditar mesmo!

-Hã?

Agora a expressão da garota ficou ainda mais tensa. Ela soltou algo que não podia. Diego ficou ainda mais desconfiado.

-Como assim, não acreditaria? - perguntou ele – Eu tenho uma máquina do tempo. Posso acreditar em qualquer coisa!

-Qualquer coisa? - repetiu Vanessa.

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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

-Claro. O que pode ser mais absurdo do que esse Mind Clock?

-E se eu dissesse que menti para você? - disse ela, agora com uma expressão mais séria.

-Mentiu? Como assim, “mentiu”? - Diego estava cada vez mais confuso.

-Menti para você...quando disse que não acreditava no Mind Clock.

-Ah, eu sei...você não queria dar o braço a torcer, não é? E daí?

-Não, você não entendeu – Vanessa continuou – Menti para você sobre não acreditar no Mind Clock por um motivo.

-Que motivo?

-Que eu conheço essa máquina do tempo muito melhor do que você.

-Hã? Que papo é esse? Essa brincadeira não tem graça, Vanessa.

-Mais do que isso – Vanessa continuava a falar sem mudar o tom sério.

-Hmm?

-Eu conheço o futuro, muito melhor do que você! - exclamou ela, com uma olhar tão sério que quase fez o rapaz cair para trás. Do que diabos ela estava falando?