Capítulo 36 - Equivoco da Vida.

“Entre nós uma lágrimas suspensa: equivoco tardio de uma silenciosa dor.” – Rita Schultz

Abri os olhos levemente quando senti um pressionar macio sobre meus lábios.

Sorri internamente notando que Zeref estava curvado sobre mim beijando-me com um cuidado extremo, como se eu pudesse me quebrar apenas ao toque.

Voltei a fechar os olhos erguendo as mãos para a face do mago – este que pareceu bem surpreso – e devolvendo o beijo.

Não fora complexo - como o de Rogue e Weisslogia -, tampouco estimulante - como o de Sting e Skyadrum. Mas me dera um gosto doce nos lábios, como mel puro.

Não houve cantos de pássaros, sinos ressoando, nem mesmo a tão falada “estática” dos livros.

Fora um beijo, um toque, uma caricia leve.

Eu sabia que ele estava entregue a mim, sabia também que não devia dar-lhe esperança. Mas sinto que essa é a única oportunidade que terei de dar a ele uma chance.

Chance que em vidas passadas não pode ser dada, mas...

Eu não o amo, não dá forma como ele me ama.

– Lucy... - fora um murmúrio baixo afogado em surpresa e numa, camuflada, alegria.

Eu ainda me encontrava sobre seu colo. O sol ainda se erguia no horizonte. Todos ainda estavam entregues aos seus sonhos.

E eu ainda estava quebrada da noite anterior, e talvez jamais fosse concertada.

Senti uma caricia leve sobre minha bochecha.

Não atrevi-me a abrir os olhos.

Fita-lo abrir-me-ia para a realidade.

Afogar-me em seu olhar de sangue traria a dor dos fragmentos do meu coração.

Senti-o acolher-me mais junto a si, assim como só notei as lágrimas escorrendo por minha face quando senti seus pingos sobre minhas mãos.

– Dói... – fora tudo o que consegui dizer, e doía mesmo, mas não era isso que eu desejava falar.

Eu queria poder dizer a verdade para Zeref, mas não podia.

– Você não pode lutar Lucy – alegou-o. Ergui o olhar para ele abrindo a boca já pronta para protestar. – Eu sei que dirá o contrario – suspirou.

Escolhi-me em seu abraço caloroso e confortável.

– Eu só quero que saiba que sempre, não importa o que, eu estarei do seu lado Lucy – continuou sorrindo.

– Por quê? – indaguei, mesmo sabendo a resposta para tal.

Logo senti seus lábios tocarem minha testa em um beijo terno.

– Por que eu sempre te amei... – confidenciou seriamente. – E amo mais do que os gêmeos, pode ter absoluta certeza.

...

Foram passos silenciosos e vazios que sequer ecoavam enquanto caminhávamos.

Era como se houvesse um vazio entre nós, um vazio que nos mantinha de mãos dadas.

Um vazio que foi quebrado pelo ressoar da destruição.

Correndo alcancei nosso sublime objetivo.

O sol mal havia chegado a pino e Magnólia já encontrava-se marcada pelo caos.

Com o coração na mão corri.

Zeref vinha em meu encalço implorando para que eu não entrasse na batalha.

A dor se alastrava a cada misero segundo.

Mas eu tinha absoluta certeza de que, se eu não estivesse ali agora, Sting e Rogue... Todos que me são importantes, iriam morrer.

– Angello! – gritei correndo entre lutas e construções destruídas.

Provavelmente a cidade havia sido evacuada.

Convoquei uma espada qualquer.

Os pedaços do meu coração batiam freneticamente contra meu peito.

– Por favor... – murmurei entre lágrimas. – Por favor, estejam bem...

Uma rajada forte de vento fez-me parar.

E então a voz doce e delicada chegou a meus ouvidos, e ecoou veementemente por minha mente.

Quando segui o olhar para onde tal som proveio, fora apenas para sentir as lágrimas intensificarem-se enquanto tudo acontecia como em câmera lenta.

– Lisanna! – o grito foi doce e infantil, seguido ao agonizante berro do Dragneel.

– Wendy!! – fora Charles quem berrara em seguida.

Depois veio apenas o sangue manchando a terra.

O sangue puro...

O sangue jovem...

O sangue imaculado...

O sangue de Wendy Marvel.

xXx

01 de Maio de X301 foi o dia em que aprendi a apreciar e amar meu irmão. E também, foi o dia em que ele me arrancou a vida imortal...

Naquele tempo eu não compreendia, mas hoje sei como ele se sentiu.

Aprecio e amo cada misero segundo que ele gastou comigo, pensando em mim e sobre mim.

Hoje... Agora, posso dizer com o maior orgulho que possuo.

Naquele dia eu morri pela primeira vez amargurada pela traição, mas enquanto ouve essas palavras, meu caro, eu choro de emoção, alegria e orgulho por poder dizer que Angello é meu irmão.

Meu amado, protetor e angustiado irmão.