Paint

A janela continua coberta de neve, apesar do Sol ter aparecido constantemente nesse mês. Me pego todas as noites com o seu número, pensando em ligar, mas sempre desisto. Não sei o que fazer. Estou perdida, Jack. Tão perdida. Não sei em quem confiar. Você acha que eu não daria tudo para largar todas essas dúvidas e ir correndo direto para os seus braços? Jack, tudo o que eu sempre quis é você. Não espero que depois de tanto tempo você ainda ligue. Lembro do dia que você parou de me procurar. Não ligava mais, não batia mais na minha porta. Lembro que mudou de colégio e aquilo foi me matando cada vez mais. Pedacinho por pedacinho, centímetro por centímetro. Então um dia, eu liguei. Você não atendeu e aquele sentimento tomou conta de mim. Fui até sua casa. Estava vazia. Vazia, Jack. Você se foi e nem ao menos se despediu. Sei que fui idiota, mas eu não queria que você se desculpasse, não queria te desculpar mas queria você. Queria você por perto, mesmo quando metade de mim falava que não. E agora é tarde demais, não é? Acabou.

P.O.V NARRADOR

-Pai! Você viu minha outra caixa? – Lucy gritou, passando os olhos pelo quarto em busca de sua caixa onde continha roupas de cama.

- Deixei perto da porta! – Ele respondeu do lado de fora do quarto.

A garota foi até a porta e olhou por ela. O campus da faculdade estava lotado de pessoas, cores e música. A faculdade de literatura iria lhe fazer bem, era o que diziam. Era uma faculdade boa, com o melhor curso que havia para escritores e afins. Havia outros cursos, claro. Nas redondezas da cidade não havia tantas faculdades.

- Achou? – O pai surgiu na frente de Lucy, que lhe sorriu e murmurou um sim. – Estou muito orgulhoso de você, minha filha. Só quero que seja feliz. – Ele sorriu, e a garota fez o máximo que podia para reprimir as lágrimas. Abraçou o pai o mais forte que seu corpo aguentava.

-Vou sentir sua falta, pai. – Sussurrou ela.

-Vai ficar tudo bem, querida. Eu te amo. – Ele beijou a testa de Lucy, a abraçou mais uma vez, sussurrou um "tchau, até mais" e então partiu sem olhar para trás, mas Lucy conseguia ver seus ombros se mexendo. Ele estava chorando. Ela era a última parte dele. Sem ela, não havia mais nada. Lucy mordeu o lábio inferior e respirou fundo. Não era um adeus para sempre, se lembrou.

Algumas horas depois de arrumar o quarto, que não tinha que dividir com ninguém, resolveu ir até o pátio principal e conhecer a faculdade. Soube que estava tendo uma festa lá, e seria a melhor hora para se conhecer alguem. Se olhou no espelho e arrumou algumas fotos que havia grudado ali mais cedo. Uma dela e do pai, os dois fazendo uma careta, com as línguas para fora. A outra era dela e da mãe, ambas rindo tanto que na foto saíram vermelhas. Lucy se sentia triste porque, por mais que tentasse, não conseguia lembrar porque elas estavam rindo tanto. E por fim uma dela e de Jack, quando tinham 14 anos. Sorriu ao tocar na foto. Sentia falta do garoto como sempre sentiu. Respirou fundo mais uma vez e saiu pela porta. Hoje vai ser diferente, pensou.